segunda-feira, 30 de junho de 2008

[4] pecados, são sete


“Preguiça, é o hábito que se contraiu de descansar antes da fadiga”.

Jules Renard

Pois é, acordei assim.

Foi da boa vida, dos ares do campo, da mesa farta, do descanso no jardim.

Ainda estou na ressaca, no desfrute e na saudade.

Amanhã já ‘desperguicei’.

domingo, 29 de junho de 2008

[20] há coisas fantásticas, não há?



Eu queria ser cantora quando fosse grande.

Queria cantar como este senhor.

Tenho saudades dele...

sábado, 28 de junho de 2008

divirtam-se


Boa praia, ou bom campo, ou boas compras de supermercado, ou bom cinema, ou bons saldos, ou boa esplanada, ou boas caipirinhas, ou boa viagem, ou boa família, ou boa almoçarada, ou bom descanso e bom jantar de cumbíbio na Inbicta.

Eu vou estar aqui, logo a seguir ao almoço, que também é bom.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

e por aqui...


foto minha - Marialva, aldeia histórica

se eu não fosse da cidade, seria de um sítio assim

. . . eu também sei da vida da minha vizinhança; das férias, praia, roupa costurada, filhos, músicas, Alentejos, Martinicas, beijos e abraços, parolices, conversas de amores, balões de S. João, óculos escuros vintage. Que há quem nunca tenha visto o Cinema Paradiso; aniversários de filhos; desenhos nas nuvens; que o George Michael é um tiro no coração de alguns, como no meu; que há quem precise de abraços; uns que deixam um bater de asas, outros que me dedicam posts; que as minhas recordações são as de muitos vocês e os medos também; há quem me ofereça fotografias azuis; e que houve alguns que não viram o derradeiro jogo, como eu; que desabafam quando nadam, que já viram a savana de balão, que não gostam do Scolari, que gostam do Scolari; que se deixaram levar da minha querida Lisboa, para estarem melhor noutro lugar. Que me falam todos os dias de Madrid, de França, do Brasil, da Alemanha, de Moçambique. Pessoas que dão voz nos seus blogs, a causas que precisam de atenção e os outros acordam; uns que se revelam muitas vezes na minha caixa dos comentários mesmo quando brincam; os que falam de zangas e de reconciliações. Os que se vão abaixo, mas não caem e voltam com força; aqueles que andam tristes e não conseguem escrever; os que me lêem e que nunca mais partem e outros que só me visitam uma única vez e depois nunca mais voltam; os que gostam de surpresas. Os dois homens que não conheço e que nada percebem de mim e deste blog mas que disseram: um, que eu de fato de treino devia ficar um 'miminho' (tristeza!) e o outro que as mulheres deviam era andar todas despidas eeehhhhhh (tal qual!). Os que acham graça às minhas conversas com rabos, com as pontuações, com 'coisas' do Senegal, aos meus elefantes e aos meus pontos finais e os que pensam que eu sou maluca. Um anónimo, que gosta dos mesmos poetas desgraçados. E um leitor da Califórnia, que me lê muitas vezes mas que nunca me fala. A Ka, que pensou nisto. A Gi, que tem um blog novo. E o Paulo, que sentiu assim.

Gosto de vos ouvir para além do que me dizem.

É assim que eu sou, vejo muito, ouço tudo, escrevo longo, mas estanco sempre nos pormenores.

Bom fim-de-semana e eu também queria estar no vosso jantar…

quinta-feira, 26 de junho de 2008

refilices I


Eu não sou uma pessoa física com os outros. De festas, beijos e toques. Ou bofetadas. Nunca fui. Mas gosto de abraços. Convivo melhor com os olhares, com os movimentos rápidos das minhas mãos, sou das que fala com elas, as mãos e com expressões do rosto. E finalmente com a conversa. Com os risos e gargalhadas e com os gritos. Com o som da voz alterada. Mas controlada. Ou calma. Com o franzir de testa e o voltar das costas. Não gosto de palmadinhas. Não sei reagir da mesma forma. Não fico confortável.

