terça-feira, 27 de maio de 2008

afecto precisa-se


A minha primeira reacção é ficar sem resposta imediata. Mas demoro um pouco e já sei o que penso sobre o assunto. E depois, já não sei outra vez. Mas depois penso e talvez já saiba novamente. Mas penso mais um pouco e …

A grande maioria de crianças que estão em instituições de acolhimento familiar nunca serão adoptadas e uma percentagem significativa tem família e deverá um dia voltar para ela. Não será melhor repensar a questão da adopção em Portugal? Os termos, as burocracias, as esperas… E todo este processo não teria de passar por outras opções, já que o drama é imenso? Não é tudo uma questão de colo? Mas que colo?

E a adopção por parte de casais homossexuais, não poderá ajudar a ‘esvaziar’ as instituições de acolhimento? Não é a criança que está em causa? Não é ela o ponto essencial de tudo? O interesse supremo? Será que é melhor para uma criança normal ou deficiente, que ninguém quis, ficar numa instituição, do que ser adoptada por um casal de homossexuais?

A pressão social a que estes pais e esta criança se irão submeter por parte de uma sociedade mesquinha, compensará o facto dela viver num ambiente de amor? Diferente. Mas em família. E o filho do preto? Também não é discriminando na escola dos brancos? E pinta a cara doutra cor? E o filho do judeu ou do muçulmano? Muda de religião por isso? Mas desde quando é que as crianças têm de ser educadas dentro de uma redoma, fugindo da realidade? Quem garante, que sendo a criança adoptada por um casal heterossexual, receberá melhores valor e formação. Melhor colo? Alguém pergunta alguma coisa à criança?

Será que o bem sucedido desenvolvimento social, emocional e físico de uma criança, passará pela forma como os seus pais optaram por se relacionar sexualmente? Não será pior uma criança viver toda a vida com uma mãe alcoólica ou com um pai violento, ou toxicodependente do que saber o que os pais homossexuais fazem um com o outro na cama? Será que um casal heterossexual saberá mais de criação, educação, amor, que o outro casal de homossexuais? Não estou a falar em parir, em conceber ou fecundar. Estou a referir-me a criar, educar e amar. Coisas muito diferentes. Um filho escolhido, como é o caso do filho adoptado, não será tão amado como o filho que foi planeado? Não será até mais altruísta o acto de adopção? Vindo ele de quem vier?

Não gosto mesmo e até me revolta, ver os movimentos de homossexuais fazerem da adopção uma bandeira para fazer valer os seus direitos. Assim como me enoja os argumentos moralistas e decadentes dos defensores da heterossexualidade. A criança deve estar sempre em primeiro lugar. Nunca deverá ser usada nem por uns nem por outros. E em ambos os casos, isso não é lembrado muitas vezes. Esquece-se a criança na guerra das acusações entre as partes. Vale tudo. A criança, essa, continua sempre na instituição até que os medíocres se entendam. Mas quem é que decide o que é ‘normal’?

Partindo do argumento de que filhos de homossexuais serão também homossexuais é claramente preconceituoso, porque pressupõe que ser assim é negativo. E não adianta fazer boa figura dizendo que são contra o preconceito e que aceitam a diferença entre sexos na boa, porque é mentira! A grande maioria da nossa sociedade é preconceituosa. E os filhos dos ladrões? Serão todos ladrões? E os filhos dos pedófilos, dos assassinos, dos criminosos, dos violadores? Serão todos escroques sanguinários? Um casal que se separa ao fim de alguns anos, porque um dos dois assumiu finalmente a sua opção sexual, oposta à que até aí tinha vivido, deixou de ser bom pai ou mãe só por isso? Os anos que dedicou, amou e educou os seus filhos apagam-se? Esquecem-se? Anulam-se?

Que país é este que não permite este tipo de adopção mas é totalmente permissivo com um pedófilo, que ao fim de 10 anos tem o cadastro completamente LIMPO? E aí poderá adoptar ao abrigo de uma lei que o protege e o oculta. Uma lei que permite e perpetua o seu crime abominável. Que nojo! Que país é este que tem leis onde se entregam novamente os filhos, a pais carregados de droga e de violência física, só porque são os biológicos? Será que é para depois os afogarem no Douro? Ou é para os encherem de tareia quando choram de fome, ao ponto de irem morrer nos hospitais públicos? Que sociedade é esta, que sempre que eu chamo a polícia porque o meu vizinho espanca a mulher e os filhos, ele volta a casa passadas umas horas, como se nada fosse?

“O governo admite a possibilidade dos casais homossexuais poderem candidatar-se a acolher crianças em risco, ao contrário do que acontece com a lei de adopção” (Fonte Rádio Clube Português) Então, eu entendi bem? Aos homossexuais não lhes é permitido adoptar crianças, mas acolhê-las quando estão em risco já é possível! Coitadinhas, já que vivem situações de risco, pronto, já não se perde muito e até podem conviver com os perversos. Do mal o menos. Será normal? Muito complicado tudo isto. Ridículo até. A única razão que me deixa ainda algumas dúvidas, poucas, mas não deixam de ser dúvidas, é o facto de ainda vivermos na pré-história em relação ao preconceito. E a criança vai pagar segura e duramente por ter pais homossexuais. E por isso, às vezes sei e outras vezes não sei. Mas acho que sei mais, do que não sei.

