sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

quem é amiga, quem é? #1

Vá, suas alminhas citadinas, levem lá umas ervinhas para o tempero, plantadas tal qual um openfield.



E mais outras, na versão minifúndio.

É só clicar nas fotos, ver os vídeos de explicação e encomendar.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

hoje ia falar de doces, mas...

Afsaneh Nowrouzi, sete anos no corredor da morte

Há pelo menos três anos, que me associei ao site oficial da Amnistia Internacional, que na altura uma amiga me enviou de Espanha. Desta forma, através de petições absolutamente acreditadas e sérias, eu pude dar o meu nome, sempre que os direitos humanos estivessem em causa. Hoje chegou-me esta petição, para tentarmos impedir a morte de dez pessoas por apedrejamento, no Irão.
Crime bárbaro em pleno séc. XXI, que é infligido a homens e mulheres casados, acusados de cometerem adultério.

As pedras utilizadas não podem ser nem muito pequenas, para causarem dor, nem muito grandes, para não matarem de imediato o condenado. A intenção não é apenas a morte, mas sim o sofrimento até ela chegar.

Eu já assinei, como assino praticamente todas as petições que me chegam através da Amnistia. Quem quiser poderá fazê-lo aqui.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

tardes bem passadas

foto de christophe gilbert

Grandes comensais, gente exacerbada, convulsiva e barulhenta, que respira fritos, carnes vermelhas e bebidas gasosas pelos olhos. Gente que se move truculenta e pesada e gargalha sem parar, sempre que apalpa com o pensamento meninas do liceu, carregadas com tamanhos xs de berskas, pulles e stradivarius, que por muito que forcem o poliéster, jamais lhes caberá a preceito no corpo novo, mas já mole e indolente.
Entre a gordura das mesas, desfilam também balconistas engravatados em nós largos e de tonalidades recentes, cor-de-rosa menina e amarelo pintainho, bem ao jeito de um comercial que se preze. Abancam numa mesa já suja, por muitos outros alguéns e descansam os parcos minutos que o turno lhes concede, enquanto observam desgraças iguais às suas.
Depois do calórico repasto, lá vão as gentes vadiar em voltas circulares, lavando as vistas em vitrinas repetidas vezes sem fim e adiando por mais uns momentos, o declínio da tensão de um falso domingo, que também já se foi. Gente que há momentos atrás, gozava em convulsão física e hormonal o calor transpirado de outros milhares, mas que chora agora ao voltar a casa, com medo do silêncio mortal da família que há muito se instalou.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

post não aconselhável a pessoas impressionáveis

Sempre que aqui no meu esconso refúgio, reflicto sobre o meu papel na sociedade, chego à prosaica conclusão de que a vida para alguns de nós, reserva existências magníficas e sublimes, sem qualquer mácula ou queixa. Ao passo que para outros, por muito que se renovem, que estiquem o pescoço, que gritem por ajuda e atenção, tudo se mantém igual, na mesmíssima maneira, tal e qual o primeiro dia.
Claro está, que ideias negativas e sombrias como a minha, não passam nem de perto nem de longe pela cabeça dos quilates de um diamante Cartier, de um gordo e exclusivo sabonete Ach Brito, que se envolve em perfumado papel de seda ou até pela efémera vida de um perfeito bombom belga.
Não, nada disso. Trata-se de vidas mansas e discretas, ao cuidado de mãos atenciosas, escrupulosas, nobres até.

Mas comigo não acontece o mesmo e sinceramente, não me vejo com grande futuro ou perante uma revolução radical nos próximos séculos.
Nada na minha vida é digno. Nem o meu emprego, a minha casa, a esquina da minha rua, o meu nome, o meu corpo e nem sequer a minha cor alva e límpida me safa; o branco.
Mas porque é que não me fabricam outra vez preto como os meus antepassados? Agora branco! Meus senhores, onde foram buscar a ideia de um piaçaba branco?

Pronto, até aceito o castanho...vá lá! Sempre faria pendant com a tonalidade do meu serviço.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

rescaldo de um aniversário

Obrigada Carlos, pela amizade e generosidade dos seus posts no Rochedo e no Delito.



