Raramente falo de política por aqui. É opção. Chega-me bem os muito bons posts nos blogs dos outros. Se já estiveram enjoados como eu, com a histeria de posts sobre Obama e as eleições americanas, podem passar à frente sem ler este também.
O meu candidato sempre foi Hillary e não compartilho nada da ideia de ambiciosa tresloucada, fria e calculista que passa por cima da família só para ser presidente da América e tudo o mais que lhe queiram atribuir. Leiam a biografia dela “Living History” e depois falamos. Ou será que alguém ainda tem dúvidas de quem foi a grande humilhada no episódio Lewinsky, por muito seca, dura e ambiciosa que fosse? Tínhamos ganho dois presidentes, ideia que partilho com o Luís Castro. Mas o povo é soberano.
Gosto de Obama e gostava de McCain, que no seu digníssimo discurso de derrota, do qual os políticos portugueses deviam beber as palavras, para saber como se perde com honraria e se ama de verdade o país onde se nasce, mostrou-me que não estava enganada acerca dele, é um homem bom, nobre. Quem achar o contrário que se justifique, o dizer mal por dizer não me chega. McCain acartou consigo dois erros que lhe foram fatais: ser o sucessor de Bush e dos vómitos das suas desgraças e Sara Paula!
Numa tentativa estratégica de conquistar o eleitorado de Hillary, escolheram-lhe o seu oposto. Saiu gorado. Quem ama uma, odeia a outra. Vivemos no séc. XXI, onde nem as mulheres estúpidas se deixam enganar com essa facilidade. Não basta trocar uma mulher por outra e para quem ainda não sabe isso, não sabe nada! Temos dois olhinhos na cara e servem nem que seja para distinguir na mesa de voto, que uma é loura e a outra é morena. Uma é Hillary e a outra é Sara Paula.
No entanto, achei repugnante a forma como a imprensa e todos a atacaram, quando se soube que tinha concorrido ao concurso de Miss Qualquer Coisa, que a filha adolescente estava grávida, que tinha muitos filhos e era mãe de família e se orgulhava muito disso. Achei essa estratégia abominável. Nojenta, mesmo. Só prova que a América e o mundo ainda são completamente mentecaptos quando uma mulher, que ainda nem abriu a boca é atacada desta forma, só porque é bonita. Dos poucos a portar-se à altura e a desmarcar-se destas cenas tristes, foi Obama que não se deixou levar pelo preconceito, tal qual fizeram com ele, por ser preto.
Depois desta peixeirada sem cabimento, surgiram finalmente os ataques políticos, os legítimos ataques, esses sim os que interessavam para a história. Atiraram-se ao seu conservadorismo, às ideias que tem sobre a venda de armas nos EUA, à sua postura face ao aborto e o diabo a sete. Assim já falamos a mesma língua: o seu a seu dono.
Ainda sobre Sara Paula, é estúpido cuspir e arrotar no seu radicalismo e seguir como se ela fosse só uma louca isolada que veio de lá dos ‘cafundós’ do Alasca e não tivesse importância nenhuma para a equação.
Sara Paula, representa milhões de mulheres americanas que pensam exactamente como ela e é tacanhez não levar esta realidade em linha de conta. Temos a mania ingénua e ridícula de nos deixar apaixonar pelos actores do cinema americano e pensar que é tudo como no Sexo e a Cidade. Quando se fala em candidatos, esquece-se quase sempre que eles representam milhões de pessoas por trás, iguaizinhos a eles, sem tirar nem por! Foi assim com a maioria dos ditadores, tomaram-nos com um único Eu: erro crasso!
Ressalto ainda duas situações de tudo isto e a primeira é o papel racista da comunicação social durante estas eleições, em que de repente invadem as televisões, rádios e imprensa escrita com entrevistas a populares negros, nas ruas da América, como se eles nunca tivessem existido. Porquê? Não me digam que nas outras eleições americanas, os negros da América estavam escondidos? Não votavam? Não interessavam? Saíram da toca só em 2008? Eram uma minoria?
A segunda é o virem dizer aos quatro ventos que os americanos deram uma lição de moral ao mundo. Aqueles americanos que votaram na borrada do Bush duas vezes seguidas? Aqueles americanos que o elegeram novamente, depois da mentira do Iraque estar confirmada à frente do nariz, para assistirem ao horror do Katrina, ao vivo e a cores? Os americanos dão-me muita coisa; cinema, teatro, escritores, música, arte, paisagens lindas, povo encantador algumas vezes, boas universidades e até junk food da boa e da gordurosa, mas lições de moral muito poucas vezes.
