Vou andar ocupada por estes dias.
Experiências...
segunda-feira, 31 de maio de 2010
sexta-feira, 28 de maio de 2010
crónicas de graça #12
Gostaria de deixar aqui bem claro, que não entendo o convite para a minha participação nesta Crónica de Graça, apesar de muito me honrar, mas cá vai a minha opinião.
Toda a gente aqui do bairro sabe, que sou uma mulher recatada, de poucas confianças e que não gosto de me meter na vida de ninguém. A minha existência não tem segredos: casa, mercearia, padaria, praça, igreja, jardim da Graça, 28 para a baixa e casa outra vez. Claro, que agora ando de namoro pegado com o Xavier do talho, mas é uma coisa muito séria, à moda de outros tempos. Namoro recatado, um compromisso sincero a pensar no futuro, encontros decentes, distantes o quanto baste e conversas como deve ser. Eu não quero abrir a boca, valha-me Santa Luzia, mas não sou como umas e outras que vejo por aí, sempre atracadas ao pescoço dos homens, que não os deixam respirar, vestidas de forma indecente, com roupa desonesta que revelam tudo ao bairro. Só ao bairro não, ao mundo! Que os motoristas daquelas camionetas todas que param aqui no miradouro, cheias de turistas esbranquiçados, bem que ficam de olhinho arregalado à coca das carnes rechonchudas, que saem debaixo daquelas vestimentas indecorosas. E elas gostam, as desavergonhadas, que eu bem as vejo lá da minha varanda, a rodopiarem pelos passeios e a roçarem-se no muros, lânguidas como gelados de caramelo a escorrer pelos cones de baunilha.
E as mães delas? Pior do que as filhas, só vos digo. Eu é que não gosto de falar de ninguém, até porque pelas costas dos outros se vêem as nossas, mas é que o raça das mulheres não me saem do parapeito das varandas todo o santo dia, no leva e traz, leva e traz, leva e traz. Caramba, até paninhos almofadados elas fizeram e colocaram no varandim, para não magoarem os refegos dos braços gordos e peludos, enquanto metem o bedelho na vida do bairro todo. Línguas de trapo, é o que é. Melhor faziam elas, aquelas aguilhões de lacrau, se fossem dar conta da barrela da casa, limpar os centímetros de pó de cima das camilhas, sacudir os naperons, arredar móveis e aspirar o cotão que cresce junto aos rodapés, arranhar a gordura da chaminé, arear os tachos e separar o gorgulho do arroz e do feijão catarino.
E isto, ainda não é nada. Eu é que sou mulher de não fazer alardes, escuto o que elas falam de umas varandas para as outras, enquanto rego as minhas plantas e dou de comer ao canário, mas nunca alvitro nada, nem sequer dou conversa. Isso queriam elas, as aleivosas.
E quando as comadres se resolvem encanitar umas com as outras? É que nem queiram saber. Aquilo é um lavar de roupa suja, um desce escada, sobe escada, um abre a janela, fecha a janela, um entra e sai das casas uma das outras, que eu nem sei como é que aquela gente dá conta de tanta bisbilhotice. Eu cá baralhava-me toda. A mim é que nunca me deu para ser quadrilheirona, mas se eu vos contasse as coisas que tenho ouvisto...
Bom, a Odete da peixaria é uma aldrabona de primeira linha. Na bancada só tem pescada de três dias que diz ter chegado agora da lota, e já o peixe está mais do que falecido e ainda ela apregoa feito varina, oh fregueeeeeesa, venha cá que é fresquinho! O Onofre, o padeiro que andou enamorado da minha pessoa como muito bem sabem, rouba no fermento e no açúcar das delícias folhadas, que eu quando o visitava de madrugada na ideia de trazer o primeiro cacete do dia, bem me apercebi da marosca. A Lurdinhas da mercearia é outra, tem sido sempre tão boa rapariga e até me ensinou estrangeiro e tudo, mas agora descobri que é uma grande lambisgóia. Então não se atraca a tudo o que é homem das entregas das paletes? Quer sejam elas de leite, de cerveja, de água com gás ou de saquetas de chá verde. Vai tudo a eito e depois queixa-se que é muito doente, que lhe sobem os calores, e que anda com os triglicerinos no máximo.
