Chega o dia do internamento. A mala está no canto do quarto, desde o dia do diagnóstico.
Quieta, ali. A encher-se de pó e de angústias. A mesma mala que tinha levado para sítios felizes e destinos expectantes. Nada como este agora, que apesar de possuir tudo de destino, pouco terá de felicidade. E ainda menos de expectação.
Glória pousa a mala na cama, sempre por fazer nestes meses, e tenta imaginar no que levar para um sítio donde não se sabe se se regressa.
Camisa de dormir? Talvez ... mas aberta à frente, ou nos lados? Discreta como o ambiente do quarto? Alegre para o contestar? Não sabe. Nunca fez isto antes.
E soutien? E porquê um soutien? Aliás, ri-se, ridícula, da sua gaveta repleta deles: pretos, cor de pele, brancos, com florinhas, riscas e corações, bolinhas e lacinhos. Não leva nenhum. Decidirá o que fazer com eles quando voltar. Se acontecer.
O telemóvel, não quer. Um livro para ler, não consegue. Papel e lápis, não precisa. Não aspira a deixar memórias.
E finalmente decide. Não leva mala nenhuma. Tantos meses ali no canto, para nada.
Mas nunca dispensará o frasco do champô. Tem uma adoração antiga com o seu cabelo comprido. Louro, como poucos. Glória quer tratar dele até ao fim, até ao último instante, até àquela data que sublinhou a encarnado na sua agenda. Onde publicou uma palavra longa que se recusa proferir.
E num ímpeto de sobrevivência, suprime da agenda aquela porção de futuro, determinada numa consulta de rotina, e anota-lhe por cima, a grosso: comprar mais champô!
Outubro - Mês de Prevenção do Cancro de Mama