quarta-feira, 30 de setembro de 2009

complicadas, nós? #2


As mulheres quando dizem, é só um instante, estou pronta para irmos jantar fora num minutinho, isso significa na verdade, que estarão arranjadas entre meia hora a quarenta e cinco minutos, no mínimo.
Queridos homens, um minuto, só será na realidade um minuto, quando elas vos derem esse mesmo minuto, para que expliquem porque chegaram atrasados a um encontro e não à hora exacta que elas marcaram.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

aqui pelo meu bairro #3


O Onofre, o padeiro cá do bairro é um bocadinho para o picuinhas, mas não deixa de ser um grandessíssimo sonso, o atrevido. Ai dona Amelinha, não se atire assim para dentro do estabelecimento e limpe os pés antes de entrar, ai dona Amelinha, vá lá trocar o baibidól por uma roupa de jeito, que isso não são modos de uma mulher séria se mostrar na padaria, ai dona Amelinha, não respire dessa forma ávida para cima do balcão que me embacia a vitrina, ai dona Amelinha, não se perfume tanto que se me enjoa a doçaria caseira, ai dona Amelinha, não esbugalhe tanto os olhos que ainda deixa cair pestanas no pão mistura e nas broas de centeio, ai dona Amelinha mainãoseioquêmainãoseiquemais.
Bom, já estão a ver onde é que isto vai dar, não estão? Eu dou mais um exemplo.
Noutro dia, encontrei-o na lavagem de carros, ele mais o seu veículo imaculado, um morris marina cor-de-laranja todo jeitoso. Bem educada como sou e com o recato que me é próprio, fui cumprimentá-lo e lá começou ele com o chorrilho de insinuações libidinosas, todo folgazão para cima de mim. Ai dona Amelinha não se chegue tanto ao pára-brisas que me borra o vidro com batom, ai dona Amelinha, não fique assim tão perto da minha cara que me perdigota as faces, ai dona Amelinha, não se enrosque na chapa que me arranha a tinta, ai dona Amelinha, tire lá a mãozinha do manípulo que me destrava a viatura.
O Onofre da padaria, tem ou não tem uma valente tara por mim?
Eu sei, sempre fui assim, tenho este efeito arrebatador nos homens.

Ass: Amelinha (o meu alter-ego)

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

opressão torácica

foto daqui

A sobranceria deste homem, é assustadora.
Este homem ontem à noite, soltou finalmente a Besta.
O tom eversivo deste homem meteu-me medo.

música de fundo, pesadelo em elm street soundtrack

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

é o jornal a Bola, s.f.f. #1


Nos primórdios da humanidade não existiam sanitas, ou melhor, existir até existiam só que não tinham um nome convencional. Chamar-se-iam arbusto, moita, buraco da caverna, toca de coelho, ou ramo de árvore. Costumes salutares, biodegradáveis, tudo à vontade, na surpresa do relevo, no arejo da natureza.
Na idade média, a meu ver, a coisa ficou bem pior. Fossas expostas à vista de todos e esgotos inexistentes; carreiros escorregadios se formavam. Mas quem sabe, estas condições precárias e deslizantes tenham estado na origem, involuntária obviamente, de algumas modalidades desportivas do nosso tempo, como a patinagem artística, o snowboard, a ginástica acrobática, o salto em comprimento e para os mais porcalhões, o lançamento do peso; ah não, o peso não, esqueçam, esse veio da Grécia.
Bom, eu não faço ideia há quanto tempo o Homem usufrui das benditas sanitas; branquinhas, redondinhas, baixinhas, limpinhas, lisinhas, ainda para mais ultra sofisticadas, pois acompanham-se sempre de um acessório fantástico e indispensável: a tampa.
Grande, larga, resistente, um pouco sonora quando bate, com duas dobradiças que obrigam a dois movimentos repetitivos do ora levantar, ora baixar, ora levantar, ora baixar, ora levantar, ora baixar e assim pela vida fora até gastar.
Queridos homens, eu soletro: T-A-M-P-A!
Ora L-E-V-A-N-T-A-R, Ora B-A-I-X-A-R.
Eu repito para os mais distraídos: B-A-I-X-A-R!
Estamos entendidos?

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

complicadas, nós? #1


As mulheres nunca exigiram aos homens certos tipos de fidelidade.
Assim, perante uma feminina questão frontal, olhos nos olhos, sobrolho assumidamente carregado, numa postura de ameaçadora inquisição como, gostas do meu novo corte de cabelo, o top fica-me bem, estes jeans fazem-me as pernas mais altas, o cor-de-laranja do vestido realça-me o bronze, ou a questão das questões, achas que estou mais gorda, o que devem eles obrigatoriamente responder?
Queridos homens, nestas ocasiões, nunca, mas é que nunca mesmo, sejam verdadeiramente sinceros.
Lamento, não estamos de todo interessadas.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

vim só num instante aqui dizer que ...


