sexta-feira, 11 de abril de 2008

aula de catequese


foto de robyn geering

Sabes mãe, que sou a única da minha turma que não é baptizada?

Eu já previa que isto um dia ia acontecer.

Ai sim? E a que propósito veio o assunto à baila?

Estávamos na aula de História a falar do Cristianismo . . .


Fui católica, apostólica e romana, mais ou menos até à maioridade. Mas das 'verdadeiras'; era das que ia à missa todos os domingos, que frequentava o grupo de jovens, a catequese, o coro da Igreja e tentava praticar os ensinamentos de Cristo em todos os momentos. Frequentei um colégio católico de freiras irlandesas dominicanas, que adorei e que muito me ensinou. Mas como quase tudo na minha vida, questiono-me, não vou em engodos, nem em práticas pré estabelecidas, mesmo que tenham milhares de anos. Já me causava pouca satisfação o papel um bocado vexatório da mulher na sociedade cristã; tentador de carnes fracas, submisso, secundário e pior, pecador. Não gostava das ideias de confissão e punição e desconfiava a toda a hora de que o nosso destino já havia sido escrito.

Desagradou-me a ausência de respostas e a falta de convicção na explicação para determinados assuntos que eram fundamentais para a minha fé. Detestei a mediocridade e a mesquinhez de certos comportamentos, que vinham de quem mais devia dar o exemplo, como os padres, os responsáveis pelos jovens e os ‘frequentadores’ da Igreja. Senti repulsa com o comportamento dos católicos, perante os divorciados, as relações de facto, os homossexuais e de uma forma geral, os proscritos, pensavam eles. E, finalmente, indignei-me e revoltei-me com a opinião da Santa Madre Igreja perante o uso do preservativo, o uso da pílula e da maioria dos assuntos que envolvem sexo. E com o próprio Deus, sou honesta, também já não andava nada contente.

Muito sinceramente olhava para a desgraça à minha volta e não revia Deus em lado nenhum. E continuo a não rever. Afastei-me. Quase totalmente. Mas ainda sobra alguma coisa. Ainda não consigo dizer que sou ateia. Não baptizei a minha filha. Acredito que é uma opção que terá de vir dela. Logo em pequena, comprei-lhe uma bíblia para crianças. Falo-lhe de Jesus, de Alá, de Moisés e do Buda, com a mesma imparcialidade que gostaria que mo fizessem a mim. Respondo-lhe a todos as dúvidas, de menina, curiosa que é, sem emitir opiniões, apesar de ela já as conhecer.

Ela é educada para fazer juízos através dos próprios sentimentos e da capacidade de pensar por ela mesma, não precisa de baptismos, de primeiras comunhões e de crismas para ser um ser humano sensível aos problemas que a rodeiam, solidária com os amigos e sempre com os estranhos, verdadeira nos seus princípios, e principalmente, com ela própria. Se houve coisas que Jesus me ensinou, estas foram algumas delas.

Deixa lá filha, és tu, muito mais cristã do que aqueles que o apregoam. E sabes uma coisa mãe? Eu expliquei-lhes porque é que não era baptizada, mas nenhum deles me soube responder porque o era.


Give me five Beatriz.




18 comentários:

De dentro pra fora disse...

Ainda bem que somos livres de escolher nossos caminhos, e quem nos acompanha enquanto os percorremos...
Há coisas que se explicam, outras há, que não,..apenas se sentem..

Manuel Damas disse...

Vim retribuir a visita.
Gostei muito do seu espaço.
Vou voltar.
BJ

Pitanga Doce disse...

Fui criada na religião católica com tu, mas nunca consegui assistir a uma missa sem que ficasse a olhar para o teto da igreja a apreciar os afrescos. Batizei meus filhos e depois a Julinha. Mas nada de festas e almoços como os de um casamento. Só queria que eles tivessem o Primeiro Sacramento numa cerimônia bonita e simples em que o padre não "desfiou o rosário" sobre pecados e castigos . Hoje os meninos, são livres para escolherem o que querem. A Julinha ainda fala em Papai do Céu. Eu gosto de ler Allan Kardec. Nada nos impediu de sermos uma família e os meus filhos jamais fizeram qualquer distinção a amigos que tenham crenças diferentes ou que não tenham nenhuma. O que conta, para a criação de uma criança é o caráter.

Sinto-me bem numa igreja vazia. Veja só.

beijos Patti

Pinóquio de Alfama disse...

minha senhora, estou duzentos por cento de acordo consigo.


joão

Ka disse...

Um dos grandes problemas foi sempre a forma como a igreja transmitiu a sua mensagem. Eu sou católica e de vez em quando praticante. Contesto muitas das coisas que a igreja defende. Mas tive a sorte de me identificar com os jesuítas, que têm uma forma de ver e viver a igreja bastante inteligente.
Mas mais do que católica tento ser cristã e tentarei que o meu filho o seja também.
E vejo muita gente que aos domingos passa vida à porta da igreja mas são pessoas execráveis. Vejo pessoas que nunca lá puseram um pé e são mais cristãs que todas as outras.