Obama venceu. A palavra que mais se ouve é mudança e ainda bem. A primeira mudança será zarpar com Bush de lá para fora, para Guantanamo, quiçá. Ou melhor ainda, e já que o sonho é possível e tornou-se real, fazer um rewind e colocá-lo no epicentro do Katrina, que ele tratou com tanto carinho e atenção.
A mudança maior não vai ser para já e Obama sabe-o bem. Deve ter a sala oval cheia de papelada até ao topo, de assuntos tão prementes e diversos como terrorismo, economia interna e mundial, dívidas deixadas por Mr. Bush, segurança social, educação e saúde, preocupações ambientais, petróleo, desemprego, bloqueios económicos, Iraque, Guantanamo, Afeganistão, Irão e América Latina.
Foi a mais disputada eleição americana de sempre, em que venceu o preconceito racial contra o herói de guerra que os americanos tanto amam e idolatram.
Eu por mim aguardo sem euforias. O que é que ele tem de diferente de qualquer outro homem? Até agora nada. Veremos daqui para a frente. E como é humano como todos nós e ainda bem, também nos irá desiludir em alguma coisa, pois será de todo impossível agradar a gregos e troianos para sempre.
Sou por natureza optimista, mas nada dada a messianismos.
27 comentários:
Também preferia a Hillary. Parece-me que o preconceito contra as mulheres ainda é bem maior que o contra os negros. Patente na forma como a Hillary foi tratada, como a Sara Pallin subiu a vice-candidata, e na legislação que obriga os partidos a terem uma cota de mulheres. Não quero cotas, quero que as capacidades das mulheres sejam reconhecidas pelo que são. Será pedir muito?
Tens razão quanto às lições de moral. Um povo que vive oito anos debaixo do jugo de Bush, com o espectro de Sara Palin, manifesta-se por margem PEQUENA a favor de Obama. Isto já eu vi. O resto espero para ver...
A-D-O-R-E-I.
Não consigo dizer mais nada.
Patti,
ora politica.
Também não sou muito de politicas,mas comi um bolinho antes e vou deixar umas palavrinhas...
pois o que o Obama vai encontrar na sala oval será mesmo uma pilha de problemas que o outro Sr. lá deixou!!!
Sem dúvida que o novo presidente milagres não irá fazer, nem ele nem nenhum que lá esteve, também não é diferente de ninguém e alguns erros como todo o ser humano irá cometer.E com eles alguém irá pagar o pato.
Vamos lá ver o que o novo presidente nos trará, mas se espero algo melhor do que o que o Bush fez?? Acredito que sim!
Quanto ao Bush eu também voltava atras e jogava-o no meio do katrina.
Jito,
Sony
Patti, eu comia, mas não consigo agarrá-los. É no que dão estas virtualidades. ;-D
P.S.: Quanto ao resto, Patti, estou naturalmente de acordo. E a questão dos gregos e troianos é uma fatalidade. Alguém que conseguiu, entre nós, ter a aprovação de elementos do BE e do CDS acabará, necessariamente, por desagradar a alguma dessas frentes. Por mim, pode até desagradar às duas.
Não falas de política mas quando falas, falas com sabedoria e "limpeza".
Patti,
há muito que tomei a decisão de não "discutir" política nem religião com quase ninguém.
Porque a Fé não se discute. Ou se tem ou não se tem, e ponto.
A política é mais ou menos a mesma coisa.
Porquê que se é de direita ou de esquerda, se é que essa distinção ainda faz sentido?
Porquê que se é Sionista ou se gosta dos judeus?
Mas comentando o que escreveste,concordo com algumas coisas que dizes, sobretudo quando referes o discurso de derrota do senador McCain.
Quanto à Sara Palin, que rebaptizáste com imensa graça, também acho ridículo atacarem-na por ser mãe ou a filha estar grávida, mas na minha opinião ela como Presidente dos Estados Unidos seria um perigo para o mundo. E todos sabemos que, acontecendo algo ao Presidente, o Vice assume.
Claro que ninguém tem a vida nas mãos, mas Senador McCain não é propriamente um menino. Ela foi um tiro no pé, mas não me venhas dizer que ele foi obrigado a engoli-la. Não, ele fez exactamente o que criticas: se a Hillary se foi, então dou-lhes uma mulher. Ora a Palin não é a Hillary e achar que os americanos são burros é outro grande erro. E esse erro crasso que ele cometeu, talvez tenha comprometido a candidatura dele. Concedo isso, mas mostra que até nisso ele estava errado.
Assisti a todos os debates do McCain e do Obama e não concordo com nenhuma das políticas dele, começando pela externa. Acredito que seja um homem bom, que tenha sido um herói,que até talvez tenha sofrido do efeito Bush, mas com ele seria, em minha opinião mais do mesmo, ou com uma pintadela para lhe dar outra cor.
Mas também, ser pior que Bush seria difícil.