Eu é que estou sempre metida em casa, na minha lida e não me meto com a vida de ninguém, mas ainda assim, o mulherio morre de inveja de mim. Dizem que eu, Amelinha Santos de Jesus, uma santa e virtuosa temente a Deus, que até à missa ainda vou de véu, que jamais na minha vida usei um biquíni e que nunca vi nenhum homem de roupa interior, nem o meu Alfredo que já partiu, sou mas é uma grande interesseirona, que catrapisco todos os homens com estabelecimentos do bairro e - ouçam lá bem - que só ando de namoro pegado com o Xavier talhante, porque quero é saber dos lucros das febras e do entrecosto.
Eu, que até vegetarôna sou!
Ass: Amelinha
E o senhor CBO, diga-me lá o que é que pensa disto tudo. É jornalista não é...?
quinta-feira, 27 de maio de 2010
quando a hora avança II
Noctívago atraía a si todo o tipo de noites: as escuras de segredos calados, as estreladas de juras íntimas, as de lua cheia e lobisomens, as longas de inverno e as frescas de primavera. Dependendo do grau de escuridão, Noctívago vagueava seguro entre a insónia e o sonambulismo, encoberto do risco da luz.
A si vinham sem receio das revelações do clarão, as trevas rasteiras, o piar dos mochos, as almas sem cama e sem sonho, os vaga-lumes, o ciciar dos grilos, os poetas sofredores.
Mas uma noite houve, em que Noctívago esquecendo-se de ler a história para adormecer antes que fosse dia, amanheceu sem que desse por isso.
Sentiu-se perdido, cego. Não conhecia nada do que via à luz. Aterrorizou-se.
Nisto, efervescendo das últimas sombras de noite, rasgava-se do fundo da terra um estado de incandescência fantasma de que a lua já lhe havia falado. Uma tal de estrela amarela que por meio do seu poder luminoso, desvendava sem permissão a segurança da escuridão de Noctívago, expondo à luz do dia os seus becos e segredos mais opacos.
Mas uma noite houve, em que Noctívago esquecendo-se de ler a história para adormecer antes que fosse dia, amanheceu sem que desse por isso.
Sentiu-se perdido, cego. Não conhecia nada do que via à luz. Aterrorizou-se.
Nisto, efervescendo das últimas sombras de noite, rasgava-se do fundo da terra um estado de incandescência fantasma de que a lua já lhe havia falado. Uma tal de estrela amarela que por meio do seu poder luminoso, desvendava sem permissão a segurança da escuridão de Noctívago, expondo à luz do dia os seus becos e segredos mais opacos.
Publicada por Patti à(s) 09:57 8 Ares
tags só meu-entidades
terça-feira, 25 de maio de 2010
junta de freguesia do blogobairro #4
Hoje é o Dia Europeu do Vizinho. E nós, vizinhança virtual, também comemoramos.
E mais, com os poderes que aufiro, estendo esta celebração aos inquilinos que moram no continente do outro lado do oceano.
E mais, com os poderes que aufiro, estendo esta celebração aos inquilinos que moram no continente do outro lado do oceano.
segunda-feira, 24 de maio de 2010
a senhora ...
... que toma conta das casas-de-banho do paredão, onde eu faço os meus quilómetros matinais, colocou debaixo do chafariz uma taça com água para os cães que por ali se passeiam. Os de trela e os outros, que eu já vi. E alerta os donos para tal.
Pequenas coisas, que tornam as pessoas maiores.
Pequenas coisas, que tornam as pessoas maiores.
Publicada por Patti à(s) 10:14 10 Ares
tags no paredão
sexta-feira, 21 de maio de 2010
vírus* num blog sério e familiar #12
Bom fim-de-semana!
(Não se esqueçam, façam uma pausa no expediente).
(Não se esqueçam, façam uma pausa no expediente).
* quem é que não se lembra disto?
