terça-feira, 26 de agosto de 2008

meu querido mês de Agosto I

fotos minhas e clicar para ampliar



Acabadinhos de pousar as malas no hotel, marcado com dois meses e meio de antecedência e já só havia dois quartos, ouve-se um barulho contínuo e histérico de buzinas, sirenes, motas e carros. Olha, já ouve um acidente, digo eu. Corremos para a varanda e damos conta que chegámos a uma cidade de província, onde certas coisas se vivem mais intensamente. Era a Volta. A Etapa Rainha. Em pleno mês de Agosto. E o povo na rua a aplaudir os heróis, que desciam a ponte Eiffel em carreirinha.

Iniciámos a nossa Romaria. As ruas da cidade estão todas enfeitadas, como o meu Chiado no Natal. Mas para melhor. As ruas e não só. As montras, as janelas e as casas, as varandas, os candeeiros, os jardins, os empregados dos cafés.



E os minhotos também. É absolutamente normal que assim se vistam nesta altura das festas. Mas eu não sabia, não fazia mesmo, a mais pequena ideia. Ignorante. Claro está, fiquei maravilhada com este orgulho minhoto e andei atrás deles tipo sombra. E não são, nem um, nem dois, são muitos e de todas as classes sociais. Famílias inteiras. Digam lá se não é bestial?



Com o programa da Romaria na mão, guardado como um tesouro, lá fomos nós, entre ruas movimentadas para a Festa. Oh menina, olhe que isto é um povo que o Deus te livre! Não abales da beira da mãezinha, que te perdes, disse ela à Beatriz.

Por todo o lado se ouve os ranchos e as vozes esganiçadas e estridentes das suas cantadeiras. A Beatriz acha muita piada aquele timbre agudo. A música é uma constante, assim como os tradicionais vendedores de rua, os pregões, a gastronomia, o verde vinho e a broa. Oh meu Deus, a broa que eu comi… e a que trouxe comigo?


Nem vos conto. Tenho o congelador entupido.

No dia anterior foi o dia da Procissão do Mar e do Rio, onde os engalanados barcos das gentes, partem para o mar, levando a sua padroeira, a Nossa Senhora da Agonia. As ruas e os passeios são enfeitados pelas pessoas na madrugada anterior, onde ninguém dorme, de sal colorido e flores, numa competição saudável entre si pela rua mais bonita.


fotos de tapetes da Fátima

Na manhã de sexta, estávamos a postos nas bancadas, alinhadas pelos passeios, à espera do primeiro cortejo: O Desfile da Mordomia.

Passam os cabeçudos e os gigantones sempre aos saltos e a girar, dançando ao som dos Zés Pereira e dos seus espectaculares bombos, dos grupos de gaiteiros e concertinas. Um barulho infernal, mas sintonizado por incrível que pareça.


Atrás vêm as mordomas. A música já lá vai, elas desfilam lentamente, faz-se silêncio à sua passagem que só é interrompido pelos nossos aplausos. Parece a cena de um filme. São imensas. Lindas. Com trajes magníficos das várias freguesias do concelho de Viana, onde não falham os pormenores. São elas as rainhas da Festa, raparigas solteiras que fazem os seus primeiros ex-votos de amor na Romaria da Sra. da Agonia. Sendo assim oficialmente apresentadas à cidade e indo oferecer os seus cumprimentos ao Governo Civil, à Câmara e ao Bispo. Tradições muito antigas. Eu gosto.



Não é à toa que se diz, que as mulheres do Minho são as mais bonitas do país. Alguma coisa elas têm. Ou são as cores dos trajes, o brilho do ouro, o ar nobre, o orgulho com que desfilam, a segurança da postura. Não sei. Mas são magníficas!


Foi esta, uma das minhas experiências preferidas de todos estes dias.

Depois do Desfile da Mordomia, segue a festa por toda as ruas, coretos, praças e jardins, até à hora da procissão solene. É como se o povo, pecasse à grande com o profano, para depois ir pedir perdão, redimir-se das culpas e pagar promessas com o sagrado.



Fui assistir por curiosidade. A última vez que estive numa procissão, ia pela mão da minha avó e devia ter uns sete ou oito anos. Só me lembrava dos anjinhos e dos homens que carregavam com o andor. A tradição ainda é o que era. A devoção destas pessoas é imensa e constrange-me, tomam tudo aquilo por uma realidade incontestável. Observei mais o que elas diziam, como reagiam e o que faziam à passagem dos diversos quadros bíblicos, do que propriamente à dita. Há ainda em tudo isto uma mentalidade muito antiga, muito tradicional, religiosa e muito distante daquilo que se vive nas grandes cidades. Mas isso é outro post.

