quarta-feira, 30 de abril de 2008

aquilo que nos irrita, que nos bule com os nervos, que nos tira do sério; o tal do nervoso miúdinho


Eu até já andava melhorzinha; andava sim senhora!

Até o médico do hospício me disse, pronto já tem alta, pode largar as drogas e acabaram-se as curas de sono. Volte lá p’rá sua vidinha e deixe-se de macacadas, ouviu bem? Ouvi Sr. Dr., ouvi até muito bem. Mas diga-me só uma coisa, porque é que a sua assistente fala aos berros ao telemóvel?, perguntei-lhe eu. Mau! Quer cá ficar? Está aqui, está a falar-me do jardineiro que limpa os dentes com a unha em vez de usar a escova de dentes! Não, não. Era o que mais faltava, calei-me logo e queria era sair dali.


E cá andava eu, sossegada, tranquila, madura, sensata, ponderada, equilibrada, descontraída e feliz, mantendo-me afastada das coisinhas irritantes e insignificantes. Primeiro foi o FM com os questionários dele, como este e depois a Carlota com isto.

Subiu-me tudo outra vez como um alergia na pele, daquelas galopantes.

Lá vêm as estúpidas das molas da roupa a gozarem comigo outra vez e de propósito, de certeza.


Saltam do cesto quem nem umas doidas, espalham-se de uma ponta à outra da cozinha, com aquelas cores berrantes que mais me parecem gargalhadas estridentes a fazerem pouco da minha cara e ainda me dizem trocistas, então ainda falta apanhares algumas, olha ali debaixo do frigorífico, bem lá ao fundo, vá deita-te no chão, bem esborrachadinha que ainda tens mais aquelas duas atrás do fogão.

E lá vai uma pílula para baixo da língua.

Anormais!


Depois são as amêijoas, as cadelinhas, os mexilhões, os berbigões. ‘Bora almoçar uma mariscada na esplanada da praia? ‘Bora, digo eu, mas arrependo-me logo. E não é, que todos os bivalves fechados, fechadinhos da silva, vêm sempre parar ao meu prato!

Anda uma pessoa para ali a fazer figuras tristes com a ponta da faca para ver se aquilo abre de uma vez e eles a olharem-me com desprezo e com frases do tipo, bem feita, minha assassina, querias comer-me não querias? Olha, então agora molha o pãozinho no molho de coentros e baba-te p’rái, oh canibal!

Como se não bastasse, ainda tenho de ouvir indivíduos a chupar ruidosamente cabeças de camarão como se tivessem uma fuga de gás!


Lá tenho eu de interromper as férias do Sr. Dr. e marcar novo internamento.

E nas rotundas? Ouve lá, oh meu grande energúmeno, será que achas mesmo que eu, a Lara Li, mais a Telepatia dela, somos íntimas oh quê? Mas eu tenho de adivinhar para onde tu vais? Estás a ver esses manípulos saídos, ao lado do volante? Não, meu camelo, não é só para enfiares nos olhos é também para fazeres piscas!

Oh, valha-me Deus, que eu já andava tão benzinho. Vou dar mas é dar uma voltinha ao Chiado, beber uma tília, comer um duchesse cheio de açúcar, para me subir a tensão e espreitar umas montras.

E agora mais estes! Mas porque é que esta gente quando anda carregada com sacos vem contra mim e não se desvia? É alguma doença?

Bom, adiante.


Olá, bom dia, podia-me dizer o preço desta ca…..; eu disse Bom Dia! Não ouviu? É surda? Mal-educada? Porca e não lava os ouvidos? É para fazer género? Esqueça, sua monga, vou pagar! Uma vez na fila . . . oh pessoal, vejo ali uma pessoa ao fundo desta caixa para pagar, que está grávida, ou tem uma criança ao colo, ou está de muletas, ou é velha, ou está de cadeira de rodas! Porque é que estão todos a olhar para o lado, a fingir que não vêem broa e a assobiarem a banda sonora da novela?

Pronto, agora é que ficou tudo estragado. Telefono imediatamente ao médico.

Ai Sr. Dr., que me veio tudo à memória outra vez. São aquelas miudezas do costume, o senhor já sabe como é! As minhas implicânciazinhas, os meus chiliques. Já estou a ouvir aquele tic-tic, tic-tic insuportável do corta-unhas, objecto repugnante, mais os estalidos dos nós dos dedos, as unhas a arranhar na ardósia, juntamente com os gritos do giz, as facas a chiar no prato em vez de cortarem o bife mais os olhinhos esbugalhados do Sócrates e a vozinha de cana rachada.


