... entrei numa casa qualquer.
Tinham cães e não limpavam muitas vezes o pó. Os pêlos espalhavam-se por todo o lado e eu consegui fazer desenhos com o dedo, logo ali, na cómoda da entrada, iluminada pelo sol frio deste Inverno.
E nem me importei.
O território era democrático, viviam os animais da mesma forma que os seus donos. Tudo tinha o mesmo cheiro, a refeições quentes muito bem preparadas e a paredes vestidas de madeira tropical.
E eu senti-me bem.
Estendiam-se mantas de franjas coloridas pelos sofás e maples, para que todos pudessem gozar do seu conforto. Os nossos pés, assentavam em tapetes fofos e banquetas de malha, iguais às camisolas feitas pela minha avó e as irmãs dela.
E eu recordei.
Não existia preocupação com a ordem; as chávenas do café com leite continuavam em cima da mesa de apoio e já eram horas de jantar, as migalhas descansavam no tapete, já secas e os bichos contentes, traziam ossos gordurentos para o pé de nós.
E eu relaxei.
Nos nichos das paredes, brilhavam lamparinas de azeite, que me faziam retardar o momento de ir embora. Odores de infância.
Que eu cheirei.
Distraídos por natureza, deixavam luzes acesas até desoras, almofadas desordenadas e janelas sem cortinas. Riem-se sempre muito quando lá vou e falam comigo apertando as suas duas mãos no meu braço.
E eu adorei.
Vivem-se outras vidas, nem melhores ou piores que a minha. Só diferentes.
Ali também são felizes. Todos.
E eu também.
Tinham cães e não limpavam muitas vezes o pó. Os pêlos espalhavam-se por todo o lado e eu consegui fazer desenhos com o dedo, logo ali, na cómoda da entrada, iluminada pelo sol frio deste Inverno.
E nem me importei.
O território era democrático, viviam os animais da mesma forma que os seus donos. Tudo tinha o mesmo cheiro, a refeições quentes muito bem preparadas e a paredes vestidas de madeira tropical.
E eu senti-me bem.
Estendiam-se mantas de franjas coloridas pelos sofás e maples, para que todos pudessem gozar do seu conforto. Os nossos pés, assentavam em tapetes fofos e banquetas de malha, iguais às camisolas feitas pela minha avó e as irmãs dela.
E eu recordei.
Não existia preocupação com a ordem; as chávenas do café com leite continuavam em cima da mesa de apoio e já eram horas de jantar, as migalhas descansavam no tapete, já secas e os bichos contentes, traziam ossos gordurentos para o pé de nós.
E eu relaxei.
Nos nichos das paredes, brilhavam lamparinas de azeite, que me faziam retardar o momento de ir embora. Odores de infância.
Que eu cheirei.
Distraídos por natureza, deixavam luzes acesas até desoras, almofadas desordenadas e janelas sem cortinas. Riem-se sempre muito quando lá vou e falam comigo apertando as suas duas mãos no meu braço.
E eu adorei.
Vivem-se outras vidas, nem melhores ou piores que a minha. Só diferentes.
Ali também são felizes. Todos.
E eu também.
34 comentários:
Cheguei aqui para matar saudades da tua escrita.
E matei.
Para apreciar as tuas histórias.
E apreciei.
Para associar ideias.
E associei.
Para entrar nesta casa dos outros, contigo.
E entrei.
;-)))
Filo:
Que lindo o que escreveste :D
No início parecia uma bagunça.
Mas com o continuar da descrição, tu não te importáste e eu não me importei.
Sentiste-te bem,
e eu também.
Recordáste e eu imaginei.
Relaxáste, cheiráste, adoráste.
E eu também.
:)
Blue:
Estou a ver que anda tudo inspirado e este vai ser um post a muitas mãos. Venham mais!
E APESAR DE TUDO FICASTE FELIZ PORQUE ELES TAMBÉM ESTAVAM E O SÃO...AFINAL É TUDO QUE IMPORTA DE VERDADE, A FELICIDADE VIVIDA DA MANEIRA QUE CADA UM ESCOLHE PARA SI
Entrei na casa da imagem e gostei;
Entrei na casa que descreveste e não sei se gostei;
Há odores a que nunca me habituarei, mesmo misturados como oderes que, sempre, gostarei.
