Se há coisa de que eu tenho saudades, é dos piqueniques que se faziam noutros tempos. Tudo à volta deles era motivo de festa e alegria. Quem levava o frango assado, quem fazia os croquetes, quem comprava as batatas fritas, quem cozinhava os bolos e que bebidas levar. E as toalhas de xadrez, quantas eram precisas? A bola, as raquetes, o ringue, as cartas, o loto, as bicicletas, o disco.
Nós tínhamos daquelas cestas bonitas, com divisórias e correias de cabedal para prender os pratos, os talheres e o termo do café.
O local eleito era a sombra larga do pinhal. De preferência isolado, sem outros piqueniqueiros por perto. Gostávamos de fazer a nossa algazarra familiar em privado.
Também me lembro doutro tipo de piquenique: às escondidas dos pais. Eram geralmente feitos por volta da meia-noite, quando tínhamos amigas a dormir na nossa casa. O menu previamente combinado - muitos séculos antes do telemóvel - através de bilhetinhos na sala de aula, que fluíam de carteira em carteira. Pão de forma com manteiga de amendoim, chocolate branco, pastilhas gorila, petas-zetas efervescentes, gomas da heller, línguas de veado e bombocas. Tudo escondido debaixo da cama, era trazido para cima do edredon entre risadas e shius receosos de serem descobertos pelos adultos.
E os piqueniques dos escuteiros, das excursões do colégio, dos grupos de jovens, das saídas de fim-de-semana com os amigos...
Ainda piquenico de vez em quando. Mas nada como antes. As pessoas esqueceram-se de como é, ou então o conforto do restaurante é mais apetecível. Comodismo, falta de ideia, pouca paciência. Não sei. Mas tenho pena.
Há dois anos, quando estive nos cinco dias das assombrosas festas da N. Senhora da Agonia, em Viana do Castelo, assisti ao piquenique dos piqueniques.
Na verdade, aquela é a maior romaria do país e o ror de gente que atrai é inimaginável. Hotel, há que reservar com meses de antecedência, como fazem os prevenidos como eu, mas a oferta não chega para as encomendas e o grande magote de gente, chega a Viana nas famosas camionetas de excursões.
A sombra para o almejado piquenique é seleccionada e devidamente marcada, logo na alvorada. Não há cá azo para confusões. Território assinalado, o povo segue para a festa. Ao meio-dia regressam esfaimados e aí começa o espectáculo.
Malas térmicas, malas térmicas e malas térmicas. Cabazes e cabazes e mais cabazes. Cobertores, mantas e toalhas. Bancos, banquinhos e banquetas. Camas de rede, vejam lá bem!
Tachos embrulhados em papel de jornal, para o arroz de cabidela não arrefecer, panelas de sopa de entulho, pão a rodos, daquele saloio a estalar de bom, broa amarela, queijos do tamanho de mós, pernis de presunto luzidio, pão de ló caseiro, fruta sacada à árvore e por fim, o belo do garrafão.
E depois comem, e bebem, e cantam, e riem, e chamam, e gritam, e aplaudem, e jogam à bisca, e ao dominó e fazem crochê, e lêem o jornal, e for fim dormem. Preparando-se para os fogos da noite.
Estivesse a minha Amelinha ali comigo naquele dia, e aposto como se juntava ao repasto da turba.
E o meu querido parceiro, há quanto tempo não piquenica?
Ainda havemos de combinar um no blogobairro, para quando vier o bom tempo!
Nós tínhamos daquelas cestas bonitas, com divisórias e correias de cabedal para prender os pratos, os talheres e o termo do café.
O local eleito era a sombra larga do pinhal. De preferência isolado, sem outros piqueniqueiros por perto. Gostávamos de fazer a nossa algazarra familiar em privado.
Também me lembro doutro tipo de piquenique: às escondidas dos pais. Eram geralmente feitos por volta da meia-noite, quando tínhamos amigas a dormir na nossa casa. O menu previamente combinado - muitos séculos antes do telemóvel - através de bilhetinhos na sala de aula, que fluíam de carteira em carteira. Pão de forma com manteiga de amendoim, chocolate branco, pastilhas gorila, petas-zetas efervescentes, gomas da heller, línguas de veado e bombocas. Tudo escondido debaixo da cama, era trazido para cima do edredon entre risadas e shius receosos de serem descobertos pelos adultos.