A noite acabou em beleza. Novamente nos sentámos nas bancadas, mas desta vez na avenida principal, onde a animação foi total e a iluminação a condizer.

É o caos pela rua abaixo. Caos organizado, diga-se. São as bandas filarmónicas, os ranchos, os grupos de concertinas e de gaitas de foles, as castanholas a ‘pipocar’, o público a cantar em uníssono e a bater palmas ritmadas e os espectaculares Zés Pereiras. Estes homens, rapazes e até crianças, são excepcionais, incansáveis, fortes, talentosíssimos, poderosos. E surdos, aposto. Só pode.

Eles pouco descanso devem ter nestes dias da Romaria. O público desafia-os e atiça-os constantemente e eles prontamente respondem com um show de força e barulho, que não consigo descrever. É daquelas cenas que é preciso mesmo presenciar. Fiquei rendida.



Noutro post, sigo com o que falta da Romaria, é que isto de tratar e escolher as fotos ideais e agrupá-las, dá uma enorme trabalheira e eu tirei quase 900.


25 comentários:

Anónimo disse...

Já há anos que lá não vou, mas por minutos, com este post, para lá fui transportado.
Vi que a tradição ainda se mantém.
Vi que as mulheres ainda continuam a usar aquele ouro todo ao peito, que tão bem lhes fica e carago, os bombos de Santo André também lá estavam. A última vez que os vi foi aqui no Porto, já faz uns aninhos.

Obrigado pela viagem

Patti disse...

Salvo:
Fiquei fascinada com os bombos. Eram ao todo uns 10 ou 12 grupos distintos, de várias zonas do país. São espectaculares!

Anónimo disse...

Patti estou sem fôlego!
Descrição magnífica destas festas que eu tão bem conheço!
Vês porque é que eu gosto da minha terra? É tudo tão lindo.....!!!
Já vi que as festas da Agonia ganharam mais três adeptos, pela descrição fervorosa que fazes....! Ainda bem. A grande riqueza das gentes minhotas, é a força com que gostam das suas terras!
Tenho os ouvidos meio surdos do som dos bombos....

Patti disse...

Fatima:
Deve ser essa força, deve! Porque eu já sabia que ia adorar as festas, mesmo antes de lá chegar.
E ainda me faltam mais posts.
E obrigada a ti também.

Anónimo disse...

Com este teu post acho que todos percebemos o bom ambiente
que se viveu nas ruas de Viana. Super animado!
Só podia ser VIANA DO CASTELO!

Anónimo disse...

Subscrevo o que diz o salvoconduto: conseguiu transportr-me a muitos anos atrás, quando era um "habitué".
Etava curioso para ler a sua reportagem, Patti, porque temia que as coisas se tivessem alterado muito. Felizmente há tradições que não morrem.
Obrigado pelas palavras fotos.
UfF! Até estou com pele de galinha!

Patti disse...

Cláudia:
Tu e a Xô, têm de lá voltar, mas nesta altura. Só assim ficarás com uma ideia mais pura do porquê o teu pai amar tanto a terra onde nasceu.

Carlos:
E ainda vem ai mais. E fotos ainda mais fantásticas. Acredite!

Rafeiro Perfumado disse...

É do tipo de tradições que espero que não se percam. Representam o nosso espírito, a nossa cultura, a nossa identidade, para o bem e para o mal. Excelente reportagem, de fazer inveja a muito magazine cultural! ;)

Beijoca!

Patti disse...

Rafeiro:
Pelo o que vi nas crianças e nos mais novos, não se perdem tão depressa. Felizmente. Aquilo é património.

Nina disse...

Patti, mas que coisa bonita de se ver. Por isso vc comentou que não saberia como começar a falar sobre o tema. Fiz uma viagem com vc agora. tudo mt bonito, e que gente linda é essa? Um colorido incrível. lembrei da época da escola, qd eu e minhas irmãs dançávamos danças típicas, só que nós dançávamos as árabes e algumas outras amigas, as portuguesas. Que legal que era.

amei tudo viu? tanto essas fotos como as do post abaixo, na praia. Nossa!! vc é a minha fotógrafa preferida (depois do marido que sempre faz milagre e me deixa bonita nas fotos e da minha irmã, que faz fotos lindas de praia e futebol,rsrs)

mil beijos querida

Patti disse...

