Aqui está a história nascida a mil mãos. Juntei todos os pedaços que foram deixando, fiz alterações mínimas, uma palavra ou outra trocada, um elo de ligação que faltava, um esquecimento, uma pequena distracção, uma chamada de atenção, pouco mais.
Como combinado, dei-lhe um fim, que espero que gostem
E com o português do Portugal mais o português do Brasil, conheçam agora a história de todos nós.
“Era uma vez um carrossel muito velho que toda a sua vida tinha andado de feira em feira, sem descanso. Pertencia ao Sr. António, viúvo, que tinha dois filhos, emigrados na Suíça e dois cães, que o seguiam para todo o lado.
Desde os últimos cinco anos que já não precisava de mudar de local, pois o seu dono tinha recebido como herança de um parente lá das Beiras, um terreno ali para os lados de Palmela, com vista para o castelo.
Apesar disso, o carrossel já tinha muita vontade de se reformar, estava exausto, tonto e enjoado, enferrujado, descolorido e um bocado surdo devido aos gritos das crianças.
Mas sabia que o sustento do velho Sr. António dependia dele e falhar ao seu amigo era coisa que não lhe passava pela cabeça. Até porque o negócio tinha dado sempre algum lucro, pouco, mas chegava.
E lá andava ele, todo a semana, à roda, à roda, à roda...
O Sr. António não sabia ler nem escrever e ultimamente tinha sido visitado por uns indivíduos de fato escuro, cheios de pastas e papéis e não paravam de falar e gesticular.
Como os filhos moravam longe, o velho António, coitado, não sabia o que fazer com os tais dos papéis e muito menos percebia alguma coisa da conversa dos sujeitos.
Ora, numa manhã, enquanto o carrossel esperava que o Sr. António ligasse as máquinas, (Patti)
aparece o seu velho amigo de muitos anos, Zeca, o carteiro. Trazia uma carta acabadinha de chegar, fresquinha. O Sr. António, estranhou, havia tantos anos que não recebia uma carta, era nestas alturas que se aborrecia e envergonhava de não saber ler...a princípio ficou renitente em abri-la, seriam outra vez aqueles senhores de preto das finanças a tentar cobrar novamente a dívida? Guardou-a no bolso. Quando fosse, ao final da tarde à tasca iria pedir a D.Maria que a lesse. O dia passou como muitos outros, calmo, sem grandes agitações. À tardinha quando regressava (Eva)
de passear os cães, resolveu passar na tasca da D. Maria.
Olá D. Maria, precisava de um favorzinho seu.
Ora diga lá Sr. António.
E a D. Maria deu-lhe uma enorme surpresa! Nessa mesma tarde chegavam os filhos que já não via há muito tempo. (Cláudia)
Mas antes de ver os seus filhos chegarem e depois de mais um dia de carrossel a girar, pode ver a chegada dos tais indivíduos escuros, homens de fala rápida, estranhamente diferente e de trejeitos, que seu António e muito menos o carrossel conheciam. Afinal o carrossel só entendia de crianças felizes, que iam se divertir em suas andanças pelo terreno bonito, enquanto giravam no velho carrossel, rindo alegremente, admirando a cada giro a beleza de um castelo e embalando os sonhos de sua infância. Aquele era de facto um lugar mágico para as crianças da redondeza. (Nina)
Mal o Sr. António se afastou e ficou o carrossel sozinho a girafa disse ao cavalo:
Sabes fico muito feliz de ver o António novamente com um brilho nos olhos!
Pois é, diz o cavalo, sempre que aqueles homens estranhos o vêm visitar, o António fica com uma cara preocupada. Pena que não possamos fazer nada para o ajudar. (Ka)
O Cãorrocel ladra para o cavalo e para a girafa:
Posso entrar na conversa? É claro que podemos fazer alguma coisa para ajudar o Sr. António. Não sabem que a união faz a força? (Gi)
O tempo não passava e o Sr. António sentou-se na cadeirinha já com a tinta descascada do elefante, em tempos cor-de-rosa e olhou para a estrada de terra batida, conseguia ouvir os seus companheiros de anos a falar e sentiu-se acompanhado.
De repente, no fundo da estrada vê a poeira de um carro que se aproxima.
Serão eles? - pensou o velho António com o coração a disparar. (Olá)
António queria desesperadamente acreditar que o velho carrossel iria ficar naquele espaço por muitos mais anos. Mas a sombra daqueles que agora se abeiravam dos seus amigos de pau fê-lo estremecer.
Sr. António? O senhor é o dono disto?
Ouviu-se a madeira a ranger, como se os animais se tivessem encolhido.
Sou sim, sou o dono disto. (Lenib)
Curioso, não tem aqui nada que o comprove, disse um dos homens, com ar de malícia.
Mas tenho eu, responde o Sr. António, ainda com a força que lhe ia restando.
Ai sim? Então leia lá este documento, que aqui temos, demonstrando que estes terrenos pertencem à Câmara Municipal de Palmela, e muito em breve, será aqui construído mais um magnífico Centro Comercial.
