segunda-feira, 23 de junho de 2008

mais do Verão

Esta foto foi-me ’oferecida’ pela Annie Hall, do belíssimo blog, Outsider. Gostava ela, que eu me inspirasse na sua imagem, para reviver memórias. Pois aqui estão Annie e espero que goste. No blog da annie, as imagens falam, têm vida própria e se o La Fontaine fosse vivo teria um blog igual ao dela.


Quando chegava o tempo bom, ia-se espreitar as modas na loja de tecidos e fazer os aviamentos na capelista, a D. Maria; comprar botões e fitas coloridas, que vinham sempre em embrulhinhos de papel, com as contas do preço feitas a lápis. Já tínhamos tudo escolhido no Novo Figurino e na Burda, os moldes separados, as metragens definidas e os modelos preferidos.

Cá fora, a rua servia de montra e o Sr. …. como é que ele se chamava?, colocava tudo no passeio, ao sol e ao vento. Com o vento, as peças de tecido, de ponta caída, pareciam bandeiras a fazer, clap, clap, clap. E ao sol …

… ao sol, eu acho que as florinhas se riam e brincavam umas com as outras. Acho mesmo. Cambraias leves, com tom de gelado, sedas importadas, algodões de xadrez miudinho, chitas floridas, linhos frescos e muita cor. Tudo exposto com o jeito e o marketing da época. Lá dentro estavam as promoções, os retalhos da outra estação, que não se tinham vendido. Também levávamos. Para as brincadeiras com as bonecas. Mãe, tens retalhinhos para eu coser? Ainda hoje gosto de retalhos. E de bonecas.

Oh menina, chame a mãezinha e venha ver as novidades! A minha mãe tem daquelas mãos, que fazem coisas de deixar a inveja morta de raiva, a espumar, mesmo. Eu gostava de vestidos compridos e de alças, com folhos, pregas e muita roda. Dos encarnados com branco. Escolhiam-se os algodões e as cambraias e punha-se a velha Singer a pedalar. Eram estes os trajes de Verão, a novidade da Burda, a roupa nova daquele ano, que pedia chinelas ou socas de madeira barulhenta. E chapéus de palhinha ou panamás de algodão branco, que cheiravam a alfazema de estarem tantos meses, guardados nas arcas da roupa. E depois desfilava pelas ruas, a comer amendoins, tremoços gordos, pevides e pinhões.

Em cartuchos de jornal velho.

23 comentários:

Coragem disse...

Apesar desta vez, não me rever na tua infancia, não posso deixar, de te dar uma vez mais os parabéns por este belissimo texto.

A imagem faz-me lembrar ainda algumas das lojas aqui por este Aentejo.

Miuda, és uma verdadeira escritora...

Beijinhos

f@ disse...

Lindo e escrito como se de um poema se tratasse... acho que não é possivel descrever melhor aquele tempo... assim com esta imagem e o que acabei de ler pesa o tempo e são boas as saudades... que com os restinhos de tecido fazia eu vestidinhos de bonecas...
Lindissimo post...Patti parabens e bj das nuvens

Pitanga Doce disse...

Olha, mexeste em duas coisas complicadas para mim. Primeira: aí nas Beiras há uma loja assim e eu a adoro. É do Senhor Valeriano. Não tem nada informatizado nem nada dessas modernices mas eles acham tudo o que queremos. Desde os botões até às sabrinas quando os meninos vão para a Educação Física.(ainda chamam sabrinas?)Quando dá a hora do almoço, ele fecha a loja e deixa tuuudo na calçada. Edredons, conjunto de toalhas de banho, passadeiras. Eu sempre disse que ia tirar uma foto para trazer para aqui, mas nunca o fiz. Que boba que eu fui! Aqui ninguém acredita nisso.

Quanto a parte de escolher tecidos eu nunca vivenciei isto. Sou a caçula de tres irmãs e eu não podia sequer herdar as roupas delas porque a diferença de idade é grande. Então como elas eram "as meninas- moças", a criança aqui nunca tinha vez.

Mas eu cresci! E fiquei tão lindinha! hehehehehehehehehehehe

beijos, Patti

Nina disse...

Isso me lembra quando nós éramos pequenas, eu e minhas duas irmãs e a mamãe pedia às costureiras que fizessem sempre três vestidos iguais, só mudava um detalhe aqui outro ali, a cor, uma flor, enfim, mas o modelo sempre igualzinho. Eu adorava, porque assim ficava me sentindo linda, igual a elas, mas elas se rebelavam contra a ditadura dos 3 vestidos.. bons tempos viu Patti?!!

à propósito, sim, a net continua com problema, mas segundo a operadora, hj normaliza. Assim espero.
Um beijão.

Borboleta disse...

Pois é, acho que devias considerar e escrever um livro ou até mais do que um!

Cada vez que aqui venho e leio um post teu, quase que me perco e esqueço que estou ao computador!

