foto de anelson
Hoje de manhã quando abri os olhos, tinha o meu elefante, ao meu lado, na minha almofada, nos meus lençóis de algodão, na minha cama. Comigo. Este elefante não é, nem cor-de-rosa, nem pestanudo com uma flor de hibisco encarnada, atrás da orelha e nem tem um sorriso de orelhona a orelhona. Não. É cinzento, com rugas vincadas e com uma tromba enorme e barulhenta. Entrou-me na cabeça e andou atrás de mim o dia todo. Não me largou. Encostou-se. Entranhou-se. Chamou a família e vieram todos aos tropeções, espezinhando-me as pálpebras, batucando-me as fontes e chocalhando-me os sentidos. Eu que já tinha seis sentidos, fiquei com mais três ou quatro, todos espalhados pelo chão. E se há coisa que dá trabalho, é coordenar e alinhar os meus sentidos.
Enfiei uns óculos escuros, para ver se doía menos. Mas não; quando os elefantes resolvem confraternizar, é o caos na savana. Fazem a festa em compassos ritmados, sempre constantes e num crescendo tão perfeito de fazer inveja ao Beethoven. Batuques de tambores, rituais animalescos, gritos de alegria nos charcos de lama, deitam árvores ao chão para coçar as costas e comer os ramos. Há depois os berros de pânico das manadas de gnus, que entrando em desespero, partem desgovernadas em direcção à minha nuca. Ao fim da manhã chegam as hienas histéricas e sádicas. Agudas. São autênticos tenores. Nunca percebi porque é que estas aparecem sempre; nem sequer gostam de arbustos, as falsas! É para me chuparem o resto de sangue que ainda circula no meu pensamento. Incha-me a cabeça, alucino e encosto-me na almofada. Seguro-me com as duas mãos e tento falar com os bichos.
Não dá para correrem de pantufas? Não conseguem emitir menos decibéis? Porque é que não comunicam sempre por infra-sons? Todos os meses é a mesma coisa. E quando chegou o fim da tarde, quando eu já chorava de desespero, o mais pequenino dos elefantes, depois de espezinhar uma hiena que deu uma nota falsa, encostou-se ao lado direito da minha cabeça e sussurrou-me optimista ao ouvido, como só as crianças elefantas sabem sussurrar, não fiques assim, isso já passa.
Tens mais sorte que a minha mãe e as minhas tias. Aqui na selva não há Trifene. Eu até gosto de elefantes. É impossível não gostar. Mas só devagarinho.
26 comentários:
é impossível não gostar de elefantes... e então dessa foto...também gostei muito dela no dia 22 de abril... LOL
Estes elefantes BABY assim tão fofinhos... ainda te dão um banho de repuxo com a tromba...lol... que tri feno que nada...lololol...
beijinhos das nuvens
maravilhaaaaa !
tens uma imaginação luminosa
e uma prosa a condizer !
parabens adorei !
Eh pá ainda bem que eu não tenho uma selva em mim, já basta eu ser bastante selvagem ;)
...essa de acordar com um elefante ao lado ASSUSTOU-ME, E MUITO!!!
Depois disto tudo, tomaste Trifene???
bjos
Sem dúvida que o texto está fabuloso!
Quanto à selva...quem não tem uma assim? Mas sempre com trifene bem a jeito ;)
A foto é linda!
beijos e bom dia
hahahaha, tenho certeza que isso foi so uma tpm braba kkk. Calma, vai passar!
Belo texto, como sempre.
beijoooooo
Tenho-lhe ouvido chamar muita coisa, mas elefante:)))
Coisinha ruim...a enxaqueca, claro.
O texto, do melhor.
Melhoras para ti
Beijinhos e veludinhos azuis
Fantástico este texto, conforme fui lendo , tive curiosidade em saber quem era o elefante, depois comecei a perceber que só podia ser uma dor de cabeça, e claro está , os comprimidos milagrosos!
como escreve bem essa menina!!
Bom, elefante eu gosto, sao fofos e queridos, me lembra minha infancia quando ia ao circo...
querida, minha net tá um bela duma m...
qd melhorar , venho direitinho te visitar, tá?!
bjs
Nina:
Que falta que você faz!
Também tem um elefante na net, não é?
Nunca me tinha lembrado de lhe chamar isso...
quando fico assim, acho que não tenho forças para lhe chamar o que quer que seja...
comigo funciona muito bem a Aspirina(é um vaso-dilatador), mas ainda bem que só aparece de longe a longe...
A mim, nem o trifene me vale, pudera vivo na selva :)))
Patti, até a descreveres aquelas dores mensais, tão tuas, tão nossas, a graça,a do teu ares, esteve presente.
Imagino a vida sempre a sorrir, mesmo com manadas a correrem-nos pela cabeça :)
Éla...fante!!!
Para variar, adorei o teu texto...
Quando tenho crises dessas retiro-me e entro numa clandestinidade escura e silenciosa, na qual não é permitida a entrada a nenhum animal, mesmo que sejam elefantes tipo dumbo, meigos, fofos, daqueles que dá vontade de apertar a tromba!
Trifene? aqueles comprimidos redondos, vermelhos? Não conheço!
Que linda história!
Espero que essa inspiração continue em grande.
Beijos.
***** (isto são 5 estrelas)!
simples de de ler e fácil de compreender!
Fácil de entender, simples de imaginar. E eu não consigo imaginar o que isso é.
Festinhas.
A enxaqueca, claro, percecbi rapidamente, porque tenho frequentemente, e não há Trifene que me valha, só mesmo drunfos dos fortes, daqueles que deixam uma pessoa meia grogue para o resto do dia, sem saber o que é melhor, se a dita manada se o remédio para ela...
Já tive muita dor de cabeça...brabas mesmo, hoje estão mais calmas...mas qdo chega, prá mim o melhor é Neosaldina....sem elefantes.....
Bjuss de carinho
Espero de alguma forma ter acalmado essa dor... ;)))
Beijosssssssssss
a esta hora já engoliste a caixa trifenal toda...certo???
cá para mim essa enxaqueca foi do caldo knorrrr...
já te avisei várias vezes para não abusares...
Lena:
o que é que queres?
O elegante passou-me pela frente e enganei-me na embalagem!
Dizem que as enxaquecas são terríveis, mas esta tua narrativa deixou-me siderada! :-))
Abraço
há elefantes que nos fazem perder mesmo a cabeça!!!
:)))))
...mesmo sendo um despertar "trombudo"...confesso que gostei.
Olha eu com esta fiquei a bezerrar.
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