Nina:
Nas suas próximas férias, tem de descer mais um bocadinho pela Europa e vem cá passar uns tempos. Vai amar! Eu depois dou-lhe todas as dicas a visitar.

1/4 de Fada disse...

As nossas tradições são um "must" a preservar, numa época em que parece que tudo conspira contra elas. Consegues, como sempre, descrever na perfeição e transmitir uma grande vontade de ir ver como é. Fico à espera da continuação, ansiosa. As fotografias são fabulosas.

Patti disse...

Fada:
Ali tudo conspirou ao contrário. Tens de lá ir, aliás acho mesmo que todos devíamos ir, pelo menos uma vez na vida. Só vivendo mesmo.

f@ disse...

Adorei texto e fotos... já li bastante sobre a procissão do mar e do rio ... mas nunca vi... mesmo assim tem um encanto maior que os outros aspectos da festa...
beijinhos das nuvens

cecília disse...

Patti,
O prometido é devido e no próximo ano não faltarei!

E mais: vou trajada a rigor, com um fato de domingar vermelho, lenços, colete, avental, chinelas, meias de tricôt e tudo!

(Posso não ter visto ainda as Festas da N. Sra. da Agonia, mas já dancei muitas vezes o folclore desta região e tenho, preciosamente guardado, um traje completo...)

Parabéns, por, mais uma vez, nos deleitar com fotos soberbas!!

Definitivamente, quero ver o resto!!

carlota disse...

Mai uma vez fui transportada por ti. Desta vez fui a Viana às festas da N. Sra. da Agonia.
Deu para ver que são umas festas que justificam a viagem até lá.
Em relação as roupas usadas fez-me lembrar a Golegâ onde todos(quase) fazem questão de usar o traje à Portuguesa. Estas tradições não se devem perder.

Patti disse...

F@:
Tu é que te inspiravas ali, com tanta cor.

Cecília:
Então vista-se a rigor e dance muito.

Carlota:
Tal e qual. Várias vezes comentámos isso mesmo, porque somos todos fãs de cavalos lusitanos e de uns anos para cá que não falhamos nenhuma Golegã. A Beatriz faz Alta Escola.

maria inês disse...

Gostei muito de "fazer esta romaria contigo". Os meus parabéns por toda esta descrição! Prepara a máquina e a imaginação... está a chegar a nossa grande confusão! beijo. (um grande para a tua Beatriz)

Susana disse...

uma soberba caracterização da alma minhota... é bom ver que, de todo o país, há quem goste das tradições que se mantêm e que resistem ao tempo e à "modernidade"!

o minho continua a respirar vida, cor e alegria:)

Essência Pura disse...

Olá Patti,

Ufaaaa, consegui te achar...estou muito feliz com isso, te juro....andei afastada da net, perdi o meu blog, tive mil coisas nesse meio de caminho, mas agora estou voltando e voltando também a casa de amigos onde passei momentos muito bacanas, leituras que me encheram a alma, me fizeram bem ao coração e a sua foi uma das mais especiais...

Li varios de seus post e te digo que o prazer da boa leitura foi imenso...muito bom retornar...isso vai me ajudar e muito....

Fiz um novo cantinho, e a sua visita vai ser um prazer...

Retorno em breve

Bjuss de saudade

Miriam
(MirMorena ex - Imagens e Sentimentos)

Patti disse...

Inês:
Já temos hotel. E levo a máquina, ÓBVIOOOOOOO!!!!!

Susana:
Ainda somos muitos a gostar delas.

Mir:
Finalmente! Já fui várias vezes ao Imagens e nunca passava do mesmo post. Já estava a estranhar o que se tinha passado consigo.
Bem vinda outra vez!

BlueVelvet disse...

Patti,
que reportagem fantástica.
Sobretudo para quem nunca assistiu deu para ficar com uma ideia e cheia de vontade de lá ir.
Eu adoro estas tradições. Talvez para o ano.
Veludinhos azuis

Su. disse...

ohhhh, que invejaaaa.... mas da boa! acho alias, que o sentimento é mais de saudade... pois... essas fotos, deram até agua na boca! dassssss vou ali e ja volto!
:)

beijos

@ღღ@ disse...

a ultima e unica vez que la estive tinha oito anos.
é das poucas recordações
que os meus neuronios
guardaram dessa idade !

Lindo !

Mas ainda hei de ir a Viana ;)

Sunshine disse...

Excelente a tua reportagem. Fico com curiosidade à espera das próximas fotos.
Beijinhos com raios de Sol