... por vezes, quando não ando à procura de nada, deparo-me com tudo. E essas são quase sempre as minhas melhores descobertas; aquelas que encontro sem procurar, enquanto buscava por outras que nunca acho.

domingo, 20 de setembro de 2009

[15] boa semana


É a trilogia de que todos falam, eu sei. Mas é inevitável não comentá-la aqui; impossível mesmo.
Como tantos outros milhões pelo mundo fora, fiquei fã de Lisbeth Salander, a protagonista, excêntrica, anti-social, dotada de um QI capaz de arrumar em três tempos qualquer membro da Mensa.
Junto com um jornalista de topo, Mikael Blomkvist, viciam o leitor nas 600 e muitas páginas de cada volume e nem sequer sentimos o peso do calhamaço, tal é a dependência e o modo como nos deixamos prender à história com grilhões. Eu até as chaves das algemas deitei fora; enquanto não acabo de ler um, não respiro de alívio e nem sequer reclamo da comida da cadeia.

Comprei o terceiro e, infelizmente, último volume no sábado e até amanhã tenho de o desbravar; os outros livros que fiquem sossegadinhos nas prateleiras, tenham lá paciência, mas há prioridades pois então.
É certo que este fenómeno editorial, se deve em parte ao seu autor, Stieg Larsson, ter morrido pouco tempo após ter entregue os três volumes na editora e não ter usufruído do sucesso estrondoso da sua obra. Esse facto mexe connosco, cria-nos uma empatia, é verdade, mas não é de todo a razão principal do seu sucesso. O ritmo da narrativa torna-se galopante, à medida que o enredo se desenvolve e num instante já estamos no fim da história, desejosos de começar a ler o próximo volume. Queremos conhecer Lisbeth, dizer que estamos com ela, que é a maior e levá-la em ombros; sabendo claro que nos arriscávamos a ser imediatamente desterrados, se nos atravessemos a tais confianças. É tão antipática, fria e distante, bruta que nem uma porta, que se torna adoravelmente cativante, despertando no leitor um instinto protector.
A trilogia está nos tops de todo o mundo e é com todas as letras, um best-seller sim senhora e merecido, mas nada de comparações com os Dan Browns e as Stephenie Meyers desta vida. É tirar daí a ideia. Ah, e tem um tema central que me é muitíssimo caro, a violência contra as mulheres.
Como disse Vargas Llosa, Lisbeth Salander, deve viver.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

aqui pelo meu bairro #2


Há umas semanas que ando a dormir mal. Depois de tomar o meu copo de leite e a bolacha maria, costume a que a minha mãezinha me habituou, adormeço como um passarinho, mas lá pela madrugada acordo afogueada, com os lençóis aos pés da cama, a almofada no chão e toda descabelada. Houve até uma noite, oh valha-me Deus, que despertei com a camisa de noite desabotoada, quase revelando os meus pudores.
Uma pessoa fica assim meio assarapantada com estes sobressaltos nocturnos e não é para menos, pois as novidades não terminam somente nos fanicos, ah pois não.
Então cá vai: ele é o Clooney que me surge no horizonte a servir-me um tofina numa caneca do Bordalo; ele é o Pitt de cabelos ao vento, montado num Mustang gritando na pradaria, anda cá minha poldra, deixa-me pôr-te as rédeas; ele é aquele senhor já de idade, meio careca, que já foi um Bond a oferecer-me um scotch on the rocks no cume das highlands; ele é o Cruise, ai coisa mai linda, com os seus raiban verdes a mostrar-me as potencialidades do F-14, ou 15 ou lá que número tinha a avioneta do rapaz; ele é, vejam bem, aquele mocinho grandalhão que tinha um carro preto que falava com ele e que ultimamente corria pelas praias da América, com uma bóia cor-de-laranja nas mãos e salvava os incautos de afogamentos, lembram-se? Um rapagão de olhos claros, assim corpulento, com uns braços musculados, e umas mãos poderosas, umas pernas torneadas, fazendo-me boca-a-boca o grande calmeirão ... ai nossa Senhora, vou engolir mais umas quantas pedras de gelo.
Bom, adiante. A Lurdinhas
da mercearia disse-me em segredo, que estes sonhos eram próprios da idade e absolutamente normais, para uma pessoa na minha condição de viúva: o meu Alfredo já se foi vai para seis anos; descanse em paz.
Elucidou-me também, que os meus vigores nocturnos tinham até um nome científico; chamavam-se de góticos: sonhos góticos. Que dantes eram só as desavergonhadas e as que não iam à missa que os tinham, mas que agora, segundo ela lera numa revista lá na Zeneide manicure, fizeram-se estudos muito rigorosos que comprovam o contrário: qualquer senhora séria também tem destas coisas; podemos espraiar-nos à vontade, darmos largas à imaginação, estarmos possuídas de emoções marginais e até termos sonhos góticos tal qual os homens, ou lá como é que a Lurdinhas lhes chamou.
Fiquei tão mais leve com a inocência dos meus sintomas, que hoje até fui ao chinês comprar um baibidól mais aliviadinho, daqueles cor-de-rosa porno que eles lá têm com uma etiqueta muito engraçada, que diz em estrangeiro, shake it out baby,
瘋狂瘋狂.

