quinta-feira, 9 de julho de 2009

do terceiro grau

mértola-alentejo, foto minha

Conheci-o num dos meus fins de tarde preferidos; abafo de início de verão, carrego de nuvens pesadas onde se sente haver alguma coisa a romper. E não é o sol, e nem a chuva e nem sequer o vento; e não se sabe o quê, e nem quando, e nem onde e muito menos porquê. Tempo hostil, agressor de almas delicadas que em nada atinge a minha.
Tardes de mistério em que algo se propaga pelo ar, mas que na verdade só os animais pressentem e serão muito poucos os humanos, a gozarem o privilégio de o testemunhar.
Aconteceu comigo; encontrei uma alma gémea suspensa no alto da colina, a conversar com o céu. Quando me viu, pediu por favor que apenas registasse o seu lado direito. Foi o que fiz, fotografei-o mil vezes e nunca se mexeu; nem um pêlo da crina se levantou, uma orelha estremeceu, a cauda se agitou ou a narina
resfolegou.
Creio mesmo que ainda lá está, ao pé da urze que se torcia debaixo dos seus cascos, escutando a música no cimo do altar, que escolheu para me encontrar.

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18 comentários:

Nenúfar Cor-de-Rosa disse...

Lindo!! Hoje com calma fui percorrendo alguns posts, fui ouvindo o "Ares" ao minuto na voz do pedro rolo, e ouvindo sons que por aqui passam. Há muito não visitava este cantinho, mas eu regresso sempre aos cantos em que me sinto bem...este é de facto um deles. Bjs. Inté :-))! A Girafa transformada num nenúfar.

CPrice disse...

sensível .. e encantador este pedaço de sosssego :)

Teresa Durães disse...

Porque será que um cavalo tem tal presença que nos sentimos intimamente ligados a ele?

anniehall disse...

São momentos de uma imensa paz interior os que aqui tão bem descreveu.

Gi disse...

Ó Encantadora de Cavalos! Está linda a foto!
Aposto que ele estava a falar com Napoleão!

Si disse...

Bem...
Acho que nem digo nada.
Não quero estragar o momento com palavras inúteis.

Rosa dos Ventos disse...

A este cavalo ninguém abate...
Ali ficará à espera que voltes, também ficou encantado contigo!

Abraço

paulofski disse...

Ele quer-se selvagem, livre para cruzar planícies e campos floridos, no entanto esperou para este momento mágico de admiração e contemplação.

Laura Ferreira disse...

Encantada fiquei eu pela força das palavras. Lindo.

cristina ribeiro disse...

Sintonia perfeita entre a paz que o modelo transmite, e as palavras escritas.

Pitanga Doce disse...

O porte do animal é algo de espetacular. É como se entendesse o quanto é bom ser livre como ele é!

não deixo beijos em meio à gripe (ai que já pareço a outra!) hehehe

Mike disse...

... ai que bonito este texto, todo ele cheiiiiinho de figuras de estilo; que escrita sensível e íntima!... mas que emotividade no correr da pena; pena essa que lhe fala ao coração e que lhe suplica, para a deixar deslizar pelo papel...

Violeta disse...

Sim, se fecharmos bem os olhos podemos vê-lo, assim gracioso...
bjs

Patti disse...

Mike:
Assim não vale!

Fatima disse...

Não consigo ver a foto. Volto amanhã, mas fica desde já sabendo que gosto muito de Mértola.

Mike disse...

Patti, :P

Fatima disse...

Consegui ver a foto.
linda

Raquel disse...

Belíssima foto. O céu, o cavalo e as urzes, tudo está harmonioso. Sem falar no texto. Obrigada!