segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

ainda um até já


Este blog entrou em pausa, entre outras coisas, para saborear um bom café.
Até daqui a uns tempos, meu blogobairro querido.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

crónicas de graça #10

Piquenique

Se há coisa de que eu tenho saudades, é dos piqueniques que se faziam noutros tempos. Tudo à volta deles era motivo de festa e alegria. Quem levava o frango assado, quem fazia os croquetes, quem comprava as batatas fritas, quem cozinhava os bolos e que bebidas levar. E as toalhas de xadrez, quantas eram precisas? A bola, as raquetes, o ringue, as cartas, o loto, as bicicletas, o disco.
Nós tínhamos daquelas cestas bonitas, com divisórias e correias de cabedal para prender os pratos, os talheres e o termo do café.
O local eleito era a sombra larga do pinhal. De preferência isolado, sem outros piqueniqueiros por perto. Gostávamos de fazer a nossa algazarra familiar em privado.
Também me lembro doutro tipo de piquenique: às escondidas dos pais. Eram geralmente feitos por volta da meia-noite, quando tínhamos amigas a dormir na nossa casa. O menu previamente combinado - muitos séculos antes do telemóvel - através de bilhetinhos na sala de aula, que fluíam de carteira em carteira. Pão de forma com manteiga de amendoim, chocolate branco, pastilhas gorila, petas-zetas efervescentes, gomas da heller, línguas de veado e bombocas. Tudo escondido debaixo da cama, era trazido para cima do edredon entre risadas e shius receosos de serem descobertos pelos adultos.
E os piqueniques dos escuteiros, das excursões do colégio, dos grupos de jovens, das saídas de fim-de-semana com os amigos...
Ainda piquenico de vez em quando. Mas nada como antes. As pessoas esqueceram-se de como é, ou então o conforto do restaurante é mais apetecível. Comodismo, falta de ideia, pouca paciência. Não sei. Mas tenho pena.

viana do castelo, foto minha

Há dois anos, quando estive nos cinco dias das assombrosas festas da N. Senhora da Agonia, em Viana do Castelo, assisti ao piquenique dos piqueniques.

Na verdade, aquela é a maior romaria do país e o ror de gente que atrai é inimaginável. Hotel, há que reservar com meses de antecedência, como fazem os prevenidos como eu, mas a oferta não chega para as encomendas e o grande magote de gente, chega a Viana nas famosas camionetas de excursões.
A sombra para o almejado piquenique é seleccionada e devidamente marcada, logo na alvorada. Não há cá azo para confusões. Território assinalado, o povo segue para a festa. Ao meio-dia regressam esfaimados e aí começa o espectáculo.
Malas térmicas, malas térmicas e malas térmicas. Cabazes e cabazes e mais cabazes. Cobertores, mantas e toalhas. Bancos, banquinhos e banquetas. Camas de rede, vejam lá bem!
Tachos embrulhados em papel de jornal, para o arroz de cabidela não arrefecer, panelas de sopa de entulho, pão a rodos, daquele saloio a estalar de bom, broa amarela, queijos do tamanho de mós, pernis de presunto luzidio, pão de ló caseiro, fruta sacada à árvore e por fim, o belo do garrafão.
E depois comem, e bebem, e cantam, e riem, e chamam, e gritam, e aplaudem, e jogam à bisca, e ao dominó e fazem crochê, e lêem o jornal, e for fim dormem. Preparando-se para os fogos da noite.
Estivesse a minha Amelinha ali comigo naquele dia, e aposto como se juntava ao repasto da turba.

E o meu querido parceiro, há quanto tempo não piquenica?
Ainda havemos de combinar um no blogobairro, para quando vier o bom tempo!

