Ontem sabia que a tarde ia ser difícil; já estava prometido há mais de um mês, três horas de martírio na cadeira da minha querida dentista. Lá fui eu, qual miserável a arrastar-me pelo passeio, com o pensamento fixo em anestesias azedas, brocas e broquinhas, espátulas, espelhos, aspiradores ruidosos, moldes coloridos, ceras quentes, simpósios, segundas opiniões e sempre de boca bem aberta, com dois pares de olhos em cima.
Enfim, tudo passou e já eram seis da tarde quando saio do Instituto de Implantologia, assim com a boca meio de lado num grande reboliço interior, mas que felizmente de fora mal se notava e se não a abrisse para falar com ninguém, a coisa até correria benzinho... e se eu ainda desse um saltinho ao Chiado, à Bertrand, para ouvir a Maria Filomena Mónica e o Eça?
Eu merecia uma recompensa, ainda para mais inesperada, depois de toda aquela invasão metálica na minha embocadura e fui e fui mesmo, de cara à banda e tudo.
As pessoas que dizem o que pensam frontalmente, sempre me atraíram, mesmo que discorde totalmente delas. Geralmente caracterizam-se por um certo pessimismo, antagónico à minha maneira de ver o mundo, mas não deixam por isso de ter razão na maior parte das vezes em que fazem as suas apreciações.
A Maria Filomena Mónica é um desses casos; extremamente crítica da nossa sociedade, talvez pouco crente no género humano, tuga principalmente, mas sempre certeira, incisiva, mordaz e com um sentido de humor irónico, por vezes cínico, de que eu sou fã; no fundo, ela tem um grande pedaço de Eça dentro de si.
São de um enorme rigor e de um trabalho genuíno e muito profissional, as suas várias biografias e os seus livros de retrato da sociedade portuguesa, mas é ouvi-la falar, ler as suas crónicas e os seus livros mais pessoais, como "Vida Moderna", "Os Sentimentos de uma Ocidental" e o corajoso autobiográfico "Bilhete de Identidade" que mais me delicio e ontem, no pouco tempo que durou esta apresentação alterada, da 5ª edição da biografia do Eça (que eu ainda não possuía), não foi excepção: igual a si própria.
E já comecei a ler, claro está.
16 comentários:
Ai, Siamesa, Eça é que é essa ... no feminino será Eço?
Que licor bebia a MFM? Sabes?
PS.: Quando leres o meu próximo post (já postado) saberás que tu tens um blogue onde me empanco e que, mesmo me espancando, sempre aqui virei. :D
não a conhecia (e odeio dentista!)
Os tugas não gostam de gente frontal ,gostam do mais ou menos e do vai-se indo.
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Beijocas
Boa leitura! Também hoje escrevi sobre livros.
Beijos.
"As pessoas que dizem o que pensam frontalmente, sempre me atraíram"
Tás a ver como as aparências enganam? O que será que pensaram de ti, ontem, assim tão "lateralmente"? Há coisas!
boa noite menina Patti
Sou um admirador da Maria Filomena Mónica. Li (e gostei) de Vida Moderna, Cenas da Vida Portuguesa e Bilhete de Identidade (autobiografia). E acho-a uma mulher atraente. ;)
Êta música cafona, Patti... (gargalhada)
Mike:
Luiza Possi cafona, Mike?
Êta comentador mais brega, gêntchi!(gargalhada)
"Eu sou assim", Patti. ;)
Foi com esse album conheci Luiza Possi e gostei do que ouvi. Depois vi-a ao vivo em São Paulo. E é bonita essa carioca. Estava a desconversar, senhora. :)
Mike:
já fiquei mais descansada...ouviu-a ao vivo?
Humpf!! (inveja da feia, mesmo!)
Ouvir ao vivo... tem razão. Não esteja invejosa que ela vem a Lisboa e eu já sei quando... mas não digo! (risada provocadora)
Tenho pena que tenha falhado a vinda à Livraria Arquivo,em Leiria, por motivos de saúde...
Abraço
Também não gosto de encontros com dentistas!
Ora vamos por artes:
* Gosto muito da Maria Filomena Mónica.
* Espero que a tua boca esteja já no sossego merecido.
"A Maria Filomena Mónica é um desses casos extremamente crítica da nossa sociedade, talvez pouco crente no género humano, tuga principalmente, mas sempre certeira, incisiva, mordaz e com sentido de humor irónico, por vezes cínico..."
Ai é?!!!
Que bom!
Eu não o tenho...ainda :)
Foi a minha companhia...numa passagem por Porto Covo em Agosto... óptima forma de terminar uma noite...ou começar um dia!
Nuno
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