terça-feira, 31 de março de 2009

palitar

foto toothpicks cube

É um esmiuçar a fundo, um esgravatar com rigor na busca de pedaços moribundos, que quando se alcançam por fim, atinge-se uma sensação de vitória, de missão cumprida. Alívio.
Perfeitamente compreensível este estado de consolação, que se obtém com o prazer do palitar e não, nada tem de repulsivo, pois a procura exaustiva de defuntos fragmentos em cavidades íntimas, mais não é, que uma tentativa puramente cultural de aproximação a ancestrais rituais indígenas, isto é, o ensaio de tornar a dar vida ao que já se foi.
A fracção de comida putrefacta presa entre dois molares cariados, emite uma mensagem de angústia claustrofóbica, e é então que o proprietário da cavidade bocal, perante a agonia da prisão e o desejo de liberdade daqueles restos mortais de bife, desespera.
A sua coerência é rapidamente toldada e a ele qualquer frágil lima de unhas, encerra em si a capacidade de serrar o ferro das barras da cela. Entrega-se ao momento numa dedicação única e torna-se um expert no manejo do simplório palito de madeira, acreditando ser capaz de um eficaz e complexo tratamento de higienização, desvitalização e quiçá ortodontia, à laia de pé de cabra.

Ahhhhh, rumoreja satisfeito.
O protagonista deste espectáculo descai agora da cadeira, encosta-se em jeito de sesta domingueira e de palito ao canto da boca que dança mais calmo, para baixo e para cima, arrota fundo e finalmente realizado.

sexta-feira, 27 de março de 2009

jovens decisões


Seleccionou-as com rigor, favorecido pela primeira luz da manhã.
Optou pelas que nasceram com o botão mais perfeito e ainda aconchegado, entre finas fatias de jovens pétalas por desabrochar.
Preferiu as pálidas de tom, como que hesitantes na escolha da cor com que se pintariam para o resto da vida.
Cortou-lhes o caule, com a convicção de que os espinhos lhe golpeavam a ansiedade e elegeu aquelas, onde a transparência das lágrimas de orvalho lhe reflectiam sem nenhuma espécie de engano, a enorme importância do acto que estava prestes a arriscar.
Afinal, era aquela a primeira vez que se iria declarar.

quarta-feira, 25 de março de 2009

dois amores

foto terillo

Já lá vão oito anos de dança e a convivência com o ritmo, que lhe vibra os movimentos em todos os instantes onde exista melodia.
Sendo cada vez mais evidente esta afeição pela dança, seguimos por uma escola séria: cinco anos intensos, logo para começar, programa de acordo com a RAD, método, rigor, trabalho sério. E quanto mais sério mais ela gosta, definindo-se logo um amor para a vida.
Mas a menina revelou ambivalência nas paixões e mal as delicadas sapatilhas de pele lhe deslizam e se soltam do pé, este vai até ao fundo de um cano alto de cabedal, rude e másculo, onde brilha uma espora prateada que o remata no final.
O pompom perfeito, enrolado pacientemente numa rede fina, quase tecida por dotadas aranhas, é desfeito sem dó e da cabeça,
assustados com o repentino do gesto, soltam-se mil ganchos, antes sabiamente dissimulados entre as melenas.
De imediato, o cabelo comprido é negligentemente apanhado com o primeiro elástico que surgir à mão, num insípido rabo-de-cavalo e toda a cabeça se protege e esconde sob um salvador e clássico toque de veludo.
As linhas elegantes do jovem corpo, que no espaço de dois ou três anos serão chamadas de curvilíneas, não se perdem entre a passagem do maillot para as estreitas calças de montar, vulgo breeches.
Agora, o som dos cascos da égua Nur, substitui com nobreza rural, a anterior melodia cortesã das leves teclas do piano afagadas por Miss Caroline e a imensurável força do corpo, que era obrigatoriamente ocultada, no rigor de movimentos falsamente leves e subtis como plumas, é neste momento brutalmente evidente na pujança de uma cedência à perna, que se quer executada na perfeição que um Lusitano merece, sob o comando de uma voz austera inspiradora na confiança e no saber.
Já não se ouve Mozart, Chopin ou jazz, mas sim a dor do fado e o orgulhoso flamenco.
E assim se passam anos, onde comungam em harmonia splits, hops, amalgamations, kicks e tendus por entre trabalhos em encurvação, mudanças de mão, trotes médios, encostos à rédea de fora, cabeças ao muro, passos largos e galopes contra o vento.

