E disse-me o mestre, então venha daí, sente-se virada para a proa, que eu vou dar uma voltinha jeitosa pelo mar, enquanto lhe conto umas histórias.
Isto agora com as gaivotas é tudo ao contrário. Abalam do mar e da gente e vão para terra. Fazem os ninhos nas telhas das casas, em vez de os fazerem aqui nas rochas, como era hábito. A senhora já viu bem este desassossego?
Por acaso, já tinha reparado, digo eu a pensar na minha vizinha gaivota, frequentadora de restaurantes em terra firme.
Ali em frente, pode ver o penedo eleito das garças marinhas, essas ainda ‘na se piraram daqui e nestes buracos estreitos, são os ninhos dos pombos bravos. Cada vez são mais aqui no mar.
Realmente, nunca tinha visto tanto pombo junto, a não ser no Rossio e muito menos estava à espera de os encontrar a viver junto ao mar.
É o planeta, que nos avisa constantemente, que nos envia sinais de alerta e que nós insistimos em não ligar.
Vamos passeando mesmo junto aquelas enormes rochas, que um dia já estiveram carregadas de lapas, mexilhões e percebes. São cheias de recantos, túneis fundos, passagens estreitas e grutas recônditas, onde a água é verde-turquesa e o fundo do mar, uma piscina tão cristalina e pura que até apetece beber. Só não mergulho porque o fundo está forradinho de ouriços desejosos de entrar em acção.
Quase todas as grutas têm uma abertura no topo, como se fosse uma clarabóia encomendada à dona natureza, estrategicamente colocada, por onde entra, sem ser convidado, o forte sol de Julho, que vive num enorme céu pintado de azul pleno.
Foi por aqui, que durante muitos anos, Sophia de Mello Breyner passou férias, passeou e provavelmente se inspirou para nos contar a todos a história de uma menina que fez amigos neste mar.
Mestre João, sabe todos os caminhos de cor e salteado, o nome dos rochedos, o local perfeito para o ninho das aves, as marés, as correntes, os levantes, os ventos de Sagres e conta-nos histórias de salvamentos que já fez, com a sua simples barcaça e a ajuda das bóias que carrega sempre.
Gente inexperiente e aventureira, que sem reconhecer os riscos da natureza, se perde e arrisca a vida pelo desconhecido, à toa.
Sabe o que é… não respeitam o mar, pensam que ele não tem truques.
Daqui até Sagres, o cenário é fantástico.
A robustez destes penhascos faz uma parelha perfeita com a agressividade e o picado do mar Atlântico, deste lado do Algarve.
Tudo é inóspito, rude, solitário, mas muito temperamental.
Como eu prefiro. Não gosto de mariquices.
Cada recanto tem a sua própria biografia, assim como cada ruga queimada pelo sol, na cara de Mestre João.
24 comentários:
E quando o Mestre João se for quem nos contará como isso era?
E de repente isto fez-me lembrar o Duque da Ribeira, outro bravo que já se foi.
Patti, as imagens estão fantásticas! Sabias que eu quase nasci no mar? :) Pois adoro o mar, os barcos e os seus sábios mestres!
Pena que comece a ficar tudo tão diferente e para pior...
Beijo
Este é o lado do Algarve de que eu gosto e que eu conheço bem. Fiz tantos passeios semelhantes, lá e por outros sítios, tanto cá em Portugal como em outros países, com o meu pai como guia! Nem imaginas as saudades com que fiquei.
Que belo roteiro algarvio tu nos mostras!
Belas imagens e texto bastante ecológico.
Abraço
Post brilhante de texto e imagens de cortar a respiração...
Belo passeio recheado de sabedoria do mar e da experiência e conhecimento de vida do Mestre João...
As gaivotas a reclamar o sabor do peixe ... a gritar com os homens...
...
beijinhos das nuvens
patti,
Tenho fotos lindas desse lugar:-)
É um sonho ver esses contrastes de cores!
Castanhos, azuis, verdes!
Adorei essas grutas, essas prainhas lindas!!!
