sexta-feira, 29 de outubro de 2010

é oficial, e estão todos convidados


a conhecerem o meu conto.

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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

policial da enforcada


O curador deu a última volta aos papéis da sua secretária, apagou a luz do candeeiro de mesa e quando esticou a mão ao bengaleiro, para retirar a sua gravata, não a encontrou. Achou estranho. Lembrava-se perfeitamente, depois da última reunião do dia, com aquele mecenas belga, de a ter desapertado e pendurado ali.
Rodopiou sobre si, numa tentativa de encontrar uma ponta de encarnado, mas nada. Resolveu então abrir a porta e sair da sua sala. Achou ridículo, mas ia perguntar à sua secretária Laurinha, se a tinha visto. Não gostava nada de confianças com o pessoal, ainda por cima, de perguntar por roupa perdida, mas... adorava aquela gravata.
No mesmo instante em que ia abrir a boca, percebeu logo que a secretária não só tinha visto a gravata, como também a havia experimentado.
Pendurada no lustre de cristal baccarat, do hall, 45 quilos de Laurinha, esgazeada de todo, de olhos revirados e língua azul, tombava a cabeça para o lado esquerdo, babando a sua gravata encarnada de seda.
Que maçada! - pensou. Dificilmente aquelas manchas iriam sair.
Recompôs-se e ainda aparvalhado com a cena, que se apresentava perante os seus olhos, o curador só se lembrou de dizer:
Laurinha! Mas que disparate é esse? Desça já daí!

terça-feira, 19 de outubro de 2010

outubro


Chega o dia do internamento. A mala está no canto do quarto, desde o dia do diagnóstico.
Quieta, ali. A encher-se de pó e de angústias. A mesma mala que tinha levado para sítios felizes e destinos expectantes. Nada como este agora, que apesar de possuir tudo de destino, pouco terá de felicidade. E ainda menos de expectação.
Glória pousa a mala na cama, sempre por fazer nestes meses, e tenta imaginar no que levar para um sítio donde não se sabe se se regressa.
Camisa de dormir? Talvez ... mas aberta à frente, ou nos lados? Discreta como o ambiente do quarto? Alegre para o contestar? Não sabe. Nunca fez isto antes.
E soutien? E porquê um soutien? Aliás, ri-se, ridícula, da sua gaveta repleta deles: pretos, cor de pele, brancos, com florinhas, riscas e corações, bolinhas e lacinhos. Não leva nenhum. Decidirá o que fazer com eles quando voltar. Se acontecer.
O telemóvel, não quer. Um livro para ler, não consegue. Papel e lápis, não precisa. Não aspira a deixar memórias.
E finalmente decide. Não leva mala nenhuma. Tantos meses ali no canto, para nada.
Mas nunca dispensará o frasco do champô. Tem uma adoração antiga com o seu cabelo comprido. Louro, como poucos. Glória quer tratar dele até ao fim, até ao último instante, até àquela data que sublinhou a encarnado na sua agenda. Onde publicou uma palavra longa que se recusa proferir.

E num ímpeto de sobrevivência, suprime da agenda aquela porção de futuro, determinada numa consulta de rotina, e anota-lhe por cima, a grosso: comprar mais champô!

Outubro - Mês de Prevenção do Cancro de Mama


quarta-feira, 13 de outubro de 2010

alerta


Se numa sala de espera de um consultório, na fila do supermercado, na cadeira do cabeleireiro, ou numa ida ao cinema, escutarem conversas entre pessoas com mais 30 anos do que vocês, do tipo:

. ontem estive até tarde, à espera que me fizesses chegar as galinhas;
. já te dei os pregos, mas não me enviaste a madeira;
. então e a palha para os cavalos?
. as tuas couves estão a dar-se bem?
. comprei uma série de patos;
. podíamos partilhar os porcos.

Não, não pensem que é o êxodo rural, que a agricultura veio para ficar, que a criação de gado compensa, ou que a reforma agrária está de volta.
Não, nada disso.
Antes fosse.
É mesmo a vossa mãe - sim, a vossa própria mãe - que joga ao Farmville com as amigas...

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

vizinhos


23.30h. Lá está ela. Pontual atrás das cortinas de renda branca, camuflada pelos bordados laboriosos de pássaros, borboletas e botões de rosa. A olhar para o segundo banco do jardim.
Aqui no bairro, chamamos-lhe o banco do pudor e fica meio escondido pelos arbustos, encapuçando pares de namorados mais afoitos.
Daqui da porta da tasca, não consigo ver ninguém, mas ela, lá do seu terceiro direito, tudo observa sempre ao detalhe.
Primeiro sossegada e atenta, de olhinhos velhacos, aglutinando os preliminares. Depois vai afastando a cortina levemente, entusiasmada com o avanço da lascívia e com o andar da peganhice, escancara as portadas da janela e pronto, lá vem a gritaria moralista, alertando a vizinhança de que ela, apesar de encalhada, é uma mulher séria.
- Sua desavergonhada!  - atira para os pombinhos lá no banco - Então não querem lá ver a sirigaita toda atracada ao moço! Isso é coisa que se faça em público, minha galdéria? Isto no meu tempo...
E os pássaros já adormecidos nas árvores, fogem da gritaria assustados. Os gatos escondem-se debaixo dos carros. As luzes das janelas acendem-se, revelando sombras curiosas.
E eu... eu trato de imediato de trancar a porta da tasca, que já se faz tarde. E antes que ela me venha de lá com lições de intimidade, e depois me salte para cima, raspo-me daqui. Que isto hoje é noite de lua cheia.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

nas subidas


Um saco, dois sacos, três sacos, quatro sacos de supermercado. Um palete de leite, o cão pela trela, as chaves de casa pendurada nos dedos fatigados e as cartas do correio presas na boca.
Prédio antigo, escadas estreitas de mármore gasto pelas centenas de pés que já os pisaram. Sobem-se estes degraus escuros, indefinidos, um, dois, três, quatro sem uma sobra de brilho, desejando chegar depressa ao 3º andar, o último, onde a luz da pequena clarabóia, também esgotada, existe para iluminar esta hora da vida dos privilegiados, que conseguem ainda subir até ao cimo.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

:-)


Uma excelente segunda-feira de Assis.