foto do blog creature conforts
Raras vezes lhe dá para tristezas, para os pensares aflitos ou lembranças dolorosas. Decidiu ainda cedo desligar-se do que lhe faz mal, empilhando tudo no fundo de um baú, carregado de bolas de naftalina; um cheiro agonizante, que merece receber tudo aquilo que a faz doer.
Diz-me que é uma faculdade que começou por ser inconsciente, uma defesa que agora lhe é inata, esta, de virar as costas aquilo que a pode acometer de doenças da alma.
Interrompe e deixa em suspenso, a presença de outras vidas que nada têm ou terão a ver com a sua e filtra para a peneira fina, o que lhe basta para ser feliz.
Não se desperdiça com interlocutores com baixa patente de carácter.
E depois ri para mim, como se fosse tudo isto, muito fácil.
Só chora, quando se depara com uma frase certeira, que vem ao seu encontro num qualquer livro, revista ou outdoor que lê por aí, colocada ali de propósito para si, por um estranho autor que nada sabe da vida dela. Lê e relê e chora de novo, com a certeza de que por mais voltas que der, cairá sempre na ingenuidade de acreditar que aquelas palavras só podem ser para ela, de tão verdadeiras que são.
Só chora com melodias piegas, lamechas mesmo, das que são pano de fundo e servem de banda sonora às cenas finais de comédias românticas, onde namorados bonitos fazem as pazes, trocam promessas ridículas para o resto da vida, confessando culpas que não têm, assumindo falhas e prometendo a tola da lua.
Só chora, nos documentários sobre o reino animal, quando presas meigas são trucidadas a sangue frio por predadores velozes, traiçoeiros ou cobardes em matilha. Predadores idênticos aqueles que deita fora, com uma displicência que a espanta.
Só chora, com olhares de crianças poluídas, homens sós e cenas putrefactas de mortos que pensam que estão vivos.
E mais não chora.
Mas ainda me disse porquê.
Que precisava de guardar muitas lágrimas, que deitaria fora em convulsão infinita, num dia de fatalidade, que não poderá evitar de acontecer.
Onde frases certeiras já não caberão em lado nenhum do seu eu e nada terão a ver consigo.
Em que a música piegas que tocar, só poderá ser surda-muda e não servirá nem sequer à lua, que de tão cheia, vai rebentar dentro do vazio do seu coração.
E onde os predadores sanguinários irão ignorar as suas presas, que se definharão encolhidas de dor, como ela.
Até lá, mais não chora.
Diz-me que é uma faculdade que começou por ser inconsciente, uma defesa que agora lhe é inata, esta, de virar as costas aquilo que a pode acometer de doenças da alma.
Interrompe e deixa em suspenso, a presença de outras vidas que nada têm ou terão a ver com a sua e filtra para a peneira fina, o que lhe basta para ser feliz.
Não se desperdiça com interlocutores com baixa patente de carácter.
E depois ri para mim, como se fosse tudo isto, muito fácil.
Só chora, quando se depara com uma frase certeira, que vem ao seu encontro num qualquer livro, revista ou outdoor que lê por aí, colocada ali de propósito para si, por um estranho autor que nada sabe da vida dela. Lê e relê e chora de novo, com a certeza de que por mais voltas que der, cairá sempre na ingenuidade de acreditar que aquelas palavras só podem ser para ela, de tão verdadeiras que são.
Só chora com melodias piegas, lamechas mesmo, das que são pano de fundo e servem de banda sonora às cenas finais de comédias românticas, onde namorados bonitos fazem as pazes, trocam promessas ridículas para o resto da vida, confessando culpas que não têm, assumindo falhas e prometendo a tola da lua.
Só chora, nos documentários sobre o reino animal, quando presas meigas são trucidadas a sangue frio por predadores velozes, traiçoeiros ou cobardes em matilha. Predadores idênticos aqueles que deita fora, com uma displicência que a espanta.
Só chora, com olhares de crianças poluídas, homens sós e cenas putrefactas de mortos que pensam que estão vivos.
E mais não chora.
Mas ainda me disse porquê.
Que precisava de guardar muitas lágrimas, que deitaria fora em convulsão infinita, num dia de fatalidade, que não poderá evitar de acontecer.
Onde frases certeiras já não caberão em lado nenhum do seu eu e nada terão a ver consigo.
Em que a música piegas que tocar, só poderá ser surda-muda e não servirá nem sequer à lua, que de tão cheia, vai rebentar dentro do vazio do seu coração.
E onde os predadores sanguinários irão ignorar as suas presas, que se definharão encolhidas de dor, como ela.
Até lá, mais não chora.
23 comentários:
Pois eu quase chorava ao ver isto: http://br.youtube.com/watch?v=fXXaRECHHT4 (um cão a tentar salvar outro). Os cães choram?
Patti,
ou era eu que andava numa distração total, ou tu estás a evoluir nas palavras?
Voltei a gostar. Continua. Estranho, nunca te li assim como nestes dois últimos posts.