Li o Living History em 2003 na versão original, quando saiu nos Estados Unidos. É a história de uma mulher que chegou a 1ª Dama. Grande coisa ela dizer que não nasceu 1ª Dama, nem senadora, nem democrata. Pois, calculamos que não.
Não duvido que seria melhor ela que McCain, mas também não tenho grandes dúvidas que engoliu todos os sapos que tinha que engolir para se candidatar à Presidência.
É claro que para mim era Obama e nunca fiz segredo disso.
Pode ser que ele desiluda toda a gente, mas se assim for, o Mundo inteiro enganou-se.
Porque não foram só os Estados Unidos que comemoraram esta vitória.
Foi o Mundo.
E peço desculpa pelo tamanho do comentário, mas tu dizes que não te importas de comentários grandes...
E já agora, levo um bolinho, claro.
Eu antes de ontem e ontem já postei e já comentei tanto em outros blogues que tudo junto, salvo pequenos detalhes, fazem o post que aqui tenhs hoje.
Blue:
Completamente em desacordo na tua abordagem e opinião sobre Hillary. Não devemos ter lido o mesmo livro.
Quanto a Sara Paula, nunca aqui defendi o seu ultra-conservadorismo.
Esperemos então!
Um post que prova que todos somos politicos.
Também não percebo de política, e muito menos entendo a capacidade que os EUA têm em ser senhores do mundo, quando ninguém lhes encomendou sermão.
De euforias muito menos e de jet-set português, em ajuntamentos para a ocasião, embevecidos pelo momento e de crachá ao peito, a mostrar apoio a um Presidente de outro país, quando no seu quem lidera é a abstenção, então não percebo mesmo nada. O meu gosto por Obama é apenas intuitivo. Daqueles sentimentos que uma pessoa tem, quando à primeira vista lhe cai no goto ou não. Entre um e outro, gostei mais do jovem, que ainda poderá ter sonhos bonitos, que do mais velho e do seu ar de raposa velha, de quem se desconfia imediatamente. Não li biografia de ninguém nem tão pouco percebo exactamente a pureza da diferença entre democratas e republicanos. Só entendo o seguinte: de boas intenções está o inferno cheio e só no palco real das actuações, perceberemos quem tem máscara ou quem a deixa cair.
Ora muito bem dito!
E pronto.
:)
Beijão
Ps: cá pra mim não sei pq raio ainda n estas na AR! Precisamos de mulheres como tu por lá!
"We can!"
O meu candidato sempre foi Obama, vejo nele um futuro diferente, para melhor. Se Hillary fosse a escolha democrata com certeza que teria o meu apoio na grande final. Lá em casa, na minha, ela tem uma forte defensora que comigo trocou argumentos e pontos de vista. Quanto a mim ela incorreu no erro da vitória antecipada, dentro do partido democrata, não se deu conta que não é só a experiência que conta mas sobretudo a mensagem, a mudança. O que este escrutínio teve de especial foi escolher o melhor de dois excelentes candidatos. A mudança tem de ser feita, não vai ser fácil nem agradará a todos, os dossiês herdados da administração anterior são muitos e complexos, já o disseste, mas a ordem do momento é "sim nós podemos", é acreditar que podemos viver num mundo melhor.
Viva a democracia.
Era inevtável. Também andei a postar sobre as eleições americanas
( mas já voltei às Memórias).
Deve saber, por isso, que concordo com muito do que diz,nomeadamente em relação a McCain. Discordo é em relação aSarah Palin. Assim que foi anunciada a sua nomeação, a mulher abriu logo a boca para dizer uma série de disparates. Não foi por preconceito, foi por falta de substância cerebral que foi trucidada.
Quanto aos negros, realmente a maioria não votava, por razões muito óbvias...
Finalmente, o facto de ser Hillary ou Obama, não mudaria em muito o mundo. A questão é estrutural e basta não ser um paranóico a ocupar a Casa Branca, para que as coisas se tornem melhores. Ms, claro, n~ºao só não entro em euforias, como sou até um bocado céptico.
Ah... e quanto aos bolinhos, obrigado, mas sabe que o meu drama quando vivi nos EUA foi mesmo não conseguir gostar dos doces deles. Têm demasiados corantes.. como a política americana!
Ora bem! se tu raramente falas de politica eu raramente comento politica e não o faço porque é assunto pelo qual não tenho o minimo interesse e como assim não percebo patabina( o que não deve ser o teu caso), mas devo dizer que gostei que este senhor tenha ganho as eleições, não sei porquê mas algo me diz que ele fará a diferença....espero não me enganar :)
E agora aguardamos ansiosamente para saber se o discurso galvanizador será transformado em actos que tenham um efeito prático....