O mais estranho é que ouço e sei histórias de heterossexuais, pais de família, que enfiam constantemente o pénis em sítios no mínimo bizarros, mas ainda não vi nenhuma instituição entrar-lhes pela casa adentro e levar-lhe os filhos por causa disso.

20 comentários:

Rocket disse...

conheço um caso.
o rapaz foi acolhido por um casal gay, naturalmente à revelia da lei, com discrição...como se fosse um animal perdido, o que neste país não é difícil...

é heterosexual e teve tudo aquilo que um filho tem direito, com a melhor qualidade possível.

infelizmente muita gente ficaria a perder se comparasse os seus progenitores com aqueles...

Suelly Marquêz disse...

Creio que a vida tem se tornado um verdadeiro mercado de exposição áos conceitos que a midia dirige,e o Estado, e a moral pelo ralos se esvae, mas se existem pessoas com capacidade para adotar as crianças colocadas á orfandade, porque não, que sou eu para julgamento, e quem outros mais haverão de decidir, a nao ser aquele olhar á primeira vista, a criança olho no olho de seus futuros pais,interessa se heteros ou homossexuais? são pais.
a escolha é dela da criança, tenho experiencia na vida humana e na de animais, eles escolhem por afinidades, com quem querem ir ou ficar, daí por diante será o destino, a lhes guiar, ser ou nao bons pais, quem sabe o que seremos pros nossos proprios filhos?
adorei a materia, muito o que pensar!
beijos PATTY
suelly das geraes

Gi disse...

Pois é ... o mundo é "mandado" por adultos, fosse ele "mandado" por crianças e seria uma bonita brincadeira ... tão fácil como saltar à corda.

@ღღ@ disse...

tas brava hoje
mas cheia de razão ;)
e eu cansadita
de tanto km
volto com mais calma
para ler os outros posts

beijos

Anónimo disse...

É um tema muito complexo...O amor que um casal homosexual pode dar a uma criança pode ser igual ou maior ao de um Heterosexual, mas será muito dificil para a criança compreender e fazer compreender essa situaçao aos amigos, aos colegas...e as crianças sao crueis!
Essa criança poderá ter sempre problemas psicologicos. A meu ver, por muito que nos empenhemos em aceitar, nao sao situaçoes normais. Uma amiga minha adoptou uma negrinha e a propria menina diz que quer que o " irmao " a vá buscar á escola pq os colegas riem-se dela e nao acreditam que tenha um irmao branco!
Nos tempos que correm ainda existe muito preconceito e por isso essas crianças tb sofrem.

Olá!! disse...

Pois é Patti, convenhamos que há que analisar BEM a quem se entrega as crianças, mas este país não analisa nada, PRORROGA e ATRASA e CASTRA qualquer tentativa de pessoas que genuinamente tem algo para dar a uma criança....
Lastimável e absurdo o que se passa a nível de adopção, mas é "só" mais um ponto negativo
**

f@ disse...

Pois ... as crianças tem de aceitar explicações vazias de tudo... porque pessoas ditas normais cometem os erros + macabros que alguém pode imaginar... bem que as crianças têm imaginação fertil e poderam assim + fácilmente inventar desculpas para as asneiras dos adultos....

De dentro pra fora disse...

BOm.. o assunto hoje é da pesada,... confesso que também eu ás vezes fico com duvidas, mesmo só por causa da descreminação que as crianças irão sofrer, mais nada...
tudo será melhor do que viver numa instituição, sem um colo, quando á tanta gente, seja hetero ou não, há espera para poder dar o tanto que teem a quem tem tão pouco...
Sem duvida á burocracia a mais neste assunto,o mais importante não será dar um lar a quem não o tem!? há quem até tem uma casa, mas não tem um lar...

Coragem disse...

patti, este assunto de crianças mais propriamente em instituições, deixa-me revoltada.

Nem tudo se faz em beneficio da criança, isso garanto já.

O preconceito neste País é tremendo, e ainda existe muitas pessoas que não se sentem preparadas para lidar com ele.

Incluivé magistrados.

Beijinho

Pitanga Doce disse...