Publicada por Patti à(s) 07:48 10 Ares
tags hora coca-cola diet
quinta-feira, 20 de maio de 2010
corredor
Como todos os que conheço, aquele era um corredor esquecido e desprezado, por quem habitava o velho andar da Sidónio Pais.
Tomado unicamente por um local de passagem, de acesso às outras divisões, era desprovido de qualquer tipo de interesse. A excepção era feita por antigas molduras, que revelavam fotografias de antepassados, exibindo nelas trajes de folhos, largos chapéus, cartolas luzidias, fardas militares, bigodaças farfalhudas e espampanantes penteados, armados em cima de pescoços enforcados em intermináveis fiadas de pérolas brancas ou laços de borboleta.
A pouca atenção dada ao corredor, seguia com a fraca escolha de luz, tornando tudo ainda mais taciturno.
No escuro da noite, ou mesmo na melancolia que é aquele período da tarde que nos empurra à sesta, os antepassados encaixilhados nas paredes, encetavam velhas quezílias familiares. Confrontavam-se entre si e discutiam o património mal dividido, heranças, partilhas, casamentos, adultérios, crimes, segredos e mistérios, apelidos familiares e outras tantas questões pertencentes a um pretérito muito antigo.
O peso das sombras, a presença de espíritos diáfanos, a solidão de um corredor sem vida e talvez também a solidão de quem o percorria todos os dias, enchia de um vazio cinzento, o velho andar da Sidónio Pais.
Tomado unicamente por um local de passagem, de acesso às outras divisões, era desprovido de qualquer tipo de interesse. A excepção era feita por antigas molduras, que revelavam fotografias de antepassados, exibindo nelas trajes de folhos, largos chapéus, cartolas luzidias, fardas militares, bigodaças farfalhudas e espampanantes penteados, armados em cima de pescoços enforcados em intermináveis fiadas de pérolas brancas ou laços de borboleta.
A pouca atenção dada ao corredor, seguia com a fraca escolha de luz, tornando tudo ainda mais taciturno.
No escuro da noite, ou mesmo na melancolia que é aquele período da tarde que nos empurra à sesta, os antepassados encaixilhados nas paredes, encetavam velhas quezílias familiares. Confrontavam-se entre si e discutiam o património mal dividido, heranças, partilhas, casamentos, adultérios, crimes, segredos e mistérios, apelidos familiares e outras tantas questões pertencentes a um pretérito muito antigo.
O peso das sombras, a presença de espíritos diáfanos, a solidão de um corredor sem vida e talvez também a solidão de quem o percorria todos os dias, enchia de um vazio cinzento, o velho andar da Sidónio Pais.
Publicada por Patti à(s) 09:00 10 Ares
tags só meu-divisões
segunda-feira, 17 de maio de 2010
sexta-feira, 14 de maio de 2010
crónicas de graça #11
E quem já partilha esta vizinhança há algum tempo, bem sabe da minha perdição por estes ambientes.
Multidões assim não me incomodam. Não me perturbam os encontrões cheios de sacos de compras, seiras de vime, alcofas de junco, cabazes e cestos de verga. Sofro de imunidade aos pregões gritados, às discussões dos fregueses, ao barafusto das vendas.
Sou de pormenores, e aqui, apaixono-me logo pelo burburinho, o cheiro, a correria, as vozes altas, as folhas que a fruta ainda traz presa, a terra nas batatas, o preto das amoras, os vincos das sacas de serapilheira. Maços de notas que se folheiam em mãos enrugadas, a caixinha dos trocos, o calejo de dedos que apalpam a melhor fruta, os peganhentos frascos do doce de tomate, os ovos caseiros ainda de penas agarradas, extirpadas ao esforço da vítima.
E chamam-nos de freguesa, de menina, e de meu amor diga lá o que deseja.
Em Lagos, onde paro algumas vezes durante o ano, o mercado dos sábados é irresistível. Muito rústico, genuíno, mas onde os estrangeiros adeptos da agricultura biológica, se misturam - e bem - entre os agricultores de outros tempos e lhes dá uma riqueza especial.