Oh Sr. Dr., venha depressa e desta vez traga de lá o bisturi que isto agora só mesmo direitinho ao fundo do cérebro. Se não for assim, eu já não tenho salvação.Está a ouvir-me Sr. Dr.? Estou, estou, estou, estoouuuuuuu. . . .Só me faltava mais esta; Portugal Telecom, o número que marcou foi alterado, desligue e consulte a lista número . . . .


Ai que neeeeeervos!

terça-feira, 29 de abril de 2008

as vencidas


No desafio da Blue de alguns posts atrás, a pergunta que me ficou a passear na cabeça foi a 9ª, a que me pedia para escolher uma mulher.Eu respondi: 'Todas. As vencedoras, mas principalmente para as vencidas'. E vi logo que a resposta me soube a pouco e que já me estava a ferver na cabeça mais um post.

Ou eu já não me conhecesse tão bem. Escolho as mulheres vencidas em todos os sentidos.


O meu pensamento vai para as intimamente infelizes, as que não conseguiram/não optaram/não puderam/não as deixaram viver de outra forma a não ser a que lhes foi transmitida e não sabem existir de outra maneira. Para as humilhadas e usadas pelos outros; patrões, colegas de trabalho, filhos, maridos, amigos, que por vergonha, por medo, por baixa auto estima deixam-se subjugar uma e várias vezes, durante toda a vida. Para as soberbas, que do alto da sua vaidade e arrogância, são umas solitárias, mal amadas, iludidas consigo mesmas e que vão acabar sozinhas ou, na melhor das hipóteses, junto de outros iguais a elas. Para as deprimidas crónicas, que apesar dos dias de sol continuam só a ver chuva, que só se lamentam e não agem, que só esperam e não procuram, que só sabem ser tristes e nunca vão ser contentes. Infelizes de nascença. Para as que foram enganadas pela ordem natural das coisas e perderam um filho, muito antes de se perderem a si próprias. Para as indigentes, sem casa, sem colo, sem comida, que sobrevivem nas ruas, na droga, no álcool, na fome, na solidão, no frio, no medo. Para as maltratadas pela vida, as abusadas, as vexadas, as violentadas, as desrespeitadas, que quando têm a grande coragem de dizer basta, muitas vezes perdem casa, bens pessoais, liberdade, identidade mas sobrevivem.

E para as que me doem mais. As prostitutas. Não fosse eu tão mulher quanto elas.


Apesar do papel de todas as mulheres anteriores ser terrível, cada um à sua maneira, fica sempre aquela ideia de que à priori não foi uma opção delas viver assim, mas mais uma vicissitude da vida da qual será, aparentemente, mais fácil sair, ou que haverá alguma ajuda de alguém com um braço estendido. E que existirá, mesmo que ténue, uma luz ao fundo do túnel, uma nova oportunidade.

As segundas oportunidades para prostitutas, raramente aparecem. Há muitas coisas implicadas; drogas, proxenetas violentos, preconceitos, perseguições, falta de alternativa de trabalhar noutra coisa. E mesmo que consigam guiar a vida para outro lado, as cicatrizes devem ser das mais difíceis de curar. Proliferam na pele. Sempre que passo na rua por uma prostituta fica-me sempre um amargo de boca, uma tristeza enorme e uma raiva incontrolável sempre que ouço comentários pejorativos e ofensivos. São insultos que me fazem sentir ódio, tenho ganas de andar à bofetada e de partir a cara a alguém. É como se fosse comigo. Sinto-me exposta.

Haverá vida mais humilhante, mais insegura, mais violenta, mais corrompida, mais exposta, mais dependente, mais triste e desamparada? Passada na rua ao frio e à chuva de noite e de dia? Apetece-me pegar-lhe na mão e levá–la dali. Mas não posso. Como será, quando se volta para casa, muitas vezes roubada, agredida, sem dinheiro porque o trabalho não rendeu, drogada, doente e 'morta'?

Existem filhos que as esperam para comerem o pequeno-almoço, para os levarem à escola, para lhes fazerem um carinho, para os levarem ao parque infantil, para lhes aconchegarem a roupa antes de irem dormir? Certamente que existem! Porque não? Ou não seríamos todas mulheres iguaizinhas, que lutam diariamente como podem, que também têm casa, filhos, família, horários para cumprir, contas para pagar, idas ao médico, compras no supermercado para fazer, responsabilidades para assumir.