Obrigada Pedro, por este post e ainda pela escolha do Ares, como blog da semana.



E muito obrigada querida vizinhança do blogobairro, pelos presentes via mail e pelas dezenas de comentários que deixaram no Ares, no post abaixo. Bateram o record!

E agora acabou-se esta minha mariquice, pieguice e lamechice, que ainda ando a apanhar serpentinas e confettis, a arrumar taças de champagne, limpar nódoas de caviar do kilim e preciso de preparar um post para amanhã.
E siga o blog.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

ares da minha graça I

foto minha

O Ares faz um ano.
E pela primeira vez não sei do que vou falar, o que dizer, sobre o que escrever.
Uma vez li qualquer coisa como: só quem tem um blog entende o que lá se passa e quem não tem, nunca entenderá. Percebem-me todos, não é? E é tão rápido este entender ...
As razões que nos prendem aos textos, aos temas, aos amigos, às visitas, aos comentários, às trocas e emoções são muitas, imensas e tão diferentes para todos nós.
Mas uma é igual, a partilha. A partilha de algo muito nosso, que no 'papel' flui muito mais naturalmente do que no nosso dia-a-dia.
Já se deram conta, que colocam aqui o vosso pensamento; pensamento esse, que antes, poucas vezes era exteriorizado e apenas guardado cá dentro, em conversas só nossas antes de adormecer? Estranho, não é?
Dividimos partes de nós, algumas íntimas até, com pessoas que nunca vimos, não sabemos quem são, não conhecemos de parte nenhuma. E depois, surpresa das surpresas, entendem-nos, identificam-se, comovem-se, falam e riem connosco!
Eu que falava comigo e sempre me respondi...
De repente, passo de um comentário para dez, para vinte, trinta, quarenta, dezenas deles e fico estupefacta de todo. Mas sei que o sucesso de um blog, não depende em nada do número de comentários que tem, mas do prazer que dá a quem o lê.
Depois, elogiam-me, arrepiam-me, emocionam-me, já me comoveram e também fizeram rir e horror dos horrores, puseram-me muda um par de vezes!
Muda eu, logo eu que tenho a cabeça a alucinar a toda a brida e vapor, sem rédea nem espora e que não há lapiseira que me trave.

E agora? Eu que escrevi sempre tudo na minha cabeça e que só passei para o papel a primeira frase da minha vida há precisamente um ano, digo o quê, faço como, agradeço a quem?
A todos.
Aos primeiros que chegaram, aos do meio que ficaram e aos últimos que aqui passaram.
E que este blog é muito mais rico na sua caixa de comentários, que no "publicar mensagem," dos sonhos que eu invento e clico todos os dias.

E no final, explico-me, a mim e a vocês, com frases breves que vos deixo:

Escrever não será nada mais do que isto. A forma que sem saber, encontrei de estar mais tempo comigo.
Às vezes só me faltava eu.

Novo post na segunda-feira. Até lá vizinhança.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

pusilanimidades


Botim de tacão grosso, ali bem justinho ao tornozelo gordo de pézinho de coentrada, onde terminava um par de leggings pretas de licra. Destas da moda.
Da anca bojuda e aglutinada, saía um bolo de noiva com vários andares, isto é, uma saia de tule branco, disposta em camadas consecutivas e esvoaçantes, chamadas de folhos. Loucos folhos, pensei eu, alucinados até.
Dentro de um top justo e impudico, distingui três pregas de estômago sobrepostas, nascidas de muitas refeições ligeiras, carcaças mistas com manteiga e galões matutinos com dois pacotes de açúcar.
Um pescoço elefantino e um queixo triplo, eram enfeitados com uma espécie de coleira plástica às bolinhas pretas e brancas e os braços grossos de estivador, mas sem aquela parte dos músculos, terminavam em pulsos barulhentos e ataviados da mais fina quinquilharia rocaille, que chocalhavam à medida que ela andava de lá para cá e de cá para lá.
Do penteado, que embrulhava sem cuidado no alto da cabeça um cabelo amarelo cor-do-pôr-do-sol, só posso dizer que era alguma coisa que se assemelhava à clássica banana dos anos 70. Que se assemelhava, reparem bem, eu só disse que se assemelhava, pois o meu parco vocabulário não me permite descrever melhor tal arquitectura capilar.
Falava alto. Muito alto. Altíssimo. Era no fundo a versão feminina do mostrengo do Pessoa e eu o Bartolomeu, de visão toldada e assustada com tamanha imensidão de carnes, curvas, texturas, cores e fluídos. Fluídos sim, que dela escorriam rios de suor, lágrimas de rimel, saliva desenhada a batom rubro e um batido de banana, que ameaçava esguichar-se-lhe do alto da cabeça a qualquer momento.
E de repente ... então sente-se bem? Já pode abrir os olhos, sua piegas, diz-me a enfermeira mais querida, meiga, pequenina, discreta, doce e suave do mundo.
Deixe-se estar deitada cinco minutos e depois pode ir embora. Viu como correu tudo bem, sem dramas, histórias de terror, fantasmas e pesadelos?