segunda-feira, 23 de março de 2009

porcos, feios e maus


Na disciplina de História, aprendíamos as características das várias classes sociais: povo, burguesia, clero e nobreza. Hoje em dia muitas mais existem; a classe dos condutores, dos políticos, dos fãs de hipermercados, das toupeiras dos centros comerciais, dos consumidores de junk food, dos pais demissionários, a malta do futebol e venha o Diabo e escolha.
Poucas coisas me repugnam mais em Portugal, do que o mundo do futebol. Não há quase nada, ou quase ninguém que escape.
Para já é um 'desporto' para maricas, pieguinhas e meninos da mamã mimados e malcriados. Fiteiros de primeira, passam a vida no chão aos gritos, agarrados ao tornozelo, a escarrar para o ar, a berrar palavrões, a pregar rasteiras ao adversário e a crescer para cima do árbitro.
Dão socos nos árbitros nos mundiais, cospem na cara do adversários em frente às câmaras, insultam os adeptos com as mãos, atiram medalhas e taças para o chão, racham cabeças, provocam lesões graves intencionalmente, espetam murros aos seleccionadores se não os convocam e depois como castigo, ficam sem jogar dois ou três joguinhos, vão para a comunicação social mandar bocas e são os heróis dos seus adeptos mentecaptos.
Têm um óbvio problema com disciplina, formação básica e profissionalismo. São o exemplo perfeito para mostrarmos aos nossos filhos e daí eu ser apologista o mais possível, de que se leve cada vez mais as criancinhas ao futebol. Não existe ecossistema melhor, para a formação do Homem.
Burgessos ao mais alto nível, não há como eles para saber como misturar em harmonia a enorme fivela do cinto Dolce e Gabbana, com um cap Gucci, uns jeans Armani e um polo Ralph Lauren.
Os treinadores idem. Na maioria são uns incompetentes com o rei na barriga, incitadores a desavenças, antipáticos, com um nível de formação no mesmo patamar dos seus pupilos, quase nenhum tem um penteado que se aproveite e falam um dialecto estranho, quase incompreensível.
São sempre os primeiros a falar do árbitro, mesmo que o jogo ainda não tenha sido realizado.
Depois a subclasse de presidentes de clubes, dirigentes de federações, de ligas e ligas e ligas e mais ligas.
Cambada de corruptos, mentirosos e impostores, novos ricos, histéricos, palhaços de passado suspeito, com pretensões campónias de governarem uma mini-nação, só porque na escola básica nunca foram escolhidos para delegados de turma e não faziam parte da equipa de futebol, lá do campo de terra.

Passam a vida a ser investigados pela judiciária, fogem do país porque têm informadores no local e na hora certa, passeiam no estrangeiro à vontade, confiscam-lhes bens, vão a tribunal e escapam sempre, mais uma vez ganhando o papel de heróis exemplares perante a obcecada tropa de adeptos.
Os árbitros têm um ar de infelizes que até metem dó. Têm medo dos jogadores, medo dos treinadores, medo dos jantares pagos com os dirigentes dos clubes, ou com os seus mandantes, medo de apitar, medo dos cartões, medo de pisar a relva, medo das 'luvas', medo dos outros árbitros, medo dos adeptos, medo de voltar aos balneários, medo de ir para casa, medo de atenderem o telemóvel, medo de receberem uma sms. Medo, muito medo.
E os jornalistas que entrevistam os jogadores logo a seguir ao jogo? E o comportamento primata dos adeptos, quando após um jogo vêem uma câmara de televisão ou alguém de microfone em riste? E a violência das claques, digna de qualquer guerra de ódio mortal e cego? E os seus cânticos, de fazer inveja ao PNR? E as gordas dos jornais desportivos? E as mortes nos estádios? E quando o início de um telejornal nacional, é uma vulgar notícia sobre futebol?
E finalmente, a creme de la creme: os comentadores desportivos. Mas haverá programa mais desprezível, abjecto, qual varinas na praça, do que aqueles que falam horas a fim, sobre os jogos de futebol?
E gritam, e insultam-se, e zangam-se a sério, e vêem imagens que mais ninguém vê, e sonham, e deliram, e acreditam no que estão a vociferar e são pagos! E são ouvidos! E têm audiências!
E usam gravatas da cor do seu clube! Meus Deus, gravatas da cor do clube!

