E mesmo passados 34 anos da revolução das flores, ele há coisas que mudaram pouco. Este é o país da dicotomia das portas. Para uns, denominam-se por portas A, as escancaradas, as abertas de par em par, qual Arco da Rua Augusta. Para outros, chamam-se de portas B, as que estão sempre fechadas, trancadas, acorrentadas e vigiadas.
As portas A são onde permanecem os “mesmos do costume”, das pequenas elites repisadas vezes sem conta. O desgraçado do anónimo, diligente, talentoso, empenhado e esperançoso quando vai optimista bater à sua porta B, na esperança de ela passar a ser a sua porta A, depara-se com que cenário?
Ah, sabe é que de manhã estamos fechados e à tarde não trabalhamos.
ou
Seja bem-vindo, pode deixar aí a sua proposta, trabalho, apresentação, C.V., livro, música, o que for, que eu depois entrego. Fique descansado.
Muito raramente, porque não me agradam as generalizações e as excepções também existem (até aqui em Portugal), há um abençoado que consegue penetrar na porta B, começa a designá-la por porta A e torna-se a nova coqueluche do ano. Alguém inteligente do lado de lá, ia a passar e reparou no sujeito, ou este conhecia o primo da vizinha do 3º esquerdo, que servia os cafés ao Sr. Dr. X, ou tornou-se sem-abrigo e indigente porque ficou 5 anos a dormir nos degraus da sua porta B, futura porta A e fez amizade com o segurança que arranjou forma de lhe meter para lá o projecto, ou outra coisa qualquer.
Mas na porta A, meus meninos, só lhes digo, o cenário é muito diferente. Ninguém dorme na rua.É uma passadeira vermelha de notáveis; inimigos e amigalhaços, companheiros de jantaradas e tertúlias, velhos rancores e cordiais relações, habilidosos e trapalhões, predestinados e empenhados. Feira de vaidades, às vezes com tanto de incompetente como de sinistro. Parecem tolinhos atrás de protagonismo, flashes e objectivas, qual revista Caras. Na porta A desliza suavemente um show of de mentes brilhantes com lugar cativo, tipo B.I., pessoal e intransmissível.
Até aí, tudo bem, desde que o lugar seja merecido, porque se luta por ele a cada dia que passa e não por pura indolência, conquistada pelo estatuto de elite.
Só gostava de saber uma coisinha simples; quantas vezes por ano, nesta santa terrinha, o anónimo passa da porta B para a porta A e faz companhia ao iluminado do lugar cativo, toma cafezinho com ele, mostra-lhe as fotografias da família que trás na carteira e combinam uns buracos no ‘green’?
14 comentários:
Há alguns, que através de programas televisivos, experimentam a porta A, porque os que lá estão em permanência se sentem aborrecidos, funcionando como Bobos da Corte modernos; esses alguns incham, incham, que nem sapos e depois rebentam, espezinhados por uns saptinhos Prada, voltando à porta B ainda mais rasos do que o que eram.
Vou-te dizer, muito sinceramente, sou muito mais feliz na Porta B do que muitos que franqueiam e vivem no condomínio atrás da Porta A.
Há muitos que ficam contentes por estarem na porta B, nem aspirando sequer entrar na A, visto já se darem por muito agradecidos de terem conseguido sair da C.
Quanto à passagem da B para a A, no nosso cantinho...bem, creio que por mérito próprio muito poucos.
(esqueci-me dos caramelos...zangadita??!!!???)
Assim, de repente não me ocorre ninguém.
E mesmo os que passam de A para B por mérito próprio, nunca têm a vida facilitada.
Beijinho e uma excelente semana
È infelizmente essas portas existem por todo o lado... como tenho um lado muito português e sei bem do que falas, as vezes fico espantada com a palhaçada que lá vai na porta A, sinceramente eu acho até que a porta A, já é ridicularizada por muito boa gente, alias, acho até que já existe muita boa gente que nem lá quer entrar de tal modo que ela anda enfeitada por pessoas tao pouco, como direi, interessantes(?), é que convenhamos temos ali mto e mau circo... cruzes credo! Tira-me desse filme!
:)
Bora tomar uma caipirinha, ainda está sol por ai?
Besos
Como é o interior de quem passa na porta A?
Beijinhos, obrigada pela tua presença lá no meu cantinho
Aqui no meu bairro as portas são todas iguais, a atitude é o factor decisivo de permanência ou retirada estratégica... uma boa varredela no tapete de entrada é algo essencial ;)))
Este teu post é interessante, tipo pau com dois bicos, ou foi impressão minha :))))
***
Olá:
Escolher uma das portas pode mesmo ser um pau de dois bicos.
Valha-nos o discernimento para sabermos estar com a postura mais correcta em qualquer uma delas.
E acima de tudo, Patti, uma coisa que ainda hoje referiste no meu blog... transparência...
Aí sim, há portas escancaradas a toda a gente...
Assim de repente, lembrei-me do Famoso Zé cabra e da Linda Reis, pois, mas não era bem disto que falavas pois não? Porque esses entraram directamente pela A de tão ridiculos que são, mas a bem da verdade os adjectivos pouco lhes importa, que entraram isso é verdade.
Beijinho
Patti, este teu post sobre portas A e B lembra-me das lições de matemática sobre Conjuntos. Quais figuras fazem parte do Conjunto A ou B? Todos nós fazemos parte de um conjunto, às vezes, até Unitário. Só não podemos pertencer ao Conjunto VAZIO, que este é Vazio em tudo e sai na Caras todas as semanas.
beijos, Patti
Ainda bem que a porta por estes lados(casa)é só uma...
Recebo todos da mesma maneira...
Excelente pergunta com que terminas o excelente texto.
Gostei muito, mesmo.
Beijos.
O problema de algumas portas "A" é serem o paradigma do princípio de Peter. O segredo, penso eu com os meus botões, de ignorar as portas é aproveitar o que temos ao máximo e não esquecer que, no fundo, o que interessa são as coisas básicas e sentir prazer nessas coisas básicas. Tudo acaba por ser uma questão de atitude. Há uma frase no "Amor em tempo de Cólera" que considero magnífica: "Eu não sou rico, sou um pobre com dinheiro" (o contrário também acontece, não se ser pobre mas sim um rico sem dinheiro). O que é que existe para lá da porta "X" que nos fará mover? E valerá a pena o trabalho?
Para terminar o comentário longuíssimo, uma historieta que costumo contar:
Um empresário, muito bem sucedido na vida, parou o seu veículo de luxo na beira da estrada, para "satisfazer uma necessidade biológica", entretanto reparou que estava alguém a pescar á sombra de uma árvore junto ao rio. «Boa tarde, importa-se que lhe faça companhia», disse. O pescador acenou em sinal de assentimento e continuou a pescar. «que isco usa?» perguntou o empresário. «Nenhum», respondeu o pescador. «E pesca muitos peixes, assim?» «Pesco um ou dois por dia. O suficiente para me alimentar», respondeu o pescador. «Mas, assim, sem isco, para pescar um ou dois peixes este rio deve estar cheio deles. O sr. podia arranjar um barco e isco. Dessa maneira pescava mais.» «Para quê?», perguntou o pescador. «Então, para ganhar dinheiro, depois do primeiro barco podia vir a comprar outro e ter gente que viesse a pescar por si. Podia ficar rico e poder passar o resto da vida a fazer o que mais gostasse de fazer.» «Pois» disse o pescador «o que eu mais gosto de fazer é passar o dia aqui, sossegado, a pescar».
Paulo:
É isso mesmo tirar o melhor dos prazeres simples da vida, porque a felicidade são breves instantes.
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