No início, é pelos olhares. Pelos olhares. Não pelos olhos. Pelos olhares, eu começo a conhecer os outros. Pelas expressões. Caras e caretas. Risos e choros.
Eu gosto da imagem. Da expressão. Do gesto. Da figura. Gosto mais dos rostos quietos que dos agitados.
Todos temos expressões ensaiadas, pensadas antecipadamente, estudadas. É simples identificar quando alguém faz uma representação discordante da sua própria imagem. As 'falsas' expressões são as que levamos para o palco de todos os dias, onde os outros nos aplaudem e nos admiram e onde os enganamos, os iludimos e nos dissimulamos. Se observarmos olhos e olhares, com olhos de ver, com olhos de fitar, com olhos de observar e com olhos de mirar, já não precisamos de olhar duas vezes.
A outra, a expressão verdadeira, é espontânea. Não usa cremes La Mer. E por baixo dela estará alguém que me poderá interessar. Gostar de imediato, não. Atrair, sim. Eu nunca gosto logo. Interesso-me, mas não gosto de repente, ao primeiro olhar. Só de cães. Gatos. Cavalos. Gorilas e orangotangos. Joaninhas, bichos-de-conta e caracóis a passear nas flores. E de capas de livros. Só desses, gosto logo.
Quase todos usamos a expressão do teatro. Como defesa natural. Por hábito. E nem por isso tem de ser mau. A outra, a pura, já pouco a vejo, a não ser nos olhos castos dos animais ou perversos dos assassinos. Nem no meu espelho do quarto. E é assim que o olhar teatral, o dos palcos e do estrado da vida, o único olhar que temos, se torna verdade. E mais difícil de deduzir e adivinhar quem estará por detrás do pano. Felizmente também possuímos intuição. Falível, obviamente. Mas confio na minha, apoio-me nela em jeito de contraponto.
No meu teatro, actuam uns olhos castanhos-claros, sempre atentos e quietos. Olhos objectivos, seguros e directos, que quando sonham é quase sempre com os pés no chão. Os meus olhos esperam. Costumam aguardar. Expectar. Raramente se antecipam a julgamentos prévios. Nem sei porquê. Olhos que me franzem a testa em jeito de cuidado, de atenção redobrada. Mas poucas vezes de desconfiança.
Creio sempre mais, do que desconfio. E dou-me bem. Porque olho. Olho muito. E como isso acontece, vejo sempre.
25 comentários:
Como escreves bem , pá!
Eu infelizmente, na maior parte dos casos, começo por gostar logo, e com o tempo, vou deixando de gostar.
Problema de quem, para as coisas importantes da vida, é um tanto ou quanto ingénuo.
Pronto, já falei de mim.
O olhar é e será sempre o espelho da nossa alma...
com um simples olhar podemos revelar o mais profundo do nosso ser...para isso basta quem nos olha saber olhar com olhos de ver..
Querida Patti, também olho muito, mas a desconfiança me segue sempre. Já não acredito tão facilmente e quase sempre acerto. Se não de imediato, o tempo vem dizer que eu estava certa. Tenho pena que seja assim, porque às vezes não se pode mudar o rumo das coisas e aí sofro por antecipação. E quando se trata de outra pessoa que eu tento avisar e não me ouve, o desalento é maior. Coisa de mãe? De mulher? De Libriana? Não sei. Coisas de Mila Pitanga, talvez, que tem muita história pra contar...
beijos de bom dia!
Pois é, eu estou como tu, " Creio sempre mais, do que desconfio "...nao tenho tido muitas desilusoes com as pessoas na minha vida. Consigo quase sempre ao primeiro contacto ver o tipo de pessoa. Sem duvida, o olhar diz-nos muito...e apercebo-nos logo da falsidade!
E quanto a ti, sei por terceiros que uma das qualidades que tens é seres uma verdadeira AMIGA para as tuas amigas!
bjos
Tu olhas-me ou vês-me?
Gi:
Por agora leio-te. Que é bem mais complicado do que olhar-te para depois ver-te.
É dificil manter uma expressão falsa durante muito tempo, todo o tempo, quase impossivel.
Também gosto dos rostos quietos, e de quando me olham nos olhos, a segurança do outro mantém-se enquanto assim permanece...A minha é desafiada.
também me atrai, depois seduz...
"no meu entender existe sempre algo de perfeito nas superficiais imperfeiçôes... Aprendi parcialmente a VER com os olhos do coração".
trexo retirei do meu perfil.