Oh eruditos colóquios de taberna, nas tardes de domingo, voltem que estão perdoados.

sexta-feira, 20 de março de 2009

vírus* num blog sério e familiar #1

michael vartan

Bom fim-de-semana!
(agradeço que limpem as dedadas do ecrã antes de se retirarem)


*atéquinfim

quinta-feira, 19 de março de 2009

biografias #2


Maria Apolónia nasceu do outro lado do mundo, em Melbourne. Filha de emigrantes portugueses na Austrália que para lá partiram atrás da vã fortuna, mas deixando em Lisboa o coração.
Quando o marido morreu, a mãe resolveu pegar na trouxa e nos filhos, regressando à pátria no primeiro barco.
Maria Apolónia tinha somente a instrução primária, mas como dominava a língua inglesa, arranjou facilmente emprego como mulher a dias na casa de um poeta, que vivera muitos anos na África do Sul e que engraçou com o sotaque dela.
Gostava muito do seu novo trabalho, o patrão pouco mais lhe exigia do que manter a casa limpa e a roupa devidamente tratada. Com as refeições não se preocupasse, pois ele comia quase sempre fora de casa. Só lhe impunha uma rigorosa e única condição; que não tocasse nunca nas centenas de papéis que tinha espalhados pela casa. Era uma espécie de biografia dele, e de um tal de Bernardo e não podia perder nem uma folha.
Credo Sr. Pessoa, Deus que me livre tocar nessa papelada toda cheia de letrinhas inclinadas! Nem eu saberia dar ordem a tanta folha e depois, ainda ficava para aqui com o coração num Desassossego!
Maria Apolónia tinha o patrão como um homem muito educado e calado, tímido até, mas quando recebia os amigos e se fechavam todos no escritório, aquilo eram discussões de meia-noite, vozes alteradas, discursos inflamados, declamações poéticas, enfim, um ror de conversas exaltadas. Como é que um homem tão pacato, se identificava com amigos tão barulhentos e contraditórios?
Muitas vezes diziam palavras e frases que ela não entendia, pois nunca as tinha ouvido na vida, como metafísica, filosofia, engrenagem, via láctea, infausta esfinge, embalsamar ou subjectividade objectiva. Mas noutras alturas, Maria Apolónia compreendia tudinho e até apontava na lista de compras de tão bonitas que eram as expressões que escutava; querer mais é perder isto, Tejo e tudo, todos os sonhos do mundo, verdes campos, os paquetes que entram de manhã na barra, coroai-me de rosas e de folhas breves, a natureza é partes sem um todo e o menino Jesus adormece nos meus braços.
Nunca vira os amigos do senhor Pessoa, quando ela pegava ao serviço eles já lá estavam trancados no escritório com o patrão. Mas sabia identificar cada um deles com todos os pormenores, como se lhes tivesse posto a vista em cima, com os dois que a terra haveria de lhe comer.
O senhor Álvaro era o mais exaltado e parecia-lhe que nunca se sentia bem em lado nenhum, tanta era a refilice. No entanto, achava-lhe alguma piada porque ele dizia muitas palavras em inglês que mexiam com as suas memórias. Passeava-se bastante pela capital, Lisboa Revisited, como ele gostava de repetir sem se cansar e fregueses como ele, também devia haver muito poucos, pois gastava sempre, sempre na mesma Tabacaria.
Era um pouco cínico e até houve aquela vez, que troçou das cartas de amor que o senhor Pessoa escrevia à sua amada, a menina Ofélia, chamando-lhes de Ridículas! Mas se o patrão não se ralava, também não era ela que se ia incomodar com o assunto.
Ao médico, o senhor Ricardo, achava-o muito gentil e tinha a certeza que ele sentia uma enorme paixão pela botânica, pois falava muito de flores, grinaldas, folhas, primavera, magnólias e a sua voz enchia-se sempre que falava de rosas. Ou se calhar, arranjara um namorico com alguma vendedeira da ribeira. Fosse o que fosse, os outros chamavam-lhe de bucólico e quem era ela para os contradizer.
Mudou-se para o Brasil, que aquilo de repúblicas não era nada com ele. Nunca, mas nunca mais soube nada do senhor doutor, nem sequer quando morreu.
E o senhor Alberto?
Ai o senhor Alberto... que criatura encantadora! O que Maria Apolónia o venerava.
Via-se logo que era um homem simples, mas todos lhe tinham grande respeito, ah pois! Mal ele começava com aquelas poesias sobre os pastorinhos e os rebanhos, fazia-se um silêncio profundo naquela casa e as suas palavras ecoavam por todo o bairro. Maria Apolónia é que não era mulher dada a ocultismos e astrologias como o senhor Pessoa, senão, até podia jurar que aqueles versos iriam voar através dos tempos.
Conseguia imaginar a cara de espanto daqueles amigos, fechados no escritório e deliciados a escutar tamanha beleza.
Era um Mestre o senhor Alberto, oh se era!


