fotos minhas
Às oito da manhã, eu era a segunda pessoa da Praia D. Ana. Bom dia, cumprimentou-me a velhinha que já lá andava pela areia a apanhar aquilo que a maré-cheia nos trás, todos os dias aquela praia.
Eu fui lá tão cedo, para fazer o mesmo que ela. Quem chega primeiro, escolhe o melhor.
A D. Ana é uma praia pequena, mas muito especial. Inexplicavelmente é a única destas praias todas que tem uma areia tão grossa, que se solta logo na primeira sacudidela. Está rodeada de uma arriba rochosa e imponente, que parece que nos protege como se de uma praia privativa se tratasse. Infelizmente, com a erosão e o relaxe humano, corre o risco de derrocada.
Nascem dentro da água, sempre muito transparente, outros grandes rochedos que são poiso de gaivotas, corvos marinhos, garças e se ainda houver espaço, também de mexilhões, lapas e caranguejos pretos e brilhantes.
Quando éramos mais novos, nadávamos até lá, arranhando joelhos e pernas, para subir até ao topo e mergulhar naquela água, sempre verde.
Na areia, a montra de brindes que o mar nos oferece, está espalhada pela praia de uma forma surpreendente e sempre igual todos os dias. É assim todos os anos e não faço ideia do porquê.
As pedras, os búzios, as conchas e os limos estão todos separados por zonas, como se fossem secções bem compartimentadas e arrumadas em locais próprios por empregados invisíveis.
Do lado esquerdo da praia, temos, espalhadas como se fosse um tapete ao sol, as pedras de tamanho médio e grande.
São as que têm mais sucesso e mais adeptos com posição estrategicamente estudada, ao fim de muito tempo de 'apanha'. Profissionais, é o que é.
Do lado direito, já na passagem para outra praia minúscula, a que só se tem acesso durante a maré vazia, estão as pedrinhas-smarties, quase todas finas e achatadas.
No centro do areal, mesmo no sítio exacto onde a última onda chegou com a maré-cheia, está o meu carreirinho preferido, bordado com limos e algas.
A Praia da D. Ana, na maré baixa, é uma das poucas praias onde eu ainda consigo aumentar a única colecção que faço desde que me lembro de ser gente: distinguir e escolher com a perícia de um cirurgião, no meio de muitos limos e pedras, búzios muito pequeninos e as freirinhas, as minhas preferidas de sempre.
Tudo isto é tão pequeno, que só mesmo quem gosta muito, como eu, repara que existem por ali. De joelhos, com a ponta dos dedos transformada em pinça clínica e usando o velho truque de fazer sempre sombra na areia, apanham-se um a um, com paciência infinita.
Mas tempo, é o que eu mais tenho nas férias. Esqueço-me das horas que passam à minha volta, deixo de ouvir o riso e os gritos dos outros, não sinto o calor nas costas, nem a areia que me pica os joelhos e deixa marcas.
O meu objectivo é sempre o de encontrar uma freirinha. Este ano só encontrei duas. Cada vez são mais raras.
E à medida que vou enchendo, muito lentamente, o pequeno frasco que trago comigo, lembro-me dos tempos em que este ritual dos búzios pequeninos, era cumprido
Ainda guardo todas em frascos antigos de vidro grosso, com tampa larga e pesada, herdados pela minha mãe. Estas duas também vão para lá.
Uma hora depois, quando me fui embora, a praia já começava a encher.
Lagos, 22 de Julho 08
23 comentários:
Ainda há gente com sorte, só a areia grossa é que não me atrai, parece que me faz buracos nos pés e nos joelhos...
A essa hora, também já faz tempo, só se for numa directa.
As fotos estão lindas e o post também.
Estes teus escritos sobre as férias em Lagos, na D. Ana e na Meia-Praia trazem-me uma saudade, deixam-me uma melancolia.
De anos e anos lá passados: criança, adolescente, recém-casada, o primeiro filho. Os passeios às grutas com os pescadores. E também uma colecção que fazíamos em família: eram uma espécie de concha, como se fosse só metade de um mexilhão, mas cujo interior é de madrepérola.Ainda as guardo todas.
Lindas. Como lindo foi esse tempo que não volta.
Este ano não consegui trazer para casa nenhum espólio...todos os anos trazemos garafas ou frascos cheios de pedrinhas e conchas que depois etiquetamos e usamos como elemento decorativo!