Um bom dia para ti, beijo
mas que poste serio hoje menina !
como faço eu ?
sou intuitiva, muito,
o meu problema é que não acredito
na minha intuição
e de vez em quando erro e muito
quando erro fujo a correr
e não explico nada
mas normalmente
as pessoas sabem porque fuji ;)
pela net é bem mais dificil
porque não se veem os olhos
nem se ouve a voz.
mas olha
ja me enganei a serio
com pessoas não virtuais,
ja passei por vergonhas,
ja me aborreci com amigos
a serio
por causa de conhecimentos virtuais,
e continuo aqui sorrindo
porque a minha vida
esta aqui em casa
e não em macacadas
e intrigas virtuais.
quando vejo que as pessoas
não valem mesmo a pena
corto sem explicações,
mas continuo
a abrir a porta
a novos conhecimentos
sempre numa boa
até que me aldrabem
ou deixem ficar mal ;)
beijos
sem quereres conseguiste fazer uma sátira daquilo do que se passa aqui na net.
Olhar e não ver é um erro que muita gente comete...
Gosto de olhares firmes, gosto de olhares claros, gosto de olhares simples.
Também me guio muito pela intuição, mas acima de tudo pela experiência e pelo acumular de dados... um olhar pode não ser tudo, as atitudes isso sim, são o "reflexo" das pessoas.
Beijosss
http://coisasdevidas.blogspot.com/2008/02/desafio-como-me-vejo.html
Uau, que reflexão! Me identifiquei muito com ela. Também sou intuitiva. Poucas vezes falhei. Já disse que não gostava de cara. Outras gostei no ato. Gosto do olho no olho. Conheço um pouco a essência através desse olhar. Desconfio de quem conversa olhando para os pés, sempre. Aprendi tambem com o tempo a não me deixar levar pela primeira impressão, ou primeiro olhar, mas já fiz muito isso. E errei muitas vezes. Sorte que sempre tive segundas chances.
Como disseram aqui acima, pá, como escreves bem! Adoro te ler.
beijoooooo
os meus olhos têm dentes...
Os cães, que são os animais que eu conheço melhor, gostam ou desgostam logo. Eu preciso de um tempo para ver bem. E mesmo assim, sou muito reservada até confiar. No entanto, abro excepções, tipo instinto canino. Mas acabo por ter muitos conhecidos e poucos amigos.
há olhares que me assustam...
há outros que me encantam...
há outros ainda que me incomodam...
a única coisa que sei é que gosto de conversar com quem me olha nos olhos e nunca desvia o olhar...
O olhar é sem dúvida o melhor emais certeiro meio de chegar lá...
:)))))
(e é só isso)
O meu teatro não tem tecto...
beijinhos dasnuvens
O olhar reproduz redundâncias frágeis, talvez miseráveis, de todos os lampejos que há. Por isso o olhar.
Beijo de Paz.
É sempre preferível ver a ouvir dizer.
Beijinhos
Os teus reflexos são muito semelhantes aos meus.
Gosto de olhar o olhar.
Dizem-me que o meu assusta por ser frontal e não baixar... mas é tão só porque demonstro que quero ver para além da cor.
Um beijo.
Cada vez mais as tuas palavras têm olhos. E reflexos, muitos, tantos.
Gasolina:
Aqui, há poucos olhares assim, como são as palavras que escreves.
Gosto de falar com quem me olha nos olhos.
Desconfio de quem desvia o olhar.
Mas também há olhares que enganam.
Acho que os olhos podem sorrir ou ser o espelho de uma alma sofrida.
Mas sou mais de confiar e depois de me enganarem.
Estou aprendendo. Ainda tenho boa idade para isso...
Já te disse que estás a escrever muito bem? Hoje, claro:)))
Beijinhos e veludinhos
Os olhos são mesmo o nosso espelho.
Olhar nos olhos das pessoas inspira confiança mas ás vezes fico nervoso ao olhar e ser olhado fixamente... Talvez por vergonha, talvez por receio em ficar exposto a um olhar que olha para além do olho, fixando-se na mente.
Adorei o teu texto.
Bjs
Olá, Patti, esse olhar aí, em cima, me ganhou: meigo, carente, meio desamparado... e verdadeiro! Não gosto de nada que agrida, principalmente um olhar. Estou lendo tuas matérias, aqui de tão longe! São ótimas. Hoje tirei um tempo para visitar os amigos.
Beijo grande!
Taís
Tais:
Que bom que teve um tempinho. Temos sempre pouco tempo
Volte sempre!
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