terça-feira, 22 de abril de 2008

I hope You don’t mind that I put down in words


Há quem opte por criar um blog porque pensou que seria a melhor forma de se ‘esconder’ e desabafar da vida, dos outros, de si próprio. Acreditou que tinha descoberto a forma de ir dizendo o que lhe vai na alma, com calma, em sossego, em jeito de confissão anónima, criando a meu ver, uma ideia errada de que assim está protegido, resguardado, incólume, sem ninguém à espreita. Nada mais ilusório. Não podíamos estar mais desamparados. Se é essa a intenção, mais vale começar a escrever num diário de folhas alvas com cadeado e guardar na mesinha de cabeceira.

Reparem que não estou a falar daquela velha história de que um blog é de cada um e cada qual faz dele o que bem entender. Não, não é disso que estou a falar. Isso é outro post. Estou a falar de segredos, de confissões, de desafogos, de tumultos internos e ocultos. Expostos.

No blog, nem mesmo o facto de não optarmos por ter foto no canto superior direito, nos protege dos olhares daqueles que espionam cá para dentro. Mesmo que escrevamos só falsidades, personalidades escamoteadas, personagens fictícias através de pseudónimos, piadas brejeiras, crónicas de maldizer, calúnias e boatos, há sempre algo que se escapa de nós, que sai a nu, que nos identifica. Um simples comentário.

E nos trai.


O blog é matreiro, experiente, esquivo, engana-nos, ilude-nos com as suas imensas diversidades e quando menos esperamos já temos tudo escarrapachadinho, neste mesmíssimo ecrã que estão agora a olhar. Ele encanta-nos, perverte-nos, intoxica-nos. Já cá anda há alguns anos. Os imberbes somos nós. Enganem-se que ele não gosta disto, ele adora! Aquilo que escrevemos, revela tudo de nós. Até as fotos, os vídeos, os poemas de autores que gostamos de postar.


Tenho lido pelo blogobairro, posts só de duas ou três frases, de bloggers que se escancaram completamente e se denunciam de tal forma, que se calhar, se não fosse pela palavra escrita, provavelmente, nunca o fariam pela palavra falada. E esses não querem escrever no diário cor-de-rosa da infância, com chave minúscula. Esses querem ser ouvidos!

Deixamo-nos levar pelas palavras e exibimos muito mais do que à partida pensávamos que iríamos mostrar. Elas vão fluindo e a pouco e pouco saem do teclado cada vez mais rápidas, sobrepõem-se umas às outras, amontoam-se, engalfinham-se e atropelam-se; vogais e consoantes, acentos e hífenes, sujeitos e predicados, quase sem deixar espaço para a pontuação. As palavras são só aquilo que significam, mais nada! Não há espaço para fraudes e equívocos.

As palavras não utilizam subterfúgios como os olhares insinuantes, os sorrisos matreiros, os cabelos a taparem metade do rosto, os jeitos de mãos atrevidas, os silêncios reveladores de corpos sensuais e quentes. Não estão de copo de whisky na mão, encostadas a um qualquer bar, de camisa aberta e peito bronzeado, para nos engatar por uma só noite Para quem as escreve, são exactas e claras como para quem compõe uma música, pinta um quadro, faz nascer uma escultura, projecta uma obra de arquitectura. E são maravilhosas por isso! Pela sua crueza.


Os que me conhecem pessoalmente, dizem que eu escrevo, exactamente como falo. Acham eles, que às vezes lhes parece que estão ao meu lado a ouvir-me. Encantada com a ideia! Eu que até nem gosto de exemplos típicos, afinal sou um deles. (Isto está lindo, está, está!) É que nem eu, me imaginava tanto assim. É precisamente assim que me sinto quando vou para o teclado.

Começa cá dentro tudo num burburinho, às vezes ensurdecedor e têm de sair nem que seja para um papel qualquer, à laia de tópico ou de uma ideia sintetizada; palavras soltas, frases inacabadas para preencher mais tarde, discursos directos e metáforas estranhas, às vezes até impróprias. Então mais tarde postarei. E só nessa altura com calma.


E como diz a música que toca por aqui hoje, 'I hope You don’t mind that I put down in words', porque foi o que me ferveu cá dentro de repente.

20 comentários:

FM disse...

Muito, muito interessante este texto.. Fez-me pensar.
PARABÉNS!
(adoro essa canção do Elton John)

Pitanga Doce disse...

Patti, um blog é tudo isso, sim. Se olharmos o que escrevemos há um ano atrás veremos como ficou diferente, aberto e mais leve (ou não). Por fim é uma catarse para quem precisa dela e uma brincadeira para quem nem sabe o que é.
Sempre pensamos que apenas nos lêem aqueles que conhecemos e a quem lemos também, e nos tornamos "íntimos". Ainda há pouco comentava com uma amiga que tive sorte de nunca ter sido invadida por comentários sórdidos ou pessoas agressivas, mas não sei se elas me lêem na calada.
A mim importa o que conta. E o que conta são os risos e as lágrimas dividas por pessoas que se não têm rosto, têm alma.

beijos, Patti e bons sonhos.

Anónimo disse...

