Olhe, esse já deixou a outra e agora anda metido com essa pirosa. Tem idade para ser mãe dele. E ainda dizem que o sujeito não ficou por aí! Anda a catrapiscar a outra fulana, aquela loura, da SIC sabe qual é?
Eu nunca sei nada. Sou uma leiga. Só leio as capas na entrada dos supermercados. E a revista da ordem no cabeleireiro, uma vez por semana para fazer um download de actualizações. Ah e uma vez ou outra, compro para praia ler na praia.
Mas a minha cabeleireira continua: aquela, a loura do programa de sábado a seguir ao almoço. A que se divorciou do outro estupor, que agora anda aos caídos. Essa agora está grávida de outro. Então ainda não leu?
Aceno com a cabeça. Faz de conta que sei.
E lá vem ela: é como o casal BradJolie; aquilo para mim está nas últimas e não é de agora. O desgraçado do rapaz nem deve conseguir dormir, com tanto filho aos gritos pela noite adentro. Olhe, se quer que lhe diga, também é muito bem feito! Ninguém o mandou trair a Jennifer. Tão linda que ela é. Aqueles cabelos perfeitos. Lindos, lindos, sempre arranjadinhos, brilhantes. Aquilo não é dela, só pode ser coisa de um bom cabeleireiro, ah porque disso entendo eu, muito bem, não acha?
Bom, isto não é todas as semanas assim, mas se ela me vê pegar na revista cor-de-rosa lá do salão, estou feita.
Na verdade, existem poucas coisas tão tontas com as revistas cor-de-rosa. Tontas porque alimentam cabecinhas ainda mais tontas, crentes de que a realidade é mesmo assim: tonta de todo. E talvez seja, para os tontos que não fazem mais nada, senão correr para a frente dos fotógrafos.
Revistas tontas pelo desfile de disparates que por lá se lêem: o não sei quantos é o grande amor da minha vida (namoram há duas semanas); sei que quero ficar com ele até ao fim dos meus dias (conheceu-o ontem); sempre quis ser actriz (e diz prontos); nunca fiz dietas, já nasci assim (e já fez para cima de não sei quantas plásticas); não resisto a uma carteira Hermés (e compra imitações na feira).
A tonteira maior não vem das verdadeiras figuras públicas, os actores, músicos, pintores, estilistas, designers, mas dos outros, dos profissionais da coisa cor-de-rosa.
Recentemente fui convidada para um grande lançamento. Coisa que merecia a pena sair de casa, numa noite chuvosa de inverno. E valeu sim senhora.
Mas o desfile de figurinhas e figurões que por lá se passearam, foi de bradar aos céus. Se eu estivesse pelos azeites, tinha escrito um livro de personagens logo ali.
As máquinas fotográficas têm um telescópio agarrado, em vez de uma lente. De verdade. Enfiam-no na cara daquelas criaturas ávidas de social e disparam, disparam, disparam até à morte.
Andam atrás de umas, para ficarem na fotografia ao lado das outras. Sempre as mesmas, os mesmos nomes, as mesmas caras, os mesmos sorrisos. E elas lá vão. Uma, e outra e mais outra vez. Clique, clique, clique, é o som mais escutado. Esse e o dos copos a encherem. Mas desse barulho também eu gosto...
E depois vêm as televisões e os seus programas, de fim-de-semana a seguir do almoço. Daqueles que a minha cabeleireira falou. Ele é meninas apresentadoras, sorridentes e simpáticas, colocando questões tolas; ele é câmaras com focos de luz, capazes de iluminar estádios de futebol; ele é encontrões e pisadelas para se aparecer ao lado do entrevistado, assim como quem não quer a coisa; ele é uma verdadeira antologia de como se sobrevive em ambientes cor-de-rosa. Há cenas de susto. Acreditem-me.
Claro que na semana seguinte, lá estava eu no cabeleireiro a cuscar a revista do salão. Quatro páginas. Mas quatro páginas de quê? Desta, daquela, da outra e daqueloutra. Mas do lançamento propriamente dito, do tema da festa, do acontecimento que nos levou ali...nada. Só o título da reportagem. Mal se fala do conteúdo, só da forma e isso é o que torna este tipo de reportagens sem qualquer valor jornalístico.
Mas o pior das revistas cor-de-rosa não são as vertigens sociais que se acometem em alguns, mas sim a parte perversa da questão. A exposição desmedida. A invenção de factos. A ausência de privacidade. A perseguição. A invasão. A quase impossibilidade de livre movimento. O lavar de roupa suja. O sururu. A falsa adulação. A maledicência. A galopante subida aos píncaros. O não apareces, logo não existes. A morte súbita.
Ah, também lá esteve? E não aparece nunca em nenhuma destas fotografias? Que pena, assim nem valeu a pena ter ido, não é?
Disse-me a minha cabeleireira muito chocada.
E o Carlos, não me diga que já foi capa de alguma revista cor-de-rosa?
Mas a minha cabeleireira continua: aquela, a loura do programa de sábado a seguir ao almoço. A que se divorciou do outro estupor, que agora anda aos caídos. Essa agora está grávida de outro. Então ainda não leu?