Por favor nunca deixes de escrever!

Quanto ao post...não vivi muito essa época, mas tenho a sorte de neste momento viver numa cidade em que isso ainda acontece, embora já cuase ninguém dá por isso.

Gosto das tradições e do antigamente e para os meus anos , fiz exactamente isso, fui á procura de tecido, do fechos, etc...tudo para compôr um vestido.

Resultado: ele é lindo, é meu e ninguém tem um igual ;)

Beijos

@ღღ@ disse...

lindo patti lindo ;)

na martinica ainda ha dessas loginhas ;)

Vera disse...

Bom Dia Patti!
Lindo como sempre!
Cheio de recordações que também são as minhas! É bom que as nossas Filhas já tenham Zara, Bershka, Stradivarius, etc, etc, mas esta forma de ter guarda-roupa novo era muito divertida. desde a escolha dos tecidos, passando pela escolha dos feitios nos figurinos, acabando nas provas e nos alfinetes!
Era uma festa quando chegava a roupa nova!
Lindo!
Bjks
Vera

Olá!! disse...

Tu tens o dom de me fazer rever cheiros, cores e momentos...
Magnífico texto Patti :))

Nem te conto a única vez que tentei fazer uma saia sózinha, uma mistura de chitas, o pior é que achei que estava uma beleza e ainda a usei uns dias, até as costuras começarema a abrir LOL
Beijossssssssssss

anniehall disse...

Gostei , bem-aja .
Logo volto para comentar /conversar .

Anónimo disse...

Olá Patti,

Tal como a Coragem, tb nao passei por situaçoes como tu descreves, e muito bem como sempre, na minha infancia. Como deves calcular, quase sempre vestiamos roupa da n/ loja! Mas por curiosidade vou perguntar á minha mae...eu sei que ainda exitem uns vestidinhos guardados aí por casa!!!
bjos

1/4 de Fada disse...

Oh Patti, que boas recordações que me trouxeste! Dos tempos em que o tempo era longo e rendia, em que eu fazia roupas com moldes da Burda e escokhia tecidos e fitas... Ainda fiz roupas para os meus filhos, mas foram as últimas. O que é que aconteceu ao tempo? Andaremos nós "em busca do tempo perdido"?

Rocket disse...

acreditas que nos meus 18/19 anos mandava fazer camisas com tecidos destes?...
...3 anos depois começaram a aparecer nas lojas...

cornucópias, flores...

paulofski disse...

É na velha Singer que a minha mãe ainda dá cor e forma a trapos e bordados. Pedala horas e horas, ganhas em roupas lindas, obras de arte de tecidos imaculados, ao longo de 50 anos de cumplicidades, que nos vestiram e nos fazem sentir o seu aconchego.

LeniB disse...

Também me recordo de ver umas revistas do género lá por casa...lembro-me da mesa da sala estar coberta com papéis, alfinetes, tesouras...apesar da minha mãe ter sido sempre mais dada às rendas....contudo, conheço alguém que fazia uns vestidos de ir às lágrimas para a neta, com muitos folhos...muitos folhos, daqueles pirosos com os tecidos que restavam dos cortinados...era uma alegria!! os cortinados condiziam com a fatiota da petiz...ou era o contrário??? Olha, não me lembro!!!

Unknown disse...

Gostei desse pormenor... "em cartuchos de jornal velho",
detalhe subtil e muito actual, nesse final, sorri.

liamaral disse...

Olá Patti e obrigada! Também me recordo das lojas que nos serviam tão bem que nos sentiamos uns verdadeiros ases da moda! Um grande beijinho e continua com os teus textos e temas maravilhosos!

:)

Pitanga Doce disse...

Quando puderes, volta lá na Blue que deixei um recado pra ti.

"BOND, MEU NOME É BOND". hehehe

Gi disse...

Ai, mulhere, que tu gostavas do mesmo género de vestidos que eu e das mesmas cores ... já que tinha que andar vestida, que fossem estes que nos davam liberdade :)

Anónimo disse...

Um belo retrato dos tempos tão longínquos mas que passaram tão depressa. Belo post.

PDuarte disse...

Tu és das nossas.
Sai da selva e vem para cá.
Faz o que me fizeram, e ainda bem que o fizeram.
Aí não se comem tremoços gordos, pevides e pinhões.

PDuarte disse...

Tu podes nem te apreceber, mas escreves mesmo muito bem.

Anónimo disse...

Patty não me digas que falas da D. Maria da Cruz Quebrada!
Excelente relato este. Na minha terra, a modista ia a casa do cliente um ou dois dias, fazer as fatiocas.....Máquina à cabeça, e lá ia ela!

Rosa dos Ventos disse...

Com este post voltei a ouvir o ruído da velha Singer da minha mãe que era uma artista e nos fez, até bastante tarde, os nossos belos vestidos. (meus e da minha irmã)
Obrigada