terça-feira, 17 de março de 2009

rosa

foto fanciful twist

Há muitos anos que não vejo telejornais e se eles, matreiros, me apanham distraída e se intrometem no meu caminho, troco-lhes as voltas, tiro-lhes o som, ponho alto um cd, mudo de canal, desligo a televisão.
Esta minha negação assumida, de impedir que a realidade me entre pela vida adentro a toda a hora e sempre que lhe apetece, faz-me recordar a Rosa das saias de folhos.
Era uma 'maluquinha' que durante muitos anos passava à porta da nossa casa, rindo sempre alto, tinha conversas desconexas consigo mesma, criava vozes, respondia-se, dançava à volta das crianças, abraçava os animais, nunca fez mal a uma mosca.
Vestia sempre compridas e rodadas saias de folhos, lenços no cabelo, colares de mil voltas e pulseiras barulhentas. Toda ela era uma festa.
Nunca ninguém a evitou, teve medo dela, enxotou ou sequer lamentou. Rosa era quase igual a todos que morávamos naquela rua, com a única diferença de que era mais feliz que nós. Mas pouco ou nada a entendíamos.
Um dia regressou de um dos seus habituais períodos de internamento, totalmente diferente.
Depois de uma crise mais forte que o habitual, teve de ser medicada com uma dose de peso. Passeava agora na nossa rua de cabeça sempre baixa, roupa discreta e sem folhos, rezava baixinho, não nos conhecia, não brincava com as crianças e fugia dos cães.
Às vezes levantava a cabeça para o céu, andava à roda sem parar e dizia a chorar, ai mundo que não gosto nada de ti desta maneira.
Foi essa a única vez que a percebemos e tivemos pena dela.
E penso que de nós também.

quinta-feira, 12 de março de 2009

a lírica


Naquela manhã, o poeta acordou entusiasmado pela primeira vez em muitos anos; vivo e inspirado.
Sonhara com Lianor, a donzela do pote equilibrado na cabeça, que seguia formosa e desta vez muito segura e confiante, direita à fonte onde combinara encontrar-se com ele.

Lianor, a linda e bucólica Lianor, que se passeia descalça pela verdura; Lianor de olhos cândidos, onde aliviado lê o amor que ela lhe tem, Lianor que o aguarda a meio dos seus versos.
O poeta saiu de casa a correr e numa alegria exultante, cumprimentou de forma efusiva todos os vizinhos, todas as crianças, todos os animais...as pedras da calçada. Ria de tudo e de nada, o amor viera finalmente fazer as pazes consigo sem sofrimentos, sem cativeiros e sem coisa alguma de fatalismos ou desgraças.
E mil versos perfeitos já lhe desciam ao pensamento, definidos nas rimas emparelhadas, interpoladas e cruzadas, para jogarem com mestria em composições líricas de erotismo comedido.
Eis que distinguiu Lianor junto da fontana fria, que de cabelo de ouro entrançado mas totalmente encharcado, se encontrava estatelada no chão segurando nas mãos de prata, a fita de cor de encarnado.
E rodeada dos cacos do pote, gritava furiosa: ai malditas abelhas que não largais nunca a fresca água da fonte; pragas demoníacas que já me fustigastes a manhã; oh maldito poeta, que não soubestes escolher outra estrofe menos escorregadia deste poema, para vos encontrardes comigo!

E Luís, perante o estrondo que aquelas palavras provocaram na sua alma, ainda há minutos em pleno júbilo, pegou entristecido na pena e no papel e em agonia principiou a escrever...