Jito,
Sony
É impressão minha ou anda aqui "outra" Patti.
Gostei...
Sony:
Sempre disseste que gostavas, mas não, nada de novo, somente dois textos escritos um atrás do outro.
Muitos 'eus, talvez...mas sempre aqui andaram.
Portanto, nada de novo no reino da Dinamarca.
Bjs
Sim sempre quando disse que gostei é porque gostei mesmo!
Mas digo agora isto porque este estilo de escrita é diferente e é o estilo de escrita que gosto, não que não goste de todas as tuas formas de escrita, mas esta para mim é a preferida, diz-me muito. Satisfaz-me, enche-me.
Jito,
Sony
Cá para mim tu és a autora dos outdoors que leio e vejo. Uhmmm. ;)
Ai, ai, porque nos fez o nosso Criador de códigos de alma tão gatas e tão siamesas!
revi-me neste chorar.
obrigado.
De facto não é nada fácil.
Mas vou tentar fazer como a tua heroína: guardar as lágrimas para ocasiões especiais.
Excelentes texto e fotografia
É bom não desperdiçar as lágrimas, para que elas não faltem na hora certa!
Sensibilidade e bom senso, por muito bem que fiquem escritas, uma a seguir à outra, nem sempre definem exactamente o que se quer classificar.
Não é o caso. Encaixam na perfeição.
P.S. Concordo com a Sony, a escrita, nestes 2 posts, é mais intensa e cada palavra está num nível superior em significado e colocação estratégica no texto, o que lhes dá uma leitura absolutamente 'poderosa'!
E eu quase que me lia, nestas tuas palavas...
Mas sei, que são tuas, vindas de ti, e para ti.
Também penso, Patti, que devemos aprender a defender-nos do sofrimento próprio, de preferência votando-nos mais ao alheio (e ao seu alívio). Ao contrário da mulher que tão bem descreve, acredito que as lágrimas que não se choram, secam… e ainda bem, que o chorar desfeia-nos tanto! ;-)
Nunca percebi como aguentam as pessoas que não choram...para mim chorar é uma purga. E não é preciso ser por tudo e por nada, mas de vez em quando faz bem á alma.
Beijos
Patti, podes dizer que não há nada de novo, e não é novidade o sabor da tua escrita. Diz-me se estiver enganado, é minha convicção que neste texto, mais do qualquer outro no Ares, te dás a ler.
Ia comentar, mas já me apercebi do título abaixo, que tem o memso mote.
Portanto, até já.
Ah, aquela já li.
Por muitas tristezas, por inúmeras mágoas, mais e mais desgostos, as minhas lágrimas não secam. De vez em quando, jorram com a força de um rio caudaloso, só não conseguem é lavar tudo à passagem...
Um beijo.
Quida Patti,
a preocipação de poupar a expansividade, da Protagonista do post, é bem a que encontramos na vida real, onde a obsessão em nos movermos num anbiente rarefeito que nos permita respirar sem soluços incontrolados leva, não poucas vezes, à paradoxal alma em carne viva, pronta a sofrer muito mais intensamente ao mais inócuo dos toques, na aparência.
É um texto extraordinário, este Teu.
Beijinho
É a resposta às dúvidas do post anterior e a sua continuação natural. Magnífica mulher com quem tu dialogas, Patti. Está dentro de ti, obviamente, e estou de acordo com a Sony e a Si.
Esquecia-me, tens um desafio. Dos giros, acho que é a tua cara.
Não é necessário guardar as lágrimas. Por vezes até somos tentadas a achar que as choramos todas, mas não.
beijos menina Patti
Vizinhança:
Que diz palavras reflectidas, espero responder-vos com o post seguinte, mas entretanto obrigada por todas elas.
Já sabem que o meu tempo não é muito para responder aqui a cada um de vós e por isso vou-vos falando nos vossos posts.
"Decidiu-se desligar ainda cedo do que lhe faz mal"
É curioso porque eu, não tendo decidido, tenho a capacidade de esquecer o que me foi difícil ou doloroso. E acho que isso é óptimo porque não guardo rancores, não guardo traumas, e assim vou vivendo com menos "peso" de dor.
Gosto muito dos teus textos, acho que já te tinha dito. E sinto que és tu em todos, embora nós sejamos muitas nós, claro, só que privilegiamos um dia uma parte, outro dia outra, e o conjunto é o puzzle que nos compõe.
Beijinho
Acho que nõ vale a pena reprmir as lágrimas, mão devemos ter vegonha de chorar.
Quando essa vontade nos assola porque não chorar. Fcamos melhores, mais aliviados.
Pois, acho que se nos sentamos ali no canto, naquela mesinha que tenho no jardim, se nos sentassemos ali, acho que era mais ou menos isso que te começaria por contar... sou um amontoado de eus, sou muito diferente, muito igual a ti aqui.
beijo pelo ar...
Ps: voltei de ferias hoje, ja estava com saudades de te ler!
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