Nunca me esqueci de uma reportagem sobre a prostituição em Lisboa em que falaram com uma miúda nova que já tinha um bebé. Vivia numa pensão miserável e barata e todas as noites ia buscar o filho à ama. Então e o seu filho costuma jantar o quê? Ele já vem jantado da ama, mas eu dou-lhe sempre um biberão antes de dormir, feito com o leite que me dão no banco alimentar. Mas este mês o trabalho não rendeu muito, sabe, não comprei a botija de gás e cortaram-me a água da pensão porque não paguei a renda. Então e como é que lhe faz o biberão de leite? Vou lá fora ao chafariz e dou-lhe assim mesmo.

Frio!

. . .

E eu chorei.


segunda-feira, 28 de abril de 2008

trancas à porta


E mesmo passados 34 anos da revolução das flores, ele há coisas que mudaram pouco. Este é o país da dicotomia das portas. Para uns, denominam-se por portas A, as escancaradas, as abertas de par em par, qual Arco da Rua Augusta. Para outros, chamam-se de portas B, as que estão sempre fechadas, trancadas, acorrentadas e vigiadas.

As portas A são onde permanecem os “mesmos do costume”, das pequenas elites repisadas vezes sem conta. O desgraçado do anónimo, diligente, talentoso, empenhado e esperançoso quando vai optimista bater à sua porta B, na esperança de ela passar a ser a sua porta A, depara-se com que cenário?

Ah, sabe é que de manhã estamos fechados e à tarde não trabalhamos.

ou

Seja bem-vindo, pode deixar aí a sua proposta, trabalho, apresentação, C.V., livro, música, o que for, que eu depois entrego. Fique descansado.

Muito raramente, porque não me agradam as generalizações e as excepções também existem (até aqui em Portugal), há um abençoado que consegue penetrar na porta B, começa a designá-la por porta A e torna-se a nova coqueluche do ano. Alguém inteligente do lado de lá, ia a passar e reparou no sujeito, ou este conhecia o primo da vizinha do 3º esquerdo, que servia os cafés ao Sr. Dr. X, ou tornou-se sem-abrigo e indigente porque ficou 5 anos a dormir nos degraus da sua porta B, futura porta A e fez amizade com o segurança que arranjou forma de lhe meter para lá o projecto, ou outra coisa qualquer.


Mas na porta A, meus meninos, só lhes digo, o cenário é muito diferente. Ninguém dorme na rua.É uma passadeira vermelha de notáveis; inimigos e amigalhaços, companheiros de jantaradas e tertúlias, velhos rancores e cordiais relações, habilidosos e trapalhões, predestinados e empenhados. Feira de vaidades, às vezes com tanto de incompetente como de sinistro. Parecem tolinhos atrás de protagonismo, flashes e objectivas, qual revista Caras. Na porta A desliza suavemente um show of de mentes brilhantes com lugar cativo, tipo B.I., pessoal e intransmissível.

Até aí, tudo bem, desde que o lugar seja merecido, porque se luta por ele a cada dia que passa e não por pura indolência, conquistada pelo estatuto de elite.


Só gostava de saber uma coisinha simples; quantas vezes por ano, nesta santa terrinha, o anónimo passa da porta B para a porta A e faz companhia ao iluminado do lugar cativo, toma cafezinho com ele, mostra-lhe as fotografias da família que trás na carteira e combinam uns buracos no ‘green’?

domingo, 27 de abril de 2008

[13] há coisas fantásticas, não há?



Vídeo retirado de um dos meus blogs preferidos, Zoo

"O cavalo, é a parte mais importante do cavaleiro."

Jean Giraudoux

sábado, 26 de abril de 2008

vocês já viram bem este tempo bestial?


Então toca a melhorá-lo ainda mais com este alimento potável.

. 1 garrafa de espumante tinto

. 1/2 copo de brandy ou whisky

. 3 laranjas

. 1 lata de ananás

. a calda dessa lata

. 1 chávena de sumo de laranja

. 10 cerejas de conserva

. Gelo

. Limonada q.b.

Misturem, num jarro alto o espumante, o brandy ou whisky, a calda de ananás e o sumo das laranjas.

A seguir juntem as laranjas e o ananás aos pedaços, as cerejas e o gelo.

Completem no fim, com limonada a gosto. Frigorífico.

Finalmente, encham muitos copos no jardim, no terraço, no quintal, na varanda ou na casa dos amigos.