Infelizmente, o Malhão é uma praia maravilhosa mas sem pedrinhas ou conchas para coleccionar...
Lindas fotografias!
Olá!
Uma hora boa para quem gosta de estar consigo mesmo...e com a natureza ;=)
Lindas imagens
Beijocas
A essas freirinhas chamo beijinhos e também tenho um frasco desses onde as meto :)
Madrugar assim sabe bem :)
Beijosssssssssssss
Aroma de mar nas tuas palavras...
Que giro areia grossa... eu gosto de areia fina e macia... peneirada...
beijinhos das nuvens
Vê-se que tens um orgulho imenso nesta praia!!!
as fotos estao mto giras...ah, nao sabia que se chamavam freirinhas!
bjos
O que há mais por aí é gente a querer apanhar freirinhas.
Mas sempre julguei que a praia era o último sítio onde as podia encontrar....
;o)
Continuação de bons banhos
Afinal não é só a minha Mulher e filha que enchem potes com conchas e pedrinhas.
A nossa hora de chegada da praia também é sempre ás 8 da matina.
P.S. a mensagem já lá está,houve uma baralhação interna.
bjs
Pedro Oliveira
vila forte
Eu passo muitos bons momentos a apanhar conchinhas na praia. Apesar de ter de estar sempre de olho nos miúdos, dá-me uma sensação de calma.
Que continues a ter umas excelntes férias!
Beijos.
Ah! A mim, ensinaram-me que o nome dessas a que chamas freirinhas eram beijinhos...
Filoxera e Olá:
Também chamo de beijinhos.
É de facto uma bela praia e para ter um mar tão arrumado no seu jeito de atirar para a areia os brindes que quer oferecer àqueles que ama tinha que se chamar D. Ana! :-))
Abraço
afinal não sou so eu madrugadora !
mas afinal ainda estas de ferias
e eu é que fico com fama
de férias enormes ?
Beijinhos, nem conhecia a versão freirinha, as minhas perderam-se com o tempo :(
Não para os lados de Algarve mas em Foz de arelho, saudadeeeee
beijo
Que praia linda e essas conchinhas íam fazer as delícias das minhas Rs que adoram apanhar conchinhas e pedrinhas que depois me "obrigam" a guardar...
Jokas
Lembro-me das freirinhas das praias da zona de Peniche para onde ia em pequena, eram praias magníficas, de água fria e cheiro a mar a sério. Os meus filhos apanhavam sempre imensas conchas quando eram pequenos e davam-mas de presente, a nossa casa do Algarve tem frascos cheios delas, e acho que há freirinhas pelo meio.
Lindo, Lindo...
Na "minha" praia às tuas freirinhas chamamos beijinhos.
Um beijo
em azul
Aquilo a que a Patti chama "freirnhas", lá no Porto chama-se "beijinhos". Até existe uma praia com esse nome em Leça. Muita gente pensa que é por outras razões ( antes da urbanização ia-se para ali namorar) mas averdade é que ali havia imensas dessas "freirinhas".
Também adoro a praia de manhã bem cedo, enquanto está toda a gente a dormir, e ao fim da tarde quando já só ficam os resistentes.
Gosto muito de apanhar conchinhas logo pela manhã cedo. Ainda chegas à praia mais cedo do que eu!
Beijinhos com raios de Sol
Olá
Mais um quadro lindo e maravilhoso que pintaste para nós.
Aqui em casa existe um grande jarro de vidro transparente onde todos os anos colocamos as conchinhas que vamos encontrando na praia e gostamos.
Além de ser decorativo guarda conchinhas muito lindas.
Conforme disse a Olá e o Carlos, cá em "cima" essas conchas chamam-se beijinhos.
Um dia fui para por um pescador que estava no molhe, já bastante velhote, e só com 2 dentes (juro). Parou-me e disse-me que me ia dar um beijinho. Fiquei (no mínimo) espantada. Mas ele depositou na minha mão um desses beijinhos. Lá lhe dei um beijinho de verdade e ele ficou a gabar-se aos colegas de como sabia arrancar beijinhos às "moças". Há beijinhos com histórias. Que tal contar por aqui as histórias do seu frasco de beijinhos ;)
Olha, para que conste, roubei-te uma foto, aquela das pedrinhas pequeninas, lindas lindas, que dizer, adoro pedras...
:)
beijos
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