O Sr. António, não querendo falar do seu analfabetismo, mas de parvo, também não tinha nada, quando se lembrou (Coragem)
de ir buscar um quadro já com a moldura gasta e o vidro meio partido onde havia guardado o documento, em que os antigos donos lhe passavam o terreno. "É para que nunca se estrague com o tempo e nem se perca nas andanças do carrossel", disse o homem aos filhos que o viram proteger o documento daquela maneira.(Pitanga)
Seu António, apresentou aos homens, com certo receio, os documentos que guardava há muitos anos, que eles foram lendo até se certificarem que aquele terreno pertencia ao velho senhor, mantendo ali o velho carrossel, que tantas alegrias dava às crianças das redondezas.
Lembrou-se que também tinha guardado a tal carta que chegou pelo correio e que nem sequer sabia o seu conteúdo, pois já que não sabia ler, esperava que alguém lhe adiantasse o texto. (Suelly)
Tão baralhado estava com a perspectiva de perder o seu carrossel, até já se tinha esquecido da carta, que a D. Maria lhe tinha lido logo pela manhã: os seus filhos vinham finalmente visitá-lo, depois de tantos anos na Suíça. (Patti)
Os homens não queriam saber de documentos.
Senhor António, a nossa proposta é muito boa. O senhor aqui não ganha nada!
Que me interessa isso? Dou alegria aos meninos e tenho que chegue para viver.
Os animais do carrossel aplaudiam e num sussurro diziam, força António! (Olá)
E ele escutava sempre tudo. (Patti)
Mais uma nuvem de pó a aproximar-se e de repente uma chuva de abraços e beijosssssss.
Meus filhos, que saudades! (Olá)
Depois de muitos anos sem ver seus filhos que há muito não encontrava e na esperança de que os seus netos ainda poderiam andar no velho carrossel que ali estava, sentiu uma profunda gratidão por aquele ferro velho. Sentou-se na beira dele e lhe disse, obrigado amigo e companheiro.
E todos os bichos muito animados, começaram a falar ao seu coração, primeiro falou a girafa (Suelly)
Amigo António, aqui bem do alto, sinto que as mãos dos seus netos ainda me vão abraçar.
Disse o cavalo, esse sorriso sempre na sua cara dá-me forças para seguir. (Cláudia)
E um após outro, e outro e outro, todos foram falando (Patti) e depois o cão
(Cláudia)
terminou com lágrimas de um animal já corroído pelo tempo,
amigo António, companheiro de toda a nossa vida, entendemos se tiver que se desfazer deste carrossel, cansado e velho, com estes animais que pouco mais fazem senão dar voltas sem sair do lugar.
Todos juntos partimos se for caso disso, para que não saia prejudicado.
Nisto o filho mais velho do Sr. António, diz (Coragem)
Alto e pára o baile!
O carrossel continuará a girar para gáudio da pequenada que aí vem.
Pai, vais ser Avô! :) (Gi)
(Hahahahahahahaha, oh meu Deus, que imaginação a desta vizinhança! (Patti)
Pai, resolvemos voltar porque o teu amigo Zeca, o carteiro, escreveu-nos uma carta, contando acerca destes senhores andarem por aqui a rondar, sempre cheios de papelada.
Por isso, cavalheiros, rua daqui p’ra fora! E não voltem a aparecer. Os animais deste carrossel transformam-se de noite e nem queiram saber do que são capazes de fazer para defenderem o meu pai.
E foi isto pai. Ficámos logo preocupados, porque sabendo nós que tu não te entendes com as letras, podias ser enganado.
Mas afinal, mesmo tu não sabendo ler nem escrever, provaste-nos que não és tolo. Guardaste esses documentos todos estes anos, bem escondidos na moldura com a fotografia da mãe, sabendo que te iriam valer um dia.
Mas filhos, ainda bem que voltaram e para mais agora que vou ter netos, como me disse a Gi, este carrossel, grande amigo, vai ser novamente uma animação.
E antes que me meta noutra confusão, quero aprender a ler e a escrever, que ainda vou bem a tempo, para um dia pegar em livros e contar histórias como esta, aos meus netos. De amor, de amizade, de saudade.
Histórias, sobre um carrossel e todos os seus bichos que conversam entre si e se preocupam com o seu velho dono.
E quando aprender a escrever vou saber pintar os vossos nomes com cores bem fortes, por baixo de cada um.
Tu cisne, vais-te chamar Eva; tu carruagem, vais-te chamar Cláudia; tu gazela, vais-te chamar Nina; tu borboleta, vais-te chamar Ka; tu girafa, vais-te chamar Gi; tu cão, vais-te chamar Olá; tu golfinho, vais-te chamar Leni; tu cavalo, vais-te chamar Coragem; tu raposa, vais-te chamar Pitanga; tu tigre, vais-te chamar Suelly e tu realejo, vais-te chamar M&M. (Patti)
E foram felizes para sempre." (M&M)