Bom fim-de-semana!

sexta-feira, 25 de abril de 2008

trocas de flores


Hoje comemora-se uma das datas portuguesas que celebra a liberdade do nosso povo.


Ainda houve uns e outros que tentaram que isto virasse outra ditadura, agora de esquerda. Safámo-nos a tempo! De uma e de outra.


Neste dia, fico sempre com a ideia que não se fez, justiça com o capitão Salgueiro Maia e tenho vontade de lhe dar mais um prémio.

Digo “fez”, porque hoje são homenagens para a direita e para a esquerda, mas em vida, não foi lá muito bem tratado.

A sensação de ingratidão que tenho é a mesma que sinto com relação a todos os soldados, cabos, furriéis, sargentos, alferes, tenentes e capitães que fizeram o 25 de Abril, também com o Aristides de Sousa Mendes, com o Sá Carneiro, com o Camões, com o Camilo, com o D. João II, etc, etc, etc, com os soldados anónimos que foram obrigados a combater nas ex-colónias e com todos, brancos e pretos, que morreram nessa lamentável e dispensável guerra ultramarina.

Ainda ontem falava disto com o Carlos Barbosa do Rochedo; em vida nunca lhes dão o real valor mas depois de mortos as homenagens não param.

Como sempre, já vêm tarde e este país parece que não aprende nunca nada!

Bom, vou seguir com o post, senão nunca mais acabam as minhas reclamações e hoje é dia de festa.

E como as revoluções deviam ser sempre feitas com flores, este é o meu prémio florido, "criado" por mim, para que possam circular em sistema de livre-trânsito pelo blogobairro.



Há quem não ligue, ou diz que não liga a prémios. Cada um faz com ele aquilo que melhor entender. Vizinhos na mesma.

Eu gosto de receber presentes e gosto ainda mais de os oferecer, apesar de ser ingrato, porque nunca podemos dar a todos.

Já me foram atribuídos alguns e agora chegou a minha vez de o fazer, sem qualquer tipo de obrigatoriedade, mas em total liberdade.

À querida, divertida e empática Blue; à Olá, sempre atenta aos outros e que ‘posta’ dois em um; à sensível mulher do Norte, de dentro para fora; à transparente Coragem; à Ego profunda; à bela Inês; ao sonhador e futuro pai babado, FM; ao sempre presente, bom dia, franco e pensativo da Ka; ao verdadeiro cavalheiro do rochedo, o versado Carlos Barbosa; à F@, alma pintora e colorida; ao actualizadíssimo e simpático Pinoka; à sonhadora, meiga e enxuta, Pitanga; às boas vibrações que tocam sempre neste realejo, M&M; à minha cunhada educadora dedicada, Leni; ao fantástico e exuberante Zoo, sempre de jaulas abertas; à árvore com os frutos mais delicados do pomar, Gasolina; ao Bilhete de Ida, que também devia ser de volta, porque quem lá vai, retorna de certeza; ao lindo e especial Peter Pan; à expedita e cómica Gi.


O seguinte desafio foi-me lançado pela Blue e aqui está, feito como te disse.


Qualidades – optimista, interveniente, solidária, independente, intuitiva



Defeitos – refilona, gulosa ao ponto de ser um defeito, elevo a voz quando me zango, impaciente



Gostos – livros, fotografia, passeios, comida, música, animais, cor, Inverno frio com sol, gargalhadas e jantares com amigos, observar cavalos, metáforas, sangria e caipirinhas, brisas, neve, imaginar, inventar, discutir e no fim escrever sobre isto tudo



Não passarei - sem família e amigos



Detestas - preconceitos



Pessoa – João Paulo II (e nem sequer sou crente)



Família - unida, a minha



Homem – o meu avô



Mulher – todas. As vencedores, mas principalmente as vencidas.



Sorriso – da Beatriz



Perfume – Paris de YSL (é antiquíssimo, eu sei, mas foi o primeiro)



Carro – Touareg volkswagen, preto



Paixão – devia durar mais tempo



Amor – difícil manter, mas consegue-se com empenho



Olhos – alegres e aqueles azuis que está lá no céu a olhar por mim



Sal – na comida



Chuva – lá fora e eu à lareira



Mar – mesmo em frente à casa da praia



Livro – O Meu Pé de Laranja Lima, (mais uns trezentos e tal)



Filmes – Cinema Paradiso, E do Céu Caiu uma Estrela



Músicas – Tonight, de Bryan Adams



Dinheiro –aquela do ‘não trás felicidade mas ajuda muito’, é bem verdade



Silêncio – da montanha



Solidão – nem pensar!