Peixe na água, sou com as palavras, com as minhas razões e com as minhas verdades. Que não são as dos outros. E nem quero que sejam. Senão, seria tudo amorfo, débil e fraco. E eu gosto de debates, de trocas e de velas acesas. Cabeças iluminadas, claras, livres. Mas só aceito representações fiéis. Plágios não. Não gosto de desconfianças. Quero conformidade do que se diz com o que se é.

Mas tem de ser na altura exacta. Porque depois.

Depois deixem-me em paz.


quarta-feira, 25 de junho de 2008

FK U


Eu aprecio a espontaneidade dos parolos. São assim e pronto. Não se coíbem.

Não se preocupam com a reputação, porque não a têm e envergam a blusa de alças à vontade, mostrando as marcas do sol nos braços, deixadas pela t-shirt apertada.

Eu quando acordo parola, o que felizmente, acontece com alguma frequência, quero lá saber que o verniz se me lascou de uma unha, que tenho de fazer as madeixas ou que os jeans estão sujos no rabo.

Nesses dias, dou a mão ao George Michael, ponho-o no cd do carro e obrigo-o a cantar bem alto e só para mim. Rio-me para os cretinos dos homofóbicos que o odeiam por ser quem é. Nada sabem. Matam-no logo à partida. Nunca irão ouvir o piano de ‘Cowboys and Angels’, a voz espantosa quando canta ‘I Can’ Make you Love Me’, nem sequer ‘One More Try’. E mesmo se ouvirem, nunca vão entender. Não é para todos.

Aliás, em relação a ele, sou mesmo é uma parola do pior, pois sou-o diariamente.

E quem não gostar que não coma. Come ele. E acho que até come muito bem; o namorado é lindo de morrer.

É tão parolo fazer-se escolhas com base na ignorância e no preconceito! É pior que a ‘sande’ de pastéis de bacalhau na praia, que cães de louça brilhante no meio da sala de estar, fontes de pedra com sereias nuas no jardim, a deitar água pela boca ou a bandeira do clube à porta de casa.

Tenho a maior das penas de não saber escrever o que ele escreve. De não conseguir passar para a pauta aquelas letras. De não ter aquele talento e oferecê-lo a quem não beneficia dele. Gosto de homens que sentem assim. Outstanding!

Ah e para os mais básicozinhos, se me chateiam muito, ainda levam com o Careless Whisper; é que hoje estou virada do avesso.

O que ele faz ou deixa de fazer nas casas de banho públicas não é da minha conta. Da minha conta é quando uma vez mais o fdp do vizinho do lado arreia na mulher, maltrata o filho e acorrenta o cão.

E trás aquele ar limpo de não parolo com a Lacoste ao peito.

Mas com a boca e as mãos sujas.

terça-feira, 24 de junho de 2008

post escrito muito baixinho, mas mesmo muito baixinho


foto de anne geddes

É de noite, antes de adormecer, naquele meio-termo de consciente-inconsciente, na média luz, que os maus me afrontam. Os bichos-papão, os ladrões debaixo da cama e o lobo mau. Tentam penetrar-me no pensamento. Intimidar-me. Fazer-me arrepiar. Meter-me medo com ameaças de infortúnio, de calamidade, de infelicidade e da desventura!

Eu afasto-os logo. Depressa. E devagar.

Ao mesmo tempo devagar. Enxoto-os com calma, para não os assustar, não vão eles precipitarem-se pela porta adentro do quarto ao lado do meu, interrompendo logo ali, o sono da minha vida, o sono puro que ali descansa em paz, porque acredita que eu existo, que eu estou sempre acordada para a salvar.

Ela ainda não sabe que há coisas com as quais eu nunca poderei lutar. E a angústia aperta-me a garganta. Seca-me. Mas por mim, também nunca vai saber.

Prefiro assim. Sofro eu com a desdita. A desdita que talvez nunca venha para ficar. Que não repare em nós, que se distraia no escuro, que se perca nas sombras, que se enfie num beco imundo e morra para lá, sozinha.

Por agora, só vem de noite para me afrontar e aí eu quero ver quem ganha, se a leoa mãe ou a bruxa má!

Falei muito baixo? Conseguiram escutar-me? É que não vá ela topar que eu ainda estou por aqui. Acordada.