E os piqueniques dos escuteiros, das excursões do colégio, dos grupos de jovens, das saídas de fim-de-semana com os amigos...
Ainda piquenico de vez em quando. Mas nada como antes. As pessoas esqueceram-se de como é, ou então o conforto do restaurante é mais apetecível. Comodismo, falta de ideia, pouca paciência. Não sei. Mas tenho pena.
Há dois anos, quando estive nos cinco dias das assombrosas festas da N. Senhora da Agonia, em Viana do Castelo, assisti ao piquenique dos piqueniques.
Na verdade, aquela é a maior romaria do país e o ror de gente que atrai é inimaginável. Hotel, há que reservar com meses de antecedência, como fazem os prevenidos como eu, mas a oferta não chega para as encomendas e o grande magote de gente, chega a Viana nas famosas camionetas de excursões.
A sombra para o almejado piquenique é seleccionada e devidamente marcada, logo na alvorada. Não há cá azo para confusões. Território assinalado, o povo segue para a festa. Ao meio-dia regressam esfaimados e aí começa o espectáculo.
Malas térmicas, malas térmicas e malas térmicas. Cabazes e cabazes e mais cabazes. Cobertores, mantas e toalhas. Bancos, banquinhos e banquetas. Camas de rede, vejam lá bem!
Tachos embrulhados em papel de jornal, para o arroz de cabidela não arrefecer, panelas de sopa de entulho, pão a rodos, daquele saloio a estalar de bom, broa amarela, queijos do tamanho de mós, pernis de presunto luzidio, pão de ló caseiro, fruta sacada à árvore e por fim, o belo do garrafão.
E depois comem, e bebem, e cantam, e riem, e chamam, e gritam, e aplaudem, e jogam à bisca, e ao dominó e fazem crochê, e lêem o jornal, e for fim dormem. Preparando-se para os fogos da noite.
Estivesse a minha Amelinha ali comigo naquele dia, e aposto como se juntava ao repasto da turba.
E o meu querido parceiro, há quanto tempo não piquenica?
Ainda havemos de combinar um no blogobairro, para quando vier o bom tempo!
20 comentários:
Esta deliciosa cronica deixou-me nostalgica ... dos piqueniques da minha infancia.
Obrigada pela 'boleia' em forma de texto!
Visitei o Rochedo e o Ares, como faço sempre que se publicam as Crônicas de Graça e deixo, hoje, em ambos, o mesmo comentário, porque ambos os textos me encantaram (como sempre, aliás).
Como são diferentes as visões destes dois parceiros sobre os piqueniques!... Enquanto para ele o piquenique é uma barafunda, para ela é um deleite... rs...
Diverti-me muito com os piqueniques descritos pelo Carlos e fiquei roxinha de vontade de ir a um dos piqueniques da Patti...
Beijinhos aos dois e obrigada pelo encanto dos seus piqueniques.
Querida Patti
Que bom ter-te de volta! Já tinha saudades de te encontrar.
Também partilho do gosto pelos piqueniques. Quando era pequena o meu pai tinha um grupo de amigos que, todos os anos, em Setembro, se juntava na Serra do Buçaco. Finham de todos os cantos do país e as panelas embrulhadas em cobertores saiam de casa, às vezes, às 5 da manhã para estar lá. A gastronomia era variadíssima e, naquela hora em que alguns dormiam a sesta, outros jogavam à bisca, elas liam o jornal ou faziam croché. Enquanto outras voltavam a mostrar as mesmas fotografias... nós, as crianças, tinhamos total liberdade para descobrir a serra ali à volta. Era um espaço gigantesco mas, por mais que nos perdessemos nos trilhos iamos sempre ter ao local onde estava o centro do piquenique. Muito bom ter viajado através destas memórias. Obrigada.
Muitos beijinhos e um bom fim de semana. Isabel
Também partilho o gosto pelos piqueniques. Mas calmos...
Como disse ao Carlos, não gosto de picnics, mas aos poucos que fui diverti-me bastante.
Acho que, quando estamos em boa companhia, tudo nos parece bem: as feiras, as romarias, as procissões, o empanturaanço, etc., etc..
Os picnics a que fui foram sempre muito barulhentos, mas no fim ficava tudo limpinho. Aipezé!
Olha só, a PresidentA de volta e eu nas minhas obras de Santa Engrácia.
A foto está de acordo com o tradicional ritual merendeiro de final de semana, quase ao estilo desta outra tradição, mas tem uma falha grave. Falta lá o indispensável garrafão de tintol. Tsss...
