Preenche-me sempre a lápis porque gosta de apagar, rasurar, desenhar asteriscos, fazer setinhas de ligação, sublinhar, escrever notas de cabeçalho e de rodapé.
Faz-me desenhos nos cantos superiores, enquanto espera que a imaginação chegue para escrever em seguida nas linhas que lhe coloco à disposição e que esperam pacientes para serem preenchidas.
Quando está mais lenta dobra-me os cantos, brinca com a borracha entre os dedos e fixa o olhar em mim como se me visse a folha seguinte à transparência. No fundo, despe-me.
Nos dias em que está com o tema na ponta da lapiseira, arranha-me com força, ri
Não lhe interessa a confusão, as vozes ao fundo, os ruídos de base, a presença dos outros, a televisão ou a música. Gosta de barulho à volta, que de todas as vezes lhe fez companhia e sempre soube encontrar o seu silêncio nele. Eu também acabei por me habituar, aos locais inusitados que ela escolhe para me sacar da carteira e começar-me a escrever. E lá vou eu outra vez, sem horários. sem rumo, sem saber. Tenho passeado muito, já lhe conheço o carro, o escritório, a casa, o picadeiro ao domingo de manhã, a esplanada junto ao cais, o bar da praia, a espreguiçadeira da piscina e noutro dia até adormeceu comigo na cama e só acordamos depois do sol.
Eu, um simples caderno de linhas.
32 comentários:
Não te ponhas à tabela que ainda entra um PDA por casa dela adentro...
E dessas intimidades saem os posts que nos deliciam, não é?
És das minhas: nada como papel, embora eu escreva a tinta num Moleskine. Num não. Tenho uma infinidade deles.
Mas gostei da maneira como o teu fala contigo.
Foi um bocado indiscreto contando-nos algumas intimidades, mas enfim, é o mal de não lhe fazeres delete.
Muito giro, Patti.
...E depois abandona-me, momentaneamente, para ecranizar o que escreve em mim, neste meu siamês virtual, para que vocês, leitores e comentadores, nos possam ler.
A seguir, ou mesmo antes, passa um traço oblíquo nas minhas fatiotas já gastas e prepara-se para o desenho do fato seguinte.
É assim a minha designer.
Patti,
Inconfidências de um confessor?...
Lindo!
Tretices em branco para ti.
Caderno feliz!
Mas o aviso do salvo tem toda a pertinência...
Aí se ele contasse tudo que por lá passa! :)
E é assim que se escreve a vida. Porque nenhum caderno que se preze precisa de linhas. Porque quando a ultima página se acaba, compra-se um caderno novo.
Bdia
Patti,
Recebi um presente lindo e quero dividir com vc...está no lado direito do meu blog com o seu linck
Te repasso por te achar muito especial em todos os sentidos...
Um bom dia prá vc
Miriam
E é só um????
Ai mulhéri...com a imaginação que tu tens e com o que escreves aposto que são carradas deles :)
Beijos
Olá Patti! Olá caderno da Patti! Lindos os dois. A Patti nas suas rotinas e escritos. O caderno na sua fidelidade. Lindo, como sempre...
E eles passam a ser nossos grandes companheiros. Fiéis, porque não questionam nem nos julgam. Simplesmente aceitam o que vê o nosso coração. Certamente os guarda em lugar especial, entre os outros cadernos já preenchidos.
E é assim como dizes: não há barulho à volta que nos tire do meio das suas páginas ainda em branco. Poderia ficar a falar de cadernos por mais uma hora, mas não é preciso porque tu já sabes.
beijos, Patti
segue mail
Dos mais bonitos posts que alguma vez li.
Amei!Continua a escrever assim.
Beijinhos
O que um simples caderno de linhas sabe da vida de quem lhe escreve o histórias, apontamentos, desejos, letras e momentos para mais tarde serem recordados. Um bloquinho de notas valiosas, sem preço.
Há muito que troquei os cadernos pelo Word. Nao tenho um caderno que possa falar de mim, mas escrevo muitas coisas em post-it e guardanapos de papel sempre que o Word nao está disponivel.
E não é lindo isso???
vc conhce a música do Toquinho que se chama cO Caderno?
é bem assim, Patti, delicado assim.
Eu adoro escrever nos meus. Mandar cartas. Desenhar...
Aventuras e desventuras de um simples caderno de notas, Patti. O meu diria, provavelmente, o mesmo, excepto que não lhe dobro as folhas, que não lhe risco os cantos, que o escrevo com letra de tricô e que o trato com muita cerimónia. Acrescentaria ainda que o abandono miseravelmente todas as noites em local de que nunca me lembro todas as manhãs. E concluiria talvez que os cadernos são todos iguais, mas há uns que são mais cadernos do que outros… ;-D
Luísa:
Que sortudo o seu caderno de linhas, mas sabe que o meu já se habituou aos caminhos por onde o levo, aos rabiscos e às folhas torcidas. Tem bom feitio. :)
O seu é que é sortudo, Patti! O meu ainda não é bem caderno... ;-)
Patti,
É esta ligação visceral ao seu caderno, que faz com que ele reserve as suas melhores linhas para a efeverscente criatividade da sua mente.
P.S.- Olha, olha, um caderno de linhas ali....se calhar ainda agora, inusitadamente, me cruzei com ele nas Amoreiras, ao pé da Bertrand.....seria??
Si:
Não devia ser, o meu está comigo neste momento.:)
Que bela folha de diário de um caderno de apontamentos, Patti...
Toc toc: O correio bate à porta.E por fim os papéis inverteram-se, veja só.
boa noite Patti
Esta música está boa para amanhã, se as luzes da cobertura acenderem-se.
Patti,
é cumplicidade e amor!o que se sente nesta "relação" :)
bom resto de semana
um sorriso :)
mariam
obrigada, p'las palavras deixadas...
Querida Patti,
nada me admirou no auto-retrato do caderno, pois é evidente que ele ficou MARCADO pela Minha Amiga.
Quando passamos pelos «Ares...» somos todos cadernos de linhas.
Beijinho
Companheiro inseparável. E de qualidade!
Beijinhos.
Nada como escrever no papel. Parece que escrevemos mais a sério. Parece que fica mais gravado, mais dentro do que somos, parece que fica escrito dentro de nós.
E fica, não parece.
Mas o problema de escrever no caderno (também tenho um, verde, que forrei com um tecido indiano), é que depois fico com preguiça de passar para o PC e partilhar alguns textos. Daí o www.oquartodehospedes.blogspot.com estar meio abandonado por mim.
Acho que escrever é conversar connosco. E perder um caderno desses, é como se o mundo inteiro estivesse a escutar atrás da porta, uma conversa entre nós e o nosso melhor amigo.
Imaginativo...
Gostei de ler.
PCP:
Marcado será mesmo a palavra exacta :)
Guardo ainda muitos cadernos com diversas coisas rascunhadas à pressa, ou lentamente, conforme nos apetecia - refiro-me ao caderno e a mim, claro...
Há cadernos com muita sorte!
São "riscados" com muita qualidade.
Sim, sempre papel, a sorver a nossa solidão em forma de palavras...
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