O medo é esta ‘coisa’ assim, não é?

segunda-feira, 23 de junho de 2008

mais do Verão

Esta foto foi-me ’oferecida’ pela Annie Hall, do belíssimo blog, Outsider. Gostava ela, que eu me inspirasse na sua imagem, para reviver memórias. Pois aqui estão Annie e espero que goste. No blog da annie, as imagens falam, têm vida própria e se o La Fontaine fosse vivo teria um blog igual ao dela.


Quando chegava o tempo bom, ia-se espreitar as modas na loja de tecidos e fazer os aviamentos na capelista, a D. Maria; comprar botões e fitas coloridas, que vinham sempre em embrulhinhos de papel, com as contas do preço feitas a lápis. Já tínhamos tudo escolhido no Novo Figurino e na Burda, os moldes separados, as metragens definidas e os modelos preferidos.

Cá fora, a rua servia de montra e o Sr. …. como é que ele se chamava?, colocava tudo no passeio, ao sol e ao vento. Com o vento, as peças de tecido, de ponta caída, pareciam bandeiras a fazer, clap, clap, clap. E ao sol …

… ao sol, eu acho que as florinhas se riam e brincavam umas com as outras. Acho mesmo. Cambraias leves, com tom de gelado, sedas importadas, algodões de xadrez miudinho, chitas floridas, linhos frescos e muita cor. Tudo exposto com o jeito e o marketing da época. Lá dentro estavam as promoções, os retalhos da outra estação, que não se tinham vendido. Também levávamos. Para as brincadeiras com as bonecas. Mãe, tens retalhinhos para eu coser? Ainda hoje gosto de retalhos. E de bonecas.

Oh menina, chame a mãezinha e venha ver as novidades! A minha mãe tem daquelas mãos, que fazem coisas de deixar a inveja morta de raiva, a espumar, mesmo. Eu gostava de vestidos compridos e de alças, com folhos, pregas e muita roda. Dos encarnados com branco. Escolhiam-se os algodões e as cambraias e punha-se a velha Singer a pedalar. Eram estes os trajes de Verão, a novidade da Burda, a roupa nova daquele ano, que pedia chinelas ou socas de madeira barulhenta. E chapéus de palhinha ou panamás de algodão branco, que cheiravam a alfazema de estarem tantos meses, guardados nas arcas da roupa. E depois desfilava pelas ruas, a comer amendoins, tremoços gordos, pevides e pinhões.

Em cartuchos de jornal velho.

domingo, 22 de junho de 2008

[19] há coisas fantásticas, não há?



retirado do blog, pronome possessivo

Cérebros femininos e masculinos.


Bestial!

Eis a explicação: the boxes.


sábado, 21 de junho de 2008

sexta-feira, 20 de junho de 2008

não sou

a cena de amor mais bonita de sempre, aqui, *

Eu nunca escrevo sobre os amores. As paixões. Sobre corações. Não há nada para eu escrever. E até me custa ler. Sobre os amores. Paixões. E corações. Os dos outros. Aquilo não é meu. Não é para mim. Não devia estar a ler. É só de quem escreve. E de quem sabe. Devia ser. Dos amores escritos dos outros, nunca sei o que dizer. O que falar. O que pensar.

Não sei. Só sei do meu. E desse não falo. Não escrevo e não leio. Não consigo. Não preciso.

Mas também penso que não quero.



* talvez não entenda, esta última cena do filme Cinema Paradiso, quem não o viu. Fica a sugestão para o fim-de-semana. O filme da minha vida.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

tinta fresca no aparo


Eu nunca escrevi nada. Só lá pelos 18 e parvoíces. E nos testes de português. Mas isso não era escrever. Era falar com eles, com os poetas e escritores. Era sempre a última a entregar, oh menina, largue o homem que ele já morreu, e eu ria-me. Olhe que está enganada! E depois ria-se ela. Costumo enviar postais de Natal e cartas pró-forma; daquelas que acompanham as facturas. Também deixo recados no espelho da casa-de-banho, post-its ao longo da casa, sms curtos, elaboro listas de supermercado e de roupa.