Dizes tu, pensei eu.
Odeio tirar sangue.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

boas maneiras


O meu preferido é a gamba da costa, com sabor a sal e mar. Mas o melhor mesmo, é partir-lhe a cabeça e chupar tudo com barulhinhos, porque sem barulhinhos não tem o mesmo sabor, a mesma graça, o mesmo gozo, a mesma satisfação. Mas é feio, confesso. E a comer não se deve fazer barulho.
Além de minha casa onde faço os barulhos que quiser, há outro local onde posso comer as gambas e as respectivas cabeças à vontade.
Num restaurante caseiro e familiar ali na minha rua, os donos, uma família modesta e de uma simpatia que já não se usa, tratam-me na sua maior simplicidade e respeito por: olá vizinha, 'tá boa vizinha, o que vai ser hoje vizinha, já escolheu vizinha, é a continha vizinha, adeus vizinha!
Ao início estranhei, depois habituei-me pois eles são assim mesmo, genuínos e eu gosto disso.
Querem lá ver sítio mais indicado, onde eu me sinta mais à vontade para comer as minhas gambas e fazer todos os barulhinhos sem qualquer espécie de pudor?
Da naturalidade tira-se o maior proveito.

sábado, 17 de janeiro de 2009

prémio


Têm-me oferecido muitos e muitos prémios ao longo de quase um ano de Ares da Minha Graça, que recebo sempre com imensa alegria, como se fosse a primeira vez.
Uns, já existem há muito e andam por ai a circular nos blogs, outros são pessoais e intransmissíveis, criados com muito cuidado pelos bloggers.
A partir de uma certa altura começaram a sobrepor-se uns aos outros, a chegarem todos de seguida e como não tinha tempo de os encaminhar logo, quando os queria atribuir já toda a gente os tinha. O mesmo aconteceu com os desafios e ainda tenho uns a dever.
Continuei a recebê-los feliz da minha vida e a guardá-los no slideshow, como continuarei a fazer, mas deixou de ser viável escrever um post sobre o assunto de cada vez que mo atribuíam e optei por deixar somente um comentário sentido de agradecimento no blog respectivo.
Muitos me foram dados pela Gi, Blue Velvet, Fada, F@, Olá, Gasolina, Nina, Filoxera, De dentro, Carlos, Si.
Esta semana recebi este, da Ematejoca, da Fugi e da Cristina Ribeiro. Abri esta excepção e resolvi postá-lo, pois além de ser o primeiro de 2009, é um prémio especial, só para mulheres.
Fica já de lado a ideia de discriminação, pois não se trata disso. Há coisas que são de todos, outras que são só de homens e outras só de mulheres.

E agora vou passá-lo à autora de um blog, que existe há muitos anos e de quem sou fã desde o primeiro dia que o Ares existe: Annie Hall e o seu Athila.
Quase cinco anos no blogobairro são de premiar.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

encontrei finalmente ...

foto apartment therapy

... o meu ideal de repouso e inspiração, num só local.
Uma lareira na piscina e verde a toda a volta.


