quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

aqui pelo meu bairro # 6


Ai senhores, senhores senhores! Estou para aqui numa tão grande excitação, que nem me aguento! O que é que vocês diriam, se eu vos contasse que fui apanhada completamente desprevenida, ali entre a capelista e o estofador, por uma exaltada declaração de amor? Assim, num sábado de madrugada, especada no meio do passeio, aparvalhada de todo e com o saco das carcaças nas mãos? Ficavam radiantes por mim, não era?
Não, não foi o Onofre, o padeiro. Esse é mais olhares, piropos e insinuações, mas chegar-se à frente que é bom, nada. Foi o Xavier do talho. Um viúvo muito jeitoso, que se mudou para o bairro vai para três anos, mais coisa menos coisa.
Eu já tinha notado que ele me favorecia no peso das entremeadas, no aviamento das iscas e na qualidade dos miúdos para a canja. Até pensei com os meus botões, o homem é novo cá no bairro e quer conquistar a clientela. Nada disso, nessa manhã de sábado, na alvorada do meu ressurgir para a paixão, na redescoberta dos prazeres proscritos a uma viúva respeitosa,
confessou-me ele um incólume arrebatamento, no mesmo instante em que me pôs a vista em cima.
E para verem que o namoro é coisa séria e tem futuro, escutem lá isto:
Noutro dia fomos namorar junto ao rio. Os dois juntinhos dentro do carro à beira Tejo, vendo os barcos partirem para o Seixal. Mas nada de poucas-vergonhas, amassos e demonstrações vivaças, nada disso! Ele a ouvir o relato e eu, precavida, concentrada no meu croché a ver se substituía os naperons da televisão lá de casa, que já estão como há-de ir.
Nisto, sabendo para onde eram os naperons, pergunta-me
o meu Xavier assim um pouco altercado: para a televisão Amelinha? Quero lá isso de televisões na nossa casa, minha jóia! Na nossa casa, só LSD e mais nada. Fiquei boquiaberta, mas assenti claro está, que uma mulher não se quer respondona como umas e outras e para mais, também não falo estrangeiro e até achei o nome pomposo: LSD.
A Zeneide manicure tratou logo de me explicar, que os LSD eram umas televisões muito modernas e fininhas, que se fixam
nas paredes das casas ricas, com uma cola muito especial que nunca despega e que vem não sei donde.
Ainda nem estou em mim da emoção e diga-se de passagem, um bocadinho para o psicadélico; eu, Amelinha, com um LSD colado na parede da minha humilde sala, vejam lá bem!

Ass: Amelinha (o meu alter-ego)

25 comentários:

Carlota e a Turmalina disse...

Tô vendo...tô vendo...
Ah, esses viúvos, só pensam naquilo...rsss...
Abre os olhos Amelinha!!!
Já conheço o tipo, começa escolhendo a televisão e por aí afora, só que na sua, hoje tão sua, casa...
Bjosssss

salvoconduto disse...

Ó Amélia! Parece que ainda foi há meia dúzia de dias que ele se foi e tu já no LSD!
Esse Xabier sábe-a toda, o que te carrega a mais na febra carrega-nos a nós no osso e na gordura!
Fia-te na Birgem e não corras... Tou mesmo a ver-te aqui um dia destes contar que ele tem lá em casa um busto do Napoleão que te quer mostrar. Garanto-te que vais ficar plasmada, ai vais vais. Tu cuida-te mulher, tens aí melhor coisa no bairro! Resmas deles a tua volta e foste logo enrabichar-te no Xabier!

fugidia disse...