Mas nem para as férias eu faço uma lista decente. E nem sequer risquei portas dos wc públicos. Nunca precisei de escrever. Tinha tudo na cabeça. E ainda tenho. Arquivado nela, em departamentos escondidos e zonas de tráfego intenso. Só não sabia que tinha de transpor as letras cá para fora. Que era preciso. Nem conhecia o que lá tinha dentro. E que ainda se mantém por aqui. Saem quando querem. Eu não peço. Aguardo.

Na zona encefálica branca, estão os escritos tolos, do gozo e da troça. A parvalheira do dia a dia, transformada em piada casual, idiota e descontraída, sem elevações. Debilidades minhas e de outros. O parolo e o prosaico. Nunca vulgar. Detesto vulgaridade. Na massa cinzenta, tenho arrumadinho os cáusticos, os sádicos e a pimenta do reino, o acre. As minhas guerras de Alecrim e Manjerona, os meus gritos e raivas. As aversões e repulsas. Os meus mortos. E a saudade.

São os que eu mais gosto. Às vezes demais. Os difíceis. Estes cinzentos todos. Na parte negra, não faço ideia. Não sei. Nem quero saber.

E também já não sei, se eu não escrevesse como seria.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

do Verão


É bom termos o Verão à porta.

As férias definidas, os passeios imaginados, os restaurantes escolhidos, as praias seleccionadas, os amigos combinados. Mil planos. Enfim, tudo ‘au point’. Vamos sair todos os dias e todas as noites. Vai ser excelente. Vou sempre com este espírito para as férias porque sou optimista por defeito, mas não gosto do Verão. Não gosto da praia, não gosto do calor abrasador que me queima a vontade. A luz em demasia agride-me. Mas reclamo pouco, porque tem de ser. Temos de ir à praia, faz parte e em 20 dias não morro, fico moribunda, mas não faleço. Até porque, sempre que posso, vingo-me durante o ano com as minhas passeatas de Norte a Sul, os roteiros pelas aldeias, pelos restaurantes, pelas paisagens, pelos rios, pelos caminhos de cabras, pelos locais escondidos que eu gosto de encontrar e pelas centenas de fotografias que trago comigo.

No Verão desgasto-me com o caos dos estacionamentos, o ar seco que queima a garganta, o sol escaldante, o pó da estrada, o não lugar para o guarda-sol, os berros dos miúdos quando os pais lhes fazem amonas, a areia que tem vida própria e se enfia em locais espantosos, o caraças do protector solar que afinal não vale nada, o sal que me pica a pele, o meu cabelo que passa de rebelde a selvagem, os empregados dos restaurantes, o nadador salvador que é um traste, o barulho das motas de água, os cães a fazer cocó à beira-mar, o vento que leva tudo, as geleiras familiares das gentes, os livros de reclamações que não existem, a água que fica morna num instante, os ingleses e os alemães ao sol, encarnados …

Gosto dos fins de tarde, do tom da pele, das chinelas com as calças largas a tocar no chão, dos dias compridos, do carrego de livros, da música, da brisa da noite, de correr na praia, da sangria, do peixe grelhado ao jantar e de ir para Lagos e Sagres.

Vou na onda, mas não estou bem. Eu, não sou Eu, no Verão. Respiro mal. Faltam-me bocados.

No meu Verão, usava-se camisola na praia até ao meio-dia, por causa do frio. Jogava-se ao prego. Cheirava a iodo, subia-se a rochas, que nos cortavam os pés, apanhava-se percebes, lapas, mexilhões e caracóis do mar.

Coleccionava-se búzios, conchas e vieiras. Que ainda hoje guardo. Enchiam-se os baldes com peixes pretos e camarões. Organizávamos corridas de caranguejos. Eu fazia festas nas estrelas-do-mar, que se enrolavam nos meus dedos. Enormes e amarelas. Cobertas de picos. O meu Verão era fresco. Na Ericeira, em Ribamar, em Santa Cruz. Tinha ondas gigantes e cheias de espuma branca que falava connosco e fazia tcheeeeeeeeeeeeee … E tinha muito campo. Muitos montes e vinhas. Moinhos e muros de pedras. Figos. Gafanhotos cinzentos e lagartixas gordas ao sol. Joaninhas e água fresca do barro. Grilos e céus carregados de estrelas. Pintainhos, coelhos bebés e gatos bravos. Vestidos de xadrez. Banhos de mangueira no jardim. Guinchos de alegria. Caracóis nas flores.