Contado desta maneira, por certo relembrei, certos cheiros passados com os quais me encontrei.
Patti, foste a Coimbra a casa dos meus sogros e não disseste nada!?...
eheheheh, esta tua discrição é tal e qual a casa dos meus sogros, no inicio estranhei(há 14 anos), mas agora acho normalissimo, os 2 cães( dalmata e goldenretriver) e 3 gatos estarem dentro de casa tal como nós.É fixe!
hum... pelos por todo o lado... lá em casa é assim (mas não no sofá que os cães não são gente)
É isso!
Não temos de ser todos iguais :)
E casas dessas conheço algumas.
beijosss
Desculpe lá, Patti, mas devido ao cheiro vou ter de sair de fininho. É que os cães e gatos e tudo o resto que descreve, eu suporto. Estou habituado a entrar em cenários bem piores do que o que descreve.
Agora os cheiros a cozinha ( que aqui chegaram requentados) é que não consigo suportar. E já suportei cheiros bem piores, de certeza, mas cheiros a saber a véspera não aguento!
Carlos:
A requentado? Eu falei de cheiros a comida quente bem preparada e até referi que eram horas de jantar.
No apartamento em frente ao meu, vive há 2 ou 3 meses, uma família de raça negra. Já tivemos que lá entrar, para os socorrer de algumas aflições, como por exemplo, regular a caldeira de forma a que pudessem gozar do calor do aquecimento central nestes dias de gelo. Foi aí que os conheci, pois de outra maneira nunca lhes teria visto a cara, tão desencontrados são os nossos horários. De qualquer forma, mesmo antes de os conhecer, já sabia que tinham origem africana ou, pelo menos, raízes aí muito profundas. O cheiro dos assados com gindungo, das farinhas de mandioca e do óleo de palma, escapam-se sempre do exaustor e emprestam ao corredor um odor especial e inconfundível a comida com raça.
Mas que grande capacidade de adaptação!
Ou devo antes dizer, mas que grande imaginação?... :)
Às vezes o desequilíbrio de uma desorganização reflecte mais vida e equilíbrio do que uma total e perfeita organização...
ÀS vezes, preciso de organização, as vezes gosto de ter o livre arbítrio de viver na total desorganização.
A imagem... o candeeiro verde como centro de contraste entre a harmonia perfeita das cores e o espaço... o equilíbrio provocado de alguns contrastes. adorei.
Agora entrava, não só entrava, como sentava, nas almofadas feitas de tricô...
Partilhava o espaço com os cães, tal como estou habituada, a diferença é, que quando eles saiem não me fica pela casa os pelos nem o cheiro,porque tenho a mania imediata de limpar, nao aproveito o momento,percebes?
o ar dessa casa tão acolhedora, é o mesmo que tento, transmitir à minha, mas acabo por não desfrutar...
Será que essa é tão encantadora, por não ser nossa?
Gostei dessa casa, também me sentia bem assim, embora seja totalmente contrária à minha. Mas o que interessa é mesmo isso não haver um padrão certo ou igual para se viver, o que realmente interessa é sentirmo-nos à vontade, confortáveis, aconchegados.
essa casa transmite isso, adorei essas banquetas revestida de malha. o tapete também, e o contraste do candeeiro de tecto, tanbém me mudava para uma casa assim e se fosse numa aldeia próxima ainda melhor.
Patti, já agora tu que pareces ter tantas ideias sobre decoração, não me dás uma ideia de algo que quero para o meu quarto, adoro ouvir o barulho da água, quero arranjar algo que me transmita isso , encontro muitas fontes mas todas bonitas para salas, halls, para quartos não ficam lá muito bem, mas embirrei que quero adormecer ao som da água a cair...
se souberes de algum site com alguma ideia diz, eu agradeço :-)
Maluqueiras minhas!
jito,
Sony
PARA A SI,
SI essa comida com raça é a minha preferida :-)
Uma Muambada :-)
é como eu quando venho aqui.
não acho este blog pior nem melhor que o meu, acho-o diferente.
não fiz desenhos na comoda mas já estou a ouvir o Frank pela terceira vez.
os amigos visitam-se...não é preciso sempre...mas de quando em vez.
um abraço.