Ora bem Amelinha, é mesmo assim! Um namoro exemplar, com ele a ouvir o relato e tu a fazeres crochet... mas, por via das dúvidas (e considerando que ele até já fala em LSD) não será melhor... experimentá-lo primeiro? Hã? Experimentar o Xav... o LSD, claro!
:-)))

josé luís disse...

menina amélia, um aviso de quem lhe quer bem.
cuidado com esse rapaz, o xavier, sabia que já é viúvo pela terceira ou quarta vez?
além disso é um troca-tintas.
como sabe, trabalho numa carrinha do instituto português de sangue, e fazemos recolhas por todo o país... e não é que há dias estivemos aí pelo seu bairro, apareceu muita gente, e esse xavier estava na fila com um televisor debaixo do braço a perguntar se era ali que era preciso plasma?

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Mas a Amelinha anda a ser uma viúva de muita sorte!... Está ai o Xavier, bem posto, bem apanhado, e ainda com uma LSD aonde possa assistir suas novelas e chorar com a pobre mocinha?... Olha que eu conheço cá umas tantas viúvas que andam a amargar uma solidão... risos...

Brincadeiras à parte, Patti, adorei a história. Gosto muito do jeito como você escreve, das coisas que conta, da forma como nos prende ao texto.
Beijos e bom dia

Justine disse...

Amelinha, auguro-vos um lindo, lindíssimo futuro! Pois se até vão ter LSD à disposição! Que grandes trips...:))))

paulofski disse...

Amelinha querida, não ligue às fofocas das vizinhas. Elas estão é roidinhas de imbeja, sim… cambada de imbejosas. O que elas queriam era quem lhes alisasse o lombo, lhes enfarinhasse as tripas, lhes pesasse as chouriças, lhes fumasse do toucinho ou separasse os rojões. Línguas de vaca. Continue concentrada no seu croché mesmo que os naperons caiam para a frente do LSD e lhe turve as cores. Não se plasme Amélinha com o que eu lhe digo. Ainda pode surpreender o seu Xavier e fazer-lhe um naperonzinho para o seu I’pod. Se pode? Ai pode, pode.

Paula disse...

Óóó Amelinha! Que bom sabê-la assim a redescobrir os encantos do amor por entre costeletas, fatias de entremeada e, quiçá, uma ou outra galinha do campo! E há lá coisa mais amorosa que fazer croché enquanto o “sê home” se deleita com o relato? Só deixo um alerta: cuidado com os efeitos da exposição prolongada à cola do LSD… diz que faz as pessoas, mesmo as viúvas séries e honradas como a Amelinha, largarem as agulhas do croché e entregarem-se às perdições da carne!

pedro oliveira disse...

Ai amelinha que o homem só quer o LCD para ver os jogos do Benfica, não em ondas...olhe já que não dá para colocar o naperon,faça-lhe uma cortina...

De dentro pra fora disse...

Ó menina Amélia, será que ninguém a avisou dos perigos que corre!?
Olhe que essa historia do LSD é só o começo...sabe lá Deus onde isso vai parar,estou a ver que o Xavi quer é borga, ui ui!

cristina ribeiro disse...

Fico muito contente por si, minha querida Amelinha! O amor, o amor...
Que seja feliz mais o seu Xavier, que finalmente arranjou coragem para dizer " a nossa casa "...

BlueVelvet disse...

O que eu me ri com esta história.
A dos naperons é do melhor.
Só não sei se o talhante terá boas intenções. Afinal LSD não é assim uma coisa muito aconselhável e até já está fora de moda.
Agora é mais Ecstasy rsrsrs

maria teresa disse...

Querida Amelinha não se iluda... isso é conversa de sedutor "faminto", assim que a apanhar a geito, com os pulmões um poucochinho que seja à vista, apalpa-os para ver se estão rijinhos e afinfa-lhe uma dentadinha, como deve fazer aos bifes que vende. Já o viu a "trincar"? Não! Então veja primeiro, antes dele descobrir as entremeadas, é preciso que ele tenha maneiras e coma com garfo e faca a que espete o dedo mindinho, caso contrário ele anda a provar várias carnes para saborear a que melhor se adapata ao seu, dele, paladar.
Acautele-se Amelinha...