O meu Verão chamava-se férias grandes.

E tinha avós. O meu Verão tinha avós. E colo.

Agora não.

terça-feira, 17 de junho de 2008

do Lat. elephante < Gr. eléphas, eléphantos

foto de anelson

Hoje de manhã quando abri os olhos, tinha o meu elefante, ao meu lado, na minha almofada, nos meus lençóis de algodão, na minha cama. Comigo. Este elefante não é, nem cor-de-rosa, nem pestanudo com uma flor de hibisco encarnada, atrás da orelha e nem tem um sorriso de orelhona a orelhona. Não. É cinzento, com rugas vincadas e com uma tromba enorme e barulhenta. Entrou-me na cabeça e andou atrás de mim o dia todo. Não me largou. Encostou-se. Entranhou-se. Chamou a família e vieram todos aos tropeções, espezinhando-me as pálpebras, batucando-me as fontes e chocalhando-me os sentidos. Eu que já tinha seis sentidos, fiquei com mais três ou quatro, todos espalhados pelo chão. E se há coisa que dá trabalho, é coordenar e alinhar os meus sentidos.

Enfiei uns óculos escuros, para ver se doía menos. Mas não; quando os elefantes resolvem confraternizar, é o caos na savana. Fazem a festa em compassos ritmados, sempre constantes e num crescendo tão perfeito de fazer inveja ao Beethoven. Batuques de tambores, rituais animalescos, gritos de alegria nos charcos de lama, deitam árvores ao chão para coçar as costas e comer os ramos. Há depois os berros de pânico das manadas de gnus, que entrando em desespero, partem desgovernadas em direcção à minha nuca. Ao fim da manhã chegam as hienas histéricas e sádicas. Agudas. São autênticos tenores. Nunca percebi porque é que estas aparecem sempre; nem sequer gostam de arbustos, as falsas! É para me chuparem o resto de sangue que ainda circula no meu pensamento. Incha-me a cabeça, alucino e encosto-me na almofada. Seguro-me com as duas mãos e tento falar com os bichos.

Não dá para correrem de pantufas? Não conseguem emitir menos decibéis? Porque é que não comunicam sempre por infra-sons? Todos os meses é a mesma coisa. E quando chegou o fim da tarde, quando eu já chorava de desespero, o mais pequenino dos elefantes, depois de espezinhar uma hiena que deu uma nota falsa, encostou-se ao lado direito da minha cabeça e sussurrou-me optimista ao ouvido, como só as crianças elefantas sabem sussurrar, não fiques assim, isso já passa.

Tens mais sorte que a minha mãe e as minhas tias. Aqui na selva não há Trifene. Eu até gosto de elefantes. É impossível não gostar. Mas só devagarinho.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

questões que não me inquietam


Eu gosto de saber, de conhecer e de aprender. Sempre fui curiosa nesse sentido. E muito mais sou, em relação a temas que não domino, mas que no dia a dia tenho de saber alguma coisa, mesmo que não me agrade. Um desses assuntos desinteressantes são os carros. Carros não me interessam, a não ser a cor, o tecto de abrir e os comandos do auto-rádio no volante. Mas gosto de saber certas questões relacionadas com eles, porque não quero depender de homens para mo levarem à revisão, à oficina, à mudança de óleo, e aquelas porras todas com nomes estranhos, que temos de fazer com os carros. Tenho boca para falar e perguntar, pelo na venta e uma grande lata e descontracção e vou nas calmas ter com os senhores de fato de macaco cor-de-laranja. Não preciso de companhia. Até é uma diversão. Começo logo a rir sozinha, a antecipar-me às perguntas de entalanço que eles gostam de fazer quando vêm uma mulher chegar à oficina, sem a companhia e protecção do macho dominante. Se há homem que tem a mania que é esperto, quando vê uma mulher sozinha, esse homem é o mecânico. Deve ser alguma coisa ligada às lubrificações. Não sei!