Sem duvida que o que escreves no Blog é o reflexo do que sentes e do que pensas...
Penso que escrever um blog é terapêutico mesmo que para isso tenhas de expor os teus sentimentos. Claro, nao contando com a " Boa Disposiçao " que dás aqui " á malta " por poder disfrutar desses textos que tao bem " interpretas "!
É evidente que te tens de " cortar " á hora de manifestares tudo que pensas, mas nao existe nada na vida que façamos que nao tenha restriçoes e tu sabes quando tens de parar...de qualquer forma, NAO PARES NUNCA!
bjos

Ka disse...

Este texto está excelente e ilustra o que também penso. Por mais que uma pessoa tente "esconder" ou tente ser outra (há muita gente a fazer isso...), no blog acaba por aparecer quem a pessoa realmente é. Não adianta disfarçar pois está lá.

Beijos e um excelente dia :)

Anónimo disse...

È uma espécie de raio x, da alma.

Pretendemos também algo em troca, mas não convêm criar demasiadas perspectivas.

Coragem disse...

Patti, concordo em absoluto, com tudo o que li.
O "nosso" blog, acaba por ser o espelho da alma, como seriam os olhos, se nos vissemos realmente.
Por isso mesmo, sempre optei, pela transparência, sem nunca me preocupar, com a ideia transmitida a quem me lê.
Se estou triste, digo-o e nem precisa ser nas entrelinhas.
É mesmo quase como um diário.
Confesso por vezes a vulnerabilidade com que me exponho.
Também eu, até hoje, nunca tive comentários abusivos, e sempre estiveram abertos a todos.
Se a minha forma de agir, é incorrecta, paciencia, sou assim, tal como na vida...
Beijinho

Gi disse...

O meu blog é como eu dizem os que me conhecem ;)

LeniB disse...

Hmmmm...
Cheira-me a coisa...conheço-te...
Claro que o blog reflecte um pouco quem somos, mas nem tudo o que escrevemos é reflexo do que sentimos...
Preparada para, pelo menos, meia hora ao telefone? LOL

Patti disse...

Leni:
Não. por acaso não é coisa nenhuma.
É só aquilo que me venho apercebendo e que acontece comigo e concerteza com os outros.
Bjs.*****

De dentro pra fora disse...

Eu não me importo que o ponhas em palavras, muito pelo contrário,..sabes sempre como pôr..
Tal como eu vou pondo( nem sempre as palavras são faceis para descrever) aquilo que vai passando por mim, embora hajam coisas muito pessoais que nem aqui as ponho,mas no fundo acabamos por nos sentir diante do nosso espelho(mais profundo)..

Brunorix disse...

Parece-me que o que é comum a todos os blogs pessoais, é precisamente a necessidade de partilha. Ninguém faz um blog para ocultar nada (mm q o diga!), é exactamente para mostrar tudo!

Patti disse...

E lá resvalamos nós, mas com prudência.

Su. disse...

Caramba, tenho que começar a ler os teus posts de manha, porque isto depois das nove da noite, aqui em Moçambique é coisa complicada...
:)
AH, mas sim, compreendo(!), eu por mais que não escreva muito acabo toda ali no Oxigénio, de tal modo que já nem vivo em Maputo, to lá pra bandas da Martinica ou Marte ou sei lá, coisa estranha, é uma opção, só os mais atentos n mordem o isco!
Beijo

Srta. Scarpin disse...

Interessante reflexão patti. Seja sempre bem-vinda no nosso blog. Adorei a criação da história do carrossel e de seus outros blog.

Liberdade!

[ ]'

Srta. Scarpin

Nina disse...

As palavras vão saindo e fluindo simplesmente, tão fácil assim... eu adoro escrever no blog, tudo pode acabar na vaidade de escrever, mas tbm uma terapia pra mim. Vc falou tudo Patti

Olá!! disse...

Pois tens toda a razão.
Há blogs que são verdadeiras "caixas de esmolas" e "mãos estendidas", há quem deixe migalhas e quem deixe boroas inteiras, há a coroa e a cara...
É como tudo na vida, uma ponte do real para o imaginário...
É precisamente isso que é fascinante nos blogs, parece que estamos no teatro onde os personagens reais assumem um ou diversos papeis, por vezes tão diferentes da própria realidade...

Tocas aí um ponto importante, é precisamente nos comentários que as pessoas se "desmascaram", será por isso que, como tu, alguns bloguers reservam o "direito de admissão" dos comments????

Beijosssssssssss

Patti disse...

Olá:
Porsupuesto que si!

SC disse...

Eu também acho difícil falsificar uma identidade num blog "pessoal" (nos temáticos, de cinema, política, etc, já não). Ao fim de uns tempos está lá quem somos, nem que seja nas entrelinhas. (o que, às vezes, me preocupa :))

Bom fim-de-semana!

BlueVelvet disse...

Olá linda, começo por aqui, porque não tenho andado na net e os teus posts são imperdíveis.
Estou numa baralhação:
Primeiro meti na cabeça de mudar o layout do meu blog para comemorar as 10.000 visitas ( estou a precisar de uma decoradora :)))))
depois vim para Nova Iorque, hehe
è verdade, estou a comentar-te de Nova Iorque....
Mas um blog chic como o teu merece.
Quando reabrir o meu, conto lá umas coisitas que tenho feito por aqui.
Quanto ao tema do teu post, que está muitíssimo bem escrito, vou-me abster de comentários.
Mas "I don't mind that you put it down in words", até porque é uma das músicas da minha vida.
Bye Bye dear,
from New York, with love

Patti disse...

E tás Nova Iorque? Seja porque razão for vais ver que vens daí revitalizada!
Bom regresso.