Acho que no que respeita a religiões, com excepções das radicais, não há certos e errados.

beijinho

ps - Mas assumo que ter fé é para mim muito reconfortante

Anónimo disse...

Encontrei numa pagina de uma paroquia das Caldas da Rainha o seguinte texto:

Uma questão do tempo presente:

Uma das questões que hoje se põe é a se saber se é legítimo baptizar as crianças pequeninas. Não será isso um atentado contra a liberdade do bebé? Não seria mais honesto deixar que a criança decidisse por si própria, quando atingisse a idade de o fazer? Não haverá nisto um qualquer aproveitamento disfarçado?
É bom que penseis nesta questões. Devemos todos saber dar-lhes uma resposta e depois agir em conformidade.
No entanto, podeis desde já ficar a saber, que a prática de baptizar crianças é tradição imemorial da Igreja.

Eu concordo contigo Patti, em que ao longo da nossa vida aparecem muitas duvidas e criticas no que refere á religiao. Tal como tu fui educada pelo Catolicismo , frequentei catequese, crisma, cursos de religiao, coro da igreja, colegio de freiras etc...
Nao tenho filhos, mas acho que os baptizaria. Mais tarde se eles quisessem a confirmaçao teriam o Crisma.
Ah, e com tanta religiao NAO SOU NENHUMA SANTA!!! EHEHEHE
BJOS

Patti disse...

Cláudia:

Que bom que há paróquias com essa nos dias de hoje!

Coragem disse...

O problema de questionamento, deve ser caso tipico das Beatriz(es) :)))
Tenho 2 filhos e exactamente por esses e mais alguns motivos não foram baptizados em bebés.
Cresceram, quiseram e frequentaram a catequese.
Hoje são ambos baptizados, e ambos questionam a fé e a religião.
Muito bom tema.
Bj

Carlota disse...

Grande Beatriz!
:)

Brunorix disse...

Nem mais, nem ontem!

Sem juízos de valor,para não ofender ninguém, deixem cada um escolher,e que não seja o pai ou a mãe!

LeniB disse...

Assim é que se fala. "Ganda Beatriz"!

Paulo Tomás Neves disse...

Sendo católico baptizar a minha filha não foi uma questão de escolha mas de tradição e convicção. Lembro-me a propósito de baptizar ou não as crianças, quando a fé dos pais está ausente ou inexiste, do que disse um amigo, marxista e ateu, quando o questionei sobre o baptizado do seu filho «Se o gajo quiser ser católico já está, e se não quiser é mais banho menos banho». É certo que as pessoas podem sempre escolher quando são adultas. Uma das minhas cunhadas, por exemplo, baptizou-se em adulta. Mas melhor ainda é a própria existência da liberdade de escolha seja ela política ou religiosa. E bom também é podermos falar sobre o assunto sem correr o risco de sermos queimados, encarcerados ou apedrejados.

Anónimo disse...

simplesmemte adorei
deixo o convite para passar nos meus
bjs

Susana disse...

sou jovem, sou catolica, e concordo 100% consigo... haja bom senso e liberdade para escolher... seja qual for a religiao que se segue, o caracter é o essencial

BlueVelvet disse...

Belíssimo texto.
Entendo as tuas razões.
Também fui educada num colégio de freiras onde também havia uma Sister com o nome da tua:)))
Tive o privilégio de ter estreito convívio com os Franciscanos na minha infância e adolescência, e depois quando os meus filhos nasceram, com os Jesuítas.
Talvez tenha tido sorte, mas só guardo de todos eles uma óptima recordação.
Concordo com tudo o que dizes da Igreja, mas não devemos esquecer que não foi Deus quem a fez mas o Homem.
Quanto ao resto, é tudo uma questão de Fé, e Fé ou se tem ou não se tem.
Não dá para discutir.
beijinhos e veludinhos

Anónimo disse...

O que mais adoro na Beatriz é a capacidade que tem para ter opinião sobre determinados assuntos, tão polémicos e discutíveis com uma idade tão baixa, 12 anos.
Sempre foi uma criança muito interessada, mas atenção,por detrás sempre teve uma mãe especial.Todo o tipo de assuntos são falados e explicados sem quaisquer tipo de preconceitos.

GRANDE POST

D.

Olá!! disse...

Parabéns mãe Patti, porque sem dúvida és a responsável por teres uma filha com tamanho poder de observação...
100% de acordo com o que tu e a B dizm... este post não poderia ser mais objectivo.
Cada indivíduo tem direito à escolha de um credo... esse direito também o dei aos meus filhos :)))
Beijos para as duas

Vera disse...

Olá!Descobri hoje o seu blog e estou a gostar :). Este texto, particularmente, agradou-me. Tenho 4 filhos e nenhum deles é baptizado. Não fui educada com catequese e missa dominical e achei que seria hipócrita da minha parte baptizar as crianças "só porque sim". Quando forem crescidos decidirão em consciência!
Parabéns para si, para o blog e para a Beatriz!
Eu estou em vekikiprojects.blogspot.com...vá até lá e deixe rasto...