Ass: Amelinha (o meu alter-ego)

terça-feira, 15 de setembro de 2009

aprovado


Já arregacei as mangas.
Será com este sabor que vou colorir o meu novo escritório.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

y volver

bairro do eixample, foto minha

E então foi um matar de saudades do salero, das tapas e dos bocadillos, do jarro de sangria gelada na barra da bodega, das cavas nas taças, da crema, do chocolate con churros. Do espalhafato das conversas que eles mantêm em alto, dos boulevard cheios de famílias ao fim da tarde, das velhas empiriquitadas nos bancos dos jardins, das sombras brancas das esplanadas, das bicicletas que nos atravessam o passeio, da intimista Rambla da Catalunya que desce magnífica até à Praça e depois se une na outra Rambla, a turística que eu não aprecio por aí além, para terminar no mar mediterrâneo com o Cristóvão imponente no pedestal, vislumbrando a América a mando da ambígua Isabel, a católica.
Tornei a guardar por dentro a memória das fachadas dos edifícios, que me fixam os olhos sempre para o alto das varandas e balaustradas, para o ritmo das gelosias com carrego de cores sonoras; o encarnado, o baunilha, o cinzento, o branco e o terracota.
Alegrei os pés exaustos pelas ruas sombrias do bairro Gótico da velha Barcino, agarrado ao velho e novo Born onde de novo me extasiei com o jovem Picasso; e que bom voltar a almoçar pelas quatro da tarde e correr para a Bubó antes que me levassem os macarones de sabor a violeta. Únicos.
Ah e chegar à Barceloneta ao crepúsculo, estafada e já quase sem vida para molhar os pés na sauna que é aquele mar que escalda?
E tornar a ver o Gaudi? O que eu morro de amores pela Batló, pelo chão da Gràcia, pelo tracadís do Guel, pelo ferro e pelas chaminés guardiãs da Pedrera. Trouxe-o comigo na bagagem, em formato de mil marcadores de livros, cadernos de páginas incólumes, azulejos de tracadís, curvas em movimento, cristal translúcido e pedaços escorregadios de animalesco ferro torneado.
Antes do voo, ainda corri para ver de perto a resposta que o Domènech deu à Sagrada Família e espirrei três vezes, na esperança de ser atendida neste palácio-hospital.
Quis rebentar com a acústica do Palau, mas nem a Montserrat conseguiu. Y por la calle el Domènech de nuevo...
E fiz tanto, tanto, mas tanto mais, só que há sítios que não cabem noutro lado a não ser no seu próprio local. Ou então eu não sei escrevê-los.
Regresso sempre mais velha das viagens de sonho; uma espécie de sobrecarrego aliviado de ter provado muito em tão pouco tempo.
E não acredito nada naquela do não voltarmos nunca mais ao local onde fomos felizes.
Tretas, lérias, falácias: eu volto sempre.

sábado, 5 de setembro de 2009

adiós guapos


Oh p'ra mim, num dos boulevard mais bonitos da Europa:
El Passeig de Gràcia.

Besitos; me voy por la calle de compras, de juerga y de copas y de tapas.
Hasta luego.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

junta de freguesia do blogobairro #1

Talvez alguns de vocês não saibam, mas quando entram no Ares, entram também no blogobairro. Ou seja, aqui, uma comunidade de bloggers, vizinhos de patamar, companheiros de elevador, colegas do passeio com o cão, camaradas do aperto de mão, sócios do clube de dominó, compinchas de morada, inquilinos do prédio, habitantes do bairro, amigos do café, condóminos da administração, cúmplices da postagem blogosférica.
E eu sou a PresidentA desta gente toda, ora pois!

