terça-feira, 22 de janeiro de 2008

[1] vidas imaginárias...

A brincadeira começou quando ainda namorados o D. às vezes dizia-me, ai que chata! Chata? Eu? Nunca.

Não achei piada. Eu sei que falo pelos cotovelos, mas... bom, disse-lhe logo, Se não fosse eu já 'tavas casado com uma da Brandoa (nada contra aos que lá moram , com cabelos negros longos e fartos e sempre de ganchinho na cabeça, daqueles bem coloridos. Toma.

E vai-se chamar Sãozita. Três filhos com nome de novela brasileira, moras com a sogra e vives no último andar alugado dum prédio sem elevador e o senhorio nunca, mas nunca vos vai vender a casa. Toma.

E pronto, 'tava feito. A partir daí nunca mais parei. A Sãozita começou mesmo a existir, é uma jóia de rapariga, caixa na Polux, desde sempre, já têm três filhos, a mãe vive com eles e ajuda-os muito. O D. não estudou 'até ao fim' e é electricista, isto é, faz uns trabalhinhos. Até sou amiga deles. Gosto, pronto. Essa é que é essa. São uma família simpática.

Já lhes 'orientei' as férias do Verão na Caparica, as férias do Natal e as da Páscoa. 'Dei-lhes' um carro, mobílias, uma família grande no Norte, escolas p'rós miúdos e passeios ao Domingo. Um dia conto tudo. Prometo.

Pelo que me toca a mim, têm uma vidinha muito preenchida. Ainda hoje de manhã...

Não eram nem seis da madrugada:

Ai homem (homem,...lindo, adoro!) 'alevanta-te'.

O que foi?

É o puto, (bem feito, cá em casa ninguém trata os filhos por putos!) 'fomitou'' a noite toda, 'tá a arder em febre e não pode ir à escola. Tens de ficar com ele.

Ficar com ele? Mas porque é que não fica a mãe dela?

Não podia. A Modesta já 'tava desde as quatro da manhã no centro de saúde, à espera da consulta das varizes. Pensas o quê? Aquilo é filas que o Deus te livre e além disso ela quer ser a primeira, porque ainda tem de ver o resto do programa da D. Fátima. Ela liga todos os dias para ver se ganha o concurso do pato. Também gosta muito de ouvir o Cláudio Ramos e a D. Maya.

E a colcha? Oh valha-me Deus. Toda suja e o 'fomitado' entranha-se.

Era uma colcha linda. Linda. Toda em cetim rosa, (poliéster. Ah, pois é.) cheiiiinha de folhos que os padrinhos dele lhes tinham oferecido como prenda (presente, duh.) de casamento.

Taditos, fartaram-se de procurar e só a encontraram em Ayamonte. Bem, paciência.

Oh filha, (se me chamas filha algum dia......) deixa lá isso, a tua mãe depois esfrega. Não chores rapariga. (bem rapariga então... nem te atrevas).

E a espanhola? O que faço agora com a espanhola?

Mas a Maricarmén, também passou cá a noite? Mas o que raio faz cá a vizinha? O marido já se foi embora outra vez p'ra Carnaxide?

Não é nada disso. O B. este mês 'tá p'ra Algeciras, foi comprar mercadoria. (Outro, que tem uma vida imaginária. É um amigo nosso, do presente.) És sempre a mesma coisa, trocas sempre tudo.

(Olha agora é que 'tiveste bem, Sãozita. Só mesmo uma mulher p'ra compreender outra. Ele há coisas que nunca mudam...rapariga.)

Mas não era a vizinha. Na, na, na......era bem pior.

Era a aquela sevilhana linda que eles têm desde sempre em cima da colcha.

A do vestido encarnado com bolinhas brancas. (Hahahaha, por amor da santa. Deve ter castanholas e tudo.)

Deu-lha ele há muitos anos, quando foram à excursão. Por acaso faz pena, era uma recordação, não é? (sniff.....snif)

Deixa 'tar que eu no fim do mês compro-te outra ali no chinês, tem "masé" os olhos diferentes, um bocado em bico, mas não faz mal filha, o vestido também tem muita roda e isso é que importa. Não te rales, também enche uma cama (e se tornas a refilar com as minhas 10 almofadas giríssimas, em cima da nossa cama...)

E pronto. Assim se passou esta manhã.

A Sãozita apressou-se a ir p'ra Polux, ainda por cima o patrão anda com os inventários e precisa muito dela, pois trabalha lá desde os dezasseis anos; o D. ligou ao Sr. Pires (o patrão) a dizer que faltava de manhã, porque a Modesta lá pró meio-dia 'tá de volta da consulta, mas, ainda tem de passar na igreja, no "lugar" e no chinês; o mais velhinhoo Rúben, também já se amanha sozinho e saiu p'ra escola com a mãe; a mais novita, a Elisete, só tem aulas de tarde, a Sãozita ainda foi à Junta reclamar p'ra mudarem o horário... e o Igor 'tá melhorzito, só 'fomitou' (vomitou, gaita qual é a dificuldade?) mais uma vez e desta o D. conseguiu tirar mesmo a tempo o cão de porcelana 'dopé' do puto.

4 comentários:

Anónimo disse...

A história da Saozita já eu conhecia...mas o "rapariga"...e o "entranha-se" na colcha! Sao os meus preferidos!!! AHAHAAH...

Anónimo disse...

Lá imaginaçao tens tu " rapariga",
mas eu gostei mesmo do "fomitou"...
Tem jeitinho, sim senhora... promete!!!

Unknown disse...

Finalmente a Saõzita, vive!!!! eheheh. As histórias quando são escritas parecem sempre mais verdadeiras.
Sim, porque agora acredito mesmo que o Sr. D tem uma familia na Brandoa e que vive feliz com a sua vidinha.
Mal posso esperar pelo 2º episódio...

Bjs e continua
Eva

Anónimo disse...

AHAHHAHA ...
Adorei! Estava mesmo precisar de me rir ... A historia da Saozinha é deliciosa !
Parabéns e cá fico à espera do resto da novela.

Beijos do Brasil