Obrigada por me recordares as minhas férias de Julho de 2007!
Um beijo,
Sony
Bonito Patti, muito bonito!
Que a fúria do homem, pare a tempo de deixar que outras gerações possam também olhar este mar.....
Fotografias lindas que tiraste. Nunca, nas minhas estadias algarvias, fiz um passeio num barco destes. As rochas são sítios maravilhosos. Tu já sabes que Mar, para mim, é o princípio e fim de tudo. Amo-o de paixão e não sei viver sem ele.
Beijos
Oi,
estou de regresso!
podes ler cosias das minhas férias também no meu cantinho.
Pedro Oliveira
vilaforte.blog.com
que ricas passeatas,e esse passeio deve ter sido lindo
bjs
obrigado. conheço muito pouco desta zona e tu és muito eficaz neste tipo de excelente comunicação.
Mais um texto brilhante, com imagens belas que acompanham sabiamente a cultura do Mestre joão.
Beijo
O mar sempre o mar... não me imagino a viver longe dele... o meu pai foi um marinheiro nato, vai dai desde pequena aprendi a agarrar nesse volante tão particular, por isso dou tanto valor a quem me conduz... e tu como sempre, a surpreenderes com essas fotos tão bem acompanhadas… beijo.
:)
Excelentes fotografias...
Com estas praias e paisagens as férias estao garantidas!
bjos
( eu tb tive umas paisagens de visita aqui por Madrid...ADOREI, como deves imaginar!)
Gostei do texto, escrito por algúem que sabe o que faz, o que quer e para onde quer ir. Pois pretende-nos passar uma mensagem que um dia secalhar ninguém conseguirá fazer.
A conjugação texto imagens é perfeita
Mais um belíssimo post com fotografias soberbas que me leva de volta à minha infância, quando passava as férias em casa da Sophia, me sentava ao colo do Cutileiro e fazia estes passeios, de penetra, com outros Mestres, de mãozinha dada com o Miguel, achando que ele era o amor da minha vida.
Tempos que não voltam e recordações que sempre me deixam de lágrima ao conto do olho.
Veludinhos azuis da cor do mar
Já andei por aqui...perto de Lagos.
Patti que fotos fantásticas.
Pode ser que um dia possa mostrar-te algumas fotos minha tiradas muito perto dessa zona.
Adorei o teu texto, cheio de cor, de pitoresco, o sabor salgado da pronúncia.
Quanto às fotos... BRUTAL.
Esmagada pela força das rochas e das cores de um mar que só se costuma "ver" em sonhos.
Um beijo.
O Algarve no seu melhor... :))
beijoca
Olá, Patti.
Belo roteiro, fantástica viagem!
O que se aprende num passeio... de facto, Mestre é Mestre!
Só gostaria de acrescentar um aspecto, jamais em forma de reparo.
Por motivos profissionais (e que não para aqui "chamados") desenvolvo um trabalho na área da Literatura infanto-juvenil.
Sophia de Mello Breyner desenhou a sua obra "A Menina do Mar", aquando um momento, em fins de Verão,em que os seus filhos (o famoso Miguel, incluído) adoeceram com sarampo. Morando no Porto e tendo casa de férias na Praia da Granja (a escassos quilómetros da sua residência) para aí decidiu ir com os filhos, para que os ares do mar os ajudassem na recuperação. Não saíam de casa, mas teriam acesso a uma paisagem fabulosa - brevemente divulgarei algumas, fruto de um complemento de um trabalho que realizei e que muito emocionou Miguel Sousa Tavares. Para tornar os momentos de recuperação menos cansativos, Sophia socorreu-se do grande dom que lhe conhecemos. E aí, nessa altura, frente ao mar da Praia da Granja, em Vila Nova de Gaia, surgiram as aventuras daquela Menina do Mar! Mais tarde, transformadas em livro!
Foi só um acrescento, não em forma de reparo, mas de esclarecimento.
Se bem que pouco importante é se a Menina do Mar e o seu amigo Rapaz são algarvios ou nortenhos.