Bom fim-de-semana, vou saber onde a casa está à venda.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

politicamente incorrecto

foto tea for purple

'Bora lá falar da tertúlia do D. José Policarpo. Sarilhos, disse o senhor? E disse muito bem! Sarilhos até é pouco, muito pouco.
Penso, é que depois das suas palavras estarem já publicadas na imprensa mundial, tem de se pôr a pau com as perseguições e atentados que podem vir por aí.
A pior crítica que lhe fazem, é ter sido o líder de uma religião, que proclama valores cristãos como amor ao próximo, ter proferido frases 'intolerantes' como: “Cautela com os amores. Pensem duas vezes em casar com um muçulmano, pensem muito seriamente, é meter-se num monte de sarilhos que nem Alá sabe onde é que acabam.”
Pois por ser líder, é que me satisfez aquilo que disse, pois não teve nenhuma intenção de fomentar qualquer quezília.
Devíamos estar fartos de ter medo de desenhar cartoons ou escrever livros sobre Maomé.

Eu falo daqui à vontade; já fui católica, apostólica e romana, sei a Bíblia de trás para a frente e de pernas para o ar, estudei o Alcorão, conheço pensamentos, discursos, lavagens, diálogos, imposições, ideias de amor, actos de misericórdia, filhaputice, padres, freiras, católicos extraordinários, católicos nojentos e católicos assim-assim. Fiz a minha opção em total e livre consciência, quando não gostei mais, afastei-me, pus de lado, apaguei, esqueci.
Conheço com os meus olhos e vivência pessoal, o trabalho de compaixão infinita que levam a cabo, membros e leigos da Igreja Católica, em países e locais deste mesmo Portugal, onde a pobreza é extrema, a miséria total. Sei da dedicação e do amor infinito que essa gente dedica a quem menos tem. Sei dos riscos que correm todos os dias, por só quererem ajudar e como colocam a sua vida em perigo a cada minuto, em troca de nada. Sei de crimes hediondos que a Igreja cometeu, sei dos seus pecados por atitudes cobardes de fechar os olhos à realidade, para proveito próprio, sei de casos de padres que cometeram atrocidades, que nem o Diabo se lembrou delas.
E como sei de tudo isto, como muitos de vocês também sabem, destesto generalismos, saídas de uma só porta ou cegos de olhos abertos.

Não concordo com a posição da igreja face a pontos fulcrais importantíssimos e vitais da nossa realidade, como a homossexualidade, medidas de prevenção da Sida, o papel secundário que concedem à mulher na Igreja e na sociedade, o uso de contraceptivos e muitas outras situações, faladas vezes sem conta em relação à não evolução da Igreja face aos dias que correm.

Onde os críticos de D. José Policarpo, uns racionais e outros falsos moralistas, viram intolerância eu vejo talvez imprudência, mas acima de tudo verdade, realidade e muita lucidez.
Não vejo racismo, preconceito e nada de
intransigência. É a minha opinião, tenho-a muito clara e nem crente, sequer já sou.
D. José Policarpo, que ainda no outro dia disse uma grande bacorada em relação à homossexualidade, que me fez ficar agoniada, a chá preto e bolachas de água e sal, na terça-feira não atirou esta frase da 'cautela' e dos 'sarilhos' para o ar. Não, a frase foi proferida num discurso onde também falou de respeito, diálogo, tolerância e onde prudentemente ainda disse: "Nós somos muito ignorantes, queremos dialogar com muçulmanos e não gastámos uma hora da nossa vida a perceber o que é que eles são. Quem é que em Portugal já leu o Alcorão? Se queremos dialogar com muçulmanos. temos de saber o bê-a- da sua compreensão da vida, da sua fé. Portanto, a primeira coisa é conhecer melhor, respeitar"
. A conversa durou mais de duas horas e foi muitíssimo esclarecedora, mas para variar a imprensa gosta é de parangonas, senão ninguém lhe pega e como o assunto Ronaldo já não estava a dar, toca-lhe de nos 'enfiar' com o patriarca, que sempre dá mais uma polémicazinha.
E o povo, que adora é falar de tudo e de nada, que ama uma boa peixeirada e tem uma varina dentro dele sempre à espera de berrar, engole uma frase e pimba. Eu li por aí, cada interpretação desta tertúlia, mais estúpida, ignorante, falsa e moralista que até nojo me meteu.
A mim, uma quase ateia - se é que isso existe.

