sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

vírus* num blog sério e familiar #10

david gandy

Bom fim-de-semana!
(Parai todas, parai! Se ando eu em privação calórica, também andais vós, pois então)!

* um belo naco de...

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

aqui pelo meu bairro # 6


Ai senhores, senhores senhores! Estou para aqui numa tão grande excitação, que nem me aguento! O que é que vocês diriam, se eu vos contasse que fui apanhada completamente desprevenida, ali entre a capelista e o estofador, por uma exaltada declaração de amor? Assim, num sábado de madrugada, especada no meio do passeio, aparvalhada de todo e com o saco das carcaças nas mãos? Ficavam radiantes por mim, não era?
Não, não foi o Onofre, o padeiro. Esse é mais olhares, piropos e insinuações, mas chegar-se à frente que é bom, nada. Foi o Xavier do talho. Um viúvo muito jeitoso, que se mudou para o bairro vai para três anos, mais coisa menos coisa.
Eu já tinha notado que ele me favorecia no peso das entremeadas, no aviamento das iscas e na qualidade dos miúdos para a canja. Até pensei com os meus botões, o homem é novo cá no bairro e quer conquistar a clientela. Nada disso, nessa manhã de sábado, na alvorada do meu ressurgir para a paixão, na redescoberta dos prazeres proscritos a uma viúva respeitosa,
confessou-me ele um incólume arrebatamento, no mesmo instante em que me pôs a vista em cima.
E para verem que o namoro é coisa séria e tem futuro, escutem lá isto:
Noutro dia fomos namorar junto ao rio. Os dois juntinhos dentro do carro à beira Tejo, vendo os barcos partirem para o Seixal. Mas nada de poucas-vergonhas, amassos e demonstrações vivaças, nada disso! Ele a ouvir o relato e eu, precavida, concentrada no meu croché a ver se substituía os naperons da televisão lá de casa, que já estão como há-de ir.
Nisto, sabendo para onde eram os naperons, pergunta-me
o meu Xavier assim um pouco altercado: para a televisão Amelinha? Quero lá isso de televisões na nossa casa, minha jóia! Na nossa casa, só LSD e mais nada. Fiquei boquiaberta, mas assenti claro está, que uma mulher não se quer respondona como umas e outras e para mais, também não falo estrangeiro e até achei o nome pomposo: LSD.
A Zeneide manicure tratou logo de me explicar, que os LSD eram umas televisões muito modernas e fininhas, que se fixam
nas paredes das casas ricas, com uma cola muito especial que nunca despega e que vem não sei donde.
Ainda nem estou em mim da emoção e diga-se de passagem, um bocadinho para o psicadélico; eu, Amelinha, com um LSD colado na parede da minha humilde sala, vejam lá bem!

Ass: Amelinha (o meu alter-ego)

domingo, 24 de janeiro de 2010

privações II

imagem sweet paul

Eu ando a tentar, juro que ando. Mais do que tentar, eu ando a cumprir com a privação dos hidratos e das substâncias adiposas. Mas santa paciência, já estou enjoada de tanto grelhadinho, cozidinho, saladinha e refeições a vapor, mais água, água, muita água. Coisa horrível. Desenxabida. Sem gracinha nenhuma.
Bem, mas como este tipo de alimentação serve um nobilíssimo objectivo, eu aguento-me. Oh se me aguento, senhores.
Ora mas o que eu queria mesmo, era que os meus queridos vizinhos blogobairrenses me facultassem receitas de refeições pouco calóricas, daquelas simples, fazíveis e sobretudo, atenção, sobretudo muito saborosas. E sobremesas também.
Essa é que é essa!

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

crónicas de graça # 8

Pontualidade

Isto de se ser pontual, não será uma tarefa fácil de se cumprir. Porque pontualidade no verdadeiro sentido pouco se pratica. Na maior parte dos casos, ou se chega antes, ou depois.