Também piqueniquei muito!
Até no colégio interna, às escondidas das freirinhas, pela noite dentro...
Com os meus filhos e os meus pais, com colegas da escola quando nas escolas não havia professores zangados com a vida e havia tempo para irmos para o pinhal de S. Pedro!
O meu último piquenique foi na sexta-feira passada quando levei o almoço aos homens que andavam a cortar e a queimar o mato numa propriedade minha e almocei com eles!
Foi divertido mas gelaria...se não fosse o vinho tinto...:-))
Abraço
Olá cara Patti
A sua excelente crónica, fez-me regressar ao passado, com a sua belissima descrição dos elementos que compunham as minhas idas às "hortas".
Foi um bonito recomeço...
Um abraço
APS
Qu relato mais saboroso, mesmo que nostálgico! Saudades, muitas, do tempo dos piqueniques juvenis...
que delicia... ai que piqueniques...
mas olha... podemos sempre levar uns frangos e uns croquetes para a viagem da semana que vem!!!! ah ah ah bjinhos!
Hoje estou com olho de lince, parceira... Não me escapou o equipamento azul e o carrinho em cima da relva. Vou analisar qual o montante da coima aplicar(eheheheh!)
Quanto ao piqueniqu do blogobairro, não pode ser num restaurantezinho à beira -mar?
Cara Patti,
Bom regresso!
Quanto aos piqueniques... ai que saudades dos de antigamente! Tenho recordações muito semelhantes às suas - a minha família (principalmente do lado da minha mãe), era perita em piqueniques, e tudo era motivo para uma reuniãozinha.
E quando iamos de férias... (como ainda não se falava de doenças de pele provocadas pelo sol, passavamos o dia espetados na praia - e paria da Luz que estava normalmente por nossa conta... que saudades!) lá iamos nós carregados com o taxo embrulhado em jornal, pratos, copos, talheres, etc, etc, etc... (a minha mãe ainda hoje tem os mesmos pratos de piquenique - pena que já não tenham uso).
Que saudades, que saudades!!!
..., estes teus textos estao cada vez melhores... é sempre uma "delicia" estar aqui... hoje em especial fizeste agua na boa e deste uma ideia genial! Adoro um piquenique, a ver se me organizo para qd a primavera chegar estar tudo a postos, a Carolina já me disse q quer uma toalha aos quadradinhos(!), ehehe sao os livros da Anita... enfim vai ser uma aventura!
Beijo encantado :)
Se não fosse o estado meteorológico que nos afecta ia já fazer um picnic...
Patti,
Concordo em pleno com os agradáveis piqueniques que descreve na 1ª parte mas por amor de Deus não mencione os passados nas festas da Sra. Agonia em Viana do Castelo onde vivo. Simplemente deprimentes. Mas como temos uma vereadora da cultura que os acha populares assim como aquelas barracas de pipocas,cassetes e comes e bebes, nada há a fazer. Eu faço:fujo de Viana nessa altura.
Beijo
Querida Patti, parece que ali para as bandas do Jamor ainda se fazem piqueniques «à moda de Viana» nos dias da final da Taça de Portugal. Pela minha parte, só gosto de piquenicar em ambiente «selvagem», longe, muito longe da multidão. ;-)
Bem, querida Patti...não sou muito de piqueniques.Talvez os daí sejam diferentes. Aqui tanto no campo como na praia, os piqueniques são exatamente como o Carlos descreve no post dele.Ou talvez coisa pior...
Este ambiente acolhedor que descreve, aqui vemos nas reuniões realizadas nas varandas das casas. Espalham-se redes, cadeiras e as pessoas ficam até o anoitecer.
Mas algo no seu post me fez voltar no tempo.
Eu tinha umas amigas que iam sempre dormir em casa. Minha mãe nos mandava dormir diversas vezes, até que fingíamos estar dormindo. Depois que toda casa estivesse silenciosa começavam os cochichos, normalmente acompanhados de bolachas de chocolate recheadas :o)
Eu também gosto de piqueniques, embora raramente os faça.
Sem garrafões nem mantas e com cuidado com o ambiente.
Beijos.
A propósito de "havemos de..." tenho um post no EQ.
já fiz grandes piqueniques!
Desde pequena que adorooo isso e acampar.
bonito cantinho o teu ;)
passa no meu blog e espreita
beijo*
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