Há qualquer coisa de aberrante no comportamento dos homens, quando após um longo Inverno o sol sai à rua.
Nessas alturas é que reparamos, o quanto os restantes animais do planeta, são tão ou mais civilizados do que nós, a suposta espécie racional.
Assim, o coelho espreita desconfiado pelo buraco da toca; primeiro o nariz a tremer, depois os bigodes, os olhos à coca do inimigo e finalmente as orelhas. E volta para o seu ninho, não é cá doido de sair para o bosque todo lampeiro.
O urso por exemplo, limita-se a iniciar um longo espreguiçar, que dura para lá de uma semana. As andorinhas regressam pouco a pouco. As amendoeiras brotam um florir discreto. Outras árvores verdejam vagarosas. As brisas nascem suaves. O Homem ... bom, esse, meu querido blogobairro, é outra história que de contenção nada terá.
Já no ano passado, me apercebi do burlesco da situação e este ano o fenómeno repetiu-se.
A culpa foi minha, bem sei. Ninguém me manda esplanar a um domingo. Mas depois daquela chuvinha, nada fazia prever a marina invadida por ávida gente, despertada de um hibernanço forçado. Descurei e fui apanhada pelo magote dos inseguros do clima.
Este ano o tempo foi padrasto, é verdade, mas o espectáculo circense que se seguiu aos primeiros raios de sol, foi degradante.
Bom, esplanava eu sobre uma salada com todos, uma sangria branca e mais um livro, e eis que a maralha começa a surgir, naquela hora enervante, ali pelas três e meia quando todos os almoços com os sogros foram cumpridos.
Primeiro dei-me conta de um leve burburinho; talvez as ondas do mar, uma gaivota mais histérica, ou as crianças da escola de vela? Mas não. Nada disso.
Eram eles. A populaça desenfreada, que ainda sem ter tempo de pôr a arejar a roupa de Verão, marchava pelo deck da marina, exibindo botifarras com t-shirts, shorts e collants de vidro, as primeiras camisas de manga curta, horrendos casacos de cabedal ao ombro, mostrando peitos transpirados, pernas mal depiladas na correria do duche dessa manhã e guarda-chuva, não fosse o diabo ainda fazer das suas.
Mais pareciam terem atracado todos de um cargueiro, um bando de embarcados que não viam a mouraria havia muitas décadas.
Trincavam, mastigavam de boca aberta e sem pudores, os primeiros saquinhos de tremoços, amendoins e pevides do ano. As cascas? No chão, obviamente.
Cães de todas as raças pela trela. As bicicletas, as trotinetas, os skates, os patins e os triciclos. Os carrinhos de bebé, os carros telecomandados, as bolas de gelado esborrachadas no passeio, os gritos das crianças, o tráfego humano, o atropelo de gente excitada pelo sol. E eu.
Que fazer então, perante a ignomínia das gentes?
Já que a salada se me murchou de constrangimento e a sangria se evaporou com o escândalo, saquei do bloco de notas, ora bem.
Assim, o coelho espreita desconfiado pelo buraco da toca; primeiro o nariz a tremer, depois os bigodes, os olhos à coca do inimigo e finalmente as orelhas. E volta para o seu ninho, não é cá doido de sair para o bosque todo lampeiro.
O urso por exemplo, limita-se a iniciar um longo espreguiçar, que dura para lá de uma semana. As andorinhas regressam pouco a pouco. As amendoeiras brotam um florir discreto. Outras árvores verdejam vagarosas. As brisas nascem suaves. O Homem ... bom, esse, meu querido blogobairro, é outra história que de contenção nada terá.
Já no ano passado, me apercebi do burlesco da situação e este ano o fenómeno repetiu-se.
A culpa foi minha, bem sei. Ninguém me manda esplanar a um domingo. Mas depois daquela chuvinha, nada fazia prever a marina invadida por ávida gente, despertada de um hibernanço forçado. Descurei e fui apanhada pelo magote dos inseguros do clima.
Este ano o tempo foi padrasto, é verdade, mas o espectáculo circense que se seguiu aos primeiros raios de sol, foi degradante.
Bom, esplanava eu sobre uma salada com todos, uma sangria branca e mais um livro, e eis que a maralha começa a surgir, naquela hora enervante, ali pelas três e meia quando todos os almoços com os sogros foram cumpridos.
Primeiro dei-me conta de um leve burburinho; talvez as ondas do mar, uma gaivota mais histérica, ou as crianças da escola de vela? Mas não. Nada disso.
Eram eles. A populaça desenfreada, que ainda sem ter tempo de pôr a arejar a roupa de Verão, marchava pelo deck da marina, exibindo botifarras com t-shirts, shorts e collants de vidro, as primeiras camisas de manga curta, horrendos casacos de cabedal ao ombro, mostrando peitos transpirados, pernas mal depiladas na correria do duche dessa manhã e guarda-chuva, não fosse o diabo ainda fazer das suas.
