terça-feira, 25 de novembro de 2008

semblantes de luz

foto minha

O Convento, é do mais bonito e emotivo que existe em Lisboa. O amor pela minha cidade é imensurável e mesmo nas paredes grafitadas, nos prédios em semi-ruína, que pedem para cuidarem deles urgentemente e na esburacada calçada portuguesa, eu não renego esta minha adoração. São assim os grandes amores, plenos de defeitos e de males incuráveis.
Apesar do castigo que alguns lhe insistem em dar, a luz não abandonou Lisboa. E é a luz, a grande protagonista daquilo que podemos admirar nas ruínas do Convento do Carmo.

Quando se entra, a disposição natural é ficar com os olhos presos ao céu. São pedaços de azul que entram sem convite, nas janelas abertas de cúpulas que já não existem. Porções de céu, recortadas por cruzarias de ogivas ocas.
No meio das ruínas, lápides, brasões e esculturas várias, perdidos entre colunas de capitéis vegetalistas e janelas estreitas, disfarçados como sombras ténues, atrás de poços, pias baptismais, túmulos, sarcófagos, coroas e pedra bordada, ainda vagueiam por aquele templo os carmelitas silenciosos, a quem D. Nuno doou a obra fundada por si.
Ali, até lhes consigo alcançar a pureza do coração, o esvaziamento do ego e escutar o sussurro das suas orações solitárias.
Mas quando chega D. Nuno, pára tudo. Eles e eu. Que o Condestável não é homem de grandes conversas e exige que ali, tudo seja feito com primor e excelência, que os alicerces são frágeis e estremecem naquele solo arenoso.
Até já ameaçou, se esta porcaria destes alicerces caírem de novo, vos juro eu, que para a próxima os hei-de fazer em bronze!
Reina o sossego que durou até hoje. É o respeito da pedra.
E quando no início, desci a escadaria da entrada e me apareceu aquele 'ogival' direito ao céu, eu que já vinha vindo calada e em silêncio, calei-me ainda mais e agora já sei o porquê.
É das presenças que ainda por lá pairam.

ver as outras fotos aqui

36 comentários:

BlueVelvet disse...

Uma beleza as fotos.
O texto podia ir para um qualquer Guia da cidade. Lindo.

Pitanga Doce disse...

A magnitude deste monumentos nos deixa com o rosto virado para o céu e a boca aberta. Sei que aqui falas das belezas da tua Lisboa, que eu pouco conheço,o que lamento mas hei de corrigir, mas já viste a abóbada central da Catedral de Évora? Também pairam por ali certas presenças.

E tens razão quando dizes do azul que entra a despeito de tudo.

Anónimo disse...

Ainda bem que partilhas essa luz connosco.

paulofski disse...

A Terra e o tempo rapidamente moldaram a obra que hábeis e fortes mãos de rudes homens demoraram a criar. E assim, aberto e exposto ao céu, à luz e à beleza, ficou preservado, para que seja adorado.

Beijo e um bom dia.

Gi disse...

De facto, testemunhei com a Patti, que aquelas Ruínas são como um tricot forrando o Céu, simplesmente lindas! Aliás pude testemunhar a figura de turista da Patti, que só não fez o pino para tirar fotografias, porque assim tinha mesmo que se calar: Oh Gi, já viste aquele arco, e aquele?

Anónimo disse...

Não conheço este convento, mas pelas fotos dá para ver que é um belo monumento.A visitar brevemente.
O nosso património merece toda a atenção de nós todos, e ao digulgares estas imagens estás a contribuir para a sua preservação.

Teresa Durães disse...

As pedras têm o dom de contarem muitas histórias

Cerejinha disse...

Lindas as fotos!
E com os dias frios que se fazem sentir nada melhor, depois desta visita, que um chá mesmo ali em frente, à esquina...

Si disse...

Vá lá, vá lá, a mouraria ainda tem algumas coisitas de jeito, porque os visigodos as defenderam dos Castelhanos que já tinham casado as duas nações...
D. Nuno, 7º conde de BARCELOS, foi um grande homem, não há dúvida.
Quanto ao texto, bem....assim à 1ª vista, não está mal, vindo de uma moura militante, é....'tá girinho....

P.S. Ó madrinha, não me bata!!!! rsrsrsrs

Patti disse...

Si:
Sua...sua...sua... escandinava! Mesmo lá do topo do Mar de Barents!

Ka disse...

ahahahah Boa Si!!!

Que aqui a nossa Patti tem de voltar aqui ao burgo para ficar a conhecer mais uns monumentozitos:)))))

Beijossss

Ka disse...

Ahhhh e este jazz está muito agradável :)

(não te sabia apreciadora... :P )

Ka disse...

ó minha ...minha....moura...lol então e os meus comentários ante5riores?!?!!? hã????

Tu queres calar a minha voz do norte??? looool

Mas ok, atendida a reclamação aqui vai o tal comentário graveeserio que esperas:

Patti,
Belíssimas fotos e um texto magnifico como sempre (estou a ir bem???). As tuas palavras deixam-se sempre com vontade de te ler mais e mais (só posso estar a ir...depois deste elogio :P )

E se bem me lembro estas fotografias foram tiradas em Setembro não foi?

Beijossss (redimida????)

maria inês disse...

sabes do que gosto mesmo? é dos teus textos!

Patti disse...

Menina Ka:
Eu pelo menos, já fui de visita à sua terra inóspita, de clima agreste.
Agora a menina e esses seus comparsas independentistas, ainda não puseram os pézinhos, aqui comigo, na Cidade Luz, que também é vossa porque é a capital de todos!
Humpf!