Crónicas de Graça #1, #2, #3, #4, #5, #6, #7, #8, #9.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

até já


Vou dar um giro. Reunir-me a outros prazeres da vida e volto em duas semanas.
Até já, blogobairro querido.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

crónicas de graça # 9


O Livro

Por onde se começa a falar sobre um tema que idolatramos? Como é que faço eu isto sem parecer pretensiosa, pensei, quando foi 'O Livro', a Crónica de Graça acordada para esta sexta-feira?
A leitura está hoje acima de qualquer outro prazer que eu tenha. Alcançou esse estatuto de soberania com o correr dos anos. Combatendo adversários tão difíceis como passeios, jantares, festas, praia, um cigarro, cinema, esplanar, música, fotografar, simplesmente não fazer nenhum, dormir e nos dois últimos anos, a escrita. Aliás, esta última, foi unicamente uma consequência pura e simples, das exigência e curiosidade com que eu cada vez mais me embalo nas minhas leituras.
Se houve coisa que sempre existiu em nossa casa, foram livros, música e fotografias. Tudo em muito. Depois dos livros de quadradinhos e dos de contos de fadas, não me lembro com grande certeza, qual tenha sido o título do meu primeiro livro a sério. Sei que tudo começou pelos Enid Blyton da minha irmã;
páginas e páginas amareladas, preenchidas a letra miúda e apertadinha, igual à que saia da máquina de escrever do meu pai, quando eu brincava às professoras.
Foi este senhor e tudo aquilo que ele concebeu - sim, conceber é o verbo perfeito para tudo o que ele escreveu - o grande responsável para que eu aos oito/nove anos, tenha começado a ler sem parar e começasse a achar, que a leitura seria muito mais do que somente a história. Reparava eu, que por detrás das letras, havia segredos que o escritor tentava passar-nos, isto é, que podíamos aprender a ler através de uma lente, como se filtrando o trivial, buscássemos para além dele.
Depois vieram todos os outros autores, disfarçados de personagens nos seus livros de capa encadernada, lombada grossa, pintada a letras douradas. No tempo em que ainda se tomavam pequenas notas a lápis, se dobrava a ponta para marcar a página e se ofereciam livros com dedicatória sentida.
E quando descobrimos aqueles livros, que parecem ter sido escritos em voz alta? A sonoridade das palavras usadas, a crueza de umas, o lirismo de outras. Que personagens vivas são aquelas, sentadas no mesmo sofá que nós, acompanhando-nos à leitura? Uma extensão da nossa própria experiência, vivendo uma semelhante interpretação da vida, com quem nos identificamos, reproduzindo-nos tantas e tantas vezes.

Já li em muito ambientes, e ainda leio se não tiver outra hipótese, mas actualmente é o silêncio que procuro. A total atenção enquanto folheio o meu livro. Alcançar o porquê da escolha daquela palavra e não de outra, atentar à pontuação - ou à sua ausência - aprender com os diálogos, sempre difíceis de serem naturais, observar a narração dos factos, deliciar-me com o pormenor da descrição, que cada vez mais aprecio, viver as passagens do quotidiano das personagens, que as tornam reais e absolutamente próximas de nós, os leitores, usufruir do impacto emocional que o escritor traz ao papel e descortinar o enredo, obviamente. Mas este, nem sempre já é o mais importante; por vezes tornar-se-á secundário até. Tudo depende do mestre que desenha o livro.
Leio para me melhorar a mim própria, me preencher; se calhar, me habilitar na vida. Não sigo modismos, tenho favoritos e cada vez, vasculho mais nos antigos, de todas as nações e épocas. E aprendo tanto. Tudo. Só lucros.
Quando temos a sorte de ler um grande livro, um livro marcante, toda a nossa consciência se altera. Mudamos. Há algo que não permanece com antes. Parece-vos pieguice, exagero, sentimentalismo? Então é porque ainda não encontraram o tal livro.
Escolham um livro, como se escolhessem uma paisagem onde pretendam desfrutar um mês inteiro de prazer.

Ou eu muito me engano, ou com o meu querido parceiro, também será mais ou menos assim.

Crónicas de Graça #1, #2, #3, #4, #5, #6, #7, #8.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

parasimpattias #4

Exercício: era uma vez...