E depois é vê-los, aos sabonetes de alecrim da holandesa ruiva e de piercing no umbigo, junto do queijo de figo da avó, coberta com um lenço de flanela de ramagens sombrias; legumes de nome impronunciável, plantados pela família Sherard, a par da alfarroba do monte do tio Malaquias; gaiolas de patinhos amarelos da menina Laura, que bicam saquinhos com chás zen, daquela alemã alta como um poste. Saias hippies, coloridas, compridas e rodadas sobre sandálias de couro, encarando socas de madeira, botas de borracha, saias de fazenda e meias grossas de tons pardos sem brilho.
E o melhor de tudo nos mercados e nas feiras, é que há qualquer coisa de passado abençoado, de memória feliz que não desarma, uma nítida presença de pessoas que já não estão connosco, mas que habitam estes locais.
Parece que andam por ali nas compras, junto a nós, dizendo para termos cuidado, pois a batata ainda não é nova, que o cebolinho quer-se fininho e rijo, as cerejas escuras, as castanhas grandes e lisas, os pintos amarelos, os coelhos mansos, o pão mal cozido, o queijo luzidio embrulhado em papel pardo, e que a fava rica se pesa ao litro.
Apertam os nossos dedos; mãos de avós permanentemente eternos, que nos levam a ver com orgulho em bancadas improvisadas, o desfile de presentes que a terra deu.
Mãos quentes. Sempre quentes.
E por esse mundo fora, meu querido parceiro? Conte-me tudo.
Multidões assim não me incomodam. Não me perturbam os encontrões cheios de sacos de compras, seiras de vime, alcofas de junco, cabazes e cestos de verga. Sofro de imunidade aos pregões gritados, às discussões dos fregueses, ao barafusto das vendas.
Sou de pormenores, e aqui, apaixono-me logo pelo burburinho, o cheiro, a correria, as vozes altas, as folhas que a fruta ainda traz presa, a terra nas batatas, o preto das amoras, os vincos das sacas de serapilheira. Maços de notas que se folheiam em mãos enrugadas, a caixinha dos trocos, o calejo de dedos que apalpam a melhor fruta, os peganhentos frascos do doce de tomate, os ovos caseiros ainda de penas agarradas, extirpadas ao esforço da vítima.
E chamam-nos de freguesa, de menina, e de meu amor diga lá o que deseja.
Em Lagos, onde paro algumas vezes durante o ano, o mercado dos sábados é irresistível. Muito rústico, genuíno, mas onde os estrangeiros adeptos da agricultura biológica, se misturam - e bem - entre os agricultores de outros tempos e lhes dá uma riqueza especial.
E depois é vê-los, aos sabonetes de alecrim da holandesa ruiva e de piercing no umbigo, junto do queijo de figo da avó, coberta com um lenço de flanela de ramagens sombrias; legumes de nome impronunciável, plantados pela família Sherard, a par da alfarroba do monte do tio Malaquias; gaiolas de patinhos amarelos da menina Laura, que bicam saquinhos com chás zen, daquela alemã alta como um poste. Saias hippies, coloridas, compridas e rodadas sobre sandálias de couro, encarando socas de madeira, botas de borracha, saias de fazenda e meias grossas de tons pardos sem brilho.
E o melhor de tudo nos mercados e nas feiras, é que há qualquer coisa de passado abençoado, de memória feliz que não desarma, uma nítida presença de pessoas que já não estão connosco, mas que habitam estes locais.
Parece que andam por ali nas compras, junto a nós, dizendo para termos cuidado, pois a batata ainda não é nova, que o cebolinho quer-se fininho e rijo, as cerejas escuras, as castanhas grandes e lisas, os pintos amarelos, os coelhos mansos, o pão mal cozido, o queijo luzidio embrulhado em papel pardo, e que a fava rica se pesa ao litro.
Apertam os nossos dedos; mãos de avós permanentemente eternos, que nos levam a ver com orgulho em bancadas improvisadas, o desfile de presentes que a terra deu.
Mãos quentes. Sempre quentes.
E por esse mundo fora, meu querido parceiro? Conte-me tudo.