Não me venham com discursos de mau exemplo de líder religioso, ideias pré-concebidas de esquerda, frases politicamente correctas ou generalismos de ocasião.
Não o ouvi em toda a entrevista falar em TODOS os muçulmanos, ouvi sim falar de um povo que em levando a sua religiosidade em todos os pormenores da vida, se torna muito difícil de dialogar. Porquê? É alguma mentira? Eu conheço vários, por razões que não vêm ao caso, que são pouco religiosos e que nem à estalada lá vão, tamanha é a tacanhez daqueles cérebros de papa.
Difícil de dialogar é muito leve, impossível é muito mais real.
Portugal não é um país onde se saiba de histórias trágicas de casamentos entre mulheres ocidentais e homens muçulmanos, mas noutros países europeus, como a França, Inglaterra e a Holanda, há em cada esquina histórias de verdadeiros infernos, raptos e até morte, de quem quis escapar e já não o pode fazer.
E muito fácil falar e arranjar argumentos bonitos e decorados, quando a realidade não nos toca minimamente.
Está a fazer-se uma tempestade num copo de água, de uma conversa que demorou horas e onde o respeito pela religião muçulmana nunca, mas nunca foi posto em causa. Este histerismo de algumas frases eloquentes contra o que ele disse, está muito próximo do exacerbo fanático de alguns muçulmanos, que até arrepia.
Os piores são os que aqui dão no cravo e em casa dão na ferradura.
Só faltou mesmo dizerem que o homem tem um jogo das cruzadas medievais na playstation e que tem cromos do El Cid, p' troca com o Papa, quando vai ao Vaticano!

E aqui vai um pouco de tolerância e amor ao próximo, nas palavras do Corão:
Ó vós que credes! Não tomeis os Judeus nem os Cristãos por amigos. Eles são amigos uns dos outros. Aquele de entre vós que os tomar por amigos é um deles. Alá não guia os que praticam o mal (...).
Ó vós que credes! Não escolhais para amigos esses que receberam a escritura antes de vós e os descrentes que fazem objecto de irrisão das vossa crenças (...).
E quanto a esses que dizem: "Olhai! Nós somos Cristãos". Nós fizemos uma aliança mas eles esqueceram a parte em que eram admoestados. Por isso fizemos despertar entre eles a inimizade e o ódio até ao Dia da Ressurreição quando Alá os informará dos seus trabalhos.

Mas quem é que de vocês não ficaria em pânico se a vossa filha lhes aparecesse com um muçulmano em casa a dizer, Mãe este é o Mustafá e vou viver para a Arábia Saudita, onde ele tem uma família imensa e muito unida e depois mudo o nome para Fátima como a mulher do profeta e não sei quando venho ver-vos de novo, porque o Mustafá diz que os voos são muito raros.
Diziam o quê? Inshala?
Por amor de Deus, Alá, Jeová, Buda ou lá quem é que vocês queiram rezar. Eu morria de susto, fazia-lhe uma lavagem ao cérebro com filmes, literatura e exemplos de vida real e não descansava enquanto não a pusesse a milhas do sujeito.
Ai o amor, o amor.. é tão lindo não é? Na ingenuidade da juventude então, até dá direito a ser-se estúpido, ingénuo, crédulo e tudo.

Não vamos também pensar que todas as mulheres muçulmanas são vítimas, ignorantes e desgraçadas. Muitas, são mulheres esclarecidas, que levam a sua religiosidade em consciência sem a imposição dos homens. Mas a grande maioria nem pensar pode! Aliás, pensar será um dos milhares de verbos que não existem no vocabulário feminino.
A comunidade muçulmana está magoada. Também eu estou, quando por exemplo sou testemunha de situações como noutro dia num supermercado, em que fiquei colada ao chão ao ver uma mulher muçulmana de burka, a escolher uns collants. Primeiro encostou-os ao buraco dos olhos para ver bem a cor e depois para verificar a elasticidade, teve de pedir ao marido se podia levantar a burka, para o fazer melhor. Foi revoltante a cena. Mas sorte a dela, que ainda pode andar à solta nos supermercados sem gps ou trela, a mostrar a cor dos olhos e a espessura dos tornozelos.