Aquela triste e leda madrugada
cheia toda de mágoa e piedade
...
...

quarta-feira, 11 de março de 2009

percepções II

foto style files

Tem sido nas dúvidas e nas hesitações, no inusitado de inesperadas circunstâncias e até no receio de cometer um equívoco, que dou por bem empregue o tempo em que venho fazendo companhia a mim mesma.
Sigo, questionando-me em diversas ocasiões e nem sempre me consigo responder, mas cada vez menos me engano a mim própria.
E a moral da história nem sequer pretende ser muito sabedora ou pretensiosa, simplesmente sei que comigo estou segura.

terça-feira, 10 de março de 2009

por dentro

ilustração de matthew woodson

Carregamos muitos defeitos, o que não deve ser um problema se os trouxermos devidamente identificados.
A preocupação estará nas qualidades que desconhecemos possuir, porque ainda não buscámos uma oportunidade de as demonstrar.

domingo, 8 de março de 2009

solar cooking (dia internacional da mulher)



A necessidade vital de sair dos campos de refugiados, para procurar lenha para cozinhar, será dos maiores perigos que as mulheres que estão no Darfur, ou nos campos do vizinho Chade, enfrentam diariamente.
Tornam-se presas fáceis e vulneráveis perante os constantes ataques, espancamentos, raptos e violações das milícias rebeldes. Assim, o simples acto de aprovisionamento de um bem primário e primordial à sobrevivência da família, torna-se no maior dos riscos.
Os fogões solares foram introduzidos nos campos, num esforço de reduzir a dependência da lenha e melhorar a segurança destas mulheres. Têm ainda a capacidade de pasteurizar a água potável, reduzindo o risco de doenças, principalmente nas crianças, evitam os incêndios e reduzem os danos que o fumo provoca na saúde.
Este projecto, da responsabilidade da Jewish World Watch com sede na Holanda, protege as mulheres dos ataques fora dos campos e fornece-lhes outras oportunidades, como produzirem elas próprias os fogões solares, que têm de ser substituídos cada seis meses, ajudar outros a aprender a cozinhar desta maneira inovadora e tornarem-se assim formadoras.
Dois fogões solares são o equivalente à poupança de uma tonelada de lenha por ano.

A cozinha solar salva vidas!


Hoje não quero caixas de bombons, ramos de flores, jantares especiais, cartões com pieguices; não preciso.
Neste campo de Iridimi, vivem mais de 17.000 mulheres e crianças e enquanto houver uma só
mulher discriminada, este dia faz todo o sentido para mim, não devia ser questionado e tenho arrumada a questão.

sexta-feira, 6 de março de 2009

sorrisos desde Darfur


"O Tribunal Penal Internacional de Haia, deu ordem de prisão contra Omar el-Bashir, presidente do Sudão, por crimes contra a humanidade e crimes de guerra em Darfur. Um feito sem precedentes na história deste conflito; é a primeira ordem de prisão do TPI contra um chefe de Estado, desde que o tribunal começou a funcionar em 2002.
Omar el-Bashir derrubou o governo democraticamente eleito de Sadek el-Mahdi num golpe de Estado em 30 de Junho de 1989, apoiado pelo Frente Islâmica Nacional.
Desde 2003 que a população do Sudão tem sofrido, indefesa e vulnerável, todo o tipo de crimes por parte das forças governamentais e das milícias yanyawid: contam-se 300.000 mortos e cerca de 2.5 milhões de desalojados, já para não falar na violência contra mulheres e meninas.
Tudo isto, perante uma comunidade internacional que não só não soube reagir a tempo, como, no caso da China e da Rússia, forneceram armamento, violando o embargo de armas decretado pela ONU.
Durante estes anos, a Amnistia Internacional colocou todos os seus esforços na tentativa de mobilização de todos os cidadãos possíveis, para exigir a protecção da população civil, o cessar fogo, o embargo de armas, através de campanhas de pressão política que levaram a sua secretária geral, Irene Khan, a missões de alto nível na zona, em várias ocasiões.
A Amnistia espera que Omar el-Bashir se entregue imediatamente para ser julgado. Se assim não for, as autoridades sudanesas devem assegurar que seja detido e entregue de imediato perante o Tribunal Penal Internacional.
E garante que seguirá este assunto de perto, porque não só afecta o Sudão, como todos os habitantes do planeta".

Mensagem recebida hoje do site da Amnistia, ao qual me associei há três anos.
Mais novidades da Amnistia sobre Darfur, aqui.

