segunda-feira, 14 de junho de 2010

meu o início, vosso o final #3


Vai já para uma semana que o vizinho lhe perturba as noites, com as suas intermináveis horas ao piano. Nunca o viu, sabe que é músico e que se mudou para a casa amarela há pouco tempo. Foi a primeira coisa que lhe disseram na vila, quando Maria regressou à sua casa de infância.
Durante o dia ninguém o vê. Trazem-lhe da mercearia as encomendas que ele deixa escritas numa lista, presa numa pedra junto ao portão da casa.
Quando se recolhe no banco de pedra, debaixo do manto de glicínias lilases, Maria espreita a casa amarela por entre a vinha, na esperança curiosa de vislumbrar alguma coisa. Ou alguém.
Mas nada. Há um mês que ali se encontra em recuperação e do seu vizinho músico nem um sinal.
Só notas incómodas de um piano nocturno, que lhe rouba horas de sono.


...e agora, leitores do meu blogobairro, continuam vocês a história. Aqui ou no vosso blog.

17 comentários:

Poetic Girl disse...

Naquele estado permanente de insónia, senta-se no parapeito e fica à escuta. A sua mente vagueia sem destino, inevitavelmente recaíndo sempre no autor daqueles sons dispersos na noite. Quem seria? Como seria? Seriam seus dedos longos? Estremeceu ao imaginar as mãos que tocariam neste momento as teclas do piano, acariciando-as, fazendo-as gemer ao passar do seu toque. Só poderia estar louca em imaginar cenários "sensuais" com alguém que nunca vira. O silêncio da noite constrastava com os acordes que ouvia. Havia algo de sedutor na forma como a música invadia seus ouvidos. Ficavam assim horas, ele a tocar, ela a escutar. E quanto finalmente ele dava por terminado a sessão musical, ela continuava sentada na sua janela, a música ainda ecoando em seus ouvidos...

Pitanga Doce disse...

"Mas nada. Há um mês que ali se encontra em recuperação e do seu vizinho músico nem um sinal.
Só notas incómodas de um piano nocturno, que lhe rouba horas de sono"...

Em outras circunstâncias Maria até poderia vir a gostar do piano, apreciar o dedilhar de melodias ternas madrugada a dentro, sonhar com amores perfeitos ou perdidos no tempo, mas Maria recuperava-se de uma grande desilusão e o piano só fazia aumentar a dor.

anniehall disse...

...então ao fim deste mês de noites perdidas Maria encheu-se de coragem e decidiu dar-se a conhecer.
Ia falar com ele .
Batia na porta quando ele estivesse a tocar , ou melhor iria lá a casa anes de anoitecer ...antes de começarem as intermináveis horas de notas incómodas.
Assim vestiu uma roupa de boa vizinhança , nem muito aprumada nem demasiado "chez-moi". Respirou fundo quando tocou à da porta da casa amarela .
Quando ouviu o som da campainha recuou , afinal o homem estava em casa e apenas tocava um piano que não lhe agradava....mas a porta abriu-se antes que tivesse tempo de desaparecer .
quando ele :-"boa noite , queria alguma coisa?"
ela respondeu com um sorriso :-"boa noite , tenho ouvido o seu piano...acha que pode tocar Chopin...;:)

Anónimo disse...

Vou ve se arranjo tempo, parceira.

josé luís disse...

Outra coisa curiosa é que essas notas formam árias que nunca ouviu mas, desde que passaram a fazer parte das suas noites, mesmo diferentes sempre que as ouve, também sente que as conseguiria reconhecer em qualquer parte.
Maria não tem formação musical, só sabe de cor as canções infantis que a embalaram e os hinos que ouvia quando costumava ir à missa ao domingo, na velha capela da vila entretanto em ruínas.
Mas pressente que aquelas melodias que agora ouve todas as noites são algo especial. As notas entram e passam pelo seu corpo e tornam-se parte do seu ser, há nelas uma magia qualquer… Maria assusta-se: será um feitiço? será o vizinho algum bruxo?
Os dias passam lentamente. Todas as noites o piano ecoa dentro de si e sabe agora que aquela música a ajudou a curar-se. Em breve poderá voltar a Praga. Sabe que nunca esquecerá as misteriosas notas daquele piano que só tocava de noite. Sabe que essa música passou a ser sua.
Apenas desconhece – e nunca saberá – que durante algum tempo foi vizinha de Mozart.

Gi disse...

Ao fim de uns dias passou, ela própria, a dormir de dia e a ansiar pelos recitais de Nocturnos do pianista.
Uma noite não se conteve e tocou-lhe à campainha, cheia de pensamentos contraditórios; o pianista apareceu: era um vampiro, chamava-se Chopin e a música era o sangue de que se alimentava, as mercearias que encomendava estavam, apenas, à espera de Maria ...

Rosa dos Ventos disse...

Tivesse eu a tua imaginação...

Abraço

Blondewithaphd disse...

Bem... não posso falar muito porque eu era mais com o saxofone... (a sorte era não ter vizinhos...)

Si disse...

Já está no forno lá de casa, vamos a ver quando estará pronto.... ;)

cantinhodacasa disse...