Mais pareciam terem atracado todos de um cargueiro, um bando de embarcados que não viam a mouraria havia muitas décadas.
Trincavam, mastigavam de boca aberta e sem pudores, os primeiros saquinhos de tremoços, amendoins e pevides do ano. As cascas? No chão, obviamente.
Cães de todas as raças pela trela. As bicicletas, as trotinetas, os skates, os patins e os triciclos. Os carrinhos de bebé, os carros telecomandados, as bolas de gelado esborrachadas no passeio, os gritos das crianças, o tráfego humano, o atropelo de gente excitada pelo sol. E eu.
Que fazer então, perante a ignomínia das gentes?
Já que a salada se me murchou de constrangimento e a sangria se evaporou com o escândalo, saquei do bloco de notas, ora bem.
21 comentários:
O civismo, ai o civismo... E com a falta dele até o sol emudece.
Ainda bem que voltou, Patti. O blogobairro já sentia a sua falta. :)
Ainda bem que sacas-te desse bloco de notas, pois saiu um post magnífico! beijocas
Patti
Bem vinda! Ainda por cima com um post que descreve na perfeição as situações que se veem aos sábados e domingos!
Por isso é que para mim são dias de apreciar ainda mais o meu sossego de casa.
Ah é verdade... deixei no meu cantinho no dia 13 de Abril algo para si. Não sabia onde poderia entregar pois a Patti estava fora.
Beijo
Isso tudo na marina mai-linda da Linha?!!!! Ali é só gente gira. :D
Nem parecemos um país tão cheio de Sol, que há quem lhe vaticine a desertificação, Patti. Mas será realmente o Sol que as pessoas procuram? Ou apenas o prazer de sair do confinamento das suas casas, crescentemente associado às dificuldades familiares e domésticas? :-)
Luísa:
Este Inverno foi duro, mas as pessoas não sabem estar umas com as outras dentro de casa. Atemoriza-as.
Os problemas disfarçam-se nos passeios, e carregam aí balõezinhos de oxigénio para sobreviverem o resto da semana familiar.
Cada vez mais.
Infelizmente.
Adorei este post!!! adorei mesmo... vivi o momento contigo e ainda me ri!!! Vais continuar a esplanar????? bjos
São fugas, Patti. Há quem fuja do inverno, há quem fuja de si mesmo, ou de um vendaval que passou. O erro está em deixar pelo caminho os vestígios de que a educação não sai à rua.
Quanto ao "fado" na árvore foi o montante do que vês nos posts abaixo. Estiveste fora tanto tempo, rapariga! Espero que este teu bloco de notas tenha muitas folhas!
beijinhos Pitangueiros
Oh Patti, também senti esses atropelos por estas linhas. Coitados, dá-lhes um desconto, estão enrugados e carregados de bolor com tanta humidade. Pena tive de já se ter evaporado a sangria. Que mal empregue!
Pitanga:
Terá as folhas que eu conseguir. Mas terá sempre folhas, mesmo que com pausas.
Mas, ainda assim, sempre é melhorem irem para a marina do que para os hipermercados ou para o ikea... (apesar das saladas murcharem) :-D
Quem ficou a ganhar com essa INVASÃO, fomos nós.
Já todos tivemos o "prazer" de assistir a esses comportamentos anti-sociais...:)
Seja bem aparecida!
xx
Por essas e por outras é que ao domingo só ponho o nariz fora do Rochedo e me aventuro por essas paragens pela manhãzinha bem cedo.
Espero que o seu caderninho esteja recheado de outras belas e perspicazes histórias a que nos habituou.
Pronto, a cadeira da PresidentA volta a estra ocupada e isso é que é importante. Vou afixar o edital logo pela manhã lá no CR.
Sábados e Domingos por essas paragens ou similares só por promessa...
Olá Patti
Que bom ter-te de volta.
Beijinhos grandes, isabel mota
Que bom que esteja de volta!!!
Aqui é impossível ir à qualquer lugar aos domingos, seja um clube, uma marina, um parque, um restaurante e mesmo um cinema.
Um péssimo motivo para arranjar tema para um post deveras engraçado!
Isso é coisa de citadino parolo, não é? :-))
Já tinha saudades!
Abraço
Olha! Voltou à vida do "bairro"! Boa!
E fizeste muito bem, que nós gostamos de te ter de volta ao blogospaço...
Beijos.
Patti,
Uma vez mais olá!
Sabes o que penso sobre o assunto? Toda essa gente conspirou para te dar um mote justificativo do teu regresso à blogoesfera.
Beijosssssss felizes por ter ler de novo
Fantástico. Já tinha saudades de te ler!
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