Flor - papoila



Sinceridade – às vezes exagero



Sonhos – prefiro a realidade



Cidade – Lisboa e Londres



País – Brasil



Não viver sem - ti



Nunca deixar de – viver


E o desafio vai para:

Cláudia, Eva e Xô, que estão praticamente todos os dias ali na caixa dos comentários.


A escolha dos blogs para este desafio, tem a ver com o facto de todos eles se terem iniciado neste ano de 2008, tal qual como eu e são: de dentro para fora, bilhete de ida, F@, leni e chocolate e menta. E também para o Zoo.


Respondam nos vossos blogs e depois distribuam o desafio por quem decidirem melhor.


Bom feriado a todos.



quinta-feira, 24 de abril de 2008

a 1000


Tenho a cabeça a mil.

Sempre tive.

Tenho mil músicas, mil pessoas, mil cheiros, mil livros, mil sons, mil cores, mil sensações, mil locais, mil paisagens, mil intuições, mil sonhos, mil filhos, mil amores.

Mil coisas.

Só não tenho mil vidas.

E vocês?


São como?

quarta-feira, 23 de abril de 2008

o que mudou na minha vida depois do Euro 2004


Descobri que a Beatriz tinha crescido, depois do Euro. Já estávamos em Lagos de férias, quando: Oh mãe, eu queria tanto ter uma t-shirt do Cristiano Ronaldo! QUÊÊÊÊ, consegui dizer eu, depois de ter tido um afrontamento, ficado com tonturas, perdido dez anos e entornado o chantilly do crepe para o meio do chão. Vá lá mãe, é para eu depois ir aos jogos com o pai ! Ele é tão lindooooo! Ai, que eu já não estou nada bem. ' Tás a brincar comigo? Lindo? Não gozes mãe, tu também gostavas dum que se chamava Simon Le Bon! Fala baixo, olha que me conhecem aqui! Queres comparar um com o outro? Beatriz, essa excitação toda deve ser por causa do Euro, depois passa-te. Não passa nada mãe e até tenho o dinheiro!

Mesadas! Malditas ideias as minhas, de autonomia e responsabilidade precoces. Eu, pouco mais velha que ela, também queria ter tido umas calças de ganga ruças, justas, sujas e rasgadas, mas nunca quis andar com uma t-shirt com a cara do Demis Russos, não é?

Mas, não preferes uma das Bratzs, filha? Oh mãe, que horror, isso é p’ra miúdas!

Miúdas? Eu não estou a acreditar nisto! Estas mudanças são assim sempre tão repentinas? Não me podiam ter avisado um bocadinho antes? Pronto, logo vamos ao centro de Lagos e procuramos. Horríveis. Poliéster. Enormes. Folclóricas. Caríssimas. Na loja nem pensar! Oportunistas.

Mas como não quero uma filha frustrada e fases são apenas fases que depois passam num ápice, tão rápidas como chegaram, lá fui eu regatear com a cigana da feira de sábado de manhã; leve rica filha, leve que é da moda meu amor, é da moda meu anjo, minha cara linda. E quem não vem aqui, não é da móóóóóóóóóda, berrava ela. Ai benza Deus, minha senhora, benza Deus!

Quatro anos depois, ela agora já com 12, ainda ando p’ráqui a arrumar biberões, sacos de fraldas, chuchas, bisnagas de halibut, alfinetes-de-ama, corpetes, resguardos, cueiros, babygrows e a pensar, mas afinal o tempo passou quando, que eu nem dei por isso?

Por via das dúvidas, vou deixar de parte dois biberões, um par de fraldas e um babygrow, porque pode ser que ela depois precise, coitadinha, ainda é pequenina, não é?


terça-feira, 22 de abril de 2008

I hope You don’t mind that I put down in words


Há quem opte por criar um blog porque pensou que seria a melhor forma de se ‘esconder’ e desabafar da vida, dos outros, de si próprio. Acreditou que tinha descoberto a forma de ir dizendo o que lhe vai na alma, com calma, em sossego, em jeito de confissão anónima, criando a meu ver, uma ideia errada de que assim está protegido, resguardado, incólume, sem ninguém à espreita. Nada mais ilusório. Não podíamos estar mais desamparados. Se é essa a intenção, mais vale começar a escrever num diário de folhas alvas com cadeado e guardar na mesinha de cabeceira.