Olhos pretos, rasgados, pele morena, sorriu a Maria e respondeu:
- Chopin!
Ela esboçou um sorriso tímido. Seus pensamentos perderam-se naquela figura que mostrava cansaço.
Alguns fios brancos salientavam-se do seu cabelo despenteado.
Convida-a a entrar.
Com um gesto delicado, agarra-lhe a mão e puxa-a para dentro.
Embalada pela música que ainda ecoa no silêncio da sua mente, entra...

anniehall disse...

....e depois "cantinhodacasa" que aconteceu :)?

cantinho disse...

Annie, fui interrompida várias vezes, só consegui escrever isto.
Vou pensar.


Bj

cantinho disse...

(continuação)

"Allegretto"


Maria deixou-se levar pela mão que puxava a sua. A música, a sensualidade dos seu pensamentos fizeram-na esquecer que fora sozinha.
Martin senta-a numa cadeira gasta pelo tempo, e pergunta-lhe:
- Como te chamas?
Ainda a sonhar, ela olha-o fixamente e responde: “Maria”.
- Martin.- apresentou-se com um sorriso acolhedor.
Senta-se no banco e, com os seus dedos esguios, percorre as teclas de ébano e marfim do seu
piano.
Um arrepio percorreu o corpo de Maria. O som do piano, junto a si, tinha agora outro sabor.
-Chopin!- pronuncia ele. –Para ti, um Allegretto, único, especial .
Delicadamente, os dedos de Martin amaciam as teclas, e a música embala o corpo de Maria...


cantinhodacasa

Poetic Girl disse...

Ela levanta-se, estranhando a sua própria audácia. Senta-se ao seu lado, sua mão pousa delicademente na dele. Ele pára de tocar, olham-se. Com gentileza ele coloca a sua mão por cima da dela, conduz-la, convida-a a ela própria acariciar as teclas do piano. O calor que emana da mão dele na sua faz-la estremer. Sente-se ruborescer ligeiramente, tal a intensidade dos olhos dele no seu rosto, na sua pele, queimando-a, deixando-a a tremer. Num impulso, com a mão livre acaricia o seu rosto, ele inclina ligeiramente o rosto em sinal de concordância, sentiu a barba dele sob os seus dedos, teceu o contorno dos lábios. Ele esboça um sorriso. Ela apenas o contempla. O som do piano continua a ecoar na sala, em uníssono com o bater dos dois corações, num compasso idílico....


**** continua....

(Patti estou a adorar este desafio)

anniehall disse...

...(continuação )....
Mas vizinho :)! , tocou um "allegro maestoso " , o da sonata nº 3 :)
Nem sabe como estou contente por afinal ter tido coragem de vir até esta velha casa amarela , tão vazia e triste que era e agora tão cheia de musica .
:-Martin , por favor,não me trate por vizinho:(
:- Martin , desculpe .Acho que fiquei tão surpreendida, no bom sentido , com a sua interpretação de Allegro que me atevia a pedir-lhe o
:-Scherzo , molto vivace ?
:- não, toque o "Largo " Tão bonita e tão conforme o modo como o Martin apareceu e se instalou aqui .
:- Mas depois creio que lhe peço para ouuvir o Molto vivace que está mais de acordo com o que sinto de momento .
E enquanto a musica ecoa na noite que entretanto se instalou os moradores das outras casa da vila foram abrindo as janelas e deixaram entrar o som do piano .....

cantinho disse...

O sonho

O som do piano que antes incomodara a vizinhança, torna-se , agora, companhia daquela serena noite de Primavera.
Maria sentia-se cúmplice deste momento de prazer.
Deixa-se envolver pela melodia, por Martin, pelo seu rosto, pelo seu cabelo despenteado, pelos dedos. Oh! Os dedos! Penas que tocam quase imperceptível as teclas do piano.
E estas cediam. Deixavam-se tocar. Deixavam soltar a música .
- Gostou, Maria? - pergunta ele, despertando-a do seu sonho.
- Belo! Obrigado. – e sorriu , tocando levemente os seus dedos nos de Martin.
-“Molto vivace”, agora? – pergunta ele com delicadeza.
- Desculpe-me, Martin. Mas a noite está a ficar longa. Sinto-me cansada. Amanhã, talvez!
- Sim. A noite está longa. Não quero incomodá-la. Vamos ter muito tempo, aqui. - acrescenta Martin, observando o rosto pálido de Maria.
E, delicadamente, levanta-se, toma-lhe a mão,e diz-lhe: -Acompanho-a a casa.

anniehall disse...

...continuação ou finale....
(era mais ou menos assim)


Chegados a casa de Maria , esta dirige-se a Martin
:- Martin , foi bom tê-lo conhecido. Aquela triste casa amarela , fechada á tanto tempo ganhou vida e as suas músicas deram alegria ás noites da Vila.
Até eu melhorei mais depressa e estou em condições para regressar .
:-Já se vai embora ? Mas volta , não volta ?

Dentro de dias vou ao festival de piano de Saint-Petersbourg e no regresso passo por Rouen para as noites de Verão da Normandia , mas tencionava regressar o mais rápido possivel e encontrar a minha vizinha Maria , quem sabe se esperando por mim....
Ela envolveu-o num terno e doce abraço sussurrando
:.-Rouen...Noites de Verão da Normandia !:)..Mas adoro a Normandia . Talvez apareça por lá ...
E assim para terminar proponho que os dois se tenham encontrado numa das maravilhosas noites de música da normandia e tenham mergulhado no universo de Maupassant.....