Não houve eleições, sei bem, nem haverá. Tomei posse, assim por dá cá aquela palha e aqui estou firme no meu palanque, a vigiar o blogobairro, gerindo e administrando, cumprindo à risca todas as burocracias que uma responsabilidade deste gabarito acarreta e principalmente, tomando conta das finanças e dos impostos que infligo aos meus condóminos, quando eles saem da casca com postagens e fotos onde não abundam a moral, os bons costumes e sobretudo, onde a pudicícia, a honra e a castidade desta família blogobairrense é posta em causa.
Mas sou uma PresidentA muito compreensiva, generosa, trabalhadora e quase não tenho dias de férias, tal é a minha dedicação a esta gente postadora. Como qualquer moura de trabalho, não chego a todos os cantos e por vezes, necessito de pedir uma ajuda, quase inútil é um facto, a outro elemento do blogobairro; a minha assitentA. E também tenho os serviços de uma advogadA, ena, ena!
'Taditas, elas até se esforçam; são vigilante na captura atenta de indecências como esta e que me vão enchendo o saco azul, que tenho só e unicamente para as minhas obras de caridade, como é do conhecimento público.
Por vezes, há uns elementos do blogobairro, por coincidência são quase sempre os mesmos, que se distraem e postam imagens de pouca vergonha como esta mocinha toda encardida ou estas que se puseram ao fresco. E depois têm o despautério, o atrevimento de me caluniar, como aqui. Resultado: 500€ de coima valente. Pimba.
Como já viram, sou um exemplo de PresidentA, um SIS da net, uma câmara vigilante e atenta que zela pela vossa saúde emocional. E se tinham dúvidas no modo como foi feita a minha eleição, deixaram com certeza de as ter, perante esta
modesta e humilde demonstração de capacidades acima da média que aufiro.
E como não sou PresidentA de sentimentos mesquinhos, ressentimentos devoradores ou sequer defensora de um regime ditatorial, desde que seja sempre eu a mandar obviamente, peço-vos que hoje, ide todos dar os parabéns a um dos condóminos mais antigos do blogobairro.
Ide, ide que há festa seguramente. E dupla.
Mas não vos esqueceis de observar tudinho com olhos de lince e se por um acaso, repararem em algo insólito como um mocho de nome Sebastião a fumar erva, uma tal de Brites amalucada em monoquini, cenas tristes com um taxista alcoolizado, umas moças descascadas, um papalagui fala-barato e sobretudo um dialecto visigótico totalmente em desuso e proibido nos dicionários civilizados e contemporâneos, avisai-me de imediato meu blogobairro querido, que eu entrarei de rompante na festarola com o meu kit de cobranças.
Correi, apressai-vos e festejai com ele.

p.s. ah, vá lá, façam o favor de deixarem pelo menos um eurito no saquito azul. Sim, esse mesmo aí do lado
.











Ass: A PresidentA, vitalícia, claro.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

no confessionário aos 40 #1


Quando esta manhã acordei, reparo de imediato que aquela ruga ontem não estava ali. Delgada, é um facto, mas verdade seja dita, era mesmo o meu mais recente vinco de vida. Encolhi os ombros resignada e apresentei-a a outra que me nasceu há seis meses e a mais duas do ano passado. E pronto, ao todo tenho quatro; não me posso queixar.

Como boa anfitriã e apesar dela não ter sido convidada a entrar assim, desta forma abrupta, na minha intimidade, desanuviei-lhe a surpresa do seu descaramento com o meu sabonete que cheira a cor-de-rosa pálido, matei-lhe a sede com um tónico doce que utilizo para ocasiões especiais e ainda lhe fiz um pequeno-almoço altamente nutritivo, reafirmante e rico em colagénio.
Parece que a criatura gostou do tratamento honorífico e referiu que talvez estivesse ali para ficar.
Bom, por mim tudo bem rapariga, instala-te lá onde te der mais jeito, mas nada de te esticares ou de me sulcares a existência. Literalmente.
Espero que me tenha feito entender.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

aqui pelo meu bairro #1


O rapaz que anda à cata do lixo bom na minha rua, sabe da vida de todos os vizinhos através dos nossos restos, das pistas que deixamos sem querer, de pedaços que já não queremos e que despejamos todos os dias nos contentores.
Penso eu, que deve até já ter topado que a sirigaita de carrapito do 4º esquerdo é um pouco para o porca-relaxada; já eu, de desmazelada nada tenho e o sujeito de mim não tem como falar. Aliás, se for homem atento ao que deitamos fora, reparou de certeza que eu passo sempre por água todas as embalagens antes de as colocar no amarelo. E faço o mesmo com os vidros.
Até posso descer à rua de roupão florido de flanela, rolos na cabeça e com o meu salsicha pela trela, mas sempre, sempre de unha arranjada e mais: recolho todos os extras do canito do passeio, naqueles saquinhos que a câmara fornece.
De suja não tenho nada, sou mulher de muito asseio. Ouviste bem, oh flausina?

Ass: Amelinha (o meu alter-ego)