Publicada por Patti à(s) 00:01 20 Ares
tags mercados e feiras
terça-feira, 11 de maio de 2010
quando a hora avança I
Há qualquer coisa de presença mansa, mas ao mesmo tempo inquietante, surgida no Verão com a mudança dos ponteiros.
Perdemos uma hora por meio de uma soberana entidade, que sem aviso, aniquila instantes à vida que corre.
Acontece que nesse furo do tempo, há um bebé que já não nasce, um amor que jamais se apaixonará, um encontro protelado, um ilustre feito por realizar, um poema por escrever.
É uma essência madrugadora, com corpo de luz que tarda em ser noite, disfarçada de perfume do mar das férias; uma espécie de estação fantasiosa, saqueadora de um tempo que não lhe pertence.
Diz quem sabe, que é essa entidade que habita a fonte da juventude; fabuladora da idade.
Despojadora estival de um interminável número de badaladas, usurpadas pela noite a todos nós, quando a hora avança no tempo quente.
Deram-lhe o nome de eternidade.
Acontece que nesse furo do tempo, há um bebé que já não nasce, um amor que jamais se apaixonará, um encontro protelado, um ilustre feito por realizar, um poema por escrever.
É uma essência madrugadora, com corpo de luz que tarda em ser noite, disfarçada de perfume do mar das férias; uma espécie de estação fantasiosa, saqueadora de um tempo que não lhe pertence.
Diz quem sabe, que é essa entidade que habita a fonte da juventude; fabuladora da idade.
Despojadora estival de um interminável número de badaladas, usurpadas pela noite a todos nós, quando a hora avança no tempo quente.
Deram-lhe o nome de eternidade.
Publicada por Patti à(s) 19:37 12 Ares
tags só meu-entidades
domingo, 9 de maio de 2010
sexta-feira, 7 de maio de 2010
vírus* num blog sério e familiar #11
Bom fim-de-semana!
(Segurem as rédeas, meninas e apertem os freios!)
(Segurem as rédeas, meninas e apertem os freios!)
* diz que perfuma a cavalo e tudo ...
Publicada por Patti à(s) 00:01 10 Ares
tags nacho figueras
quarta-feira, 5 de maio de 2010
mais do sol
Há qualquer coisa de aberrante no comportamento dos homens, quando após um longo Inverno o sol sai à rua.
Nessas alturas é que reparamos, o quanto os restantes animais do planeta, são tão ou mais civilizados do que nós, a suposta espécie racional.
Assim, o coelho espreita desconfiado pelo buraco da toca; primeiro o nariz a tremer, depois os bigodes, os olhos à coca do inimigo e finalmente as orelhas. E volta para o seu ninho, não é cá doido de sair para o bosque todo lampeiro.
O urso por exemplo, limita-se a iniciar um longo espreguiçar, que dura para lá de uma semana. As andorinhas regressam pouco a pouco. As amendoeiras brotam um florir discreto. Outras árvores verdejam vagarosas. As brisas nascem suaves. O Homem ... bom, esse, meu querido blogobairro, é outra história que de contenção nada terá.
Já no ano passado, me apercebi do burlesco da situação e este ano o fenómeno repetiu-se.
A culpa foi minha, bem sei. Ninguém me manda esplanar a um domingo. Mas depois daquela chuvinha, nada fazia prever a marina invadida por ávida gente, despertada de um hibernanço forçado. Descurei e fui apanhada pelo magote dos inseguros do clima.
Este ano o tempo foi padrasto, é verdade, mas o espectáculo circense que se seguiu aos primeiros raios de sol, foi degradante.
Bom, esplanava eu sobre uma salada com todos, uma sangria branca e mais um livro, e eis que a maralha começa a surgir, naquela hora enervante, ali pelas três e meia quando todos os almoços com os sogros foram cumpridos.
Primeiro dei-me conta de um leve burburinho; talvez as ondas do mar, uma gaivota mais histérica, ou as crianças da escola de vela? Mas não. Nada disso.