Beijos
Concordo com tanto que escreveste... E bem, como sempre.
Beijos.
(cuidado com as calorias, principalmente se forem politicas)
Grande post, grande análise!
Quanto a preconceitos dos americanos já se vê que ainda vão ser necessários alguns anos para uma mulher vencer a presidência.
Ao menos este já foi quebrado.
Temos um Afro-Americano.
Acho que vai conseguir fazer algo diferente do Bush, mas com a crise instalada e as ameaças de assassinato ainda vai ser demorado e se... conseguir!
Cá estaremos atentos para ver.
Abraços
Li est post com gosto, Patti, mas confesso que já estou a fartar-me um bocadinho do tema. Também sou (e sempre fui) por Obama, pelas razões que já referi por várias vezes. Mas agora é tempo de arregaçar as mangas e fazer coisas concretas. Ele, na América. E nós por cá, que este intervalo musical já nos distraíu o suficiente dos problemas muito sérios em que estamos todos metidos.
Quanto à Palin (gostei da Sara Paula...) acho-a inqualificável. Não lhe basta ser mulher para ter a minha simpatia, por muito que eu gostasse de ver (também) esse preconceito vencido. A mulherzinha é perigosa, como o são todos os ignorantes fanáticos, e é mais perigosa ainda por representar milhões de americanos iguais a ela, como diz e muito bem este seu post. :-)
Patti,
escolhi o "yes we can"!
Tenho estado por aqui à largos minutos, tinha acabado de escrever um coment gigante... e pluf fugiu porque estavas a colocar outro post! LOL
bom, retomo o fio à meada..."dizia" eu mais ou menos isto,
Patti, toca a publicar sff! eu compro, de certezinha! é um gosto ler-te...
OBAMA, SIM! é claro que não será um superH, é claro que terá sobre si uma carga pesada, a cor, as expectativas, o peso das tradições... esperemos que realmente algo mude(para bem melhor), esperemos que encerrem "Guantánamo" e todas as outras "vergonhas da humanidade", esperemos que as hipócritas reuniões dos "G" comecem a dar frutos palpáveis e que África e todos-os mundos que sofrem, os sintam, esperemos que não o matem, esperemos, esperemos, esperemos, é que os ventos depressa chegam aqui ao cantinho Luso!
...
bom resto de semana
um sorriso ;)
um beijo
mariam
ao principio pensava como tu. pensanva que ela por ser mulher e conservadora estaria a ser alvo de gente sem escrúpulos, que organizadamente orquestraram um ataque impiedoso.
mas a partir do momento que ela começou a abrir a matraca...bom...
mau de mais.
só por ela, ainda bem que ganhou o Obama.
(obrigada pelo bol; adorei!)
Tens razão no que dizes; só nunca preferi a Hillary. Mas em política cada um tem o seu ponto de vista.
Beijos.
Acho o post extremamente interessante. O Obama não será como um comprimido para a dor de cabeça, ou seja, toma-se agora e passado muito pouco tempo passa a dor, Não... Está e continuará sim a ter o efeito catapultador de "levantar" o moral aos EUA e também fazer renascer a esperança do tão famigerado "Sonho Americano", como se nos EUA todos os sonhos se transformassem em realidade. Sou sonhor, já fui mais, agora sou mais pragmático e objectivo, e vejo em Obama um pouco de tudo, ou seja um sonhador e um homem pragmático. Acho que tempos melhores virão e Obama contribuirá, espero eu, para essa melhoria, e espero que a "Obamania" traga tudo aquilo, ou grande parte, do que o Barack prometeu aos Americanos e também ao Mundo na campanha eleitoral. Acredito que estamos perante uma nova era... A "Era Obama". Estamos todos cá para ver...
Carlos Carmo:
Bem vindo ao Ares.
Boa reflexão também a sua. Haja esperança.
1- Gosto de Obama e gostava de McCain, que no seu digníssimo discurso de derrota, do qual os políticos portugueses deviam beber as palavras, para saber como se perde com honraria e se ama de verdade o país onde se nasce, mostrou-me que não estava enganada acerca dele, é um homem bom, nobre. Quem achar o contrário que se justifique, o dizer mal por dizer não me chega. McCain acartou consigo dois erros que lhe foram fatais: ser o sucessor de Bush e dos vómitos das suas desgraças e Sara Paula!
Subscrevo, uma por uma, as palavras do parágrafo que transcrevi.
2- Sou por natureza optimista, mas nada dada a messianismos.
Pois eu sou exactamente ao contrário. Sou por natureza pessimista, mas nada dado a derrotismos.
Funes:
Bem-vindo ao Ares.
Olhe que se é pesimista, mas não derrotista, nem tudo está perdido; isto sou eu a ser optimista. :)
Volte sempre.
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