segunda-feira, 20 de outubro de 2008

das pequenas coisas

foto de sianto

Também já não perco muito tempo com o tempo, nem ando a correr com ele como se fosse fugir de mim amanhã. Prefiro gozar os minutos, às horas e os dias às semanas.

Desfruto bem mais os pequenos instantes que os grandes momentos. Os primeiros, aprendi a perpetuá-los e aos outros a dar-lhes a efemeridade que me merecem. Mas nem sempre soube disto.

Agora fico quieta quando chega o sol baixo e me toca a cara, não sinto frio quando arrefece ao fim da tarde de Outono, nem me queixo se a chuva resolveu salpicar-me o dia. Escolho o espaço que não tem sombra, rio-me das cócegas da brisa e agradeço à chuva o cheiro que deixou quando regou a terra. E pelo meio destas escolhas, entre estes pormenores de como gosto de ser, também descubro que sempre detestei o provérbio, mais vale um pássaro da mão que dois a voar.

É mentira. Não vale nada.

Se não podemos ficar com os dois, não temos que necessariamente ficar com o pássaro que ficou para trás, o que voa pouco, com o que sobra daquilo que tão benevolamente nos deixam, criando-nos a falsa ilusão de que é melhor termos qualquer coisa, que coisa nenhuma.

26 comentários:

Anónimo disse...

Ou como agora, em política, muito se usa: de mal o menos.

Tá bem tá...

SONY disse...

Patti,
A vida é feita de pequenos instantes, de pequeninas coisas que nos fazem sentir enormes e dar valor a tudo o que temos o que faz com que tudo o que temos seja ENORME!

Quanto ao provérbio, talvez valha mais os dois a voar e tentar apanha-los sempre, persistir, nunca desistir de alcançar os dois, sonhar...

jito,
Sony

Reflexos disse...

Realmente Às vezes corremos tanto, que nem damos conta que estamos a correr atrás do nada... 'ultrapassamos' coisas importantes!

BlueVelvet disse...

Claro, mesmo uma optimista militante não se deve contentar com o que resta.
Eu cá é mais: sou uma mulher simples, o melhor basta-me.
Gostei das cócegas da brisa e do cheiro da terra molhada.
Boa semana

R.L. disse...

Gostei muito. Se os pássaros voaram, talvez seja porque não era suposto pertencer-nos. Aquele que fica, fica não por nosso, mas por ser frágil e nós gananciosos. Gostamos de ter as coisas à nossa espera na prateleira.
Eu não gosto. Ocupam espaço.

Gi disse...

Eu também agora dou valor às pequenas coisas; eu também nem sempre fui assim; deve ser por estarmos a ficar mais crescidos.
Talvez porque alcançámos algumas grandes coisas que nos propusemose agora nos podemos deter um bocado e darmos valor a pequenas coisas que nem víamos ou pensávamos "Já cá volto", quando andávamos a correr...

Ka disse...

Sem dúvida que á medida que vamos crescendo aprendemos a apreciar os pequenos detalhes que a vida nos proporciona no dia-a-dia.

beijoss

ps - gostei especialmente do último parágrafo...muito certeiro

Si disse...

É uma decisão difícil. Não a de escolher com quantos pássaros ficamos ou qual deles, mas sim a de nos resolvermos a olhar direito para as coisas mínimas do dia a dia e a apreciarmos intensamente cada uma delas.
Difícil, porque quantas vezes queremos abrandar o ritmo, quantas vezes nos queríamos demorar um pouco mais e não nos deixam.
Já experimentei prometer isso a mim própria, já impus, já reclamei, já decidi. Em vão. Parece que quanto mais quero abrandar, mais o tempo teima em escorrer pelos dedos, com exigências cada vez mais exigentes.
Fico furiosa.
Às vezes pactuo com ele, outras revolto-me e faço birra.
Seja como seja, ele acaba sempre por me vencer.
Espero não me arrepender.

anniehall disse...

Como a canção de Julien Clerc "une vie de rien" .
Já agora um bem-aja pela ajuda .

Anónimo disse...

Patti,

Só é negativa a ambição desmesurada!..