Chamem-me o que quiserem. Esta é a minha posição e lamento se se chocarem. De homens muçulmanos quero distância. Muita. Toda. Para todo o sempre!
Sou mulher não sou um objecto, como por exemplo pensa um país muçulmano riquíssimo e supostamente evoluído, como a Arábia Saudita, aqui.

D. José Policarpo foi o Bob Geldof de 2009.
O que o meu antigo líder religioso disse, é tudo tão verdade...


para mais esclarecimentos, ler aqui, do jornalista Carlos Narciso.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

recado sem destinatário


Por dentro eu ardia de frio. Pudera, escolhi o dia mais gelado de todos para reiniciar o meu correr e distraída meti-me pelo Caminho da Pólvora do Príncipe, coisa que não queria, pois aquela hora, só lá há uma sombra indiferente e glacial que me mata.

Não volto para trás, apresso o passo para aquecer, subo o volume do iPod e só então me dou conta da história que já nascia na minha cabeça: e se eu o visse ali e agora, parado ao fundo; o príncipe?
Mesmo com 4ºC a temperar a minha manhã, de pulmões queimados pelo vento gelado, que me entrava em golfadas pela garganta abaixo e a deitar fumo do nariz como os dragões, mas numa versão mais bonita, mesmo assim resisto sempre a príncipes. Ainda para mais, aqueles com um Caminho de Pólvora só deles, que se iludem depressa com explosões a dois.
Partilham quase todos de ideias estranhas, em que as princesas de verdade são ajuizadas, ponderadas, sem pretensões de se expôr, nem sequer com um olhar e que não choram nunca, preferindo descarregar intimidades debaixo de um salgueiro-chorão, a preencher telas brancas de flores e passarinhos. Princesas que escondem o que são. Oh meu príncipe, olha para mim, eu também sou assim, mas do avesso e ainda por cima, nada me faz chorar mais rápido do que uma música.
Querido príncipe, prefiro muito mais arrebatamentos ininterruptos do que detonações velozes e nem um pedaço do salitre que compõe a tua negra pólvora, derretia o meu gelo quando olho para ti. Nem uma brasa do teu carvão, por única que fosse me aqueceria o espírito e nem o enxofre amarelo e desmaiado da tua pólvora seca, me vulcanizava a corrida.
A minha cor é outra e o meu impulso também. Prefiro plebeus que realizam sonhos, a notáveis que abraçam sinas sem dúvidas.
Sempre embirrei com príncipes; demasiado perfeitos, demasiado novos, demasiado bonitos, demasiado tudo, demasiado nada.
Só gostei de um; aquele príncipe macedónio que montava Bucéfalo a pêlo, conquistou o mundo, a mim e o amor de Heféstion e que nunca precisou de conhecer a pólvora seca para despedaçar com nada.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

digam lá


A Beatriz, recebeu esta frase linda como presente de Natal: "Olha para ti ... ainda há princesas!"

E vocês? Quais foram as palavras mais bonitas que já tiveram?

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

está lindo, este sol assim

Tenho um amigo filósofo que só voa durante o Inverno e em dias frios, apaixonantes como estes em que ninguém me compreende. Bate as asas até à minha varanda durante o pôr-da-lua, senta-se e prende-me o cabelo atrás das orelhas, com travessões embutidos de estrelas, para iluminar a conversa e eu o escutar melhor.
Traz novidades das paisagens gélidas, pintadas com casas de madeira de telhados frescos, do sabor dos granizados de azevinho e das conversas dos lobos brancos da montanha.
Ele é como eu, não entende esta inquietação toda por causa de meia dúzia de bagos de neve e descansa-me, dizendo o que eu já esperava, que a natureza está em forma como sempre.
Algumas sementes já estão a aquecer debaixo da terra e prometem florir em menos de três meses, as luzes dos arranha-céus estão pronta para reagir aos nevoeiros, há milhões de óvulos fecundados dentro de barrigas lisas, que foram lá parar em noites geladas, propícias a pés aquecidos debaixo dos lençóis e que os poetas, com gatos ao colo, seguem inspirados, escrevendo em papel que ferve frente à lareira.

sábado, 10 de janeiro de 2009

vizinhança . . .