Eu sou das que chegam antes da hora marcada. Não sei fazer doutra maneira. Nem quero. Mesmo que os outros façam o contrário. Até cinco minutos de atraso, não se passa nada, mas a partir daí começo a embaciar o vidro relógio com o fumo das narinas.
As justificações são sempre as mesmas: o trânsito, uma reunião que se estendeu, um telefonema de última hora, o médico que se atrasou, a fila do supermercado, a máquina da roupa que deu o berro. Como se a outra parte também não tivesse imprevistos.
Pode-se rapidamente fazer o perfil dos atrasado-compulsivos. São quase sempre pessoas descontraídas, flexíveis com o factor tempo, parecem a todo o tempo bem dispostas e têm por lema, a vida são dois dias e stress. Não esquecer, que chegam sempre com um enorme e irresistível sorriso de anjo na cara, acessório imprescindível à desculpa do atraso. E se ainda repararem bem, têm um letreiro na testa dizendo, eu tenho cá uma lata!
Adoptei há muitos anos, a estratégia de me encontrar com eles - esses amigos perfeitamente identificados - em esplanadas a apanhar sol, já sentadinha no restaurante a petiscar, ou em casa. Nunca na rua especada, feito estátua nervosa presa ao pedestal.
Os atrasados não sofrem muito com a questão e a coisa funciona até bem, mas só para o seu modo de ser.
Há o outro lado deles, que me aterroriza. Têm regularmente mil tarefas em mãos, as quais não conseguem cumprir, deixam muita coisa para trás e para depois, falham constantemente compromissos que vão desde uma importantíssima reunião de negócios, à festa da escola dos filhos. São incapazes de fazer escolhas entre um assunto que requeira prioridade, e outro supérfluo. Dizem que sim a tudo, nunca há impedimentos para nada, alguma coisa se há-de desenrascar. Aquela velha história, de que o ovo estará eternamente na galinha...
Ora, este é o oposto do comportamento dos adiantados. Organizados, metódicos, previdentes. Também temos o lado negro claro, não somos perfeitos: ansiosos, impacientes, apressados, exigentes.

Um dia, assisti a uma peça no Teatro Tivoli, "Sete Minutos", um monólogo com o brilhante António Fagundes. O actor avisou em entrevistas televisivas e reportagens, de que as portas encerravam impreterivelmente às 20.45h. Nem mais uma alminha lusa entrava naquela sala, nem sequer valiam a pena, as desculpas de maremotos, morte da mãe ou uma unha encravada. Nada, nada, nada.
O público português ria é claro, achavam graça, comentavam o impraticável atrevimento, não acreditavam na sua concretização. Dito e feito. Ficaram cinco ou seis pessoas na rua e o caso foi tão insólito neste país de atrasados, que até deu em notícia de jornal.

Infelizmente, a exequível ideia ficou-se por ali. Devia haver normas mais severas de cumprimento de horários, especialmente nos locais públicos, onde os demais são prejudicados pela classe dos atrasados crónicos. Cinema, teatro, concertos, conferências e afins.
Lá vêm eles, à média luz, sempre com aquele
enervante arzinho pateta, quase dócil, praticamente de gatas, a passarem entre as cadeiras aos tropeções e de nariz no chão, cheios de com licenças e desculpe, desculpe, desculpe, que só me apetece empurrá-los por ali abaixo (a privação de açucares deixa-me assim, colérica).
Pronto, já desabafei!



E o Carlos? Por favor não me dê um desgosto, dizendo que é um desses! Bom, desconfio que não.

Crónicas de Graça #1, #2, #3, #4, #5, #6, #7.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

ares da minha graça II


E vão dois anos de Ares da Minha Graça. Num instante.
O tempo a fazer das dele, usando um relógio muito mais rápido do que o meu; ou com mais ponteiros...

Mais um ano de muito escrevinhar. Ensaios centrados num registo mais próximo de mim. E assim nasceram as personagens reais que se cruzam comigo na rua, no supermercado, na praia, na esplanada, no consultório, com vidas fantasiadas que lhes crio no papel; a utopia de biografias que me surgem ao observar uma imagem; um confessionário sem genuflexório ou contrições, mas vital e professor depois dos quarenta; três parcerias-Amigas que me preenchem folhas e folhas a letra miúda, me dão um sincero prazer e que espero corresponder de todas as vezes, sobretudo aos meus três cúmplices; um alter-ego surpreendente, onde carrego baterias, onde me farto de rir com o incauto, me comovo com a genuinidade de pessoas assim, dando-me de texto em texto a absoluta convicção, de que um dia vou encontrá-la, a ela, a minha Amelinha, numa rua da Graça, Patti, sou eu filha! A tua Amelinha, já não me conheces rapariga?
Mais um ano de muitas e distintas leituras, visitas fiéis, amigos, companheiros, presenças, comentários cá e lá, encontros além-fronteiras e sem muros, novos e velhos vizinhos de um blogobairro que um dia imaginei.
Mais uma ano sob a descoberta lenta e comedida, de que a escrita não pode ser só o alinhamento de palavras que se ajeitam entre elas, de uma forma que ninguém se tinha ainda lembrado de as colocar. Será mais. Será talvez, tudo o resto que falta. De que ainda pouco sei. Muito além do que trazemos no pensamento. É físico, corpóreo, terreno e no final, paradoxalmente diáfano. Com cheiro, textura, colírio para os olhos. E que se escuta.
Aquela ideia constante de que o que se escreve, só está verdadeiramente escrito e concluído, depois de ser lido pelos outros.
A mim basta-me um lápis.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

privações I

(restaurante a maria, alandroal, foto minha)