Reparem que não estou a falar daquela velha história de que um blog é de cada um e cada qual faz dele o que bem entender. Não, não é disso que estou a falar. Isso é outro post. Estou a falar de segredos, de confissões, de desafogos, de tumultos internos e ocultos. Expostos.

No blog, nem mesmo o facto de não optarmos por ter foto no canto superior direito, nos protege dos olhares daqueles que espionam cá para dentro. Mesmo que escrevamos só falsidades, personalidades escamoteadas, personagens fictícias através de pseudónimos, piadas brejeiras, crónicas de maldizer, calúnias e boatos, há sempre algo que se escapa de nós, que sai a nu, que nos identifica. Um simples comentário.

E nos trai.


O blog é matreiro, experiente, esquivo, engana-nos, ilude-nos com as suas imensas diversidades e quando menos esperamos já temos tudo escarrapachadinho, neste mesmíssimo ecrã que estão agora a olhar. Ele encanta-nos, perverte-nos, intoxica-nos. Já cá anda há alguns anos. Os imberbes somos nós. Enganem-se que ele não gosta disto, ele adora! Aquilo que escrevemos, revela tudo de nós. Até as fotos, os vídeos, os poemas de autores que gostamos de postar.


Tenho lido pelo blogobairro, posts só de duas ou três frases, de bloggers que se escancaram completamente e se denunciam de tal forma, que se calhar, se não fosse pela palavra escrita, provavelmente, nunca o fariam pela palavra falada. E esses não querem escrever no diário cor-de-rosa da infância, com chave minúscula. Esses querem ser ouvidos!

Deixamo-nos levar pelas palavras e exibimos muito mais do que à partida pensávamos que iríamos mostrar. Elas vão fluindo e a pouco e pouco saem do teclado cada vez mais rápidas, sobrepõem-se umas às outras, amontoam-se, engalfinham-se e atropelam-se; vogais e consoantes, acentos e hífenes, sujeitos e predicados, quase sem deixar espaço para a pontuação. As palavras são só aquilo que significam, mais nada! Não há espaço para fraudes e equívocos.

As palavras não utilizam subterfúgios como os olhares insinuantes, os sorrisos matreiros, os cabelos a taparem metade do rosto, os jeitos de mãos atrevidas, os silêncios reveladores de corpos sensuais e quentes. Não estão de copo de whisky na mão, encostadas a um qualquer bar, de camisa aberta e peito bronzeado, para nos engatar por uma só noite Para quem as escreve, são exactas e claras como para quem compõe uma música, pinta um quadro, faz nascer uma escultura, projecta uma obra de arquitectura. E são maravilhosas por isso! Pela sua crueza.


Os que me conhecem pessoalmente, dizem que eu escrevo, exactamente como falo. Acham eles, que às vezes lhes parece que estão ao meu lado a ouvir-me. Encantada com a ideia! Eu que até nem gosto de exemplos típicos, afinal sou um deles. (Isto está lindo, está, está!) É que nem eu, me imaginava tanto assim. É precisamente assim que me sinto quando vou para o teclado.

Começa cá dentro tudo num burburinho, às vezes ensurdecedor e têm de sair nem que seja para um papel qualquer, à laia de tópico ou de uma ideia sintetizada; palavras soltas, frases inacabadas para preencher mais tarde, discursos directos e metáforas estranhas, às vezes até impróprias. Então mais tarde postarei. E só nessa altura com calma.


E como diz a música que toca por aqui hoje, 'I hope You don’t mind that I put down in words', porque foi o que me ferveu cá dentro de repente.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

o carrossel do blogobairro


Aqui está a história nascida a mil mãos. Juntei todos os pedaços que foram deixando, fiz alterações mínimas, uma palavra ou outra trocada, um elo de ligação que faltava, um esquecimento, uma pequena distracção, uma chamada de atenção, pouco mais.

Como combinado, dei-lhe um fim, que espero que gostem

E com o português do Portugal mais o português do Brasil, conheçam agora a história de todos nós.

“Era uma vez um carrossel muito velho que toda a sua vida tinha andado de feira em feira, sem descanso. Pertencia ao Sr. António, viúvo, que tinha dois filhos, emigrados na Suíça e dois cães, que o seguiam para todo o lado.

Desde os últimos cinco anos que já não precisava de mudar de local, pois o seu dono tinha recebido como herança de um parente lá das Beiras, um terreno ali para os lados de Palmela, com vista para o castelo.

Apesar disso, o carrossel já tinha muita vontade de se reformar, estava exausto, tonto e enjoado, enferrujado, descolorido e um bocado surdo devido aos gritos das crianças.