Querer mais, faz parte dos projectos de cada um.
Consigamo-lo na medida do que racionalmente é exequível por cada um de nós e seremos smpre felizes.

Nota da TRETA: Nunca percebi porque se querem sempre agarrar os pobres dos pássaros e nunca se tenta os hopopótamos!...

Tretices com "Uma mão cheia de nada e outra de coisa alguma" para ti

Miepeee disse...

E nas pequenas coisas que encontramps o verdadeiro significado da vida. Vivo o dia a dia e sou feliz com o que tenho.
Mais uma vez um texto cheio de sentido e que apela aos sentidos.
Beijinho.

De dentro pra fora disse...

Acho que com o tempo todos nós vamos dando mais importancia ao que realmente importa,quanto aos pássaros o melhor mesmo é deixa los em liberdade, se estiverem connosco será por sua livre escolha

Anónimo disse...

Esse provérbio, ao contrário da maioria, não foi inventado pelo povo, mas sim por quem nos quis transformar em pessoas dóceis,venerandas e agradecidas.
Por isso, também não vou à bola com ele.

cristina ribeiro disse...

É quando chega o tempo de começarmos a aprender a viver; a valorizar aquilo que somos e temos.

Anónimo disse...

Segundo o Herman e a Simone de Oliveira que estiveram no Nuno e Nando da Antena3,sábado,(foi um programa e tanto), até aos 30 ninguém tem tempo para se preocupar com o tempo, dos 30 aos 50 já se começa a pensar no tempo e nas maleitas, a partir dos 50 já se aproveita todos os segundos do tempo e cada minuto representa uma hora.
Estar um mês de férias(a partir dos 50) na praia é um desperdicio de tempo.

1/4 de Fada disse...

Se há coisas com que embirro é com o espírito desse ditado! Sou completamente adepta do "antes quebrar do que torcer", por muito que pareça não terem nada a ver um com o outro.

Justine disse...

Filosofia felina, tão certa, tão telúrica!
Ás vezes é bom "ter uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma"...
(Gostei muito deste post. E obrigada)

Anónimo disse...

... ou como aquele: "Há males que vêm por bem” bastante irritante que tenta consolar e minimizar um sofrimento!

Teresa Durães disse...

não temos pouco tempo na vida. desperdiçamos muito.

f@ disse...

Tb não csou mto de ditados mas depende mto da forma como os sentimos...
então no caso do pássaro... a pena que seria telo na mão... os pássaros são livres como o gato da tua imagem...

Na terra molhada. se faço um buraco com o dedo talvez lá possa cair uma semente... e quem sabe nasça depressa uma ervilha ou uma flor...

Beijinhos das nuvens

Pitanga Doce disse...

Disseste tudinho que eu queria dizer. Esta história de que temos que nos contentar com o que vier é só de quem não espera muito.
O caso é que nem todos a nossa volta pensam assim e somos tachados de "exigentes demais".
Sim, se o que temos é bom, saibamos apreciar e aproveitar ao máximo. Mas porque não selecionar o que não queremos em vez de aceitar o fundinho do saco onde só há milho porque a pipoca, mesmo, já acabou?

Não sei se me fiz entender. É que hoje estou meio estranha. Já deve ser o peso da idade. hehehe

Coragem disse...

Temos que aprender a gerir o tempo que temos, temos que mudar o jogo do horário a nosso favor.
nele, não criar demasiadas expectativas, mas não o deixar passar em vão...

Filoxera disse...

Patti:
Não só tens razão como escreves lindamente. E ainda nos dás uma música soberba. Obrigada.
Vir aqui é já uma necessidade.
Beijos.

Paulo disse...

Aposto que foi um gato que te segredou isso

paulofski disse...

É daquelas coisas que só a vida e o tempo nos ensinam. Vem do coração, pelos olhos dos outros, da boca dos outros, vem nos gestos e atitudes dos outros. Quanto é fácil dizer para ter calma se é disso que tenho mais. Ter calma, mesmo para aqueles que ultrapassaram já muitas tempestades e lhes sobreviveu, não é suficiente. É necessário.

Susana disse...

concordo plenamente! é cada pequeno momento que dá sabor à vida... e são os pequenos pormenores que nos marcam e deixam saudades!