terça-feira, 20 de janeiro de 2009

pusilanimidades


Botim de tacão grosso, ali bem justinho ao tornozelo gordo de pézinho de coentrada, onde terminava um par de leggings pretas de licra. Destas da moda.
Da anca bojuda e aglutinada, saía um bolo de noiva com vários andares, isto é, uma saia de tule branco, disposta em camadas consecutivas e esvoaçantes, chamadas de folhos. Loucos folhos, pensei eu, alucinados até.
Dentro de um top justo e impudico, distingui três pregas de estômago sobrepostas, nascidas de muitas refeições ligeiras, carcaças mistas com manteiga e galões matutinos com dois pacotes de açúcar.
Um pescoço elefantino e um queixo triplo, eram enfeitados com uma espécie de coleira plástica às bolinhas pretas e brancas e os braços grossos de estivador, mas sem aquela parte dos músculos, terminavam em pulsos barulhentos e ataviados da mais fina quinquilharia rocaille, que chocalhavam à medida que ela andava de lá para cá e de cá para lá.
Do penteado, que embrulhava sem cuidado no alto da cabeça um cabelo amarelo cor-do-pôr-do-sol, só posso dizer que era alguma coisa que se assemelhava à clássica banana dos anos 70. Que se assemelhava, reparem bem, eu só disse que se assemelhava, pois o meu parco vocabulário não me permite descrever melhor tal arquitectura capilar.
Falava alto. Muito alto. Altíssimo. Era no fundo a versão feminina do mostrengo do Pessoa e eu o Bartolomeu, de visão toldada e assustada com tamanha imensidão de carnes, curvas, texturas, cores e fluídos. Fluídos sim, que dela escorriam rios de suor, lágrimas de rimel, saliva desenhada a batom rubro e um batido de banana, que ameaçava esguichar-se-lhe do alto da cabeça a qualquer momento.
E de repente ... então sente-se bem? Já pode abrir os olhos, sua piegas, diz-me a enfermeira mais querida, meiga, pequenina, discreta, doce e suave do mundo.
Deixe-se estar deitada cinco minutos e depois pode ir embora. Viu como correu tudo bem, sem dramas, histórias de terror, fantasmas e pesadelos?

Dizes tu, pensei eu.
Odeio tirar sangue.

20 comentários:

CPrice disse...

uma verdaderia aguarela cheia de detalhes esta sua escrita Patti .. :)

me too *

Teresa Durães disse...

devido a uma anemia forte que tive (há tempos... bastante) muito sangue tirei. passei a não temer agulhas

Anónimo disse...

Lá em casa tenho do mesmo.

Si disse...

Ahahaha!!
A perseguição já começou, já lhe andam a tirar sangue para ver o ADN dos talheres em banquetes incautos!
Não aceitou a minha proposta, vou ter que provar a minha inocência ali com os meus amigos do cSI!!

Su. disse...

ahahahah, adorei! Estas no teu melhor! O que me fartei de rir! Estou mesmo a ver o filme, alias, eu acho que já tive num filme desses!

:)

nem acredito! vou-me embora a rir!

:))))

beijos

Álex disse...

eu tb. odeio mas o único que me acontece é sair com o dedo gordo da mão direita com as marcas profundas dos meus dentes - não tenho tanta imaginação!

Gi disse...

Bem me parecia que tirar sangue dava alucinações.
Credo, isto parece o pesadelo em Elm Street, versão feminina.

BlueVelvet disse...

Fabulástico!
Enganaste-me bem. Quando comecei a ler pensei que me iam sair uns pézinhos de coentrada:)
Sai mais um copinho de Planalto para a PresidentA arrebitar.
Ps: só a música é que não dá com o texto. Talvez "Deixa-me cheirar teu bacalhau, Maria"
Tzqx txxxqz txznsce

Justine disse...

Que retrato estupendo!
(Vale a pena ir tirar sangue...)

Anónimo disse...

Importam-se de dar um piparote no pato já que ele não se decide?

f@ disse...

Se te inspirou assim tens de voltar lá pelo menos uma vez por semana....
oh... tu nem precisas de inspiração... andas sempre inspirada...

Beijinhos das nuvens

Anónimo disse...

AHAHAH...da ultima vez e nao foi há mto tempo, tb ía desmaiando e tive que me deitar. Nao conseguiam apanhar a veia...dançavam ao sabor da musica delas!ahaha. É horrivel. Desde que me passou uma vez agora sempre que vou já entro a pensar " e se..." .

De dentro pra fora disse...

Então é este o ponto fraco da menina !...olhem só, coisita mais simples de se fazer, é só fecah os olhitos e já passou, não custa nada...
Mas deu um belo texto o teu pesadelo :)

paulofski disse...

Há-des me conto como retrataste tão fielmente o modelo, a personagem, a farda, a postura, a simpatia da enfermeira, estando tu de olhos fechados?! Hummm...

Ontem foi marisco e hoje é o quê? Arroz de pato?

cristina ribeiro disse...

What a nightmare, versão diurna :)

1/4 de Fada disse...

Mas tu arranjas inspiração em quelquer lado, rapariga! Vais ao centro de saúde, tirar um siso, vais fazer uma análise, tens uma gripe... Fosse eu sádica e quase te desejaria mais desgraças!

Nota: ainda bem que tomo o galão sem açucar... é que se há coisa de que gosto é de leggings!

Nina disse...

rsrsrs, fiquei até preocupada...rsrsrs
era só sangue, ohh exagero bom esse teu Patti.

Ana Napoleão disse...

rsrsrsrsrsrsrs... FABULOSO!!!
Estava a imaginar uma mastronsa do pior e afinal...era só tirar sangue!

DEMAIS!LOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL

Bjcs, Ana

Susana disse...

ah ah ah... muito me ri ao ler este texto:) e uma descrição hilariante!

Bacouca disse...

Chorei a rir com a descrição! "Vi-a" à minha frente e juro que quase me apeteceu recuar a cadeira do ecrân dois palmos! Já me estava a sentir "melada" e até com a testa salpicada de uns ditos "cuspes"!!!
Mas mais uma licão: as aparências iludem!!!