Mas fica o esclarecimento, que é interessante e nos remete para a origem verídica de obra tão imponente no universo literário de todas as idades.
Beijo.
PS - Peço desculpa por estar a comentar o teu blog. Corro mesmo o risco de não ver publicado este comentário, como aliás, já sucedeu com dois que aqui tentei deixar. Não sob o pseudónimo de Ovinho Estrelado, mas também, de momento, isso não importa nada.
Ovinho Estrelado:
Agradeço o teu acréscimo sobre a Sophia.
Sei que em solteira passava os Verões na Granja com a família.
Depois de casada veio para Lisboa e posteriormente passou muitas temporadas em Lagos, a quem dedicou muitas poesias, inclusive "O Caminho da Manhã" que se refere concretamente a Lagos.
Quem não conhece por exemplo:
Em Lagos
Virada para o mar como a outra Lagos ....
ou
Lagos onde reenventei o mundo num verão ido
Lagos onde encontrei
Uma nova forma do visível sem memória ....
Todos os anos a Câmara de Lagos lança um concurso de poesia, em todo o concelho com o seu nome.
O Miguel está por lá, 2/3 semanas todos os anos, na Meia Praia. E esteve presente na homenagem à mãe nas comemorações do dia do município. São inúmeras as referências e inscrições à Sophia por todo o concelho de Lagos.
Onde ela se inspirou para escrever a Menina do Mar, pode ter sido o mar do norte ou do sul. Escreveu-a, assim como outros contos infantis tão conhecidos de todos nós,em 1958 já depois de casada e quando vivia em Lisboa, motivada concerteza pelos cinco filhos que teve.
Quanto à parte dos comentários que já aqui tenhas deixado, em que eu não publiquei, tal não aconteceu.
Este é o primeiro e único comentário com este nick de Ovinho Estrelado que entrou no meu blog até hoje.
Tive sim, outro comentário, um único comentário com outro nome, em Julho, num post em que falo de autores de blogs e que está publicado e inclusive dei uma resposta. É só verificares se é a isso que te referes.
Eu só não publico um comentário de alguém, se é ordinário e ofensivo.
Foi o teu caso? Acho que não, porque também nunca recebi nenhum desse tipo de ninguém, por isso, insisto em dizer-te que nunca comentário nenhum aqui chegou com o nome de Ovinho Estrelado ou com ou pseudónimo qualquer.
Que fique bem claro.
Se ainda ficares com alguma dúvida ou precises de algum esclarecimento, em relação a este assunto, podes entrar em contacto comigo através do meu mail, que se encontra no perfil do meu blog.
Para comentares os meus posts, terás sempre a porta aberta, como toda a gente que vem por bem.
Ainda bem que o resto mais que compensou, que o discurso inicial parecia o de um Zezé Camarinha!
;o)
Bjoca
E um sorriso
Olá Patti, pela segunda vez, hoje.
Não. Nunca te havia comentado como ovinho estrelado. aliás, até te devia uma visita, pois recentemente tiveste a gentileza de ir ao meu blog e eu ainda não tinha vindo retribuir a visita. E hoje fi-lo, por acaso.
Também não te comentei ofensivamente. Não é a minha forma de estar na vida, nem de pecorrer os trilhos da virtualidade.
Como te disse, não importa.
Aliás, a partir do momento em que os comentários são moderados num blog, o autor do mesmo reserva-se ao direito de publicar os que bem entende. E nós, comentadores, só temos de aceitar.
A moderação de comentários é uma funcionalidade como outra qualquer. Sou, a bem dizer, contra quem acha essa funcionalidade um absurdo. Existe como tal e, por isso, não deixa de ser uma opção do blogger. Ninguém se manifesta, afinal, contra os blogs com comentários abertos. E, lá está, essa é também uma mera funcionalidade, uma opção do blogger.
A moderação não me causa impressão. Portanto, não temos nada a esclarecer.
:)
Desejo-te um resto de excelente Verão!
Ovinho:
Então esses comentários de que me falas, não entraram de todo. Talvez alguma falha do Blogger.
Serás sempre bem vinda.
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