Si disse...

Ó Amelinhaaa, filhaaaaa!
E não me tinhas dito nada desse teu namoro!
Andava eu tão preocupada contigo por te ver assim com as faces um bocado pró vermelhuscas e os olhos brilhantes, até julguei que tivesses temperatura, mas afinal a tua febre é outra!
Ai que desgosto, mulher, agora que tens mouro na costa, quem é que vai ouvir os meus desabafos, quem me aturará os chiliques que o Laurindo(a) me causa??
Córror!!!!!

Ass: Emilinha

Anónimo disse...

LSD? No meu tempo isso não era coisa p'ra pendurar na parede, Amelinha. Viam-se uns filmes à pala do LSD e até os Beatles ( não sei se já ouviste falar) lhe dedicaram uma canção,mas não devemos estar a falar da mesma coisa.
Queres um conselho?Não te deixes levar pelo LSD. O que está a dar agora é o i-tablet. Vê lá se arranjas um viúvo mais modrnaço.

Anónimo disse...

Amelinha, óh, encontraste a receita que a Dona Presidenta tanto busca (de manter a forma e perder a fome), contudo o pacote será completo, noites em claro e tv de plasma apenas para decorar o ambiente.
Shake your body, ouié!

Pitanga Doce disse...

Ó Amelinha, isto de namoros a beira do rio e a ver os barcos, por aqui, na época em que LSD era outra coisa, dava-se o nome de "corrida de sub-marino".

Já esta descrição de "amassos" dá a entender que a menina já esteve a conversar com alguém do lado de cá do oceano e já a andou pondo em maus caminhos, com amassos e pegadas e tal. Eu se fosse a menina não me metia com essa gente. Isto já virou uma pouca vergonha e ainda bem que és assim "unha e carne" com a nossa PresidentA ou ela já te aplicava uma multa que te lixava e ao Xavier também.


Já se ele só te favorecia nas "entremeadas" isto já depõe contra o gajo, que há coisas que sabem bem quando são feitas a eito. Está aí a amiga Si que também é do Norte e não me deixa mentir. A eito é que se faz, não é ó do Porto?

São disse...

Pelo preço a que as carnes estão, reflicta bem...e se aceitar, convide-me para o enlace, rrss

Boa noite.

Si disse...

Ai, credo, Sedona Pitanga, olhe que a minha amiga Amelinha é muito púdica, se o Xavier fosse a eito, acho que ela o espetava era com a agulha de crochet nas iscas para ele não se armar em esperto!
Não senhor!
A Amelinha não deixava, nem que o Sto. António já os tivesse abençoado!!
A eito só mesmo as filinhas do naperon para o LSD!!

Ass: Emilinha

mike disse...

Amelinha, se o Xavier é homem para ter um LSD em casa e a trata com todo esse privilégio quando o assunto é carne, nem hesite. Esse namoro é mesmo coisa séria. Mas olhe, deixe-se atracar de vez em quando que não vem mal ao mundo por isso. É que a carne dele pode ser boa e saborosa, mas a sua, sabemos que é fraca.

Reflexos disse...

Pois, tempos modernos... noutros tempos LSD era outra coisa, proibida.

Pelos vists agora é algo proibitivo, só para ricos!


Bjinhos
Bom FDS

Luísa A. disse...

Cá para mim, esse Xavier deixa muito a desejar, como namorado e como homem do talho. O seu temperamento parece tudo menos sanguíneo e não perspectiva grandes «performances». A Amelinha que se cuide e trate já de tirar referências. ;-)

Filoxera disse...

Olha, este post é tão alucinante pelo LSD e pelo croché como pelos comentários que gerou...
Lindo!

Gi disse...

Um Lsd pxtáclaro ... assim o Xavier pode ver a Lucy no séu com diamantes.

Laura Ferreira disse...

Fantástica esta Amelinha... dá vontade de escrever uma novela!