E já lá vai uma semana de celibato no mantimento.
Uma insípida, uma infeliz desnutrida à beira do colapso gastronómico, é o que eu sou.
Que saudades eu tenho disto.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

ai o amor, o amor ...

(clicar nas imagens para aumentar)

A deliciosa carta de amor, de uma menina com 8 anos (enviado por mail).

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

sopas de letras portuguesas # 2


Texto inspirado em: "Depois de morrer aconteceram-me muitas coisas"
Título do livro de Ricardo Adolfo

O assunto da morte sempre me foi odioso. Evitei-o de todas as vezes, fiz de conta que era um não-tema, neguei-me a pensar nele, fingi não saber do que se tratava - e na verdade não sabia.
Mas sei agora. Que morri. Morto e matado de todo.
O tema é mórbido, bem sei, mas é que se passam tantas, mas tantas cenas depois de um homem estar morto, que nem sei por onde começar. O positivo da questão, é que agora tenho a morte toda pela frente.
Primeiro, quero já aqui esclarecer e acabar com boatos e injúrias, sobre as larvas serem nojentas. Nada mais falso, caros vivos da silva. São os bicharocos mais simpáticos que existem à face da terra, ou melhor nas suas profundezas. Vermes companheiros e sempre muito presentes, quer na limpeza das minhas unhas dos pés, no vazamento do pó dos meus ouvidos, enroscadas em sonecas profundas na dobra dos meus joelhos, ou a petiscarem os restos gástricos do meu estômago.
Portanto, temos criaturinhas que comparecem com frequência, na solidão desta minha vida, perdão, morte.
Aqui nas catacumbas deste cemitério de província, onde agora habito, a animação é grande. Não fora alguns ossos já se terem desfeito e posteriormente levados pelas larvas, impedindo-me grandes movimentos ao esqueleto, diria mesmo que por aqui, no reino dos mortos, abunda o reboliço, a agitação e o alvoroço.
Forneço-vos para vos elucidar, uma breve listagem dos nossos afazeres diários:
- Observação e contagem das noites estreladas. Vocês sabem lá os milhares de estrelas que existem no firmamento. Eu estou em quarto lugar nesta prova. É o concurso mais popular do cemitério. É claro, que posição de barriga para cima como nos colocam, também ajuda muito.
- Semanas temáticas: a escassez de visitas ao cemitério; as doenças mortais; a morte-santa; o halloween; a fauna necrófoba; como evitar a pá dos coveiros; os benefícios de uma saudável putrefacção; as vantagens e desvantagens da iluminação das morgues; o peso e o cheiro das coroas de flores; a qualidade duvidosa da madeira utilizada nos esquifes; o péssimo aquecimento na ala das autópsias; cinema de terror.
Mas gostar mesmo, mesmo, é da semana de beleza e dos cuidados com o envelhecimento da imagem: como manter esbelto o seu cadáver.
Aprendi conselhos utilíssimos e cá vão eles: esfoliação das peles mortas, com o ancinho do jardineiro, dez vezes ao dia; evitar a absorvência das flores apodrecidas do funeral, combatendo assim um crónico e fedorento perfume em todo o corpo, ou melhor, do que resta dele; reciclar a argila contida na terra que nos sobrecarga, para a tonificação da ossatura existente; aproveitar e extrair das longas raízes das hortas vizinhas, que por nós se emaranham, as suas propriedades anti-oxidantes, tão benéficas ao combate dos danos provocados pelos radicais livres.

E agora, aproveitando a oportunidade desta minha crónica no mundo dos vivos, pedia-vos encarecidamente que se nesta moda dos referendos, não podiam fazer mais um sobre a prática recorrente das etiquetas no dedo gordo do pé, tão em voga nas morgues dos hospitais.