Su. disse...

:)))

Olha, vou admitir!
fiquei tao contente por conseguir finalmente comentar, que venho sem ler o texto de hoje, e me recuso a pôr maiusculas, enfim, vi para já a foto que gostei...

:)))

beijo de saudades, mouraaaaa!!

eheheh

:)

Si disse...

Quem disse, quem disse??
Não são raras as vezes em que, por razões profissionais tenho que fazer esse esforço!
Mas é mesmo só por obrigação......
rsrsrsrsr

Pitanga Doce disse...

Ó cum carago! Ouvi alguém chamar a cidade do Porto de inóspita e com clima agreste???

Kaaaaa! As armas, mulher! As armas, já!!!!!!!!!!!!!!!!! E chamamos o Pinto da Costa pra "ire à freente"!

Ó Ka, anda cá! (sem trocadilho) hehe

cristina ribeiro disse...

Quando fui para Lisboa, foi esse azul o que mais me fascinou; não que não o tenhamos também, mas era um cambiante diferente, o que encontrava; e ver essas ruínas num dia claro é verdadeiramente "qualquer coisa"...

Paulo Cunha Porto disse...

Querida Patti,
e um velhote como eu ainda se lembra da atmosfera mágica de concertos graciosos de Verão, nocturnos, que há década e meia lá se realizaram. O público, esmagado pelo cenário, até parecia interagir com a Música de forma civilizada.
Beijinho

1/4 de Fada disse...

Há lugares assim, que nos fascinam e nos deixam sem voz, a única atitute que podemos ter é a do silêncio. Que tu, nesse silêncio, conseguiste ouvir o nosso condestável, e num discurso que imagino bem próprio do homem que ele devia ser. Na sequência do comentário que te deixei ontem e a que respondeste, fazes muito bem em andar de máquina pronta, porque nos deixas testemunhos fantásticos (fui espreitar o teu outro canto). E sou como tu, também gosto muito da luz de Lisboa, sobretudo nesta zona, da paisagem que se vê da parte alta, do castelo, dos miradouros...

1/4 de Fada disse...

Sei que parece não vir a propósito, mas já leste "Os Pilares da Terra"? Acho que vais gostar, no caso de ainda não teres lido, claro. Tem tudo a ver com este teu post.

Patti disse...

PCP:
E em Outubro houve ópera!

Fada:
Está na minha lista, que é imesurável como a paixão por Lisboa.

Anónimo disse...

Muita gente procura " ouvir" o silencio e encontra estes lugares tao acolhedores...
Adorei a foto!!!

Ka disse...

Terra inóspita de clima agreste??????

Olha lá mas tu mandaste-me um clone aqui para a Mui nobre e invicta cidade do Porto?!!?!?
Se bem me lembro estiveram uns belos dias e de inóspito não teve nada, principalmente naquele fim-de-semana em particular :D

Quanto à ida aí estou em falta sim senhora mas tu sabes porquê :)

Beijosss

Si disse...

Olha, olha,
Vêm reforços do outro lado do oceano!!!
Xiiii, vai pegar fogo no pedaço...perdão...Bairro, era o que eu queria dizer...Bairro!!

Patti disse...

Si, Pitanga e Ka:
Xô daqui, suas bárbaras!
Que eu já fiz um post sobre o Porto, tenho no outro blog, fotos do Porto e a vocês ainda não lhes vi nada sobre a VOSSA Capital!
Mal agradecidas.

Anónimo disse...

Vai linda esta guerra Norte/ Sul hoje... Olha o que eu perdi!
Mudando de assunto: gosto muito do azul de Lisboa, sim. Igual só encontrei mesmo em Pequim ( Rima e é verdade).
Quanto ao local das fotos tenhho memórias recentes de dois jantares no claustro. Foi quando entregámos os prémios Gazeta de 2005 e 2006. Ambos foram em Setembro e o espaço foi transformado de forma surpreendente, conferindo-lhe uma atmosfera própria da época.

liamaral disse...

Boas fotos e uma descrição fantástica! Gosto muito da Tua Lisboa, mas também gosto muito do Meu Porto!
:) Beijinho

De dentro pra fora disse...

isto hoje está bravo por aqui,shhh!vá lá todas amiguinhas outra vez, ofaxavore!

Reflexos disse...

Portugal é lindo de norte a Sul de Este a Oeste!
País pequenino em tamanho, mas tão variado em usos e costumes, só Portugal!
... agora o Norte... é o Norte, então o Porto, é o Porto!
(risos)
Eu nasci no Porto, mas cada uma das minhas costelas é de um sítio diferente do país: uma Lisboeta, uma transmontana, outra Alentejana, outra minhota... até há aqui uma, mais pequenita espanhola!
Sobrou alguma? Ou preciso de mais costelas?

Ah... adorei o texto.. e a foto, claro.
Parabéns Patti.

BJocas

Luis Eme disse...

sim, é um lugar especial...

há por ali algo misterioso e belo, Patti.

ana v. disse...

Lindo, Patti. E as fotografias, idem. Mas para belas imagens Lisboa é o mais generoso dos modelos, não é?

Anónimo disse...

Há quanto tempo não vou lá!
Boa ideia para o fim de semana.
Obrigada por partilhares

Patti disse...

Ana:
Se é. Tenho fotos fantásticas da cidade e umas do mais inusitado que há. É uma galeria aberta, Lisboa.

LeniB disse...

Ouvir um concerto nas ruínas do Carmo é qualquer coisa de inesquecível, como também o foi, para mim, ouvir uma Tuna de Coimbra nas escadinhas do elevador de St. Justa...enfim, memórias.