É fantástico!

Não entendo broa do assunto, mas lá vou eu de sorriso na cara e com umas quantas palavras-chave decoradas; daquelas que estão escritas no calhamaço que vem com os carros, sabem?

Truque de mulher ignorante em carros, como eu, para não ficar encalacrada: riam-se sempre para os mecânicos. Não há como um mecânico atrapalhado, que pensa que vai gozar com as nossas caras de aflitas e se depara com uma mulher descontraída que acha imensa piadas aquelas perguntas técnicas. Ah e vão sempre de ténis, para não terem medo de sujar os sapatos naquele chão imundo, sempre cheio de óleo para onde eles insistem nos levar, à medida que vão falando. Aquilo é estratégia para nos verem aos saltinhos com medo de escorregarmos!

Mas os tipos às vezes lixam-me. O último foi assim, com um arzinho de condescendente, que só me apeteceu dar-lhe um estaladão:

Qual é a motorização do meu carro?

São ou não são sacanas, os senhores de cor-de-laranja? Se aquela gaita se chama cilindrada, porque é que ele me perguntou sobre a motorização?

Estupor!

Tu não me tramas! Começo logo a rir-me para ele.

A quêêêêêêêêê? A motorização?

Ouça lá, não me faça essas perguntas!

Motorização … motor … potência … força … cilindrada! Eu até lá chegava, tinha era de pensar mais um bocadinho.

É a cilindrada não é! Podia ter dito logo. Mudou de nome agora, foi? Ou ‘tá a ver se eu percebo alguma coisa disto?

Parvalhona! Mulheres!

Trombas! As dele claro, que eu farto-me de rir.

Qual é a marca e o modelo do seu carro?

É um Hondaaaa…. Faço-me de parva.

Civic?

Não, isso era o outro.

Híbrido?

Isso queria eu, mas ainda não foi desta.

É um Honda daqueles pequeninos, amorosos e queridos, sabe?

SEI! UM JAZZ! (furioso)

Boa! Acertou ‘tá a ver! O senhor até percebe disto! É que o carro é novo e ainda não estou habituada. Também o acha querido?

Pequeninos, amorosos e queridos?

Estas tipas são mesmo parvas! Vai p’ra casa coser meias, lavar escadas e fazer o jantar que o teu lugar não é aqui. Deves ‘tar casada com um banana, para vires aqui sozinha, fazer pouco da malta! Pequeninos, amorosos e queridos?

Deve ter flipado de todo! O homem até ficou da cor do fato! Não deve haver palavras mais estúpidas que estas, para nos referirmos a carros. Principalmente para um tipo-macho que lida com macacos, óleos, baterias, chapas, motores e aquelas peças todas muito pequeninas que encaixam umas nas outras, todas sujas tipo puzzle. A partir daqui não me chateou com mais perguntas desnecessárias, até porque já estava tudo combinado e marcado por telefone. Mas fazem sempre questão de se armarem em ursos.

Não há nada mais triste do que alguém que se leva demasiadamente a sério. Ou que pensa que um carro pode ser o prolongamento do seu sexo.


vá homens, como eu até sou boazinha, vão lá ver agora mais informações sobre o carrão da foto, aqui

domingo, 15 de junho de 2008

[18] há coisas fantásticas, não há?



leopardo e cria de babuíno...os melhores exemplos vêm quase sempre dos animais.



Quem não conseguir ver o vídeo, pique aqui.

sábado, 14 de junho de 2008

bem feita!


Oh mãe, sabes que o chocolate que andaste a comer o Inverno todo, não engorda?

Não engorda? A sério? Mesmo? Que alívio.

Engordas TU!

Adeus.

Vou para as marchas; mas não são as da Avenida. Vou marchar para a Fábrica da Pólvora. Mas levo o Santo António! Correr prái umas quatro horas.

Sem parar.

foto de cinzia t

sexta-feira, 13 de junho de 2008

ainda não falei do euro


Às vezes gostava de ter nascido acéfala, libelinha ou girassol. Assim, não precisava de pensar no que se passa à minha volta.