Aceno com a cabeça. Faz de conta que sei.
E lá vem ela: é como o casal BradJolie; aquilo para mim está nas últimas e não é de agora. O desgraçado do rapaz nem deve conseguir dormir, com tanto filho aos gritos pela noite adentro. Olhe, se quer que lhe diga, também é muito bem feito! Ninguém o mandou trair a Jennifer. Tão linda que ela é. Aqueles cabelos perfeitos. Lindos, lindos, sempre arranjadinhos, brilhantes. Aquilo não é dela, só pode ser coisa de um bom cabeleireiro, ah porque disso entendo eu, muito bem, não acha?
Bom, isto não é todas as semanas assim, mas se ela me vê pegar na revista cor-de-rosa lá do salão, estou feita.
Na verdade, existem poucas coisas tão tontas com as revistas cor-de-rosa. Tontas porque alimentam cabecinhas ainda mais tontas, crentes de que a realidade é mesmo assim: tonta de todo. E talvez seja, para os tontos que não fazem mais nada, senão correr para a frente dos fotógrafos.
Revistas tontas pelo desfile de disparates que por lá se lêem: o não sei quantos é o grande amor da minha vida (namoram há duas semanas); sei que quero ficar com ele até ao fim dos meus dias (conheceu-o ontem); sempre quis ser actriz (e diz prontos); nunca fiz dietas, já nasci assim (e já fez para cima de não sei quantas plásticas); não resisto a uma carteira Hermés (e compra imitações na feira).
A tonteira maior não vem das verdadeiras figuras públicas, os actores, músicos, pintores, estilistas, designers, mas dos outros, dos profissionais da coisa cor-de-rosa.
Recentemente fui convidada para um grande lançamento. Coisa que merecia a pena sair de casa, numa noite chuvosa de inverno. E valeu sim senhora.
Mas o desfile de figurinhas e figurões que por lá se passearam, foi de bradar aos céus. Se eu estivesse pelos azeites, tinha escrito um livro de personagens logo ali.
As máquinas fotográficas têm um telescópio agarrado, em vez de uma lente. De verdade. Enfiam-no na cara daquelas criaturas ávidas de social e disparam, disparam, disparam até à morte.
Andam atrás de umas, para ficarem na fotografia ao lado das outras. Sempre as mesmas, os mesmos nomes, as mesmas caras, os mesmos sorrisos. E elas lá vão. Uma, e outra e mais outra vez. Clique, clique, clique, é o som mais escutado. Esse e o dos copos a encherem. Mas desse barulho também eu gosto...
E depois vêm as televisões e os seus programas, de fim-de-semana a seguir do almoço. Daqueles que a minha cabeleireira falou. Ele é meninas apresentadoras, sorridentes e simpáticas, colocando questões tolas; ele é câmaras com focos de luz, capazes de iluminar estádios de futebol; ele é encontrões e pisadelas para se aparecer ao lado do entrevistado, assim como quem não quer a coisa; ele é uma verdadeira antologia de como se sobrevive em ambientes cor-de-rosa. Há cenas de susto. Acreditem-me.
Claro que na semana seguinte, lá estava eu no cabeleireiro a cuscar a revista do salão. Quatro páginas. Mas quatro páginas de quê? Desta, daquela, da outra e daqueloutra. Mas do lançamento propriamente dito, do tema da festa, do acontecimento que nos levou ali...nada. Só o título da reportagem. Mal se fala do conteúdo, só da forma e isso é o que torna este tipo de reportagens sem qualquer valor jornalístico.
Mas o pior das revistas cor-de-rosa não são as vertigens sociais que se acometem em alguns, mas sim a parte perversa da questão. A exposição desmedida. A invenção de factos. A ausência de privacidade. A perseguição. A invasão. A quase impossibilidade de livre movimento. O lavar de roupa suja. O sururu. A falsa adulação. A maledicência. A galopante subida aos píncaros. O não apareces, logo não existes. A morte súbita.
Ah, também lá esteve? E não aparece nunca em nenhuma destas fotografias? Que pena, assim nem valeu a pena ter ido, não é?
Disse-me a minha cabeleireira muito chocada.
E o Carlos, não me diga que já foi capa de alguma revista cor-de-rosa?
16 comentários:
Pões-te a ler essas revistas, ficas com a vistinha turva e depois começas a atirar ao lado!
Oh mulher o link que pões no fim do post para o Carlos aponta para o "cronicas da graça #6". Corrige lá isso se não as freguesas não vão entender patavina~.
Não estou a ver o Carlos capa de alguma revista cor-de-rosa. Mas quem sabe... a vida é cheia de surpresas!
Diverti-me a ler ambos os textos sobre as revistas cor-de-rosa. Porque será, que o meu cabeleireiro não tem dessas conversas comigo? E o meu dentista não tem na sala de espera nenhuma dessas revistas? QUE PENA!!!
Olá!
Linda ainda bem que não apareceste em revista nenhuma;)
Tu és diferente dessa gentinnha " pinderica das festas de croquete"...
Beijocas
Bom, pois eu cá, um dia, hei-de ser capa de alguma.