Não é que seja importante, mas como podem pensar que vos abandonem, aproveito estarmos em casa da nossa presidente, que este vosso vizinho por motivos de trabalho se vai ausentar uns dias.
Portanto façam favor de se portarem bem e de ir ao meu cantinho que os meus sócios agradecem.
bjs e abr para TODOS!
Bons textos
Querida Patti,
todas as pessoas com alguma possibilidade de não serem completamente infelizes precisam de momentos de ordem e de outros de fruição de uma comparativa desordem, que mais não é, afinal, do que uma visão diferente de como as coisas devem ser dispostas.
Chesterton dizia que Deus é um Grande Anarquista. Não fará sentido
?
Beijinho
Aqui também (quase) reina a democracia. Vivem os animais (quase ) como nós. Quando está mais frio os dois cães entram, a trovoada também os assusta e trá-los para dentro. Quando faz calor é porque está muito calor e, coitadinhos, cá dentro está mais fresco. Se nem está calor nem frio, é porque, coitadinhos, gostam da nossa companhia. Os dois gatos entram e saem quando querem. Esses são reis da vida deles. A gata, ainda é novinha, é caseira, não se aventura muito fora das fronteiras, porém, o gordinho cá de casa, só agora pára mais no sofá e nas mantas porque lá fora as temperaturas têm estado baixas.
Os pelos também abundam nos tapetes. Caem-lhes todo o ano, mais no verão e ante-verão.
Eu fiquei retida nas suaves fibras do tapete ( "Os nossos pés, assentavam em tapetes fofos"). Não resisti! Passei os pés pelo tapete para sentir a sua leve textura. Sentei-me e passei as mãos. Deitei-me e amachuquei-o com o meu peso. parecia que voava, flutuava.....porém, tive que me levantar e continuar a percorrer a casa, a par da história, que era demasiado irresistível para ser trocada por um confortável tapete.
Tenho um fraco por imagens e tu escolhes sempre imagens magníficas. A de hoje condicionou-me e tornou impossível o não gostar de coisas que à partida me desagradariam. Entrei nesta casa já a gostar dela, sem me ralar com a desarrumação... e acabei conquistada pela simpatia.
"Para que todos possam gozar o conforto, vivem-se outras vidas... felizes! E eu também!"
:)))) Abracinhos
A foto está sem cheiro. E eu gostei.
Mas compreendo-te porque, não sabendo viver assim, invejo quem consegue. Porque é na marca da presença humana que mora a conforto, foi isto que eu pensei.
Do azul da sala que postaste sai tranquilidade. Foi o que quiseste transmitir, não foi?
Eu sei :-p
A tua escrita é um vício!!!
pD:
Há quanto tempo! Ainda noutro dia passei e comentei no teu blog e pensei, o que será feito deste rapaz.
É como dizes; os amigos visitam-se.
Vizinhança:
É como diz a Precis: o conforto das casas é feito de quem lá mora, o resto são pormenores de aconchego.
Apetece ir passar os fins-de-semana à casa da fotografia.
E a tua descrição... óptima, como sempre.
Felizmente que cada um vive a felicidade à sua maneira, sem padrões nem bitolas.
Raminhos de cheiros, dentro da carteira...
Só se é feliz numa casa onde todos partilham da mesma felicidade. E se há animais por perto, ainda que com alguns pêlos à mistura, eles também têm direito a ser felizes, partilhando das nossas vidas.
Adorei o teu texto. Escriti de uma maneiraque já nos habituaste e com um sentido de humor excelente. Parabéns!
Beijos
Jorge
Fiquei a sentir-me confortável só de ler o texto...
Bjinhos
É pelo menos a quinta vez que leio este post e continuo sem decidir se gosto mais da fotografia ou do texto.
Bj.
Mad:
É dos cães. Nossos iguais.
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