Os bombeiros sem combustível, comida estragada para o lixo, prateleiras de supermercados vazias, bombas de gasolina secas, milhões de euros perdidos em contratos por cumprir, com outros países da Europa, o pessoal alarmado, carros abandonados e vandalizados, camiões incendiados, pedrada a torto e a direito, facadas e navalhadas, mortos.

Os piquetes de greve foram reis e senhores, fizeram o que lhes deu na real gana. Começaram com razão e acabaram sem ela. Num total desrespeito pelo direito de quem não quer fazer greve, que resultou em perseguições, agressões e ameaças nas barbas da polícia e das câmaras de televisão. Nas trombas de toda a gente! Na minha cara.

Será possível toda esta ilegalidade e ficar tudo impune? E se não houvesse acordo por estes dias, como seria?

Não vale a pena entrar em pânicos e alarmismos, não é sensato, mas as bestas que nos governam abriram a boca? Só ouvi ontem. Continuaria a impunidade? A moleza do Estado? Os camelos da assembleia, continuariam a brincar às escondidas connosco? Eu não vi firmeza, não vi preocupação, não vi solidez nem vigor. Ainda me falam que o povo se demite da política? Cambada de anormais. Gentinha triste e incapaz. Só vi trampa à minha volta. E o gajo que dá passas nos aviões? Disse o quê? É que eu não ouvi nada!

Mentira. Ele até é querido. Ontem à tarde disse que sentiu a vulnerabilidade do país. É querido não é? Um tipo que sente assim e até confessa. Não é fofo? Desta vez não pediu foi desculpa. Vulnerável é uma palavra amorosa de se dizer, fofinha, meiguinha. Um apetite. Cuchi, cuchi!

E a chefa da oposição? A madame da cara simpática? Onde é que andou? A passear no East End londrino?

O pior, é que tudo isto não foi a abertura de um precedente, foi o próprio do precedente completamente escancarado e a gozar com a nossa cara de parvos. Já que o país está numa de festas de santos populares, que venham de lá todos e estejam à vontade, podem partir tudo que o Eng. deixa. Ah não que não deixa! Nem pia. Está mais preocupado com a carreira. Em três dias podem escavacar muita coisa e ninguém vos faz mal.

Entrai, entrai!

Taxistas, posicionem-se à porta dos liceus e irrompam pelas passadeiras, sabotem o taxímetro e vão praticar tiros de caçadeira para os bairros da droga; agricultores, incendeiem as culturas, de preferência com habitações no meio, matem o povo à fome e despejem a fruta podre em São Bento; professores, esbofeteiem a ministra, chumbem a chavalada quando tiverem vontade e queimem os dicionários do novo acordo ortográfico; médicos, cometam erros fatais, deixem o bisturi dentro do apendicite e não dêem horas extras à urgências; pescadores, enforquem as sardinhas, sodomizem os faroleiros e façam filhos nas pescadas e finalmente, dirigentes desportivos, dêem as mãos uns aos outros, juntem-se às vitimas inocentes do apito, sigam todos para a Suíça, arrombem os vossos cofres, mas vão a penantes pelos Alpes e a cantar todos juntos, Edelweiss, Edelweiss, como a Maria e os meninos dela! Fiquem à vontade. É tudo vosso.

O pessoal ‘tá é preocupado com os golos do Ronaldo e se o futuro do Scolari, conhecido tão abruptamente, não irá transtornar emocionalmente as princesas bailarinas da nossa selecção.

Às vezes gostava de ter nascido acéfala, libelinha ou girassol.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

estórias de opostos


Eu gosto dos poetas desgraçados. Infelizes, doentes, mórbidos e suicidas.

Almas negras, sonhadoras e tristes. Errantes e perdidas. Corvos pretos e queixume de mochos. Os românticos. De destinos solitários, sofredores e nocturnos.

Eu que sou viva e perceptível. Que evoluo no sentido do bom. Que nunca sofro com o que não é para sofrer. Não alimento quimeras. Nem venenos. Que não padeço de amores infelizes e tristes lamentos. Que tenho a cabeça no sonho. Mas os pés no chão. Eu que sinto tão poucos tormentos e frustrações

Devoro-os. Os poetas condenados. Compulsivamente. Em constante espanto e incrédula. Quem é que sabe sentir assim? Como eles!

