terça-feira, 28 de abril de 2009

biografias # 3

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No centro da foto de 'família', sentada no meio das suas meninas, encontra-se a portuguesa Maria Leocádia da Silva Alvarenga, proprietária da mais refinada casa de alterne do estado do Texas.
Viúva de um português rico, aventureiro e mulherengo, que numa das suas viagens ao Canadá, visitando as famosas cataratas do Niagára, se arriscou demais no passeio para impressionar a sua então amante e caiu, partindo para sempre deste mundo, junto com a queda da água para nunca mais ser encontrado.
Maria Leocádia, que o aguardava na sua fazenda em El Paso, recebeu a notícia do seu desaparecimento e pior ainda, que toda a suposta fortuna fora desbastada pelas inúmeras amantes do marido.
Vendeu tudo o que tinha, pagou dívidas, calotes e hipotecas do estupor com quem fora casada e abriu no centro da cidade, o Salão Social e Recreativo: Leocadia Falls.

E da esquerda para a direita temos ...
1ª- Filha adoptiva de fazendeiros do Mississipi, mortos por escravos revoltos, escapou por um triz à chacina, por andar nesse momento a cantarolar perdida no meio dos campos de algodão.
Arranjou trabalho na cidade, cantando em velórios, casamentos e baptizados. As músicas que saíam de dentro dela chegaram aos ouvidos de Leocádia, que logo tratou de lhe oferecer salário dobrado e protecção.
Os clientes mais sensíveis e refinados, perdiam-se de amores por aquela voz rouca e sensual, que aquecia os seus corações, entoando melodias aprendidas entre os negros das plantações, com letras cheias de conotações amorosas e sexuais.
Era ver os homens de Pulquéria Blueswoman, a suplicarem-lhe uma breve nota musical, uma simples frase mal cantada ou mesmo um som vago e mal definido e já os deixava em êxtase total. Nos seus aposentos vivia-se um ambiente de pré Rhytm and Blues.

'Açoites Cantados no Tronco' era o serviço que prestava, com mais sucesso entre os seus clientes.

2ª- Descendente de índios, mendigava esfarrapada pela cidade e em troca de comida, previa o futuro
aos habitantes fazendo leituras em pêlo de búfalo.
Leocádia apanhou-a uma noite a vasculhar no lixo do salão, no beco das traseiras. O seu olho para o negócio, viu naquele rosto exótico um excelente investimento. Recolheu-a, amparou-a ofereceu-lhe protecção e decidiu chamar-lhe Hedviges Arizona.
A índia encantava os clientes, entoando cânticos em dialecto indígena, bamboleando o corpo com danças tribais e contando histórias sobre as antigas crenças do seu povo.
Envolvidos naquele ambiente pagão, mas ao mesmo tempo ignorantes e receosos do poder de toda aquela mística, que não sabiam ser muito bem encenada por Hedviges Arizona, era vê-los agora, pobres colonizadores, prestarem-lhe vassalagem e esquecendo guerras territoriais reduziam-se a meros objectos sexuais.
O fetiche mais requisitado pelos clientes era a 'Escalada ao Totem'.

3ª- Fora criada no coração de uma seita religiosa semi-secreta, no Utah. Fugiu, no mesmo dia em que soube ter sido escolhida para ser a 16ª mulher, do octogenário líder religioso e chefe da sua pequena comunidade.
Entrou no salão de Leocádia, altiva e dominadora, disposta a que jamais algum homem lhe desse ordens.
As exigências que fazia a todos aqueles que requisitassem os seus serviços, eram extremamente rigorosas. Os clientes teriam de jejuar durante quatro dias, construir-lhe um pequeno altar, chamá-la de Zita a Nova Luz e prostrarem-se sempre de joelhos diante de si.

Só assim poderiam subir aos seus aposentos, onde todos os serviços prestados eram realizados num ambiente negro e pesado, carregado de cheiro a incenso e iluminado aqui e ali por uma vela de luz ténue.
O fetiche eleito era 'Ao Encontro do Apocalipse'.

4ª- Descendente directa dos primeiros colonos ingleses do
Massachusetts, exibia um sotaque britânico perfeito. O seu nível cultural era tão alto, que não conseguiu arranjar trabalho em nenhum lado e só Leocádia lhe estendera a mão, alcançando de imediato que ela seria a perdição total, do pequeno grupo de clientes masoquistas do salão.
Aquele restrito número de clientes cowboys e perversos, encontrava-se desejoso de sofrer nas suas mãos todas as injúrias, humilhações e punições, ao som de ordens pronunciadas no inglês mais puro e arcaico, soletrado pela voz de Gertrudes New England.
Gritos irados de stupid cowboys, you smell like a fucking cow, God save our king and not your president e british boys do it better, vinham do seu quarto, satisfazendo as delícias e os desejos dos clientes vaqueiros sado-maso.
A depravação eleita por aqueles genuínos cowboys era, 'Please, send me an Apple Pie'

5ª- Trazia uma única e minúscula pepita de ouro nos bolsos rotos do vestido, quando bateu à porta do salão de Leocádia, pedindo guarida. Viúva de um antigo garimpeiro de Sacramento, foi abandonada à sua sorte sem nada de seu, quando lhe assassinaram o marido numa rixa de ganância provocada pelo mineral brilhante.
Saturada de rios e correntes de água, peneiras e gravilha, escavações e dinamites, que lhe tiraram anos de vida e a obrigaram a uma existência de quase escravatura, Bonifácia Golden Stone era a perita do salão de Leocádia, em extorquir aos clientes pequenas fortunas.
Elaborava jogos eróticos sismológicos, brincadeiras sexuais tectónicas e galhofas de aluvião, que apimentava com um vocabulário técnico da mais pura geologia, deixando-os literalmente petrificados e duros como uma rocha.
'A Grande Corrida ao Minério' era o serviço mais pedido.

