quarta-feira, 12 de novembro de 2008

ermos

foto minha

Gosto de conhecer, de me relacionar, de me por à conversa, de discussões saudáveis. E ouvir. Gosto de gente.

Mas o meu grupo etário preferido são os velhos, já aqui o disse mais do que uma vez. E uso a palavra velho, porque gosto do que ela encerra.

Quando estou com eles, observo muito, ouço mais e fico atenta a tudo. Aos gestos, às palavras, às expressões, aos movimentos lentos, às mãos, ao sorriso brando, ao fechar dos olhos sempre que descansam acordados.

Este foi um monólogo, que a D. Rosarinho teve sentada ao meu lado, enquanto esperava pela sua consulta, na mesma sala da clínica onde eu também aguardava.


A minha casinha era no Algueirão, sabe? Não há nada como a nossa casinha. Eu tinha para lá muita criação, dois cães e nove gatos muito amigos, mas estava sozinha e quando fiquei doente, tive de deixar tudo.

Sinto falta das minhas vizinhas, que me ajudavam a estender a roupa no quintal e a fazer a cama todos os dias. Tenho saudades da visita do carteiro e do senhor Abílio, que me trazia a botija do gás todos os meses e um dia até me arranjou a fechadura do portão.

Olhe e agora, estou para aqui perdida, longe das minhas coisinhas. Sei que sou muito bem tratada lá no lar, mas não tenho ninguém.

Não há nada como a nossa casinha.

Venha Rosarinho, é a sua vez, disse a empregada do lar que a acompanhava à consulta e ajudando-a a levantar, deu-lhe um beijinho na testa.

Beijinho que valeu ouro para mim.

32 comentários:

FM disse...

Também ADORO Gente, da Pura. Tenho a sorte de trabalhar em meios onde não falta Gente... e de poder fazer a "triagem"...
Beijos com Carinho.

Reflexos disse...

A vida tem moemntos fantásticos, não tem?

Anónimo disse...

Até para mim valeu e estou aqui tão longe, ao pé de outra Rosarinho.

BlueVelvet disse...

Também adoro idosos.
Têm tanto para nos ensinar, tantas histórias para contar.
E fico sempre de coração apertado quando os imagino em lares.
Felizmente a D. Rosarinho parece estar bem entregue, mas a falta do seu cantinho ninguém lha tira.

SONY disse...

Patti, tb eu adoro gente. idosos então adoro-os mesmo. ando sempre num lar, visito amigos que trabalham lá e passo horas á conversa com idosas, umas fazem desenhos e dizem que são quadros, outras contam coisas do arco da velha, outras são felizes e divertem-se por lá, ali naquele lar têm de tudo felizmente, mas nem sempre é assim. Tb eu já estou a pagar as cotas daquele lar, nunca se sabe o nosso futuro.

jito,
Sony

Gentes sábias essas.

R.L. disse...

;( *

Pitanga Doce disse...

Patti, tive a minha avó comigo ate´os 98 anos dela. No seu fim não lhe pude dar a atenção merecida pois ela partia, enquando Julinha chegava. Foi uma fase difícil. Por isso, hoje, quando vejo senhoras como ela, e assim, que tanto queriam estar na sua casa (e ela na sua terra)me emociono demais.

beijos e boa noite

Gi disse...

Eles sentem sempre a falta das "suas" coisinhas, daquilo que eles construiram, de quando eram independentes e tinham domíno sobre si.
Eu tenho um caso na família; as pessoas do lar tratam a pessoa assim, mas ela sente saudades do tempo que nunca mais voltará.
Eu, ao contrário de ti,prefiro crianças e tenho pena de ser assim.
Não devia ter preferências destas, apenas preferir o bom ao mau, moralmente falando.

Su. disse...

Sabes, gosto muito de ti.

Teresa Durães disse...

as pessoas de idade têm sempre histórias fantásticas de um passado desconhecido por nós. A minha avó costumava descrever uma Lisboa que não conheci mas achava fascinante

Si disse...

Tenho orgulho em dizer que fiz tudo o que estava ao meu alcance (embora pouco, para aquilo que realmente era preciso) pelo meu velhinho - também gosto de lhe chamar assim - que já está do outro lado da vida. O marido da 'Aurora' partiu, rodeado do carinho da família e dos muitos beijinhos que lhe dei e que hoje ainda lhe dou, quando o visito lá onde repousa.

Filoxera disse...

É, com eles temos as conversas mais enriquecedoras. Admiro-os e gosto de aprender com eles, saborear a sua companhia. Tenho pena de nunca ter conhecido nenhum avô ou avó.
O que me impressiona muito é quando as faculdades essenciais se perdem, já que em dez anos de Alzheimer do meu pai a dor ficou muito marcada.
Beijos.

Ka disse...

Preciso esse beijinho!!!

Tão simples dar um carinho e tão raro que alguém o faça a quem precisa...

Beijinhoss

De dentro pra fora disse...

Ainda á gente boa,que trata bem os nossos 'velhos'...
depois de sofrer um ligeiro AVC em Março, tivemos de 'convencer'a minha Mãe a ir para um centro de dia, para estar acompanhada, não vá precisar de ajuda e como passava o dia sozinha em casa, conseguimos...a principio estava um pouco apreensiva, mas agora diz que está muito bem , que todos a tratam muito bem , eu só tenho agradecer a esta gente boa, bem hajam :)

Anónimo disse...