Patti, no momento em que, aqui, estamos vivendo a situação monstruosa do pai e madrasta que jogaram a filha de cinco anos pela janela (estão presos mas a Defesa está fazendo de tudo para soltá-los) eu não sei o que te diga. Quem tem mais amor? Quem sofre mais? O que as crianças preferem? Um orfanato em que são apenas mais um número ou uma cama quentinha com alguém que lhe chame pelo nome e lhe conte histórias até adormecer?
No dia em que fui ao cinema havia um casal gay que se sentou ao meu lado. Eu percebi pela maneira como se tratavam e quando um foi buscar pipocas para o outro, mas nada que me agredisse ou fosse chocante. Estavam ali para ver o filme, como eu. Nenhum falava fino ou desmunhecava. Isto é ser homosexual pela simples escolha de ambos. E não é uma escolha fácil e deve atingir toda a família.
Mas aí, vêm aquelas "coisas muito loucas" que querem aparecer e estragam tudo. Que vão para a TV a dar beijos na boca e de maozinhas dadas e dizem a frase aterrorizadora: "Agora só falta termos um filho". Que Juiz vai delegar poderes de pais a estas figuras loucas? Paga o justo pelo pecador.
O que teria sido da Esmeralda( ou Ana Felipa) se não houvesse aquele casal que a adotou? Estaria viva?
E se a Política Social se voltasse mais para o Planejamento Familiar?

Se não houvessem tantos "SES" as crianças estariam bem melhor.

beijos, Patti, e quando puder, vai ver o filme. Vais adorar!

Pitanga Doce disse...

E já agora, hoje é o Dia Do Vizinho. Vai haver festa no Blogobairro? hehe

Patti disse...

Pitanga:
Há todos os dias, até agora, com as vossa visitas e comentários.

LeniB disse...

A mim não me perturba mesmo nada que uma criança seja adoptada por homo ou hetero, conquanto seja bem tratada.
O problema no nosso país é que a triagem é desmesuradamente longa e enquanto a burocracia emperra a adopção, as crianças continuam em instituições.
Uma colega minha mais o marido demoraram menos de um ano a tratar do processo de adopção de uma criança estrangeira, através de uma organização estrangeira, fartos que estavam de esperar por uma resposta neste país da treta. Ao fim de 2 anos nada lhes garantia que ficassem com a criança.
Enfim...portugal dos pequeninos...

1/4 de Fada disse...

Este é um assunto muito difícil, porque não trata de um, mas de vários assuntos - a homossexualidade, as várias dificuldades inerentes à adopção no nosso país, os imensos preconceitos que existem na nossa sociedade, o abandono das crianças... Acho que é sempre preferível para a criança ter uma família que a ama a estar numa instituição, mas é uma decisão bem difícil. Conheço e convivo com homossexuais- uns têm filhos e outros não. Os que os têm - assumiram-se já tarde - são óptimos pais; os que não os têm, solteiros ou não, não tiveram filhos por opção não ligada à sua escolha sexual, e acho que foi uma opção correcta, porque na minha modesta opinião não deveriam ser "grandes" pais.
mas como disse, é um assunto muito "bicudo".

paulofski disse...

O que realmente interessa é terem-se garatias da criança adoptada será feliz, será amada, será educada, será respeitada. Tenho cá para mim que mais tarde ou mais cedo estas mentes distorcidas serão convencidas.

Bjs.

BlueVelvet disse...

Postezinho difícil este!
Até porque também tenho tantas dúvidas...
Dúvidas não tenho àcerca do que deve estar em causa: o bem da criança.
Sempre.
Mas acabei neste momento de ouvir que o STJ indeferiu o recurso dos pais afectivos da Esmeralda e ordenou a entrega ao dono do espermatozóide. GRRRR
Mas, voltando ao teu post, tenho dúvidas quanto à adopção pelos homossexuais tão só pelas consequências futuras, ou seja, pela discriminação de que vai ser vítima.
Embora, deva confessá-lo, não ache despiciendo o facto de fazer falta a uma criança uma figura masculina e outra feminina na sua vida.
Mas isso ou a rua?
Isso ou uma instituição?
Há uma coisa que tenho a certeza: tudo o que é contra natura, tem custos.
Por exemplo: há pouco tempo, foi noticiado aquele caso de um homem que virou mulher, mas manteve o útero.
Agora está grávido e quando tiver a criança, quem é a mãe, quem é o pai, quem vai explicar isto tudo à criança quando ela crescer?
No fundo, acho que em todos estes assuntos, o que deve imperar é o bom senso e o superior interesse da criança.
Beijinhos e veludinhos azuis

maria inês disse...

De facto vivemos num país de burocracia e papelada! É lamentável perceber que muitas vezes essa discriminação é provocada pelas próprias instituições!

Enfim, pensar de vez em quando nas crianças, era óptimo!

Filoxera disse...

Concordo plenamente contigo. Vamos lá pôr de lado preconceitos mesquinhos e dar condições de vida familiar a tantas crianças à espera de amor. Esta devia ser uma prioridade nacional.
Beijos.

PDuarte disse...

Um tema complexo.
Muito complexo para ser abordado por aqui.
Compreendo-te.
Mas não concordo na genaralidade.
Mas não me apetece fundamentar a minha opinião.

Que sitios bizarros são esses?
Fiquei curioso.

SC disse...

Eu também tenho a convicção que uma criança na sua formação de base, estruturante, precisa de afecto, de cuidados permanentes, de acompanhamento. E isso pode ser dado por qualquer pessoa que se interesse, independentemente da sua escolha sexual.
No geral, a sociedade está a precisar de (re)educação, desempoeirada, no sentido de quebrar tantos e tantor preconceitos.