ELE VOLTOU !

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

promessas II


Uma das minhas palavras para 2009 foi correr.
Começo hoje, ali na esquina mais próxima, num sítio mágico cheio de história, onde se passeia uma ribeira, lado a lado com laivos de um gótico perdido aqui e ali, algum engenho e muito, muito verde.
Contam-se pelos dedos de uma mão, as pessoas que lá estão de manhã e eu vou ser uma delas.
O silêncio ali impera e é meu.
(clicar na foto para ver as imagens)

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

dos sonhos


Existem sonhos escondidos sem querer, desprezados por muitas outras prioridades no correr da vida, olvidados a um canto escuro, deixados de lado, abandonados.

Numa casa muito antiga em frente ao mar, com portadas de madeira encarnada, viveu em tempos um sonho de cantora por realizar.
Um sonho chamado voz grave e penetrante, que durante muitos anos só foi ouvida por crianças em canções de embalar, por paredes silenciosas que não revelam nunca segredos íntimos e por uma árvore centenária nascida no jardim, que em dezenas de anos guardou as várias canções que fluíam pela janela da varanda central da casa antiga, aberta logo de manhã cedo, de par em par.
Um dia, o sonho de cantora de levar a sua voz para fora da casa antiga, realizou-se.
Devido a um fenómeno até então desconhecido, a folha persistente da árvore do jardim, absorveu nos seus veios, o som que aquela voz grave libertava pela janela e nas épocas de invernias, a árvore aproveitando-se das danças forçadas pela fúria da ventania, deixava escapar pelo ar, com longos silvos assobiados agudamente, as notas musicais armazenadas nas suas folhas.

E assim, melodias de um sonho de cantora por realizar, eram apanhados no céu pelo bico das gaivotas brancas e levadas em direcção da praia, onde barcos e homens, receosos da tormenta, as esperavam confiantes na crença do seu poder de salvamento.
Músicas então cantadas pelo timoneiro aos seus marinheiros, serviam-lhes de alento e prendiam-lhes o pensamento à terra, para que nunca se perdessem nas águas do mar.
Na casa antiga, a dona da voz grave nunca soube que as suas canções foram transformadas em sucessos marítimos em dias de tempestade. Eram escutadas pelos homens do mar durante momentos de Adamastor, quando a chuva e a água estalavam com força contra o corpo duro de marinheiros corajosos. Músicas salva-vidas, bóias, âncoras que os traziam, de todas as vezes, de volta à praia. Inteiros.

Em alturas de mar brando e inocente, sereias doces e filhos de Neptuno, ofertavam aos marinheiros tesouros naufragados, fantasias marinhas, segredos da Atlântida e sonhos enterrados na profundidade do mar.
De volta à praia, homens agradecidos e humildes, colocavam as relíquias no jardim da casa antiga, para que durante a noite a árvore centenária, as folhas persistentes, o vento e as gaivotas brancas, bordassem com elementos do mar, portas, janelas, pilares, varandas, cúpulas, balaústres, paredes e torres altas.
Cordas e nós, búzios, conchas, estrelas, peixes e algas, esferas armilares, âncoras, a cruz e por fim, cânticos de homens salgados, escritos em pautas de água brava que ali foram deixados como um obrigado, para adornar uma casa muito antiga em frente ao mar, com portadas de madeira encarnada, onde viveu em tempos um sonho de cantora por realizar, um sonho chamado de voz grave e penetrante que salvava vidas do mar, sem nunca se ter salvo a si mesma.

