terça-feira, 25 de março de 2008

esteriótipos

Já houve alturas em que fui acordada às três da manhã, com choros desesperantes e palavras convulsivas. E fiquei a ouvir durante horas, angústias, medos, solidões . . . e depois, a bela da insónia, ouviu-me a mim.

Houve tempos, em que as teclas do telefone ficaram gastas de tanto marcar sempre o mesmo número. A TMN bloqueou-me o pin, devido às imensas chamadas que fiz, com o argumento de que, oh minha senhora, assim não vale, olhe que o monopólio é um jogo didáctico para as crianças, e não, o controle 24 horas do seu telefone! Que gastava os chips, disseram eles!?


Numa altura, larguei a manicura de pincel em riste, a escorrer de verniz encarnado sangue de boi, para sair num pulo em direcção à secção de perdidos e achados da judiciária, para lhe ajudar a encontrar a coragem e o ânimo que tinha perdido, já nem sabia onde, juntamente com o amor-próprio que tinha ficado esquecido em 25 anos da balda da vida. Sei de segredos espessos, cerrados, densos e escuros, que até já me bateu um padre à porta, para que eu os segredasse de joelhos, durante o sacramento da confissão.

Especializei-me em ser advogada de defesa de causas tristes e naufragadas, em advogada de acusação numa câmara de horrores, em juíza facciosa e sem lei, exercendo em tribunais imaginários e obsoletos, em enfermeira de pensos rápidos para arranhões súbitos no espírito e fui convidada para ser membro de mérito do Green Peace, quando lhes levei relatos verídicos de poluições sonoras de ofensas à alma, derrocadas de nervos em franja e derrames de emoções reprimidas.



Mas sou assim, tenho cara de ombro largo, que tão depressa estica, como se encolhe, quando recebe em troca um . . . “olá, tudo bem? há tanto tempo, ah, hoje não me dá muito jeito, tenho de limar uma unha e caiu-me uma pestana para o olho.”

Acordo. Ergo barreiras.


Sofro uma transformação repentina e viro cliché: pão pão, queijo queijo; pontos nos i's; preto no branco; cá se fazem, cá se pagam; colhe-se aquilo que se planta. Ponho o dvd, do Cinema Paradiso na memória, que me relembra rapidamente que vão sempre existir coisas que nunca vou mudar.



Não gosto de ingratos.

5 comentários:

Anónimo disse...

Pois tu és assim. Pertences aquelas pessoas que vestem a capa de super mulher e saiem em defesa dos "fracos e oprimidos" (onde é que eu já ouvi isto?).
Mas também gostas de receber. Quem não gosta? Isso chama-se Amizade.

De dentro pra fora disse...

se serve de consolo(acho que não)...por estes lados também os há...os ingratos...acho que um pouco por todo lado...infelizmente...

egolândia disse...

Pois. Por vezes educação confunde se com preocupação e a carência é muita e o desejo de se ter uma almofada para todo o serviço é grande. a almofada gasta-se. Precisa também de descanso e de ser ouvida. Mas eles sabem lá que a almofada precisa de algo...não é?


Beijinho

Patti disse...

Ego, ou fazem-se de desentendidos . . .

LeniB disse...

"Viver todos os dias cansa".
Lê este livro.