A Capuchinho Vermelho foi a pedido da mãe, levar o lanche à avozinha que morava na floresta e se encontrava muito doente. Disse-lhe ainda a mãe, para que a menina fosse sempre pelo estrada e não se metesse pelo bosque com brincadeiras, porque por ali andava sempre o lobo mau. É o que todos conhecem, certo?
Ora, esta e muitas outras estórias, podem muito bem ter iludido há muitos anos, as mentes inocentes de nós, pobres e frágeis criancinhas. Mas hoje já adultos, será muito fácil somarmos dois mais dois, juntarmos todas as aventuras que naquele tempo eram vividas nas florestas dos contos de fadas e trazermos ao de cima, o forrobodó que por ali andava.
Para começar, a mãe da Capuchinho Vermelho tinha um negócio muito lucrativo: um curso superior para princesas, filhas de reis falidos. Princesas com vontade de serem mulheres emancipadas, que desejassem encontrar rapidamente um príncipe novo, rico e sobretudo ingénuo. As aulas eram administrados na famosa Casinha de Chocolate. A fama e eficácia dessa licenciatura, vieram de alunas tão famosas como, a Branca de Neve, a Bela Adormecida, a Princesa Cisne e a Rapunzel. Todas elas umas grandes sonsas que tiraram vinte valores no estágio final.
A Bela Adormecida por exemplo, foi convidada para administrar a Singer e à Rapunzell, até o Vidal Sassoon se lhe prostrou aos pés, para que ela fosse a sua imagem de marca na nova linha de champôs. Diz-se ainda, que a Branca de Neve tem o monopólio da fruta nas estufas de Almeria, e que a Princesa Cisne possui um aviário onde faz experiências transgénicas, em tudo o que é bicho que tenha asas; até melgas, vejam bem.

Bom, a avozinha da Capuchinho, que era sogra da mãe da menina e que nunca vira com bons olhos o casamento do seu filho com ela, descobriu-lhe a universidade clandestina e a ideia perversora do imaginário infantil. A astuta velhinha, também conseguira saber, que o lobo mau estava mancomunado com a megera da nora: era nem mais nem menos, que o reitor da dita espelunca de ensino.
Senhora séria das estórias de encantar, vendo a fantasia e o sonhos das crianças à beira da catástrofe, ameaçou-os de que ia fazer queixa deles ao patrão, o senhor Walt Disney.
Os dois impostores, trataram logo de convidar o Winnie the Pooh, mais o João e a Maria, para em três tempos darem cabo da casinha de chocolate, onde era a universidade das princesas. Não podiam deixar qualquer vestígio da tramóia.
O lobo mau, tinha
ainda de comer a avozinha, antes que a Capuchinho Vermelho lá chegasse e não ficasse esta também a saber de toda a história: falsas princesas, príncipes enganados, casamentos sem amor, fadas sem poderes e nada de terem muitos meninos.
O caos estava lançado: meninas perdidas no bosque, ursos a comerem universidades de chocolate, princesas interesseiras, lobos a engolirem avozinhas, estúdios de Hollywood metidos ao barulho, mães incautas. A mim ninguém me tira da ideia, que aquilo tudo acabou em bem, com os caçadores à mistura e tudo, porque foi o próprio do Perrault, que não mais se aguentou com a incúria e a libertinagem dos seus personagens e resolveu salvar a honra do convento, dando um final feliz à história, antes que se descobrisse toda aquela farsolice.
Uma verdadeira conspiração infantil, estas pseudo-contos de fadas, essa é que é essa. E nós ali, crianças puras, esponjas da fantasia, ávidas de ficção, todas as noites antes de irmos dormir, escutando estórias de fadas e de suas princesas felizes para sempre.

E do seu imaginário Si, o que resultou para o final da sua estória?

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

ensaios


Este ano, quero tirar muitas folhas de dentro da minha cabeça.
M
emórias em papel, necessidades fisiológicas do pensamento, despejos pensantes, letras voluntárias.