fotos minhas, casa abandonada na foz

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

sobremesa

foto minha, s. pedro estoril

É assim como eu o prefiro. No Inverno. Quando o mar é cheio de si e vazio de nós, como a natureza o fez. Quando lhe distingo o som, o cheiro e as correntes, que deixam diferentes desenhos de espuma branca na areia.
Sei que no final da tarde depois de arrefecer, o mar me vai mandar embora e continuará a fazer companhia ao céu e às nuvens, que começarão a ser batidas em chantilly e cobertas de um morno e espesso amarelo doce de ovos, pingado pelos últimos raios que o sol ali derramou, quando se veio despedir do dia.
E onde ainda lambuzei por completo o meu olhar.
Quê?
Não sabiam que as receitas da ancestral doçaria conventual, é inspirada nos esquissos aromáticos que surgem nos céus de Inverno?

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

quando regresso a mim

s. vicente de fora, foto da Gi

Com a cabeça apoiada num travesseiro de penas, que algum aristocrata esqueceu noutro século, encostado às paredes do Palácio dos Condes de Figueira, descanso o corpo na sinuosa Colina do Castelo e desabafo os braços de par em par.
Um toca em Alfama, onde recolho pregões e canções e o outro vai até ao jardim do Miradouro de S. Pedro, o mais bonito do Mundo, diga-se. Lá, tenho flores à minha espera, para que eu as colha e com elas decore a mesa do Condestável, que já está posta em jeito de gala nas Ruínas do Convento.
De seguida, alongo-me numa preguiça indolente até ao Terreiro do Paço e agito os Ministérios, com joelhadas breves e curtas, para abrirem as portas, as janelas e os olhos e se curvem até ao chão junto dos sem-abrigo, que lhes dormem todas as noites aos pés.
Cruzo as pernas em cima das Colunas que voltaram de uma vez ao Cais e irrito umas quantas gaivotas, que já lá estavam a olhar o Rio, com Ares de pertença exclusiva.
Um Rio Azul que nasce em Castela, mas que é nosso; que nos escolheu, quando nos premiou com o desmaio extravagante do seu Estuário Mágico e onde chapinho agora os meus pés, finalmente em sossego, à espera da chegada da Luz Única da minha aldeia.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

eu fico aqui contigo

foto minha, rio douro, noite de fim de ano

Um pouco choroso com o abandono e em jeito de desabafo, disse-me aquele Rio Verde Escuro na última noite do outro ano, que se borrifava para a estupidez e para incongruência dos humanos que governam e que não carecia do Fogo dos Aliados para brilhar.
Disse-me o Rio, que se estava nas tintas para o magote de gente que se empilhou na Câmara, para ver o Artifício do Presidente a explodir no céu.
Disse-me o Rio, já mais animado, que era Rico e que sempre fora Exagerado em símbolos de abundância como videiras generosas, aromas de tintos de longa duração, xisto quente que aquece a baga, fermentações explosivas, ermidas, moinhos, grifos e até cornucópias mitológicas de tonalidades mil.

Deixa lá, disse eu ao Rio, não te rales com a falta das cores do Fogo no Céu, que tu tens a Prata dócil da Ponte do Rei, o cor-de-Laranja das Velas a flutuar na água, o Branco límpido da Lua, o Preto verdadeiro do Céu e o Transparente imaculado da Chuva.
Não tens precisão de pirotecnias.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

promessas

foto desirée do valle

Por vezes, fazemos todas as coisas de uma forma completamente certa e mesmo assim recebemos um mau resultado.
'Bora durante este ano não aceitar o mau resultado?
Naquilo que seja? Naquilo que for?

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

um 2009 inteiro para todo o blogobairro


As minhas palavras para 2009 são:

*
colheita
*
rir
*
fascínio
*
mais
*
pensar
*
amor
*
planos
*
correr
*
acalmia
*
lapiseira
*
mudança
*
leitura
*
saúde
*
intervir
*
presente
*
escrever
*
esplanar
*
conversas
*
tempo
*
ouvir
*
sossego
*
amigos
*
voluntariado
*

E muitas outras, que virão com o decorrer do ano.
*

(E à hora deste post, eu tôue a bêr o fuogo na Ribeira, carago!)