Ninguém diz Adeus como o meu Garrett.

Sei o que me atrai nos poetas feridos e decepcionados.

É a alma que desfrutam. Eu não quero ter alma. É a introspecção e a irregularidade do seu espírito. Que também possuo. O horror pela morte e ao mesmo tempo a sua poderosa presença. Que eu odeio. O elogio da Noite. Que eu desprezo. O ver, para lá do que não é visível. Que eu também tento distinguir. O sucesso pleno, de quem galga da ideia para a folha de papel. Na minha pena, às vezes falha a tinta.

A palavra certa que mete conversa com eles. E que comigo nem sempre fala. O propósito conseguido de entender o que imploram as letras. Que também eu quero atingir. Mas eu não consigo. Assim como eles.

Não consigo!

quarta-feira, 11 de junho de 2008

a primavera na minha vida

foto minha

Há já uns dias, desde que o sol voltou, que ela fica ali parada a arrancar as rosas que saltam do muro da casa, desejosas de espreitar para a rua. Encosta a bengala ao muro e puxa-as, uma a uma. Com algum esforço. Uma branca, uma amarela e a encarnada. Junta-as todas na palma da mão, cheira e começa a sorrir. E eu também. Depois guarda-as.

Sabe que noutro dia tirei fotografias a estas roseiras? Oh menina, são tão lindas não são? Gosto que me chamem de menina. Pois são. Também gosto de ver as flores a espevitar na Primavera. Eu tenho passado por aqui e levo alguns botões. Sabe, é para me alegrar o dia.

Claro que sei. Também gosto que me alegrem o meu.

Ela ainda lá está, quando volto com a Beatriz* da escola.

Oh mãe, olha aquela velhinha a arrancar as ‘tuas’ rosas. Que querida mãe, está a rir-se para elas! E fala-lhes! Olha, agora guardou-as no saco! Os velhinhos são tão queridos mãe, não são? Ah, claro que são! Tu ‘tás sempre a dizer que adoras velhinhos. Velhos, Beatriz. Eu digo velhos. Já sabes. Não é velho de gasto, mas de vida cheia. Sei mãe, sei. Dizes-me sempre isso. Eu também gosto deles. Riem-se para mim. Mas gosto mais de dizer velhinhos e aquela é mesmo gira.

Há dias, em que respiramos de alívio. Quando num breve instante percebemos, que é nos ínfimos pormenores que a Vida não é em vão. E que alguma coisa de nós irá cá ficar.

Nos outros.

Nos filhos.


* trouxe prémio; 2º lugar.

terça-feira, 10 de junho de 2008

dia de Portugal e dia de presentes tuga


Para a Lena cunhadíssima



Para a Ka dos horizontes sensatos


Para a Gi que é do Mr. Darcy


Para a Coragem sonhadora e Olá positiva


Para a Blue das bonecas lindas, F@ das cores e de dentro para fora, benfiquista do norte. Podem sentar-se!


Para a Pitanguinha, do calçadão de Ipanema


Para a Nina, feliz mãe na Alemanha


Para a Su de Moçambique (Voltaste!)


Para a @nn@, de Ile de France


Para a Árvore melhor coreografada do meu blogobairro.


Para a Cláudia, de la movida madrileña, de tapas y de copas.


Para a Fiona de Bourbon, MirMorena, Alfabeta, Inês, Um Quarto de Fadas, e SC.


Para que nunca se percam: FM, Miguel.com, Paulofski, Pinoka, pD, Pj e Rocket.



O último, é o primeiro. Se os blogs têm alguma razão de ser, a existência deste será uma delas. Vou lá sempre, desde que tu, Olá, mo apresentaste e que por várias razões me é muito especial.

Para o autor e para o protagonista do blog nacional, mais bonito que há: Peter Pan. Que a tua vida seja sempre carregada de cor.


E agora vou ver se a Beatriz também ganha algum prémio. Hoje tem provas no Picadeiro.

Bom Feriado :)



Todos estes presentes são pessoais.