O curador deu a última volta aos papéis da sua secretária, apagou a luz do candeeiro de mesa e quando esticou a mão ao bengaleiro, para retirar a sua gravata, não a encontrou. Achou estranho. Lembrava-se perfeitamente, depois da última reunião do dia, com aquele mecenas belga, de a ter desapertado e pendurado ali.
Rodopiou sobre si, numa tentativa de encontrar uma ponta de encarnado, mas nada. Resolveu então abrir a porta e sair da sua sala. Achou ridículo, mas ia perguntar à sua secretária Laurinha, se a tinha visto. Não gostava nada de confianças com o pessoal, ainda por cima, de perguntar por roupa perdida, mas... adorava aquela gravata.
No mesmo instante em que ia abrir a boca, percebeu logo que a secretária não só tinha visto a gravata, como também a havia experimentado.
Pendurada no lustre de cristal baccarat, do hall, 45 quilos de Laurinha, esgazeada de todo, de olhos revirados e língua azul, tombava a cabeça para o lado esquerdo, babando a sua gravata encarnada de seda.
Que maçada! - pensou. Dificilmente aquelas manchas iriam sair.
Recompôs-se e ainda aparvalhado com a cena, que se apresentava perante os seus olhos, o curador só se lembrou de dizer:
Laurinha! Mas que disparate é esse? Desça já daí!
11 comentários:
Mas que forte sentido de humor Laurinha. 45 quilos! Já não se fazem lustres assim.
Realmente Laurinha !
p.s. humor negro ... fico sempre com vergonha por achar graça -:)
Eu acho mesmo um abuso a secretária que assim experimenta a gravata do chefe sem a sua autorização. Era caso para ser despedida por justa causa.
Bom dia, Patti.
Arrepiante, Patti! Mas há, realmente, chefes capazes de levar a mais sensata das Laurinhas ao suicídio. :-)
Continuas com o humor fininho de sempre.
De facto, perante tal situação, o grave mesmo era como iriam sair as manchas.
E o pior é que acredito que há gente que agiria assim.
Que outro modo de encarar os tempos que correm senão pelo nonsense??
Excelente!
Rua com ela!
Uma abusadora... :-))
Também ri, não esperava este final!
Abraço
Alguém me chamou?? :)
Um beijinho,
Que história tão macabra, mas à qual achei imensa graça!!!
A Laurinha só queria ir puxar o lustro ao lustre.
Belo conto que poderia ser também com qualquer um de nós.
Crónicas simples, bem humoradas e afinal com uma mensagem a reter......
Qando nos agarramos a coisas que passam no tempo...vaidade...
Virei seguir os seus contos.
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