Sonho com uma paparazi em cinma dos eucaliptos que rondam a minha casa a apanhar-me sem maquilhagem, camisa de fralda para fora, ténis, brinquedos nos braços, crianças á frente e eu, linda, mas desgrenhada, de óculos de sol e cara de 'deixa-me pôr a jeito pró paparazo que tá no eucalipto mas eu faço de conta que não' e com um título: 'Lúcia: apanhada á saída de casada: vende elegãncia mesmo sem maquilhagem e com um totó mal feito a agarrar o cabelo'!
Um dia... um dia...
Um dia também eu escrevi sobre revistas cor-de-rosa, pois fiquei revoltado com a eficiência de um médico que se lembrou de não atrasar consultas e nem tive tempo de me "coltivar" nas revistas e mais, em vez de ter a televisão na TVi com a esganiçada lá do sitio tinha a tv na sic notícias.Claro que fiquei "chateado".
Vamos lá ver então se o CBO já foi capa de revista...
bom fds
E o Tuga gosta tanto de ler essas revistas, quase tanto como gosta de abrandar no IC19 para ver bem o acidente que aconteceu do lado de lá...
Jokas
Mas se não fosse o rosa choque das revistas pindéricas de que se falaria nas salas de espera dos dentistas, dos cabeleiros, dos doutores de cirurgia plástica, das manicuras, das... Sim, de que falariam!?
Patti, descurou o pormenor decisivo: é que essa gente que alimenta o cor-de-rosa das revistas sociais não é só deslumbrada, não. É, sobretudo, paga – e, nalguns casos, muito bem paga - para isso. Quanto ao cor-de-rosa das revistas sociais portuguesas é - palpita-me - pintado sobre papelão. :-)
Também ia referir o pormenor que a Luísa comentou. E essa é a razão de tanta gente se pendurar nos papparazzi, já que trabalhar é coisa que não se vê fazer a nenhum deles.
Mas obviamente que não teriam sucesso se não houvesse quem as lesse, e nisso, a curiosidade portuguesa não me parece diferente da dos outros...
Menina!!!!! Então também já alinha nessas festas do cor-rosa?? Não a imaginava tão... tão... emergente!kkkk
Então é assim... eu assumo que leio a revista semanal que compro com: a programação de TV; o resumo da telenovela que acompanho; as receitas (imensas) que traz, bem como as fofoquices da semana e juro, a pés juntos, que não compro mais nenhuma revista dessa cor.
Acontece que, sempre que chego à cabeleireira ela tem lá outras revistas mais conceituadas nessa cor que dizem exactamente a mesma coisa que a TV7 dias.
Prontos já disse!!!!
Não,parceira,nunca fui capa de revista, mas tenho de confessar que há muitos anos- na fase ainda dos colunistas sociais e quando só havia uma dessas revistas- fui "apanhado" numa festa numa embaixada. À má fila e sem ter sido avisado. Quando me vieram dize que eu vinha na revista, telefonei à colunista (que era uma pessoa muito badalada na época) e dise-lhe das boas, mas foi remédio santo. Nunca mais me chatearam.
Pois, as convesas nas cabeleireiras são tal qual eu imaginava mas, em abono da verdade, na barbearia onde vou também há quem fale disso...
Confesso que não leio as revistas cor-de-rosa; vejo, no entanto, um programa de TV no domingo à tarde.
De qualquer maneira, quase todos os jornais têm umas folhas "cor-de-rosa".
Eu só poderia entrar numa revista a preto e branco, com mais preto do que branco! :-))
Abraço
Patti
pois é mesmo assim, mas coitadas se não forem assim são tão infelizes, vivem na ilusão da superficialidade. o que importa é que sejam felizes.
No outro dia na sala de espera da clínica onde vou, estava Luciana Abreu. Entrou de rompante e falou bem alto: deixem-me ficar aqui neste cantinho para ver se os jornalistas não me descobrem... Como se os jornalistas não tivessem mais anda para fazer do que seguir a LA até à clínica.
A certa altura começa ela "não sei o que se passa comigo, não consigo engravidar...". Para caso assim a minha avó costuma dizer "esta gente gosta de dar palha ao povo".
`Fico satisfeita por a ginecologista dela não ser a mesma da minha, mas espera aí, assim tenho mais hipóteses de nos voltarmos a cruzar na sala de espera. Haja paciência!
Gostei de a conhecer, embora só por Net.
Voltarei.
Um bom domingo.
Confesso que em temos que já lá vão fui capa umas quantas vezes das revistas ditas hoje, cor-de-rosa, na altura, do social.
Não me acrescentou nem tirou nada a não ser a absoluta certeza que mais de 50% do que lá vem escrito é falso.
Posso por exemplo citar-te um determinado aniversário do Dr. Soares, em que descreveiam as pessoas que estavam na mesa dele, sendo que um deles era um deputado do PSOE espanhol, que nunca lá esteve!
Hoje, limito-me a passar os olhos nas capas, quando estou nas filas das bombas de gasolina para pagar.
Só uma coisa me confunde:se ninguém compra e ninguém lê, como se mantêm? Serão subsidiadas?
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