A Gi, sempre ela, desafiou-me a ir buscar ao meu baú, três posts de que eu tenha gostado muito.
Como tenho três blogs, vou postar um de cada blog.
E o terceiro e último post é deste blog. Um texto, que nem é dos meus preferidos, mas foi um dos que de certeza, mais gozo me deu fazer. Eu gosto de fantasiar com as imagens, de imaginar cenários que me são estranhos e de utilizar o sarcasmo, o humor seco, a ironia e mandar umas grandes gargalhadas com a cara de espanto dos outros.
E passo este desafio, ao Carlos do Rochedo, que não deve ter dificuldade nenhuma em escolher três posts, dos imensos e muito bons que escreve e à Su do Oxygényo, porque às vezes, relembrar velhos temas pode fazer-nos bem e ela tem um coração enorme.
Lobotomia
Ontem, assisti a um programa do canal HBO, sobre líderes de seitas religiosas, que escarram as suas vísceras podres e nauseabundas sobre vítimas inofensivas, impotentes e ignorantes.
Distorcem mentes frágeis e corrompem homens, mulheres e crianças, sem dó nem piedade.
São reis e senhores, que dominam comunidades fanáticas, na sua maioria, desconhecedoras do mundo real.
Criaturas de aspecto inquieto, com comportamentos depravados e cobardes que esmagam sexual e emocionalmente, almas desarmadas.
Levantei-me cheia de génio do sofá.
Deixei o jantar no forno, preparado para os que vivem comigo e que não têm culpa das minhas loucuras e saí como um foguete, direitinha para o aeroporto metendo-me num avião para o Iowa.
Mal lá cheguei, aluguei a furgoneta a um barbudo agricultor de milho, que ainda me ofereceu duas enormes abóboras, quatro frascos de melaço para panquecas e um leitão cor-de-rosa.
Segui viagem.
Entrei pela seita adentro, atirei-me aos colarinhos, daqueles porcos polígamos, pedófilos e violadores, cuspi-lhes no focinho, enfiei-os na minha centrifugadora, no programa longo, de 95Cº e guardei-os nos bolsos das jardineiras de ganga azul que o agricultor me emprestou.
Ainda regressei a casa, mesmo a tempo de dar um grito às amigas para uma noite divertida e bem passada.
Fizemos interessantes experiências de anatomia.
Esmagámos olhos desleais e aflitos, estripamos partes íntimas, frouxas e inúteis, fizemos bolas de sabão com gases borbulhantes de cor verde que fluíam do estômago, jogámos à fisga com unhas velhas e secas, dissecámos e retalhámos órgãos cancerosos e ainda juntámos as agulhas para fazer croché com os fios da peçonha que escorregava.
E enquanto o meu novo leitão se deleitava com a carne fresca e sumarenta que tinha ficado agarrada ao que restava das ossadas, fomos para o jardim, assistir hipnotizadas ao nascer do sol, lambuzando-nos de requeijão com doce de abóbora do Iowa.
Patti, 14.03.08