Mas sabia que o sustento do velho Sr. António dependia dele e falhar ao seu amigo era coisa que não lhe passava pela cabeça. Até porque o negócio tinha dado sempre algum lucro, pouco, mas chegava.

E lá andava ele, todo a semana, à roda, à roda, à roda...

O Sr. António não sabia ler nem escrever e ultimamente tinha sido visitado por uns indivíduos de fato escuro, cheios de pastas e papéis e não paravam de falar e gesticular.

Como os filhos moravam longe, o velho António, coitado, não sabia o que fazer com os tais dos papéis e muito menos percebia alguma coisa da conversa dos sujeitos.

Ora, numa manhã, enquanto o carrossel esperava que o Sr. António ligasse as máquinas, (Patti)

aparece o seu velho amigo de muitos anos, Zeca, o carteiro. Trazia uma carta acabadinha de chegar, fresquinha. O Sr. António, estranhou, havia tantos anos que não recebia uma carta, era nestas alturas que se aborrecia e envergonhava de não saber ler...a princípio ficou renitente em abri-la, seriam outra vez aqueles senhores de preto das finanças a tentar cobrar novamente a dívida? Guardou-a no bolso. Quando fosse, ao final da tarde à tasca iria pedir a D.Maria que a lesse. O dia passou como muitos outros, calmo, sem grandes agitações. À tardinha quando regressava (Eva)

de passear os cães, resolveu passar na tasca da D. Maria.
Olá D. Maria, precisava de um favorzinho seu.

Ora diga lá Sr. António.

E a D. Maria deu-lhe uma enorme surpresa! Nessa mesma tarde chegavam os filhos que já não via há muito tempo. (Cláudia)

Mas antes de ver os seus filhos chegarem e depois de mais um dia de carrossel a girar, pode ver a chegada dos tais indivíduos escuros, homens de fala rápida, estranhamente diferente e de trejeitos, que seu António e muito menos o carrossel conheciam. Afinal o carrossel só entendia de crianças felizes, que iam se divertir em suas andanças pelo terreno bonito, enquanto giravam no velho carrossel, rindo alegremente, admirando a cada giro a beleza de um castelo e embalando os sonhos de sua infância. Aquele era de facto um lugar mágico para as crianças da redondeza. (Nina)

Mal o Sr. António se afastou e ficou o carrossel sozinho a girafa disse ao cavalo:
Sabes fico muito feliz de ver o António novamente com um brilho nos olhos!
Pois é, diz o cavalo, sempre que aqueles homens estranhos o vêm visitar, o António fica com uma cara preocupada. Pena que não possamos fazer nada para o ajudar.
(Ka)

O Cãorrocel ladra para o cavalo e para a girafa:

Posso entrar na conversa? É claro que podemos fazer alguma coisa para ajudar o Sr. António. Não sabem que a união faz a força? (Gi)

O tempo não passava e o Sr. António sentou-se na cadeirinha já com a tinta descascada do elefante, em tempos cor-de-rosa e olhou para a estrada de terra batida, conseguia ouvir os seus companheiros de anos a falar e sentiu-se acompanhado.
De repente, no fundo da estrada vê a poeira de um carro que se aproxima.
Serão eles? - pensou o velho António com o coração a disparar
.
(Olá)

António queria desesperadamente acreditar que o velho carrossel iria ficar naquele espaço por muitos mais anos. Mas a sombra daqueles que agora se abeiravam dos seus amigos de pau fê-lo estremecer.
Sr. António? O senhor é o dono disto?

Ouviu-se a madeira a ranger, como se os animais se tivessem encolhido.
Sou sim, sou o dono disto.
(Lenib)

Curioso, não tem aqui nada que o comprove, disse um dos homens, com ar de malícia.
Mas tenho eu, responde o Sr. António, ainda com a força que lhe ia restando.
Ai sim? Então leia lá este documento, que aqui temos, demonstrando que estes terrenos pertencem à Câmara Municipal de Palmela, e muito em breve, será aqui construído mais um magnífico Centro Comercial.

O Sr. António, não querendo falar do seu analfabetismo, mas de parvo, também não tinha nada, quando se lembrou (Coragem)

de ir buscar um quadro já com a moldura gasta e o vidro meio partido onde havia guardado o documento, em que os antigos donos lhe passavam o terreno. "É para que nunca se estrague com o tempo e nem se perca nas andanças do carrossel", disse o homem aos filhos que o viram proteger o documento daquela maneira.(Pitanga)

Seu António, apresentou aos homens, com certo receio, os documentos que guardava há muitos anos, que eles foram lendo até se certificarem que aquele terreno pertencia ao velho senhor, mantendo ali o velho carrossel, que tantas alegrias dava às crianças das redondezas.