Links: biografia #1, biografia #2

28 comentários:

António Conceição disse...

Interessante.

Nina disse...

Caramba que vidas, que histórias!! Cantoras, criadoras de jogos... Leocádia era uma mãezona e sabia organizar as coisas com faro mt bom.

Nossa, adoro essas fotos antigas e as histórias que vem junto, boa Patti!

Laetitia disse...

Bemm!

Que fantástica história.
Eu adoro estas coisas...

Já escreveste sobre a Bella Otero?

Beijinhos

Anónimo disse...

Interessantíssimo. Gostei de ler.

Teresa Durães disse...

o masoquismo sempre me fez confusão

CPrice disse...

Patti que talento!
Estive lá e convivi com todos eles.

Gi disse...

Mas que sexteto tão bem afinado.
É só dallas, arreganhá-las e arregaçá-las.
Nem percebo porque estão tão sisudas. São tão sapientes! Yummy just lovin' it!
Isto é ficção, vaco-ficção, equídeo-ficção ... já vi que não é auto-ficção. ;)

PAS[Ç]SOS disse...

Haja imaginação! Por aqui não falta!

pedro oliveira disse...

Há que dar a volta por cima, literalmente.
bjs

Filoxera disse...

Adoro estes documentos: fotos antigas.
Vejo que ando a perder preciosidades que escreves e sei lá quando poderei lê-las.
Mas assim que tiver as coisas novamente nos carris tentarei.
Hoje, numa passagem pela biblioteca para aceder à net, deixo-te um beijo.

Luísa A. disse...

«Seis em um» é mais do que aquilo que, nos momentos de maior optimismo, ousaríamos esperar, Patti. Os passados são muito interessantes. Fica-nos a imensa curiosidade de conhecer os futuros. :-)

Rosa dos Ventos disse...

Muito bem engendrada toda esta trama e apenas com a apresentação das personagens!

Abraço

Pitanga Doce disse...

Ó Patti, não sei se é por não estar em melhores dias mas acho que estas senhoras da foto não sabiam chegar ao Totem, não! Aliás com todas essas saias, era difícil chegar. hehe

beijos, menina de imaginação fértil.

salvoconduto disse...

Ora aí está uma ideia com pernas para andar, montar uma casa de alterne na Loja do Cidadão.
O pessoal já não se exasperava, sempre estava entretido nas logas horas de espera e ao mesmo tempo acabava toda e qualquer discussão em torno da Loja do Cidadão de Faro pois ser-lhe-ia concedido o privilégio de ser a primeira a abrir ao público.

Para dirigir e controlar o negócio uma tal de MFL que no que toca finanças já tem experiência. Para controlar as mininas uma tal ex de Pinto da Costa que também não deixa a sua experiência por mãos alheias.

É um nicho de mercado que estará sguramente imune à crise. Preciso de sócios com capital, da selecção das mininas encarrego-me eu.

Rita disse...

As Sras. da foto, tão puras e castas, devem estar a dar voltas na campa com esta biografia que fizeste delas, ou talvez não...
Jokas

paulofski disse...

Mais uma vez, gostei bastante.

Leocadia Falls, que nome "interessante" e sugestivo para tão recreativa sociedade!

Isabel Maria Mota disse...

Que fantástica história... que viagem intensa... já nessa altura a diversidade era o tesouro para o negócio... gostei da foto, da "viagem" e do texto que reúne tudo isso...
um enorme beijinho, isabel

cristina ribeiro disse...

Verdadeiras mulheres d'armas, essas...também elas morriam de pé.

continuando assim... disse...

gostei de ler...

ao centro a dona ...viúva dum português ,,,hilariante :)

f@ disse...

Naquela época esse salão de chá apimentado devia estar com resmas de clientes...

Boa é a ideia do Sr. Salvoconduto...lol...

beijinhos

Mike disse...

Li com sorrisos entre gargalhadas. E dei por mim a pensar na zona dos frescos ou do pronto-a-comer. (risos)

Patti disse...

Mike:
Nesta altura os encontros faziam-se à beira da salgadeira! (gargalhada, durante +/- 10m)

BlueVelvet disse...

Que imaginação!
Embora tenham todas um ar assustador deviam fazer as delícias dos clientes.
Naquele tempo, como hoje, aqui está um negócio que nunca entra em crise.

Bacouca disse...

Patti,
Imaginação, mais imaginação, mais imaginação que tornam um "quadro" tão realista!
A Beatriz deve-se encantar com as suas fantasias mas no fundo perguntar: será verdade?!!!

Mike disse...

(gargalhada... rebolo a rir... os meus filhos ponderam internar-me)

ematejoca disse...

Há o PRÉMIO "BEST BLOGGER AWARD 2009" no "ematejoca azul" para ti, Patti!

LeniB disse...

Simplesmente fantástico!!!
Gostei especialmente do remate final...

Su. disse...

O que eu me ri!!
Alias, eu ainda estou a rir...

Só tu para nos ofereceres uma americana da melhor, caramba, um must.

Parabéns, está excelente.