Eram eles. A populaça desenfreada, que ainda sem ter tempo de pôr a arejar a roupa de Verão, marchava pelo deck da marina, exibindo botifarras com t-shirts, shorts e collants de vidro, as primeiras camisas de manga curta, horrendos casacos de cabedal ao ombro, mostrando peitos transpirados, pernas mal depiladas na correria do duche dessa manhã e guarda-chuva, não fosse o diabo ainda fazer das suas.
Mais pareciam terem atracado todos de um cargueiro, um bando de embarcados que não viam a mouraria havia muitas décadas.
Trincavam, mastigavam de boca aberta e sem pudores, os primeiros saquinhos de tremoços, amendoins e pevides do ano. As cascas? No chão, obviamente.
Cães de todas as raças pela trela. As bicicletas, as trotinetas, os skates, os patins e os triciclos. Os carrinhos de bebé, os carros telecomandados, as bolas de gelado esborrachadas no passeio, os gritos das crianças, o tráfego humano, o atropelo de gente excitada pelo sol. E eu.
Que fazer então, perante a ignomínia das gentes?
Já que a salada se me murchou de constrangimento e a sangria se evaporou com o escândalo, saquei do bloco de notas, ora bem.
Assim, o coelho espreita desconfiado pelo buraco da toca; primeiro o nariz a tremer, depois os bigodes, os olhos à coca do inimigo e finalmente as orelhas. E volta para o seu ninho, não é cá doido de sair para o bosque todo lampeiro.
O urso por exemplo, limita-se a iniciar um longo espreguiçar, que dura para lá de uma semana. As andorinhas regressam pouco a pouco. As amendoeiras brotam um florir discreto. Outras árvores verdejam vagarosas. As brisas nascem suaves. O Homem ... bom, esse, meu querido blogobairro, é outra história que de contenção nada terá.
Já no ano passado, me apercebi do burlesco da situação e este ano o fenómeno repetiu-se.
A culpa foi minha, bem sei. Ninguém me manda esplanar a um domingo. Mas depois daquela chuvinha, nada fazia prever a marina invadida por ávida gente, despertada de um hibernanço forçado. Descurei e fui apanhada pelo magote dos inseguros do clima.
Este ano o tempo foi padrasto, é verdade, mas o espectáculo circense que se seguiu aos primeiros raios de sol, foi degradante.
Bom, esplanava eu sobre uma salada com todos, uma sangria branca e mais um livro, e eis que a maralha começa a surgir, naquela hora enervante, ali pelas três e meia quando todos os almoços com os sogros foram cumpridos.
Primeiro dei-me conta de um leve burburinho; talvez as ondas do mar, uma gaivota mais histérica, ou as crianças da escola de vela? Mas não. Nada disso.
Eram eles. A populaça desenfreada, que ainda sem ter tempo de pôr a arejar a roupa de Verão, marchava pelo deck da marina, exibindo botifarras com t-shirts, shorts e collants de vidro, as primeiras camisas de manga curta, horrendos casacos de cabedal ao ombro, mostrando peitos transpirados, pernas mal depiladas na correria do duche dessa manhã e guarda-chuva, não fosse o diabo ainda fazer das suas.
Mais pareciam terem atracado todos de um cargueiro, um bando de embarcados que não viam a mouraria havia muitas décadas.
Trincavam, mastigavam de boca aberta e sem pudores, os primeiros saquinhos de tremoços, amendoins e pevides do ano. As cascas? No chão, obviamente.
Cães de todas as raças pela trela. As bicicletas, as trotinetas, os skates, os patins e os triciclos. Os carrinhos de bebé, os carros telecomandados, as bolas de gelado esborrachadas no passeio, os gritos das crianças, o tráfego humano, o atropelo de gente excitada pelo sol. E eu.
Que fazer então, perante a ignomínia das gentes?
Já que a salada se me murchou de constrangimento e a sangria se evaporou com o escândalo, saquei do bloco de notas, ora bem.
Publicada por Patti à(s) 11:03 21 Ares
tags só meu-sol
terça-feira, 4 de maio de 2010
Subscrever:
Mensagens (Atom)