Também adoro os velhos,marcou-me muito o meu avô paterno e agora os avós maternos da minha esposa.Muito honestos,sinceros e que sabem muito mas muito bem ensinar os netos e bisnetos com exemplos de vida, com uma doçura que só eles são capazes.

Anónimo disse...

Uma das coisas que aprecio nos chineses é o profundo respeito que têm pelos idosos. Bem diferentes dos ocidentais também neste aspecto, mas muito melhores que a maioria de nós.

maria inês disse...

Perdía-me no tempo ao ouvir as histórias do meus avós! E tantas que sempre tinham para contar! Infelizmente, muitas vezes até a eles, aos meus velhos, se cala a boca com aqueles desagradáveis "cale-se, você não sabe nada" ou "lá vem o velho com as histórias"!

Um beijo grande para ti que vais muitas para contar!

Laura Ferreira disse...

adoro gente, também. que seria a nossa vida sem gente?

Nina disse...

Eu amo crianca! mas os velhinhos sao mt especiais pra mim tbm. tenho tao boas lembrancas da minha avó.

e sei o qt eles ficam felizes em ver que alguém pára para ouvir sua histórias...

Paulo Cunha Porto disse...

Ai, Querida Patti, sei que a vida contemporânea tem exigências que obrigam a isso, mas esta dita civilização que atira os miúdos para a creche e os velhos para o lar é das coisas que mais detesto e a que resistirei enquanto possa.
Beijinho

Rita disse...

A mim impressionam-me os lares e acho que seria mil vezes melhor poder manter os idosos nas suas próprias casas desde que devidamente acompanhados (o que hoje em dia é muito difícil). Deixa-me triste quando entro num lar e os vejo todos tristes e deprimidos, num mundo melor seria obrigatório haver convívio dos idosos com crianças e com animais que tanto os alegram mas há tantas outras coisas mais importantes e prementes que não são cumpridas nos lares. Como será quando lá chegar?
Jokas

Anónimo disse...

Tenho mto carinho pelos velhinhos...só a sabedoria deles vale ouro!!!
É uma pena que mtos sejam abandonados e maltratados.

paulofski disse...

"Do grande livro do seu pensamento voou para um quartinho com uma cama de ferro e cadeiras almofadadas claras junto de uma janela ampla, flores cor de sangue e uma porta que se abre para deixar entrar uma adolescente de longos cachos dourados. A visão a fez sorrir, enquanto a luz que entrava pela janela desenhava a silhueta esguia e lhe fazia brilhar os olhos. Uma paz indescritível se apoderara do seu corpo. Arminda chegou perto da mãe e sem uma palavra lhe deixou um beijo impresso na testa. Estava leve, inteiramente tomada pela felicidade de ser quem era, plena e vivida, vendo-se de mãos dadas com a filha, tão feliz."

Deixo um pedaço de um texto escrito por mim faz tempo e que ganha pó no gabinete. Um dia será publicado como "na enfermaria".

Beijo

1/4 de Fada disse...

Conheci 3 dos meus avós, mas os que me marcaram realmente foram os maternos: o meu avô, apesar de ter morrido quando eu tinha 17 anos, deixou histórias que ainda hoje conto aos meus filhos, que já me dizem que é como se o tivessem conhecido, e a minha avó morreu com 93 anos, há 7 anos. Incrivelmente, conseguiu sobreviver a 3 anos de tratamentos de quimioterapia a acabou por morrer com cancro, apesar da idade. É um dos grandes exemplos de vida que tenho.

Miepeee disse...

Os meus avos faleceram todos bastante velhinhos, mas com bastante lucidez. Se ha coisa que me toca profundamente sao os idosos e as criancas, talvez porque como se costuma dizer os idosos sao criancas pela segunda vez.
Infelizmente nem todos sao tratados com a dignidade que merecem e o mais chocante na maioria das vezes pelos proprios falimiares.
E tao bom ouvir as suas historias, mostram-nos e dao-nos tanta coisa que sem eles quase nao era possivel conhecer-mos. Sao verdadeiras aulas de hitoria relatadas pelos intervinientes.
Pronto ja me esta a bater aqui uma saudade enorme e uma lagrimita no canto do olho.
Beijinho.

Luis Eme disse...

também gosto, Patti.

aprendemos tanto...

cristina ribeiro disse...

Tenho um amigo senegalês que fica escandalizado com a forma como tratamos os nossos idosos- por lá chamam mãe ou pai a qualquer velho, como forma de respeito, e o conceito de "lar de idosos" é-lhe totalmente inaceitável.Também gosto muito de falar com eles: têm muito para contar,e carinho também.

mariam [Maria Martins] disse...

Patti,
é-me caro este tema...
hoje apenas direi
~que fantástica pareces ser, Patti!~|
e dou-te um beijo

mariam

Sorrisos em Alta disse...

E tu?
Também recebeste um beijinho na testa, quando chegou a tua vez???
;o)

Beijoca

Luísa A. disse...

A componente «queixume», sobretudo sobre assuntos de saúde, deprime-me um bocadinho, Patti. Mas também gosto imenso de os ouvir contar histórias, que parecem de tempos imemoriais… e me fazem sentir pequena outra vez, tímida e reverente. ;-)

Anónimo disse...

Tenho muita pena de não podido crescer junto dos meus avós. Só os tive por perto até aos meus 7 anos. Depois só nas férias...Achava que eles eram sábios!

Susana disse...

só tenho a dizer, com o devido respeito pela frase que não me pertence: "há coisas fantásticas, não há?" :)