Eu e a minha letal vizinhança, votamos contra! Aquilo dá um raio de uma comichão.

E tu minha Gi, como te safaste com mais estas letras portuguesas?

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

meu o início, vosso o final #2


E pronto. Foi esta semana. Entrei em provação alimentar.
Asneiras saborosas, excessos nutritivos e pecados calóricos serão esquecidos durante alguns meses. Deixarão assim de ter lugar no meu prato.
Mas sabem tão bem...o que me custa, sabem lá vocês.
Bom, reza a lenda das dietas, que sempre que alguém decide retomar o saudável caminho da contenção nutritiva, muitos hidratos de carbono sofrem verdadeiros percalços nas suas excessivas vidas.
Soube em tempos de um suculento bife do lombo com ovo a cavalo, ser rejeitado numa mesa durante um almoço de amigos, por se apresentar demasiado gordo. Ora acontece, que nessa mesma tarde o suculento naco,
finalmente decidira pedir em casamento a mão da bela sericaia com calda de ameixas. Assim, a sua não admissão à mesa dos convivas revelou-se num real desastre amoroso.
O bife não mais admirou a sua sericaia. Os seus olhares não se trocaram. Os seus pratos nem se roçaram. E os seus aromas sequer se misturaram. Uma tragédia quase fatal, aquela refeição.
Não fora o inestimável préstimo da sua companheira e amiga de tantos anos, a batata frita caseira às rodelas, mais o tinto da casa e a airosa broa de milho, que logo se dispuseram a encontrar solução para o funesto desencontro, jamais os dois amantes se voltariam a refeiçar.
Vai daí, resolveram...

...e agora, caros leitores do meu blogobairro, continuam vocês a história. Aqui ou no vosso blog.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

crónicas de graça # 7

Revistas cor-de-rosa

Olhe, esse já deixou a outra e agora anda metido com essa pirosa. Tem idade para ser mãe dele. E ainda dizem que o sujeito não ficou por aí! Anda a catrapiscar a outra fulana, aquela loura, da SIC sabe qual é?

Eu nunca sei nada. Sou uma leiga. Só leio as capas na entrada dos supermercados. E a revista da ordem no cabeleireiro, uma vez por semana para fazer um download de actualizações. Ah e uma vez ou outra, compro para praia ler na praia.
Mas a minha cabeleireira continua: aquela, a loura do programa de sábado a seguir ao almoço. A que se divorciou do outro estupor, que agora anda aos caídos. Essa agora está grávida de outro. Então ainda não leu?
Aceno com a cabeça. Faz de conta que sei.
E lá vem ela: é como o casal BradJolie; aquilo para mim está nas últimas e não é de agora. O desgraçado do rapaz nem deve conseguir dormir, com tanto filho aos gritos pela noite adentro. Olhe, se quer que lhe diga, também é muito bem feito! Ninguém o mandou trair a Jennifer. Tão linda que ela é. Aqueles cabelos perfeitos. Lindos, lindos, sempre arranjadinhos, brilhantes. Aquilo não é dela, só pode ser coisa de um bom cabeleireiro, ah porque disso entendo eu, muito bem, não acha?
Bom, isto não é todas as semanas assim, mas se ela me vê pegar na revista cor-de-rosa lá do salão, estou feita.
Na verdade, existem poucas coisas tão tontas com as revistas cor-de-rosa. Tontas porque alimentam cabecinhas ainda mais tontas, crentes de que a realidade é mesmo assim: tonta de todo. E talvez seja, para os tontos que não fazem mais nada, senão correr para a frente dos fotógrafos.
Revistas tontas pelo desfile de disparates que por lá se lêem: o não sei quantos é o grande amor da minha vida (namoram há duas semanas); sei que quero ficar com ele até ao fim dos meus dias (conheceu-o ontem); sempre quis ser actriz (e diz prontos); nunca fiz dietas, já nasci assim (e já fez para cima de não sei quantas plásticas); não resisto a uma carteira Hermés (e compra imitações na feira).
A tonteira maior não vem das verdadeiras figuras públicas, os actores, músicos, pintores, estilistas, designers, mas dos outros, dos profissionais da coisa cor-de-rosa.
Recentemente fui convidada para um grande lançamento. Coisa que merecia a pena sair de casa, numa noite chuvosa de inverno. E valeu sim senhora.
Mas o desfile de figurinhas e figurões que por lá se passearam, foi de bradar aos céus. Se eu estivesse pelos azeites, tinha escrito um livro de personagens logo ali.
As máquinas fotográficas têm um telescópio agarrado, em vez de uma lente. De verdade. Enfiam-no na cara daquelas criaturas ávidas de social e disparam, disparam, disparam até à morte.
Andam atrás de umas, para ficarem na fotografia ao lado das outras. Sempre as mesmas, os mesmos nomes, as mesmas caras, os mesmos sorrisos. E elas lá vão. Uma, e outra e mais outra vez. Clique, clique, clique, é o som mais escutado. Esse e o dos copos a encherem. Mas desse barulho também eu gosto...
E depois vêm as televisões e os seus programas, de fim-de-semana a seguir do almoço. Daqueles que a minha cabeleireira falou. Ele é meninas apresentadoras, sorridentes e simpáticas, colocando questões tolas; ele é câmaras com focos de luz, capazes de iluminar estádios de futebol; ele é encontrões e pisadelas para se aparecer ao lado do entrevistado, assim como quem não quer a coisa; ele é uma verdadeira antologia de como se sobrevive em ambientes cor-de-rosa. Há cenas de susto. Acreditem-me.
Claro que na semana seguinte, lá estava eu no cabeleireiro a cuscar a revista do salão. Quatro páginas. Mas quatro páginas de quê? Desta, daquela, da outra e daqueloutra. Mas do lançamento propriamente dito, do tema da festa, do acontecimento que nos levou ali...nada. Só o título da reportagem.
Mal se fala do conteúdo, só da forma e isso é o que torna este tipo de reportagens sem qualquer valor jornalístico.
Mas o pior das revistas cor-de-rosa não são as vertigens sociais que se acometem em alguns, mas sim a parte perversa da questão. A exposição desmedida. A invenção de factos. A ausência de privacidade. A perseguição. A invasão. A quase impossibilidade de livre movimento. O lavar de roupa suja. O sururu. A falsa adulação. A maledicência. A galopante subida aos píncaros. O não apareces, logo não existes. A morte súbita.