Lembrou-se que também tinha guardado a tal carta que chegou pelo correio e que nem sequer sabia o seu conteúdo, pois já que não sabia ler, esperava que alguém lhe adiantasse o texto. (Suelly)

Tão baralhado estava com a perspectiva de perder o seu carrossel, até já se tinha esquecido da carta, que a D. Maria lhe tinha lido logo pela manhã: os seus filhos vinham finalmente visitá-lo, depois de tantos anos na Suíça. (Patti)

Os homens não queriam saber de documentos.

Senhor António, a nossa proposta é muito boa. O senhor aqui não ganha nada!
Que me interessa isso? Dou alegria aos meninos e tenho que chegue para viver.
Os animais do carrossel aplaudiam e num sussurro diziam, força António!
(Olá)

E ele escutava sempre tudo. (Patti)

Mais uma nuvem de pó a aproximar-se e de repente uma chuva de abraços e beijosssssss.
Meus filhos, que saudades!
(Olá)

Depois de muitos anos sem ver seus filhos que há muito não encontrava e na esperança de que os seus netos ainda poderiam andar no velho carrossel que ali estava, sentiu uma profunda gratidão por aquele ferro velho. Sentou-se na beira dele e lhe disse, obrigado amigo e companheiro.

E todos os bichos muito animados, começaram a falar ao seu coração, primeiro falou a girafa (Suelly)

Amigo António, aqui bem do alto, sinto que as mãos dos seus netos ainda me vão abraçar.
Disse o cavalo, esse sorriso sempre na sua cara dá-me forças para seguir.
(Cláudia)

E um após outro, e outro e outro, todos foram falando (Patti) e depois o cão
(Cláudia)

terminou com lágrimas de um animal já corroído pelo tempo,
amigo António, companheiro de toda a nossa vida, entendemos se tiver que se desfazer deste carrossel, cansado e velho, com estes animais que pouco mais fazem senão dar voltas sem sair do lugar.

Todos juntos partimos se for caso disso, para que não saia prejudicado.
Nisto o filho mais velho do Sr. António, diz
(Coragem)

Alto e pára o baile!

O carrossel continuará a girar para gáudio da pequenada que aí vem.

Pai, vais ser Avô! :) (Gi)

(Hahahahahahahaha, oh meu Deus, que imaginação a desta vizinhança! (Patti)

Pai, resolvemos voltar porque o teu amigo Zeca, o carteiro, escreveu-nos uma carta, contando acerca destes senhores andarem por aqui a rondar, sempre cheios de papelada.

Por isso, cavalheiros, rua daqui p’ra fora! E não voltem a aparecer. Os animais deste carrossel transformam-se de noite e nem queiram saber do que são capazes de fazer para defenderem o meu pai.

E foi isto pai. Ficámos logo preocupados, porque sabendo nós que tu não te entendes com as letras, podias ser enganado.

Mas afinal, mesmo tu não sabendo ler nem escrever, provaste-nos que não és tolo. Guardaste esses documentos todos estes anos, bem escondidos na moldura com a fotografia da mãe, sabendo que te iriam valer um dia.

Mas filhos, ainda bem que voltaram e para mais agora que vou ter netos, como me disse a Gi, este carrossel, grande amigo, vai ser novamente uma animação.

E antes que me meta noutra confusão, quero aprender a ler e a escrever, que ainda vou bem a tempo, para um dia pegar em livros e contar histórias como esta, aos meus netos. De amor, de amizade, de saudade.

Histórias, sobre um carrossel e todos os seus bichos que conversam entre si e se preocupam com o seu velho dono.

E quando aprender a escrever vou saber pintar os vossos nomes com cores bem fortes, por baixo de cada um.

Tu cisne, vais-te chamar Eva; tu carruagem, vais-te chamar Cláudia; tu gazela, vais-te chamar Nina; tu borboleta, vais-te chamar Ka; tu girafa, vais-te chamar Gi; tu cão, vais-te chamar Olá; tu golfinho, vais-te chamar Leni; tu cavalo, vais-te chamar Coragem; tu raposa, vais-te chamar Pitanga; tu tigre, vais-te chamar Suelly e tu realejo, vais-te chamar M&M. (Patti)

E foram felizes para sempre." (M&M)