Eu queria muito acreditar que sim; que ainda é possível fazer-se alguma justiça neste mundo.

quinta-feira, 5 de março de 2009

biografias #1

foto apartment therapy

Jessica Soraia, portuguesa emigrada no Reino Unido em Lincolnshire, é uma empresária de sucesso no ramo das compotas e fundou a Pear Rocha Jam, sem rival em todo o condado.
Jessica Soraia, nasceu prematura na húmida aldeia de Nadrupe, na freguesia da Lourinhã e nem houve cá tempo para berços, cueiros ou choros, que a mãe tinha a lida do campo nas costas e precisava de sustentar a família.
Aconchegou-a ali no momento, dentro do cabaz de vime, com as mesmas mantas que tinham servido
para os irmãos e pôs-se a mexer, direita aos seus pomares de Pêra Rocha, a fruta rainha que exportava para Inglaterra.
Jessica Soraia, que desde nova demonstrou mão para a terra, para o negócio e para o cabo da enxada, sonhava ir atrás das camionetas que levavam as pêras e inscreveu-se num curso intensivo de inglês, onde aprendeu a dizer entre outras palavras, jam, land, pound, my dear, princess Diana, Cristiano Ronaldo e mind the gap.
Quando tinha dezoito anos, foi pedida em casamento pelo 'Toino José que estava de visita à terra em Agosto, altura das festas em honra de Nossa Senhora da Graça.
Era rapaz com poses, filho de emigrantes no Reino Unido que tinham investido as suas economias na indústria panificadora.
Vivem hoje em Lincoln
, numa grande propriedade rural, estão plenamente integrados na comunidade e os filhos Samantha Raquel e William Augusto, frequentam colégios privados.
Na foto, podemos ver Jessica Soraia com a sogra, Maria Adozinda com quem criou recentemente uma forte parceria, exibindo a sua nova e revolucionária aposta; pêra rocha em conserva para uso exclusivo em tartes macias.
Com este novo produto, Jessica Soraia pretende destronar a ancestral e poderosa apple pie.

-.-.-.-.-.-.-.-.
Digo eu, sei lá...

quarta-feira, 4 de março de 2009

de comer com os olhos


Há momentos em que pura e simplesmente estaco. Literalmente.
Arregalo os olhos e esfrego as mãos.
Nunca sei por onde começar e muito menos terminar.
Na distância entre o corante e o conservante, tudo me pertence.

E vocês? Não resistem a quê?

terça-feira, 3 de março de 2009

os descompensados

foto liberty blog

Até podia ter sido um dia perfeito, agasalhado de sol e de céu sem mancha, não fora a paisagem humana que resolveu toldar-me o mar.
Desfile antecipado de corpos incautos passeando pela esplanada, que sofismados pela chegada do verão em fevereiro, patenteavam pernas desbotadas, cambiadas aqui e ali com manchas avermelhadas de uma depilação histérica, executada com uma urgência caseira no duche daquela manhã.
Rabos descaídos de semblante triste, que pouco tonificados das escassas horas de ginásio, se lamentavam desconsolados por não caberem ainda na tanga brasileira do agosto decorrido. Bochechas flácidas, ainda ontem reprimidas, contudo protegidas pelo vigor da ganga, eram agora apanhadas de surpresa pelas picadas da areia e gritavam suplicantes, porquê, porquê; oh meu Deus porquê?
Infelizmente, também eu apavorada por me encontrar presente na primeira fila de um espectáculo para o qual não comprei bilhete, não lhes soube responder.
O estrado de madeira onde assenta esta minha esplanada favorita, foi sadicamente arranhado e marcado sem remorso, por calcanhares de escama grossa, que maturados e conservados durante mais ou menos cinco meses, dentro do calçado fungíco de inverno, se assemelhavam em cor e textura ao popular queijo parmesão.
Tops, vestidos de alças e biquínis nitidamente amarfanhados e com uma familiar fragrância, própria de quem esteve muitos meses em clausura no fundo de um qualquer armário, mal conseguiam dissimular o cruel castigo infligido às axilas, sofrivelmente depenadas.

Eu também vesti roupa mais fresca nesse sábado, usei chapéu, peguei no carrego de livros, no lápis e no bloco de linhas e saí de casa mais cedo, para aproveitar ao máximo o presente do bom tempo e esplanar até fartar. Mas toda a vida janeiro foi janeiro, fevereiro foi fevereiro e março foi março, mesmo que houvesse neles belíssimos dias de sol.
Há qualquer coisa de pré-histerismo, um início de propensão ao desequilíbrio, um desarranjo que começa a ser notório neste meu país.
As pessoas gritam por socorro, só que não se ouve.
Ou será que não? Que não gritam e que se estão nas tintas e que venha o que vier?

segunda-feira, 2 de março de 2009

depende

foto de su blackwell

Escrever será um quase tudo de muito esforço e um quase nada de talento.
Depois virão a imaginação e a criatividade, que apesar de já lá estarem, só entrarão mais tarde.
Ou antes de tudo.
Ou então ao mesmo tempo.