Ah, também lá esteve? E não aparece nunca em nenhuma destas fotografias? Que pena, assim nem valeu a pena ter ido, não é?
Disse-me a minha cabeleireira muito chocada.


E o Carlos, não me diga que já foi capa de alguma revista cor-de-rosa?


Crónicas de Graça #1, #2, #3, #4, #5, #6.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

acordada


Sonhos, sonhos, sonhos, daqueles assim mais concretizáveis, contudo semi-secretos e muito íntimos e pessoais, mesmo meus-meus, com o seu quê de egoísmo, tenho dois para este 2010.
Um deles, espero concretizá-lo antes do meio do ano e tenho quase a certeza que me irá fazer um bem enorme à alma; se é que ela existe mesmo.
E o outro - sonho recente ainda, coisa com um ano de criação - ando a dormi-lo todas as noites, mas espero despertá-lo aos poucos, num vagaroso trabalho de concentração e esforço durante todo este ano.

Decidi não dormir mais com eles. Vou acordá-los.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

parasimpattias #3

Exercício: descrever de forma intensa, a primeira experiência que a memória registou da cor vermelha.

Houve um tempo em que ainda existiam baloiços de madeira, pendurados em ruidosas correntes enferrujadas e see saws aparelhados em cabeças de cavalo, onde apertávamos as mãos pequenas até ficarem vermelhas. Com calos vermilhões, de verdadeiro vermelho dor.

Um tempo em que o chão dos parques infantis, era de pedra dura e incerta, com desenhos avermelhado escuro. Sangue alegre das brincadeiras.
Havia espaço para se avermelharem joelhos e cotovelos, partir cabeças rosadas, narizes e queixos rubros. Uma época em que exibíamos aos amigos orgulhosas cicatrizes, pontos costurados a sangue frio e hematomas coloridos de vermelhaço-vermelhante.
Era a nossa primeira experiência em vermelhoso vivo. O vermelho líquido e quente, espesso e de sabor acre, que jorrávamos a rodos de dentro de nós.
Também foi assim comigo, quando caí do velho see saw de madeira lascada e já sem cor. Pintei-o a jacto de tinta, directamente do meu queixo, com um vermelho vivo e intenso. Lindo. É até hoje, o meu vermelho preferido.
Aquele encarnado.

E a SInhora, de que cor se lembra primeiro?

domingo, 3 de janeiro de 2010

ai, ai...

alentejo

... e pronto, lá se foram os meus fantásticos dias de férias no campo.